3.2. As novas formas de solidariedade
3.2.1. Formais
Existem, ao nível formal, centenas de instituições que disponibilizam serviços de apoio a idosos, públicas e privadas. Mediante as necessidades de cada caso e a análise de outros fatores poderá ser tomada uma decisão. São igualmente relevantes medidas intersectoriais que têm vindo a ser implementadas para promover a segurança e qualidade de vida da população geriátrica:
Programa “Apoio 65 - Idosos em Segurança”
Em vigor desde 1996, visa promover a segurança dos idosos mais isolados através do policiamento de proximidade que valoriza a comunicação polícia- -cidadão (em colaboração com a PSP).
Programa Idosos em lar (PILAR)
Criado por Despacho do Secretário de Estado da Inserção Social de 20 de Fevereiro de 1997, procura desenvolver e intensificar a oferta de lares para idosos, através, por exemplo, do realojamento de idosos oriundos de lares lucrativos sem condições de financiamento; do aumento da oferta em zonas com baixa cobertura deste serviço; da criação/remodelação de lugares dirigidos a utentes de Instituições Particulares de Solidariedade Social sem condições de financiamento.
Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII)
Criado por despacho Conjunto de 1 de Julho de 1994, dos Ministros da Saúde e do Emprego e Segurança Social, contempla um número significativo de serviços:
Serviços de Apoio Domiciliário;
Centros de Apoio a Dependentes/Centros Pluridisciplinares de Recursos - apoio temporário com vista à reabilitação de pessoas com dependência, assegurando cuidados diversificados com base em estruturas já existentes;
Formação de Recursos Humanos – habilitar agentes, formais e informais para a prestação de cuidados; tecnologias, pretende diminuir o isolamento devido a problemas de saúde, questões geográficas, barreiras arquitetónicas. Através de uma central, permite a intervenção atempada em caso de emergência;
Saúde e Termalismo - permitir à população idosa o acesso a tratamentos termais e o contacto com meio social diferente, prevenindo o isolamento social;
Passes para a terceira idade - sem restrições horárias para a população com mais de 65 anos, fomentando a sua mobilidade, integração social e participação na vida ativa.
Respostas Integradas que resultam da Articulação entre a Saúde e a Ação Social
Por Despacho Conjunto 407/98, de 15 de Maio, que estão na origem de:
Unidades de Apoio Integrado (UAI) - centros que asseguram apoio ao longo de 24 horas a pessoas que necessitem de cuidados multidisciplinares que não podem ser prestados no domicílio;
Apoio Domiciliário Integrado - (ADI) - que assegura a prestação de cuidados médicos e de enfermagem e a prestação de apoio social no domicílio visando a promoção do autocuidado.
Planeamento de serviços e projetos em função de grupos e zonas de intervenção prioritárias, feito por equipas multidisciplinares e intersectoriais, mediante as suas orientações de intervenção
Programa de Conforto Habitacional dos Idosos
Inserida no âmbito do Programa Nacional de Ação para a Inclusão, começou a ser implementada no distrito de Bragança, com a reparação de 137 residências. As obras passam pela substituição dos telhados, chão, paredes, adaptação de cozinhas ou instalações sanitárias. Melhorando as condições básicas de habitabilidade, pretende-se possibilitar o serviço de apoio domiciliário e evitar a institucionalização e dependência.
Contratos Locais de Desenvolvimento Social
Pretendem combater a pobreza, aumentar os níveis de qualificação e prevenir situações que conduzam à exclusão social em áreas desqualificadas, industrializadas ou atingidas por calamidades, através do estabelecimento de parcerias de âmbito local, que podem envolver os serviços de emprego, de ação social e instituições.
Complemento solidário para idosos
Constitui-se num apoio financeiro de até 250 euros por cada período de três anos, destinado a medicamentos, óculos, lentes e próteses dentárias removíveis.
Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados
Aprovado em Conselho de Ministros a 16 de Março de 2006, tem como público beneficiário as pessoas com dependência, visando diminuir o número de internamentos.
Os serviços disponibilizados incluem unidades de internamento (para convalescença, média duração/reabilitação, longa duração/manutenção e cuidados paliativos), ambulatório (unidade de dia e de promoção da autonomia), equipas hospitalares e equipas domiciliárias (de cuidados continuados integrados e comunitárias de suporte paliativo).
Prevê, inclusivamente, a possibilidade de institucionalização temporária em unidades de cuidados continuados de longa duração para que o cuidador possa descansar.
A procura de apoio na prestação de cuidados deve começar na comunidade local. Certas instituições surgem como organizadoras de serviços possíveis graças a estas medidas ou a acordos com os vários sistemas de segurança e proteção social ou seguros de saúde:
A Santa Casa da Misericórdia,
As organizações religiosas (casas ou centros paroquiais, associações dos vários cultos),
As Casas do Povo e as Associações ou Comissões de Melhoramentos ou Moradores (importantes dinamizadoras das aldeias portuguesas no seu movimento regionalista),
Associações Comunitárias, de Pensionistas e Reformados,
Uniões de trabalhadores, Entre outros exemplos.
Determinadas associações profissionais, sindicatos ou ordens, contam com privilégios específicos, traduzidos em termos de subsídios, instituições de acolhimento disponíveis, acesso a cuidados de saúde especializados mais rápida e economicamente, ou contribuições em géneros.
3.2.2.Informais
A sociedade portuguesa continua a caracterizar-se pelos fortes laços de solidariedade familiar e comunitária. No entanto, os cuidados prestados pelas redes informais são muitas vezes resultantes de um sentimento de obrigação: a pressão social acentua o carácter negativo da institucionalização.
A retribuição do sacrifício dos pais, o querer corresponder a expectativas, transmitir o exemplo aos filhos ou não suportar a censura dos vizinhos, são, muitas vezes os principais motivos para reorganizar a vida familiar e integrar o idoso.
O cuidador informal será respeitado pelas concessões que fará perante as novas exigências do seu papel, embora raramente o assuma voluntariamente: estudos demonstraram que mais facilmente há ajuda quando não existe a perspetiva de encargo e dependência.
A contínua perda de autonomia do sénior ou a desistência de um antecessor, a viuvez, uma doença ou acidente inesperados, poderão despoletar a necessidade e o envolvimento progressivo.
O papel é assumido geralmente pelas esposas ou filhas (embora o número de homens esteja a aumentar), que vivem próximo ou em coabitação com o idoso.
A carreira de cuidador informal envolve 3 estádios:
Preparação e aquisição do papel;
Assunção das tarefas e responsabilidades relacionadas com os cuidados em casa e, eventualmente, numa instituição formal;
Libertação da prestação de cuidados em resultado do falecimento do idoso.
Prestar apoio envolve sentimentos contraditórios, momentos de angústia, stresse e frustração. É um processo dinâmico que evolui reestruturando as relações prévias mediante as necessidades.
Embora todos tenham os seus contextos vivenciais, a dependência implica uma nova perceção de si e do outro, para todos os elementos do grupo familiar, alterando-se os poderes: para o idoso, esta é a sua incapacidade para realizar determinadas atividades básicas, enquanto que para o cuidador é o dever de o substituir nessas mesmas atividades.
Este sentimento é particularmente presente quando se entra na esfera da intimidade, sendo agravado pelo constrangimento mútuo.
Sendo a família um sistema, assumir a prestação de cuidados tem um impacto enorme sobre a sua estrutura e restantes relações. A nova divisão das tarefas, a reorganização de horários, responsabilidades e rotinas traz
transtornos e poderá ser fonte de conflitos, quer para o cônjuge de quem cuida, quer para os filhos.
Por outro lado, a própria rede de cuidados tem carácter dinâmico, criando inclusões e exclusões, hierarquias e subordinações, definindo obrigações em função da proximidade subjetiva ou em termos de género, geracionais, nacionais, étnicos, raciais ou de classe e de estilo de vida.
Os deveres individuais variam com o nível e forma de inserção, e o seu estatuto instável vai-se alterando, tal como os contributos.
Conclui-se que as redes informais com base na família são limitadas em termos de eficácia e de resposta dado o seu carácter restrito: funciona pelos conhecimentos. Daí que seja essencial alargá-las, envolvendo amigos e vizinhos, sempre que possível, repartindo a sobrecarga e aliviando a pressão geral.
Em suma, em todo este processo, é essencial a proatividade. Do idoso, dos cuidadores, da família, dos amigos e da comunidade.
Bibliografia
AA VV. Construção de uma rede de cuidados: Intervenção com a Família e o
Meio Social do Idoso, Manual Técnico, Ed. IFH - Instituto de Formação para o
Desenvolvimento Humano, 2007
Fernandes, Sandra, Vivências em lares de idosos: Diversidade de Percursos, Dissertação de Mestrado em Gerontologia Social, Universidade Portucalense, 2010
Ramilo, Teresa, Manual de psicologia do idoso, Instituto Monitor, 2000
Ribeiro, Óscar, Manual de Gerontologia Aspetos biocomportamentais,