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CAPÍTULO 4-PROCESSOS DE DETERIORAÇÃO DE CALCÁRIOS ORNAMENTAI S

4.3 Formas de deterioração nas rochas calcárias

A formação de manchas é um tipo freqüente de alteração, especialmente nos calcários que possuem minerais ricos em ferro como sulfetos e óxidos. A formação de manchas é facilitada pelo processo de migração de fluidos e acontece especialmente nas rochas usadas como revestimentos externos (Fig. 14A).

4.3.2 Eflorescências A

As eflorescências são cristais de sais que se formam na superfície dos materiais pétreos por evaporação. Os sais mais comumente encontrados nas eflorescências (Goudie & Viles, 1997) são cloretos (NaCl, KCl), sulfatos (Na2SO4, MgSO4, CaSO4), carbonatos (CaCO3, MgCO3) ou nitratos

(KNO3, NaNO3). A formação de eflorescências está diretamente relacionada com a ascensão capilar

e não pode ocorrer em construções onde este fluxo é limitado por rochas com baixa capilaridade, ou bloqueadas por barreiras anticapilares (por exemplo, argilas).

As eflorescências têm aspecto de manchas de cor branca acinzentada na superfície das rochas, freqüentemente na parte mais baixa dos prédios, justamente por cima da margem capilar. Estas aparecem somente quando a cristalização de sais solúveis ocorre na superfície das rochas, devido a que o fornecimento de sal por absorção capilar é maior que a evaporação (Del Monte, 2006). Podem ser encontradas em vários tipos de rochas, mas são bem mais freqüentes em rochas porosas com rápido fluxo capilar. São encontradas tanto no interior quanto no exterior dos prédios, não sendo limitadas às fachadas, mas atingindo outras estruturas como escadas e pisos (Fig. 14B).

FIGURA 14. Formação de manchas em muro exterior (A) e de eflorescências salinas (B) em espelho de degrau nas

escadas exteriores do Centro de Convenciones (Medellín). Calcário Royal Veta.

4.3.3 Arenização e alveolização

A arenização, também conhecida como desintegração granular, é o estado avançado de perda de coesão, caracterizado pelo destacamento de grânulos ou de cristais à menor solicitação mecânica; está acompanhada de uma sensível deterioração das características mecânicas originais e de um notável aumento da porosidade.

A desintegração granular ou arenização ocorre em lugares úmidos onde a rocha não é lavada pela chuva ou por fluxo de água na superfície. Neste caso sais solúveis cristalizam perto da superfície e causam o desprendimento de grãos (Fig 15A). Este tipo de erosão pode causar a perda de vários centímetros de rocha em superfícies expostas.

A alveolização (Fig. 15B) é um caso especial de desintegração granular. Acontece quando a erosão dos grãos ocorre diferencialmente na superfície da rocha. Os alvéolos são nucleados por zonas de fraqueza na rocha, como planos de acamamento. Uma vez formado o alvéolo, as modificações induzidas pela evaporação podem causar o decaimento nestes locais.

4.3.4 Esfoliação e lascagem

A esfoliação (Fig. 15B) é uma forma de degradação que se manifesta com um levantamento seguido por destacamento, de uma ou mais camadas superficiais finas, paralelas entre si, ditas folhas. Cada folha tem uma espessura uniforme, geralmente da ordem dos poucos milímetros. São constituídas quer por material aparentemente íntegro, quer por material alterado. A lascagem (Fig. 15B), se manifesta pelo destacamento total ou parcial de partes, lascas, freqüentemente conforme soluções de continuidade, no material original. As lascas têm formas e espessuras irregulares e dimensões variáveis, apresentando, de preferência, texturas mais maciças e compactas ao longo das bordas e em relação com estas. São constituídas geralmente por materiais com aparência inalterada. Por baixo delas podem existir eflorescências e microrganismos.

Nas zonas onde a evaporação é mais rápida do que o fluxo capilar, na parte superior dos prédios, por exemplo, a solução salina não migra com a velocidade suficiente para sair na forma dissolvida e cristalizar na superfície antes de evaporar. A evaporação e por tanto a cristalização de sais, acontece dentro do arranjo poroso, gerando tensões que podem ser prejudiciais para a rocha. Esta cristalização interna causa fraturas debaixo da superfície, e a perda de materiais em escamas de diferentes espessuras.

FIGURA 15. Perda de massa por patologias em rochas calcárias. (A) arenização (ar). (B) Alveolização (al), lascagem

(lc) e esfoliação (ES) nas bases das colunas do prédio do Museu Marino Marini (Florença-Itália). Calcarenito Pietraforte ou Pietra Serena. A B ar al es lc

4.3.5 Fissuração e Fraturamento

A fissura é a degradação que se manifesta pela formação de aberturas na rocha, com espaçamento reduzido, que nem sempre atingem os limites dos corpos considerados. A fratura é por sua vez, uma abertura com dimensões maiores do que as fissuras, podendo implicar o afastamento recíproco das partes fraturadas. A superfície de rotura divide o corpo considerado em partes distintas. Os dois processos podem acontecer isoladamente ou estar associados (Fig. 16A).

4.3.6 Depósitos superficiais ou sujeiras

Acumulações de materiais estranhos de natureza diversa, tais como poeiras, microrganismos, etc. Têm espessuras variáveis, geralmente com escassa coesão e aderência ao material subjacente. Além do efeito estético, a formação desses depósitos pode ter influência nas propriedades hidráulicas da rocha, pois a fraca tensão superficial das partículas pode incrementar a hidrofobia da rocha e, por tanto, a impermeabilidade da mesma.

4.3.7 Crostas Negras

Estas crostas são o produto das transformações superficiais da rocha, visivelmente distinguíveis das partes subjacentes pelas suas características morfológicas e, freqüentemente, pela sua cor. A sua natureza química e mineralógica e as suas características físicas são, na totalidade ou em parte, diferentes das do material do que deriva e do qual se pode destacar. Podem ser encontradas em partes de monumentos ou esculturas isoladas do fluxo de água (por exemplo, partes internas ou partes baixas das estatuas).

A espessura das crostas pode chegar a 3cm. Mesmo sendo o gipso translúcido, a cor preta (Fig. 16B) é devida às partículas presentes na atmosfera devido à atividade humana e industrial (cinzas, hollín). A cristalização do gesso causa danificações à superfície da rocha. Esta cristalização cria uma interface frágil entre o gesso e a parte inerte da rocha, onde está presente, tanto a calcita quanto o gesso (Jeanette 1994; Gauri 1999). Esta zona frágil age como uma descontinuidade mecânica e as crostas se destacam periodicamente da rocha formando um mosaico preto e branco.

FIGURA 16. Patologias em rochas calcárias. (A) Desenvolvimento de fissuras (fs) e fraturas (fr) conectadas em

calcário usado como piso externo. (B) Crostas negras (cr) desenvolvidas nas áreas protegidas da lavagem por chuva, estátua de Girolamo Savonarola (Ferrara).

A B

fs fr

CAPÍTULO 5 – CONTEXTO GEOLÓGICO E PROCESSOS DE LAVRA,