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2. Participação Política

2.4. Formas de relacionamento entre governo e cidadãos

A OCDE tem procurado estimular os governos dos seus países membros para que construam e fortaleçam estruturas de governo activas, eficientes, transparentes e que prestem contas.

Sobre os princípios de uma cidadania activa, a OCDE (2003:15), através do seu comité PUMA, tem dado um importante contributo, ao identificar três formas de relacionamento entre a Administração/governo e os cidadãos, qualquer uma delas suportada por actividades de comunicação, e que favorecem a transparência do processo de elaboração de políticas:

INFORMAÇÃO (passiva/activa): processa-se no quadro de uma relação unidireccional, na qual o governo produz e fornece informação para o uso dos cidadãos. Engloba o acesso “passivo” à informação por pedido dos cidadãos, de acordo com as suas necessidades, e medidas “activas” do governo que, por sua iniciativa, dissemina pelos cidadãos informação sobre formulação de políticas. Deve ser assegurada informação completa, objectiva, fiável, relevante, fácil de encontrar e de perceber. Em ambos os casos, as informações fluem essencialmente numa direcção: do governo para os cidadãos.

Governo → Cidadãos

CONSULTA (solicitada/não solicitada): relação bidireccional, em que são estabelecidos os objectivos e as regras que definem os limites da consulta, na qual os cidadãos proporcionam feedback ao governo sobre questões que este entende ver respondidas. O governo coloca, assim, à apreciação dos cidadãos questões por ele determinadas. São procurados os pontos de vista e as opiniões dos cidadãos e requer que seja provida informação com antecedência. Os governos recebem passivamente a contribuição não solicitada dos cidadãos, ou activamente colocando questões e convidando os cidadãos a

respondê-las. O governo mantém a responsabilidade pela decisão, mas partilha com os cidadãos a responsabilidade pela escolha da solução, devendo prestar contas sobre os resultados obtidos graças à consulta.

Governo

Cidadãos

PARTICIPAÇÃO ACTIVA (iniciativa do governo/iniciativa popular): relação baseada no princípio de parceria, de trabalho cooperativo, com o governo, na qual os cidadãos são envolvidos activamente no processo político, na formulação de políticas e na tomada de decisões. É, assim, a forma mais avançada de fortalecer as relações governo/cidadão. Permite que os cidadãos assumam um papel na proposta de opções políticas e moldando o diálogo político, embora a responsabilidade pela formulação de políticas e a decisão final continuem a pertencer ao governo.

Governo

Cidadãos

Relativamente a estas três formas de envolver os cidadãos na vida pública, a OCDE refere que as iniciativas são relativamente recentes e foram muito raramente sujeitas a avaliação. Ainda assim, nos últimos 15 anos tem sido significativo o crescimento da quantidade e da qualidade de informação disponibilizada aos cidadãos (é, aliás, um objectivo partilhado por todos os países membros). Também estão em crescimento, embora mais lentamente, o feedback e a consulta. Subsistem diferenças grandes entre os países que já têm bastante enraizada a tradição da consulta e aqueles que apenas recentemente começaram a abrir as decisões dos seus governos aos cidadãos. Mais rara, e limitada apenas a um número restrito de países, é a participação activa e o envolvimento dos cidadãos nas decisões e elaboração de políticas, que ainda é desenvolvida na base de experiências piloto.

As leis que preconizam o direito de acesso à informação, assim com os mecanismos institucionais que reforçam estes direitos, são pedras basilares no que diz respeito à transparência e na responsabilidade dos governos. O acesso à informação é igualmente

um pré-requisito para a acção dos cidadãos, é o patamar básico no qual são construídas a consulta e a participação activa (OCDE, 2001: 28).

No entanto, não quer dizer que cidadãos mais e melhor informados sejam necessariamente cidadãos mais participativos, mas a sua participação cívica é de melhor qualidade (WEMANS, 2003: 76).

Em geral, nos países membros da OCDE (2001: 36), os mecanismos legais e institucionais relativos à consulta são menos extensos do que aqueles que se aplicam ao acesso à informação. O que reflecte o facto de este constituir um direito fundamental enquanto a consulta pública e o feedback dos cidadãos terem sido apenas recentemente reconhecidos como elementos essenciais ao processo político na maioria dos países membros. Em alguns países, apesar de a consulta pública ser já uma prática recorrente, perfeitamente estabilizada há muito tempo, tem sido baseada, até muito recentemente, em regras informais.

Os três tipos de interacção governo/cidadão podem ser utilizados combinados. A informação é uma pré-condição essencial quer para a consulta quer para a participação activa. Naturalmente que, para que se possam implementar tais medidas são necessários recursos (tempo, experiência, dinheiro).

A selecção de cada uma destas actividades depende dos objectivos definidos e dos resultados que se queiram atingir. Se for aumentar a consciencialização e o conhecimento públicos, as ferramentas concentradas na Informação são adequadas. Se o objectivo é receber a contribuição dos cidadãos, a Consulta será a indicada. Caso o objectivo seja o de envolver os cidadãos no desenvolvimento de novas opções de políticas, aplicam-se as ferramentas para a Participação Activa.

Todavia, é necessário ter em atenção que:

Poorly designed or inadequate measures for information, consultation and active participation in policy making can undermine government-citizens relations. Governments may seek to inform, consult and engage citizens in order to enhance the quality, credibility and legitimacy of their policy decisions, only to produce the opposite effect if citizens

discover that their efforts to stay informed, provide feedback and actively participate are ignored, have no impact at all on the decisions reached, or remain unaccounted for (OCDE, 2003: 20).

São vários, segundo a OCDE (2001:19,20), os motivos apontados pelos diversos países para fortalecer as relações entre governo e cidadãos, através da Informação, Consulta e Participação Activa: melhor política pública, maior confiança no governo e democracia mais forte. Ou seja: proporcionar ao governo uma melhor base para a formulação de políticas, garantindo ao mesmo tempo que os cidadãos se tornem mais bem informados sobre as políticas a executar; proporcionar que a voz dos cidadãos seja ouvida, que os seus pontos de vista sejam levados em consideração, fornecendo contribuições no processo de tomada de decisões do governo, que ganha assim novas fontes de informação; dar maior aceitação às acções políticas e fazer crescer a legitimidade do governo; ao aumentar a supervisão do público das acções governamentais, contribuir para uma maior transparência e responsabilidade governamental; incentivar uma cidadania mais activa, estimulando o envolvimento dos cidadãos na esfera pública, com a consciência de que vale a pena o seu envolvimento construtivo na sociedade democrática e também reduzir os obstáculos para que os cidadãos conheçam, entendam, discutam e participem na formulação de políticas, ao mesmo tempo que enfrentam os desafios da sociedade de informação emergente.