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3 ESTUDO DA LEI MARIA DA PENHA

3.2 CONCEITOS

3.2.3 FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A Lei Maria da Penha prevê diversas formas de violência consideradas como violência doméstica e familiar, tais como a física, psicológica, sexual, patrimonial e moral cometida contra mulher.

3.2.3.1 Violência física

A violência física é qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal da mulher. (BRASIL, 2006).

Porto classifica como violência física a ofensa à vida, saúde e integridade física; trata-se da violência propriamente dita, a vis corporalis. (PORTO, 2007, p. 25).

Ao entendimento de Cunha, violência física é o uso da força, mediante socos, tapas, pontapés, arremessos de objetos, queimaduras, etc., visando ofender a integridade física ou a saúde corporal da vítima. (CUNHA; PINTO, 2008, p. 61).

Não só a lesão dolosa, mas também a culposa constitui violência física, pois nenhuma distinção é feita pela lei sobre a intenção do agressor. (DIAS, 2007, p. 47).

3.2.3.2 Violência psicológica

A violência psicológica é definida na LMP como qualquer conduta que cause dano emocional, diminuição da auto – estima que prejudique e perturbe o desenvolvimento da vítima, que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, etc. Trata-se também da limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação da mulher. (BRASIL, 2006).

Como violência psicológica entende-se a agressão emocional, considerada tão ou mais grave que a física. (CUNHA; PINTO, 2008, p. 61).

De acordo com Porto (2007, p. 25), violência psicológica é a ameaça, o constrangimento, a humilhação pessoal. O autor interpreta como um conceito impróprio de violência, pois para ele tradicionalmente o que se denomina violência psicológica é a grave ameaça.

3.2.3.3 Violência sexual

Violência sexual é qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força. A lei também classifica como violência sexual induzir o comércio ou utilização da sexualidade, impedir o uso de método contraceptivo, forçar a mulher ao matrimônio, a gravidez, ao aborto e a prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; e também condutas que

limitem ou anulem o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. (Art. 7, III, LMP)

Violência sexual trata-se de constrangimento com o propósito de delimitar a autodeterminação sexual da vítima efetuado tanto mediante violência física como através da grave ameaça. (PORTO, 2007, p. 25).

A violência sexual foi reconhecida como violência contra mulher na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Doméstica, porém, houve resistência por parte da jurisprudência e doutrina em admitir a possibilidade da ocorrência de violência sexual nos vínculos familiares. (DIAS, 2007, p. 48)

Os delitos equivocadamente chamados de “contra os costumes” constituem, às claras, violência sexual. Quem obriga uma mulher a manter relação sexual não desejada pratica o crime sexual de estupro. Também os outros crimes contra liberdade sexual configuram violência sexual quando praticados contra a mulher: atentado violento ao pudor; posse sexual mediante fraude; atentado ao pudor mediante fraude; assédio sexual e corrupção de menores. (DIAS, 2007, p. 49).

Agressões como essas provocam nas vítimas, não raras vezes, culpa, vergonha e medo, sentimentos que quase sempre as fazem decidir por ocultar o evento. (CUNHA; PINTO, 2008, p. 63).

3.2.3.4 Violência patrimonial

Violência patrimonial classifica-se como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores, direitos ou recursos econômicos, inclusive os destinados a satisfazer as necessidades da mulher vítima. (BRASIL, 2006).

A violência patrimonial raramente se apresenta separada das demais, servindo, quase sempre, como meio de agredir física ou psicologicamente a vítima. (CUNHA; PINTO, 2008, p. 63).

Em relação ao tema violência patrimonial, há divergência entre os autores Dias e Cunha sobre a questão da aplicação ou não das imunidades previstas nos arts. 181 e 182 do Código Penal, referente ao título: Dos Crimes Contra o Patrimônio.

O Art. 181 do Código Penal isenta de pena quem comete qualquer dos crimes previstos no título dos crimes contra o patrimônio, caso os mesmos sejam cometidos contra o cônjuge na constância da sociedade conjugal ou contra ascendente ou descendente. (BRASIL, 1940).

O Art. 182 prevê que se o crime for cometido em prejuízo do cônjuge separado judicialmente ou divorciado, de irmão, de tio ou sobrinho com quem o agente coabite, só haverá procedência mediante representação. (BRASIL, 1940).

A partir da nova definição de violência doméstica, assim reconhecida também à violência patrimonial, não se aplicam as imunidades dos arts. 181 e 182 do Código Penal quando a vítima é mulher e mantém com o autor da infração vínculo de natureza familiar. (BRASIL, 1940). É inadmissível afastar a pena do infrator que pratica crime contra sua cônjuge ou companheira, valendo esse entendimento também para os crimes de furto, apropriação indébita e delito de dano. (DIAS, 2007, p. 52).

Além de tais condutas constituírem crimes, se praticados contra a mulher com quem o agente mantém vínculo familiar ou afetivo, ocorre o agravamento da pena (CP, art.61, II, f), conforme veremos posteriormente no item alterações do código penal. (DIAS, 2007, p. 52).

Cunha e Pinto (2008, p. 65), ao analisar a questão, declara parecer equivocada a conclusão de que a Lei Maria da Penha teria alterado a questão de imunidade do Código Penal em relação aos crimes citados. Salienta que somente uma declaração expressa, contida na lei, teria o condão de revogar os dispositivos do Código Penal. Portanto, seu entendimento é no sentido de, ante o silêncio do legislador, concluir que as imunidades previstas no Código Penal não suportaram qualquer espécie de alteração.

3.2.3.5 Violência moral

A violência moral é entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (BRASIL, 2006).

Violência moral, em linhas gerais, são os crimes contra a honra da mulher. (PORTO, 2007.p. 25).

Esse tipo de violência é verbal, entendida como qualquer conduta que consista em calúnia (imputar a vítima a prática de determinado fato criminoso

sabidamente falso), difamação (imputar à vítima a prática de determinado fato desonroso) ou injúria (atribuir a vítima qualidades negativas) e normalmente se dá concomitante à violência psicológica. (CUNHA; PINTO, 2008, p. 65).

Quando estes delitos são perpetrados contra a mulher no âmbito da relação familiar ou afetiva, devem ser reconhecidos como violência doméstica, impondo-se o agravamento da pena (CP, art. 61, II, f). (DIAS, 2007, p. 54).