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2 A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS DIREITOS DAS MULHERES NO BRASIL

3.2 FORMAS E FASES DA VIOLÊNCIA

Para compreender as formas da violência é necessário entender que a violência ocasiona sérias consequências para a saúde da mulher e também das pessoas envolvidas.

É neste sentido que Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica contra a mulher como uma questão de saúde pública, que afeta negativamente a integridade física e emocional da vítima, configurada por círculo vicioso de “idas e vindas” aos serviços de saúde e o consequente aumento com os gastos neste âmbito (GROSSI, (1996)).

Segundo a AGENDE (2009)13 - Ações Em Gênero Cidadania e

Desenvolvimento, os tipos de violência e suas consequências para a saúde da mulher são:

Violência física é toda ação que produz dano à integridade física da pessoa:

tapas, murros, empurrões, pontapés, puxões de cabelo, chicotadas, arranhões, mordeduras; provocar queimaduras; arrancar a roupa, amarrar, arrastar e deixar em lugares desconhecidos; atacar com armas brancas (dar facadas, usar porretes) ou armas de fogo (pistolas, revólveres); tentar afogar a vítima; obrigá-la a ingerir drogas ou medicamentos; recusar-se a cuidar e proteger alguém de situações de perigo ou danos evitáveis, entre outras.

Consequências: dores crônicas, perda de sangue, hematomas, abortamentos,

cicatrizes, limitação de movimentos, problemas em algum membro ou órgão (como cegueira, perda da função de gerar filhos, paralisias) e até mesmo a morte.

13 Sobre a AGENDE Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento - a AGENDE atua praticamente em

todo o território nacional e na América Latina, no sentido de fortalecer a articulação e a capacidade de ação das organizações de mulheres brasileiras e latino-americanas. Além de monitorar as políticas públicas, acordos e convenções internacionais existentes, a instituição cria espaços de reflexão, socialização e troca de experiências, para capacitar organizações de mulheres e sensibilizar agentes governamentais e formadores de opinião sobre o tema de gênero.

Violência sexual é toda ação na qual uma pessoa por meio da força, ameaças,

intimidação e mesmo sedução, obriga uma outra a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, da qual o agressor tenta obter gratificação, tais como carícias não desejadas, comportamento indecente, exibicionismo e masturbação forçada; sexo forçado, realizar a força penetração oral, vaginal ou anal com pênis ou objetos; estupros; impedir o uso de anticoncepcionais; obrigar a parceira a fazer sexo com outras pessoas, entre outras.

Consequências: dores agudas e crônicas; perda de sangue; doenças

sexualmente transmissíveis; sono difícil; problemas alimentares; Aids, gravidez indesejada; abortamentos de risco; distúrbios sexuais; depressões agudas e crônicas (tristeza, falta de interesse pela vida).

Violência psicológica é toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano

emocional e diminuição da auto-estima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar, controlar as ações da pessoa, seus comportamentos, crenças e decisões. Inclui: ameaças, constrangimento, insultos constantes, humilhação, ser ridicularizada e colocada de lado, receber críticas e comentários maldosos, chantagem, isolamento de amigos e familiares, referências preconceituosas a determinadas condições da pessoa, exploração, negligência, impedir a pessoa de sair de casa ou de sair sozinha.

Consequências: não deixa marcas visíveis, é difícil de provar que ela está

acontecendo. Destrói pouco a pouco as defesas da pessoa agredida, que se vê envolvida numa teia difícil de desmanchar. Reduz a auto-estima, fragiliza e expõe a pessoa vitimada a situações de risco. É também causa de insegurança, ansiedade e depressão.

Violência patrimonial é qualquer ato destrutivo ou de omissão que afeta o

bem-estar e a sobrevivência da pessoa, tais como roubo; destruição parcial ou total de documentos e objetos pessoais ou de trabalho; apropriação indevida de rendimentos, salários, pensões ou outros bens materiais; recusa em pagar pensões ou dividir gastos que devem ser compartilhados.

Consequências: prejuízos financeiros; rebaixamento do padrão de vida;

jóias, móveis e objetos domésticos herdados de familiares ou adquiridos com o seu dinheiro.

Assédio moral em local de trabalho é toda e qualquer conduta abusiva

manifestada, sobretudo, por meio de comportamentos, palavras, atos, gestos, que possam trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física, sexual ou psíquica da pessoa, ou degradar o ambiente de trabalho. O assédio moral é caracterizado por situações humilhantes, constrangedoras, que se repetem durante o dia e, em geral por longo tempo.

Consequências: pode trazer dificuldades no ambiente de trabalho, com os

colegas e na realização de tarefas cotidianas; pode resultar em danos à saúde física, sexual, reprodutiva e psicológica. Também pode levar à perda do emprego.

Assédio sexual: tem adquirido maior visibilidade nas relações de trabalho com

o crescimento da entrada das mulheres no mercado formal de trabalho. A dependência econômica, o receio de ser desacreditada e a vergonha são fatores que impedem a pessoa assediada de denunciar a situação. Com frequência, o assédio sexual é feito de forma dissimulada, a portas fechadas, com comentários indiretos, sussurros, olhares maliciosos. São práticas características do assédio sexual: atitudes de conotação sexual imposta por pessoa em posição de superioridade - como patrão em relação à empregada - exigência de favores sexuais para manutenção do emprego, aumento de salário ou promoções.

Consequências: tal como o assédio moral, o assédio sexual pode trazer

dificuldades no ambiente de trabalho, com os colegas e na realização de tarefas cotidianas; pode resultar em danos à saúde física, sexual, reprodutiva e psicológica. Também pode levar à perda do emprego

Violência institucional é a violência praticada nas instituições públicas. Por

ação ou omissão destas instituições, a pessoa que busca ajuda se vê exposta a situações tais como: peregrinação por diversos serviços até ser atendida; não ser escutada ou acolhida; ser atendida às pressas, de maneira rude ou negligente; não receber informações que ajudem na resolução de seus problemas; não ter sua intimidade preservada; ser julgada e tratada de modo preconceituoso; ser punida por ter praticado algum ato considerado imoral ou criminoso, como é o caso do aborto; ser deixada de lado quando reclama de mau atendimento; ser vítima de agressão, moral,

sexual; ser solicitada a pagar por procedimentos que a instituição tem a obrigação de oferecer. Consequências: perda de confiança nos serviços públicos; sensação de impotência e de abandono; agravamento dos problemas que levaram à procura de ajuda (AGENDE, 2009).

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