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O trabalho social com mulheres vítimas de violência doméstica no CEVIC

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ROSANA ROSSATO STEFANELLO

O TRABALHO SOCIAL COM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO CEVIC: CENTRO DE ATENDIMENTO À VÍTIMA DE CRIME -

FLORIANÓPOLIS-SC

PALHOÇA 2009

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O TRABALHO SOCIAL COM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO CEVIC: CENTRO DE ATENDIMENTO À VÍTIMA DE CRIME -

FLORIANÓPOLIS-SC

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Dra. Darlene de Moraes Silveira.

PALHOÇA 2009

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O TRABALHO SOCIAL COM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO CEVIC: CENTRO DE ATENDIMENTO À VÍTIMA DE CRIME -

FLORIANÓPOLIS-SC

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Serviço Social, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 24de JUNHO de 2009.

_____________________________________________________ Orientadora Dra. Darlene De Moraes Silveira

Universidade do sul de Santa Catarina

_____________________________________________________ Profa. M.Sc. Vera Nícia Fortkamp De Araújo

Universidade do sul de Santa Catarina

_____________________________________________________ Prof. M.Sc. Roberto Iunskovski

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Dedico este trabalho com carinho ao meu filho Gabriel Ramon.

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Este é um momento de emoção, chegar ao final de mais uma etapa da vida. Com certeza muitas pessoas colaboraram e estiveram ao meu lado nesta caminhada, torcendo e apoiando para que eu pudesse realizar o sonho me formar em Serviço Social.

Agradeço a Deus em primeiro lugar, por me possibilitar mais esta conquista, e também por todas as pessoas maravilhosas que colocou em meu caminho. Quero agradecer por tudo o que fizeram por mim.

Agradeço ao meu amor, Rudimar Luis Alves de Oliveira, pela paciência e compreensão que demonstrou, pois muitas vezes, era necessário abdicar de momentos pessoais para dedicar-me aos estudos, mesmo assim, de uma forma muito carinhosa compartilhou comigo todos os momentos da minha vida acadêmica.

Agradeço ao meu filho Gabriel, porque sempre esteve ao meu lado dando forças, tendo paciência para que eu pudesse realizar o meu sonho.

Agradeço aos meus pais e irmão irmãos pelo carinho que sempre souberam demonstrar e respeitar o meu sonho.

Agradeço em especial a fiel irmã e companheira Neusa Stefanello que, sempre acreditou que era possível chegar ao fim do curso com sucesso.

Agradeço a todos meus amigos que sempre acreditaram em mim, em especial Elza da Silva, Antônio Crepaldi, enfim todos.

Também a todos os meus colegas de aula e amigos, que colaboraram para que este momento chegasse. As minhas colegas de aulas e amigas Raquel Solange, Raquel dos Santos, Renata Machado, Karine Medeiros, Raquel Veber e Ana Paula Bonchewitz. Aos meus colegas e amigos David, Paulo Sérgio da Rosa e Amilton Gonçalves, por todos os momentos em que precisei, estiveram prontos para ajudar-me.

Agradecimento especial à professora e orientadora Darlene de Moraes Silveira, pela paciência, carinho, dedicação e pelas orientações na construção desta monografia. Agradeço a professora Vera Nícia Fortkamp de Araújo, por toda a dedicação e paciência que teve comigo na construção do projeto de TCC, pois foi fundamental para o meu crescimento como acadêmica.

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Agradeço a todos os professores, em especial, Rosane Cunha, Regina Panceri, Gionani de Paula, Roberto Iunskovski, Andréia de Oliveira, Maria de Lourdes Bastos, enfim, a todos que de alguma forma tiveram participação na minha vida acadêmica, que souberam ensinar, compreender e superar os obstáculos.

Agradeço as minhas queridas amigas Karolina de Souza e Beatriz Bulcão Viana, Assistentes Sociais, orientadoras de campo, pela oportunidade de realizar o estágio, onde aprendi muito e expresso a minha eterna gratidão, pois levarei comigo a certeza de ter convivido com pessoas que tem verdadeiro comprometimento social. Agradecimento a Assistente Social Roseana da Silva, pelo carinho, atenção e amizade no campo de estágio.

Agradeço a minha querida amiga Psicóloga, Marisa dos Anjos por todo o apoio e dedicação, pelos ensinamentos que foram de grande importância para minha vida.

Gostaria de agradecer a todas as pessoas que contribuíram para o meu aprendizado. Superar obstáculos e conseguir avançar, só com a certeza que nossos amigos estão presentes com palavras de carinho, de conforto. Outros, apenas com um abraço e um olhar, que eram perfeitamente entendidos. Foram horas difíceis, mas superadas com apoio de amigos.

Agradeço do fundo do meu coração por cada momento de demonstração de respeito e de sentimentos de solidariedade.

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O presente trabalho analisa a trajetória dos Direitos das Mulheres no Brasil, destacando a violência doméstica, com suas características de gênero e poder, marcada pelas desigualdades entre homens e mulheres. A violência é vista como um problema mundial que integra à rede de micro poderes, trazendo consequências para a saúde da mulher. A Violência Doméstica compreendida historicamente a partir de diferenças naturais, refletindo valores de uma sociedade machista e patriarcal, configurando a discriminação das mulheres, também como uma violação dos direitos fundamentais. Com este trabalho, buscou-se refletir os avanços e os desafios enfrentados para a efetivação dos direitos das mulheres. Destacamos as conquistas do movimento feminista nas últimas décadas, dentre elas, a Lei Maria da Penha, n° 11.340 de 7 de agosto de 2006. Pautada neste pressuposto demonstra-se a prática de estágio curricular em Serviço Social no CEVIC - Centro de Atendimento à Vítima de Crime-Florianópolis, com mulheres vítima de violência doméstica, e sua vinculação às políticas de direitos das mulheres. A imersão nesta temática possibilitou a relação teórico-prática, ético-política e técnico-operativa do Serviço Social na cotidianidade.

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This study examines the history of Women's Rights in Brazil, highlighting domestic violence, with its characteristics of gender and power, marked by inequalities between men and women. The violence is seen as a global problem that integrates the network of micro power, bringing consequences for women's health. The Domestic Violence historically understood from natural differences, reflecting values of a patriarchal and sexist society, setting the discrimination of women, as a violation of fundamental rights. In this work, we tried to reflect the advances and challenges for the realization of women's rights. Highlight the achievements of the feminist movement in recent decades, among them, Maria da Penha Law, No. 11340 of 7 August 2006. Based on this assumption shows up the practice of traineeship in Community Service in CEVIC - Center for Victim of Crime-Florianópolis with women victims of domestic violence and its links to political rights for women. The immersion in this subject has a theoretical-practical relationship, ethical-political, technical-operative of Social Services in the routine.

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AA - Alcoólicos Anônimos.

AGENDE - Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento. CEJIL - Centro pela Justiça pelo Direito Internacional.

CEDAW - Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Contra a Mulher.

CEVIC - Centro de Atendimento á Vítima de Crime. CCEA - Centro Cultural Escrava Anastácia.

CEDIM - Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres.

CLADEM - Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher. CFEMEA - Centro Feminista de Estudos e Assessoria.

DEAM’S - Delegacias de Atendimento Especializado à Mulher. THEMIS - Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero.

IML - Instituto Médico Legal.

IPq - Instituto De Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

ONU - Organização das Nações Unidas. OEA – Organização dos Estados Americanos.

PAISM - Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher. SERTE - Sociedade de Recuperação, Trabalho e Educação. SSPDC - Secretaria da Segurança Pública e Defesa do Cidadão. SST - Secretaria do Estado de Assistência Social.

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1 INTRODUÇÃO... 12

2 A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS DIREITOS DAS MULHERES NO BRASIL... 14

2.1 AVANÇOS E DESAFIOS; A EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS PARA AS MULHERES. ... 14

2.2 LEI MARIA DA PENHA ... 20

2.3 ALGUMAS INOVAÇÕES DA LEI ... 22

3 MULHERES E A VIOLÊNCIA: CONCEPÇÕES E OS REFLEXOS NA COTIDIANEIDADE... 26

3.1 MULHERES E A VIOLÊNCIA SOCIAL E DOMÉSTICA. ... 26

3.2 FORMAS E FASES DA VIOLÊNCIA ... 34

3.3 FASES DO CICLO DA VIOLÊNCIA ... 37

4 O TRABALHO SOCIAL JUNTO AO CEVIC ... 39

4.1 REFLEXÃO A PARTIR DO ESTÁGIO CURRÍCULAR ... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso é fruto da pratica de estágio curricular e extracurricular, com tema: O Trabalho Social com Mulheres Vítimas de Crime no CEVIC - Centro de Atendimento á Vítima de Crime - Florianópolis/SC.

A temática violência doméstica surgiu através da experiência adquirida de estágio não obrigatório, realizado com reclusos, no presídio masculino de Florianópolis, entre março de 2006 a março 2007. Surgiram inquietações: como seria trabalhar com a vítima deste agressor? Que suporte o Estado dá a vítima? E os familiares destas vítimas têm algum apoio? Foi onde percebi a necessidade de estabelecer um parâmetro de direitos entre agressor e vítima.

Foi a partir destas questões que percebi a necessidade de buscar uma instituição que presta atendimento às Vítimas destes agressores, o CEVIC-(Centro de Atendimento à Vítima de Crime), por acreditar que é através destas experiências que poderemos identificar a atuação do serviço social frente às questões da violência contra a Mulher, onde realizei estágio curricular obrigatório.

O trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar o Trabalho Social com Mulheres em situação de Violência Doméstica. As abordagens se referem à necessidade de efetivação dos direitos das políticas sociais, resgatando a cidadania, estimulando a qualidade de vida para as usuárias, facilitando o diagnóstico da situação apresentada.

No primeiro capítulo está a introdução, apresentando os objetivos do presente trabalho.

O segundo capítulo aborda a trajetória histórica dos direitos das mulheres no Brasil, os avanços ocorridos e os desafios enfrentados para efetivar tais direitos. Nesta trajetória, convém ressaltar como de fundamental importância para as conquistas presentes, o movimento feminista e os debates entre Estado e Sociedade Civil, marco da quebra de paradigmas na relação de gênero, e da situação de violência contra a mulher.

O terceiro capítulo aborda conteúdos relacionados às mulheres e a violência; suas concepções e suas consequências na cotidianidade. Por meio de reflexões

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fundamentadas à aspectos entre os quais: a violência como uma questão de poder sobre o outro, o cultural, o gênero e as fases e formas da violência doméstica. Somente a partir dos anos 80, a violência decorrente das relações entre gênero, passou a ser vista de maneira mais complexa. Essa nova visão pode ser creditada às ações dos movimentos feministas e das diversas ONGS - Organizações Não Governamentais, que lutaram defendendo essa mesma bandeira. Como consequência, o Estado passa a reconhecer a necessidade da criação de órgãos especializados em atender e proporcionar amparo legal às vítimas de violência doméstica, assim como o referido assunto passa a fazer parte da pauta política, sendo reconhecido como componente de nossa dinâmica cultural e social.

O quarto capítulo contempla a prática de estágio e o processo de trabalho do Serviço Social com Mulheres Vítimas de Violência Doméstica no CEVIC de Florianópolis-SC. A apresentação deste assunto está também fundamentada por autores que contribuíram com as reflexões apresentadas, a partir das experiências vivenciadas.

Por fim, serão apresentadas as considerações finais com os respectivos posicionamentos gerados a partir do estudo proposto.

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2 A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS DIREITOS DAS MULHERES NO BRASIL

Este capítulo aborda o histórico dos direitos das mulheres no Brasil, os obstáculos e conquistas como a Lei Maria da Penha, e as inovações decorrentes da sua promulgação.

2.1 AVANÇOS E DESAFIOS; A EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS PARA AS MULHERES.

Tomando como base para este estudo o cenário sócio-econômico no Brasil, durante a década de 70, a expansão do mercado de trabalho, o aumento da população, o crescimento das cidades e o acelerado ritmo da industrialização, foram aspectos que marcaram um momento de grande crescimento econômico para o país, promovendo o ingresso das mulheres no mercado de trabalho. Esse fato marcou muitas mudanças no comportamento feminino e também nos valores relativos ao papel social das mulheres. Diante das dificuldades econômicas enfrentadas pelas famílias em adaptar-se ao ambiente urbano, o sistema capitalista sugou a mão-de-obra da mulher. Por consequência, a atuação de movimentos em defesa dos direitos da mulher foi intensificada, trazendo para o debate político a importância da efetivação de tais direitos. (CARLOTO, 2002).

Foi também na década de 70 que uma série de eventos em favor da efetivação dos direitos das mulheres, iniciou-se no contexto mundial, conforme se pode verificar de acordo com o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher - CEDIM/RJ (2005):

No ano de 1975, foi realizada no México uma conferência onde foi apresentado um Plano de Ação para eliminar a discriminação conta a mulher. Na ocasião foram traçados objetivos em defesa dos direitos da mulher a serem atingidos ao longo de dez anos, entre 1975 e 1985, período reconhecido pelo Plano de Ação como a “Década da Mulher”. Após a Conferencia do México, a Organização das Nações Unidas - ONU instituiu o ano de 1975 como o “Ano Internacional da Mulher”

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Ainda de acordo com o CEDIM/RJ (2005), naquele mesmo ano no Brasil, surgiram as primeiras organizações do movimento denominado “novo feminismo”, como o Centro da Mulher Brasileira - CMB, no Rio de Janeiro e o Centro de Desenvolvimento da Mulher Brasileira- CMDB, em São Paulo. As mulheres brasileiras mobilizaram-se ainda contra o regime militar, unindo-se a luta pela redemocratização do país, com o Movimento Feminino pela Anistia - MFA.

Segundo a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo - PGE (1979), em 1979, a Assembléia Geral da ONU adotou a “Convenção de Eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher”, a Lei Internacional dos Direitos da Mulher. Essa convenção definiu o que se constitui discriminação contra a mulher e estabeleceu uma agenda de ações, com a finalidade de acabar com a discriminação e voltada para a defesa dos direitos da mulher.

A Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação1 é a mais importante legislação internacional voltada aos direitos da mulher, pois as vê, em todas as dimensões de sua vida.

De acordo com o art. 1º da referida Convenção,

A expressão “discriminação contra a mulher” significará "toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício da mulher, independente-mente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdade fundamental nos campos políticos, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo”. (BRASIL, 2004) De acordo com CEDIM/RJ (2005), na década de 80 no Brasil, surgiam grupos feministas em todo o país, denominados SOS - Mulher, voltados ao atendimento jurídico, social e psicológico de mulheres vítimas de violência. A então, bem sucedida politização da temática da violência contra a mulher pelo SOS - Mulher e pelo movimento de mulheres em geral fez com que, em São Paulo, o Conselho Estadual da Condição Feminina, criado em 1983, priorizasse essa temática, entre outras. O Conselho propunha a formulação de políticas públicas que promovessem o

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CEDAW- A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) é a lei internacional dos direitos das mulheres. Ela baseia-se no compromisso dos Estados signatários de promover e assegurar a igualdade entre homens e mulheres e de eliminar todos os tipos de discriminação contra a mulher.

A CEDAW foi aprovada pela Organização das Nações Unidas em 1979, tendo entrado em vigor em 1981. Atualmente, 173 países – mais de dois terços dos membros da ONU – ratificaram a Convenção: Uruguai, em 1981; Brasil e Chile em 1984; Argentina, em 1985; Paraguai, 1987.

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mento integral às vítimas de violência, abrangendo as áreas de segurança pública, assistências social e psicológica.

Também neste contexto político de redemocratização, bem como dos protestos do movimento de mulheres contra o descaso com que o Poder Judiciário e os distritos policiais – em regra, lotados por policiais do sexo masculino – trabalhavam com casos de violência doméstica e sexual, nos quais as vítimas eram do sexo feminino (CNDM, 2001).

Ainda no ano de 1983 foram criados em São Paulo e Minas Gerais os primeiros Conselhos Estaduais da Condição Feminina, para traçar políticas públicas para as mulheres. No ano seguinte o Ministério da Saúde cria o PAISM - Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher, resultado da forte mobilização empreendida pelos movimentos feministas no final dos anos 70 e início dos anos 80. O PAISM surgiu fundamentado nos princípios mais importantes do modelo de assistência: o da integralidade do corpo, da mente e da sexualidade de cada mulher. Para estabelecer sua proposta, o Ministério partia da constatação de que o cuidado da saúde da mulher pelo sistema de saúde, até então, limitava-se ao ciclo gravídico-puerperal. E, mesmo aí, era deficiente. Considerava-se esse quadro agravado face à “... crescente presença da

mulher na força de trabalho, além do seu papel fundamental no núcleo familiar” (MS

1984, p. 5 - grifo do autor).

O governo estava procurando agilizar a atenção à saúde da população em geral, atuando em duas frentes: expandir e consolidar a rede de serviços básicos de prestação de ações integrais de saúde, bem como também a segurança pública.

Em 1990, o Fórum Nacional de Presidentes de Conselhos da Condição e Direitos da Mulher conseguiu diversos avanços acompanhando as ações do Congresso Nacional, estando articulado com os movimentos de mulheres para encaminhamento de projetos de lei. Junto aos Ministérios, encaminhou propostas de políticas públicas. Mantinha contatos formais com agências especializadas, organismos e fundos das Nações Unidas (CEDIM/RJ, 2005).

Em 1994, na cidade de Cairo, no Egito, foi realizada a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento. Nesta Conferência aconteceu a participação ativa das mulheres, marcando sua presença e realizando reivindicações anotadas nos documentos finais.

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Naquele mesmo ano no Brasil, foi realizada Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, conhecida como a “Convenção de Belém do Pará”. A referida Convenção estabeleceu as bases de uma nova cultura no campo dos direitos, ao reafirmar que as diversas formas de violência contra a mulher não constituem fatos naturais da vida privada. Ao ratificar e ampliar a Declaração e o Programa de Ação da Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena, 1993), a Convenção de Belém do Pará reconheceu que a violência contra a mulher é uma violação de seus direitos humanos e responsabilizou o Estado e a sociedade pela garantia do direito da mulher a uma vida livre de violência.

O Brasil é signatário da Convenção de Belém do Pará e a ratificou em 27 de novembro de 1995.

No mesmo ano teve inicio a articulação das mulheres brasileiras para a redação do documento reivindicatório para a IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher, realizada em Beijing, na China, no ano seguinte. Foram realizados 91 eventos, envolvendo mais de 800 grupos femininos em todo o País.

Em Beijing, a IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher, foi marcada pelo reconhecimento definitivo do papel econômico e social da mulher; abrindo os caminhos do futuro, assim como consagrou todas as conquistas das mulheres, o princípio da universalidade dos direitos humanos e o respeito à especificidade das culturas.

Além de reafirmar o compromisso internacional de reforçar os mecanismos destinados a observar e promover os Direitos Humanos no mundo inteiro, a IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher, também estimulou a inclusão dos Direitos Humanos como parte integrante das missões de manutenção da paz da ONU e afirmou a ligação entre democracia, desenvolvimento e Direitos Humanos.

Em 1995, foi empossado, o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. O então Presidente reativou o CNDM - Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, vinculado ao Ministério da Justiça, que novamente é esvaziado em estrutura e

status, nos anos de 97 e 98. Em 1999 começa uma reestruturação resultante de

pressões do movimento feminista.

As conquistas são resultantes de lutas marcadas por paradigmas culturais, decorrentes de relações de poder historicamente rotulados pela desigualdade entre

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homens e mulheres. Sem dúvida, a participação das mulheres vem ocorrendo de forma importante para as conquistas e os avanços sociais, políticos, econômicos e culturais no Brasil. No que se refere ao reconhecimento dos direitos humanos das mulheres, verifica-se que esses direitos, sofreram prejuízo com a morosidade no processo de inserção na Legislação.

Em 2003, um Consórcio de organizações feministas2, elaborou e entregou à

Bancada Feminina do Congresso Nacional e à Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, uma proposta de Lei sobre violência doméstica contra a mulher.

Naquele mesmo ano, o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, cria a Secretária Especial de Políticas para as Mulheres, porém esta, não tem sido suficiente para avançar na solução dos problemas vividos pelas mulheres. Em especial no âmbito das relações domésticas, cabe salientar que, aprovação de legislações para combater, prevenir e erradicar a violência à mulher é antes de tudo, fruto de mais de 30 anos de luta dos diversos movimentos sociais em especial do feminismo brasileiro.

Em 2004, foi criada uma nova Lei, em defesa dos direitos das mulheres, de número 10.886, que contemplou as reivindicações feitas em 2003 pelo Consórcio das Organizações Femininas e introduziu a temática da violência doméstica. A referida Lei é considerada um marco histórico.

Em santa Catarina, o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher - CEDIM/SC (2009), órgão apartidário, normativo, deliberativo, consultivo e fiscalizador, com função de implementar políticas públicas que atendam as necessidades e direitos das mulheres catarinenses, foi criado pela Lei nº. 11.159, de 20 de julho de 1999. O órgão foi instituído junto à Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho e Habitação. É órgão Estadual colegiado, com autonomia administrativa e financeira, de caráter permanente e composição paritária entre governo e sociedade civil, com a finalidade de promover, em âmbito estadual, políticas públicas com o intuito de eliminar a discriminação da mulher, assegurando-lhe condições de liberdade e de igualdade de

2 CLADEM (Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) AGENDE

(Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento - AGENDE, organização feminista),( CFEMEA (Centro Feminista de Estudos Assessoria), THEMIS (assessoria jurídica e estudos de gênero),são organizações não governamentais, sem fins lucrativos, voltada para a execução de projetos que contribuam para a ampliação e efetivação dos direitos humanos e o fortalecimento da cidadania especialmente dos grupos que, na história de nosso país, vêm sendo tradicionalmente excluídos de seu exercício.

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direitos, bem como sua plena participação nas atividades políticas, econômicas, sociais e culturais do Estado.

Em Santa Catarina, a Coordenadoria Estadual da Mulher CEM/SC (2009), foi criada pela Lei Complementar n.º58, de 04 de maio de 2006, a referida Coordenadoria é vinculada ao Gabinete da Chefia do Executivo do Gabinete do Governador do Estado de Santa Catarina. A finalidade da CEM/SC é assessorar, assistir, apoiar, articular e acompanhar ações, programas e projetos voltados para a mulher.

De acordo com a Lei 358/06, a CEM/SC (2008), tem as seguintes competências:

I - dar assessoramento às ações políticas relativas à condição de vida da mulher e ao combate aos mecanismos de subordinação e exclusão, que sustentam a sociedade discriminatória, visando buscar a promoção da cidadania feminina e da igualdade entre os gêneros;

II - prestar apoio e assistência ao diálogo e a discussão com a sociedade e movimentos sociais no Estado, constituindo fóruns regionais para a articulação de ações e recursos em políticas de gênero e, ainda, participar de fóruns, encontros, reuniões, seminários e outros que abordem questões relativas a mulher;

III - efetuar assessoramento ou assistência à reestruturação ou a alteração estrutural do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher – CEDIM/SC;

IV - dar assessoramento e articular com diferentes órgãos do governo, programas dirigidos a mulher em assuntos do seu interesse, que envolvam saúde, segurança, emprego, salário, moradia, educação, agricultura, raça, etnia, comunicação, participação política e outros;

V - prestar assistência aos programas de capacitação, formação e de conscientização da comunidade, principalmente ao funcionalismo estadual; VI - acompanhar o cumprimento da legislação que assegura os direitos da mulher e orientar o encaminhamento de denúncias relativas à discriminação da mulher;

VII - promover a revitalização de estudos, de pesquisas formando em banco de dados, ou de debates sobre a situação da mulher, visando a busca de informações para qualificar as políticas públicas e serem implantadas;

VIII - executar outras atividades correlatas ou que lhe venham a ser designadas pela autoridade superior.(cartilha da coordenadoria Estadual para mulheres).

Em Florianópolis - SC, em 12/06/2007, foi realizada a II Conferência Estadual da Mulher, onde foram discutidos temas como, Avaliação da Implantação do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. O evento foi organizado pela Secretaria do Estado de Assistência Social, Trabalho e Habitação (SST) e pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim). A Conferência reuniu mais de 400 pessoas, oriundas das mais diversas regiões do Estado. Na pauta do referido evento foram analisados e debatidos temas relacionados à realidade brasileira em seu contexto social, econômico, político e cultural (SOUZA, 2007).

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Ressalta-se a participação da categoria profissional o CRESS, 12ª região, na luta contra a violência doméstica, fóruns de debates, na luta pela efetivação e redemocratização dos direitos.

A consolidação da democracia brasileira pressupõe o respeito ao diferente em suas especificidades e seus direitos. Esta postura faz emergir a verdadeira capacidade da sociedade brasileira em reconhecer esses direitos e praticá-los. O item seguinte aborda a Lei Maria da Penha, que pode ser considerada a mais importante conquista no combate à violência contra a mulher no Brasil.

2.2 LEI MARIA DA PENHA

Em 7 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei nº 11.340, que passa a vigorar em 22/09/2006. A Lei Maria da Penha “cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”, nos termos do parágrafo 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher

A Lei Maria da Penha substitui a Lei. 9.099/95,que criou os juizados Especiais Criminais para julgar casos classificados como “crime de menor potencial ofensivo”, aquele cuja pena é de reclusão do agressor por dois anos, que podem ser também penalizados com obrigações pecuniárias, como pagamento em espécies ou em cestas básica.

A referida Lei recebeu o nome de “Lei Maria da Penha” como forma de homenagear a mulher, Maria da Penha Fernandes3, símbolo da luta contra a violência familiar e doméstica.

Maria da Penha teve sua história marcada por duas tentativas de homicídio por parte do ex-marido, que primeiramente, enquanto a esposa dormia disparou-lhe um tiro,

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Maria da Penha transformou dor em luta, tragédia em solidariedade. À sua luta e a de tantas outras devemos os avanços que pudemos obter nestes últimos vinte anos.

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alegando o agressor posteriormente, que houve uma tentativa de roubo. Em função do disparo do projétil, Maria da Penha ficou paraplégica. Não satisfeito, duas semanas após o regresso do hospital, ainda em período de recuperação, Maria da Penha sofreu um segundo atentado contra sua vida, seu ex-marido, sabendo de sua condição, tentou eletrocutá-la enquanto se banhava (FREIRE, 2006).

A punição do agressor, aconteceu somente 19 anos e 6 meses após o ocorrido. Essa situação provocou a formalização de denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA – (Organização dos Estados Americanos), órgão internacional, responsável pelo arquivamento de comunicações decorrentes de violação desses acordos internacionais, também por outra entidade denominada Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL), assim como pelo Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), juntamente com a vítima.

Outra importante conquista para os direitos da mulher no Brasil, que também ocorreu em consequência da denúncia a Comissão da OEA, foi a determinação de que o Estado indenizasse à vítima, Maria da Penha, pela morosidade da justiça em punir o agressor:

Em 2001, a cearense conseguiu uma vitória na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), que determinou que o Estado do Ceará pagasse uma indenização de US$ 20 mil por não ter punido judicialmente o homem que a agredia e que até tentou matá-la: seu ex-marido. (...) O valor da indenização não chega nem a cobrir as despesas médicas que Maria da Penha teve depois das tentativas de homicídio. ‘Mas o significado vai muito além disso, tem uma dimensão internacional contra a impunidade’, afirmou ela à Folha” (FERNANDES apud PAIVA NETTO, 2009). Apesar de o valor monetário ser inexpressivo, a repercussão mundial de mais esse caso de impunidade promovida pela justiça brasileira, por certo terá implicações que irão além da injustiça amargada por Maria da Penha, durante quase duas décadas. O item seguinte demonstra algumas conquistas decorrentes da promulgação da referida Lei.

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2.3 ALGUMAS INOVAÇÕES DA LEI

A violência contra a mulher tem na Lei Maria da Penha uma simbologia de inovação conceitual de família, rompendo o antigo modelo patriarcal e o autoritarismo do homem no lar, tornando público o que até um passado recente pertencia apenas ao privado. Ao relatar no Capítulo I - Art. 6º, que “a violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos4”. A Lei nº 11.340 reafirma o compromisso do Estado brasileiro com o Tratado Internacional normatizado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 (MATTOS, 2008).

Essa Lei representa uma conquista de proteção familiar e um resgate da cidadania feminina, quando se aplica a toda a forma de violência doméstica cometida contra a mulher, definida no Cap. I, Art. 5º 5 como “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico, e dano moral ou patrimonial:”

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Segundo Minayo (2006), entre todas as violências cometidas contra a mulher, uma se faz presente, a psicológica, pois fere e interfere na saúde mental da mulher, na sua integridade física, moral e social e acontece principalmente no espaço intrafamiliar.

A sanção dessa Lei representa um avanço na proteção da mulher vítima de violência familiar e doméstica, incluindo-se, também, uma inovação legal quanto às formas familiares já positivadas.

É uma lei inovadora, porque nela o legislador incluiu a instituição de medidas protetivas de urgência, com possibilidade inclusive de concessão de alimentos provisórios ou provisionais, em favor da mulher, bem como aumento da pena do

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Fonte: Cartilha Lei Maria da Penha.

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crime de lesão corporal praticado com violência doméstica, dando elasticidade considerável ao conceito para nele imbuir toda e qualquer forma de violência, seja ela física, psicológica, moral ou sexual, elevando a violação de direitos humanos (CARTILHA LEI MARIA DA PENHA, 2007).

A violência pode se dar no espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas (âmbito da unidade doméstica), ou na comunidade formada por indivíduos que são ou que se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa (âmbito da família), ou ainda, em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

A concepção dominante do valor do lar e da família, em geral, remete a uma concepção de repetição do valor da família como sinônimo de “privacidade” e de “harmonia familiar”, mesmo onde há conflitos graves, com gravíssimos efeitos na integridade corporal e da saúde das mulheres.

Para que se possa entender estes conceitos, é necessário compreender o significado da família e os novos “arranjos” da família contemporânea.

De acordo com Szymanski, (2005, p. 27) “o mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas na busca de soluções para as vicissitudes que a vida vai trazendo”.

Para Costa e Vitalle (2003, p. 271. 2003) o conceito de famílias na atualidade traduz-se como sendo,

a Família como expressão máxima da vida privada é lugar da intimidade, construção de sentidos e expressão de sentimentos, onde se exterioriza o sofrimento psíquico que a vida de todos nós põe e repõe. E percebida como nicho afetivo e de relações necessárias á socialização dos indivíduos, que assim desenvolvem o sentido de pertença a um campo relacional iniciador de relações excludentes na própria vida em sociedade. É um campo de mediação imperdível.

As transformações das famílias na contemporaneidade acontecem em um cenário mesclado pelo conformismo às exigências sociais e a resistência a essas mesmas exigências que permeiam relações de gênero e poder na sociedade.

A família se apresenta como mescla de conformismo às exigências sociais e como forma fundamental de resistência contra essa mesma sociedade. Mantém a subordinação feminina e dos filhos, mas protege mulheres, crianças e velhos contra a violência urbana; cria condições para a dominação masculina, mas garante aos homens um espaço de liberdade contra sua subordinação no trabalho; conserva tradições, mas é o espaço de elaboração de projetos para o

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futuro, é não só núcleo de tensões e de conflitos, mas também o lugar onde se obtém prazer (CHAUÌ,1986).

Com certeza o cenário familiar é palco de tensões, desafios e arranjos, mas a cada novo valor agregado nesta estrutura, as famílias vão se organizando para construir uma história ativa na busca da efetivação de seus direitos, como a inserção de suas necessidades sendo contempladas pelas políticas públicas.

Toda a trajetória pela efetivação dos direitos das mulheres no Brasil é caracterizada por conquistas e desafios para buscar a igualdade nas relações entre gênero e a inserção da mulher como um ser portador de direitos nos programas e políticas públicas. Essa luta não foi em vão, pois hoje são inúmeras as Políticas, assim como Leis, voltadas para a vida da mulher em sociedade, quer no âmbito sexual e reprodutivo, da saúde, do trabalho, dos direitos políticos e civis e o marco histórico em nosso país, a Lei que combate a violência de gênero. A Democracia encontra o seu eixo no exercício da cidadania.

Segundo Oliveira (2009)6, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da

Mulher;7 Direitos humanos para as mulheres significam o combate à violência sutil,

diluída no cotidiano, sob os disfarces de uma suposta cultura arcaica. A cultura que está sendo cultivada no Brasil de hoje, é a cultura democrática. Cidadania para as Mulheres, Direitos Humanos e Democracia, são a liga do projeto civilizatório que o Brasil formulou para si mesmo e que vem tentando corajosamente cumprir.

Portanto, pode-se concluir que grandes avanços na criação de políticas foram efetivados desde 1970 até os dias atuais. É fundamental o compromisso ético-político

6 (Rosiska Darcy de Oliveira, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher) 7

O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher foi criado pela Lei 7.353, de 29 de agosto de 1.985, pelo Presidente José Sarney, com a finalidade de promover, em âmbito nacional, políticas que objetivem eliminar a discriminação contra a mulher, assegurando-lhe condições de liberdade e de igualdade de direitos, bem como sua plena participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do País. O Conselho Deliberativo é composto por dezessete integrantes e três suplentes, escolhidos entre pessoas que tenham contribuído, de forma significativa, em prol dos direitos da mulher. São designados pelo Presidente da República para mandato de quatro anos.

No cumprimento de seu mandato, o CNDM trabalha para implementar no País a Plataforma de Ação assinada pelo Brasil na IV Conferência Mundial sobre a Mulher. Vem atuando junto ao Executivo por meio de protocolos assinados com os Ministérios contemplando áreas prioritárias como Trabalho, Educação, Saúde, Violência e Justiça. Junto ao Legislativo, vem propondo mudanças legais que efetivem o cumprimento da Constituição de 1.988, assim como a reforma dos Códigos Civil e Penal, eliminando aspectos discriminatórios. Junto ao judiciário vem mantendo a interlocução com as cortes de Justiça em defesa dos direitos da mulher. Em parceria com organizações não-governamentais, redes de mulheres, centros universitários e centros culturais, o CNDM atua na promoção e divulgação dos direitos da mulher e no incentivo a pesquisas.

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do profissional de Serviço Social, inserindo-se na luta para combater a violência doméstica, as desigualdades de gênero, a efetivação e promoção de novas políticas, contribuindo assim para que tabus de uma sociedade patriarcal sejam quebrados.

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3 MULHERES E A VIOLÊNCIA: CONCEPÇÕES E OS REFLEXOS NA COTIDIANEIDADE

O presente capítulo apresenta o significado e a influência da violência contra a mulher nos dias atuais, no contexto familiar e social, demonstrando as formas, as fases e os ciclos pelos quais a violência contra a mulher ocorre no dia-a-dia.

3.1 MULHERES E A VIOLÊNCIA SOCIAL E DOMÉSTICA.

Para compreender o significado da violência doméstica e de gênero, é necessário entender o contexto em que ela se insere, uma questão de poder de um sobre o outro.

Para Scott (1995, p. 14),

Gênero é essencialmente definido como uma intersecção entre duas proposições: o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder.

Voltando ao passado pode-se esclarecer e entender o presente e construir um futuro, viabilizando assim, compreender a sociedade patriarcal com suas crenças e sua cultura.

Para Foucault (apud MACHADO, 2006) a desigualdade entre homens e mulheres, foi historicamente construída a partir de diferenças naturais, refletindo os valores de uma sociedade machista e patriarcal. “O poder sobre o corpo é ter a posse do mesmo, não para supliciá-lo ou mutilá-lo, mas sim para dominá-lo.”

O corpo – e tudo o que diz respeito ao corpo, a alimentação, o clima, o solo – é o lugar da Herkunft: sobre o corpo se encontra o estigma dos acontecimentos passados do mesmo modo que dele nascem os desejos, os desfalecimentos e os erros: nele também eles se atam e de repente se exprimem, mas nele também eles se desatam, entram em luta, se apagam uns aos outros e continuam seu insuperável conflito.

O corpo: superfície de inscrição dos acontecimentos (enquanto que a linguagem os marca e as idéias os dissolvem), lugar de dissociação do Eu (que supõe a quimera de uma unidade substancial), volume em perpétua

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pulverização. A genealogia, como análise da proveniência, está, portanto no ponto de articulação do corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e a história arruinando o corpo. (FOUCAULT (apud MACHADO, 2006, p. 22)

O pensamento de Michel Foucault permite desvendar saberes e, como consequência a noção de microfísica do poder, realizando em parte a intenção política e filosófica: o desejo de tornar conhecida à realidade.

Na visão Foucaultiana, o indivíduo emerge como alvo e produção de poder, bem como objeto de saber. Para pensar de forma dinâmica as relações de gênero, assim como a violência doméstica também e enfrentar as constantes tensões que se alimentam dentro de uma rede de micro poderes, onde o indivíduo é quem detém o saber e o poder, então pode resistir ao externo, e lutar por relações mais democráticas entre homens e mulheres.

Para Foucault a idéia que o poder é produzido em rede, coloca os indivíduos em posição de exercê-lo e de ser submetido a ele, é adequada para compreendermos a violência a que são submetidas algumas mulheres no cotidiano da vida doméstica, é neste sentido que;

O poder não é algo que se adquire, arrebate ou compartilhe algo que se guarde ou deixe escapar; o poder se exerce a partir de inúmeros pontos e em meio a relações desiguais e móveis; que as relações de poder não se encontram em posição de exterioridade com respeito a outros tipos de relações (processos econômicos, relações de conhecimentos, relações sexuais), mas lhe são imanentes (FOUCAULT, apud MACHADO, 1988, p. 89-90).

É compreendido que o poder e as dominações masculinas estão ligados à violência, como forma de resolver conflitos pessoais. O homem é culturalmente o mais forte, o espaço público é destinado só a ele, e a mulher é considerada a mais frágil, a figura da pessoa doce e compreensiva, para a qual é destinado o espaço doméstico, cuidando do lar e da educação dos filhos. É a formação de dois mundos dentro do lar: um, a dominação e outro, a submissão, local onde a discriminação de gênero e a violência doméstica, tomam forma significativa.

Para Dias (2007, p.17);

Os padrões de comportamento instituídos distintamente para homens e mulheres levam à geração de um verdadeiro código de honra. A sociedade outorga ao macho um papel paternalista, exigindo uma postura de submissão da fêmea. As mulheres acabam recebendo uma educação diferenciada, pois necessitam ser mais controladas, mais limitadas em suas aspirações e desejos. Por isso o tabu da virgindade, a restrição ao exercício da sexualidade e a

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sacralização da maternidade. Ambos os universos ativo e passivo, distanciados, mas dependentes entre si, buscam manter a bipolaridade bem definida, sendo que ao autoritarismo corresponde o modelo de submissão.

Não se pode simplificar as relações entre homens e mulheres, entre agressor e vítima ou, eleger um fator como causador da violência contra a mulher, visto que estas relações de poder e violência corresponderam às dinâmicas societárias, que produzem estes tipos sociais e relacionais, em especial no que diz a respeito às relações de gênero.

É inquestionável que a ideologia patriarcal ainda persiste, o que continua levando o homem a sentir-se como proprietário do corpo e da vontade da mulher e dos filhos. Havendo uma falsa consciência de poder do homem sobre a figura da mulher, assegurando a também falsa idéia de direito do homem fazer uso de sua superioridade corporal e força física sobre a mulher e a mulher aceitando a submissão imposta no lar.

Um grande avanço para a emancipação das mulheres foi a descoberta dos métodos contraceptivos, bem como as lutas feministas levaram ao surgimento de uma nova postura feminina, e a sua inserção no mercado de trabalho, que acabou impondo a redefinição das formas de organização familiar, colocando em pauta o comportamento do homem nas relações afetivas e familiares.

Para Dias (2007, p 17),

A mulher, ao integrar-se no mercado de trabalho, saiu do lar, cobrando do varão a necessidade de assumir responsabilidades dentro de casa. Essa mudança acabou por provocar o afastamento do parâmetro preestabelecido, gerando um clima propício ao surgimento de conflitos.

Com todas as mudanças que vem ocorrendo na sociedade, com novos arranjos de famílias, mudanças do comportamento feminino, a violência doméstica é considerada, do ponto de vista masculino, como uma expressão de poder, uma forma de cobrança do papel da mulher, ainda fixado exclusivamente ao lar. O homem usa a força física, como forma de demonstrar o poder e dominação das relações afetivas, como a buscar as correções nos padrões de comportamento femininas tal qual imposto historicamente.

A Conferência das Nações Unidas sobre Direitos Humanos (1993) reconheceu formalmente a violência contra as mulheres como uma violação aos direitos humanos:

A violência contra as mulheres é uma manifestação de relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres que conduziram à

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dominação e à discriminação contra as mulheres pelos homens e impedem o pleno avanço das mulheres..8

A definição de liberdade proposta por Spinoza (apud CHAUÍ 1985, p. 36), demonstra o quanto a dominação masculina impede que a mulher ocupe seu espaço na sociedade.

A liberdade não é a escolha voluntária ante várias opções, mas a capacidade de autodeterminação para pensar, querer, sentir e agir. É Autonomia. Não se opõe à necessidade (natural ou social), mas trabalha com ela, opondo-se ao constrangimento e à autoridade. Nessa perspectiva, ser sujeito é construir-se e constituir-se como capaz de autonomia numa relação tal que as coisas e os demais não se ofereçam como determinantes do que somos e fazemos, mas como o campo no qual o que somos e fazemos pode ter a capacidade aumentada ou diminuída, segundo nos submetamos ou não à força e à violência ou sejamos agentes dela

Segundo Azevedo e Guerra (2001, p.25), “A partir destes conceitos poderemos analisar a violência de forma ampla e generalizada e os transtornos que a mesma traz a vida das famílias que estão inseridas neste contexto.”

O termo violência psicológica doméstica foi cunhado no seio da literatura feminista como parte da luta das mulheres para tornar pública a violência cotidianamente sofrida por elas na vida familiar. É neste sentido que a violência doméstica nem sempre é reconhecida pelas vítimas, pois podem aparecer associadas a problemas emocionais com agravantes como a de perda de emprego, problemas com filhos, entre outros.

De acordo com a Revista Época (2009, p. 48) em abril de 2009, foi realizado um estudo sobre o problema mundial, a Violência contra a mulher, cometida pelo próprio companheiro, são apresentados dados alarmantes:

No Canadá 54% das adolescentes de 15 a 19 anos, dizem terem sido coagidas a ter relações sexuais com o namorado.

Nos Estados Unidos uma mulher é agredida a cada 9 segundos, e pelo menos 3 são assassinadas diariamente pelos parceiros.

Também no Brasil, de cada 100 mulheres pelo menos 25 foram vítimas de violência doméstica. Um terço das agressões começam por volta dos 19 anos. Outro fato que a Revista expõe são os crimes de ódio, passionais, mas repercutiram na história do Brasil, podemos citar; em 1976 o assassinato de Ângela Diniz, pelo seu

8

Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres, Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas, dezembro de 1993

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companheiro Raul Fernandes do Amaral Street, o Doca, onde levou quatro tiros, em 1981, o cantor Lindomar Castilhos executou a ex-mulher, a cantora Eliane de Grammont, 1992, o assassinato de Daniella Perez. Recentemente em 2000 o jornalista Antônio Pimenta Neves matou a ex- namorada Sandra Gomide, no ano de 2008 a estudante Eloá Pimentel, foi assassinada pelo ex-namorado Lindemberg Alves em São Paulo, entre outros.

A violência é um problema mundial, a agência Brasil de Fato9, chama atenção

para o Feminicídio, crimes de ódio no Brasil, onde a Socióloga Maria Dolores de Brito Mota (2008)10 afirma que o Feminicídio é

um crime onde não apenas a vida de um corpo foi assassinada, mas o significado que carrega - o feminino. Um crime do patriarcado que se sustenta no controle do corpo, da vontade e da capacidade punitiva sobre as mulheres pelos homens. O feminicídio é um crime de ódio, realizado sempre com crueldade, como o ‘extremo de um continuum de terror anti-feminino’, incluindo várias formas de violência como sofreu Eloá, xingamentos, desconfiança, acusações, agressões físicas, até alcançar o nível da morte pública.

O caso da estudante Eloá Pimentel, amplamente divulgado através dos mais variados meios de comunicação, comoveu o Brasil, pois ela foi mais uma vítima da violência gerada pela sociedade que ainda persiste na cultura da dominação e do poder sobre o outro.

No Brasil, a partir da década de 70, organizações feministas fizeram render inúmeros frutos mediante debate com o Estado e os demais segmentos da sociedade civil, sobre as questões que afligiam o segmento feminino como: planejamento familiar, aborto, sexualidade, saúde, violência doméstica, anistia, política, crimes, educação, trabalho, entre tantos outros direitos.

Recentemente a Avon11 - organização produtora de cosméticos firmou parceria

com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas, na luta pelos direitos das mulheres. Inúmeras são as iniciativas, mas ainda há muito a fazer para coibir a violência doméstica. A sociedade, através de organizações da sociedade civil, vem

9 www.brasildefato.com.br-Acessado-28.out.2008.

10 Maria Dolores de Brito Mota - Socióloga, professora da Universidade Federal do Ceará. 11

SOBRE O INSTITUTO AVON – Criado em 2003, o Instituto Avon é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), não-governamental, que administra e direciona recursos arrecadados pela Avon e doados ao Instituto em prol de causas voltadas para a saúde e bem-estar da mulher. Fonte: www.avon.com.br. Acessado em: 20.mai.2009.

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demonstrando vigília a estes aspectos e confrontando permanentemente com a cultura dominante que separa e aceita, expressões de poder do homem sobre a mulher.

A problemática das relações de gênero é histórica, têm-se como exemplos: a escravidão, homicídio, venda e troca de mulheres por mercadorias, massacres como a caça as bruxas, casamentos arranjados, no contexto da revolução industrial, a inserção da mulher no mercado de trabalho como exploração da mão- de- obra barata, assédio sexual, sempre justificando a violência contra a mulher que ocorre até os dias atuais, perpetuando estas relações.

Para analisar as relações violentas de gênero, anteriormente refletiu-se que estas são praticadas geralmente por aquele indivíduo que possui poder na relação, a superioridade masculina produzida e reproduzida culturalmente pela sociedade, que também tem característica patriarcal até os dias atuais, refletindo valores como discriminação e exclusão da mulher nas decisões em âmbito doméstico e social.

Por isso, é no processo de constituição dos direitos fundamentais do ser humano, que algumas desigualdades continuam a se perpetuar, especialmente contra as mulheres. Estas desigualdades são frutos de uma sociedade patriarcal e machista12

que impede o pleno desenvolvimento das mulheres (TELES/MELO, 2002).

A partir destas reflexões fica evidente que a violência de gênero é uma forma de dominação como afirma Saffioti (1987, p. 18);

Violência de Gênero é tudo que tira os direitos humanos numa perspectiva de manutenção das desigualdades hierárquicas existentes para garantir obediência, subalternidade de um sexo a outro. ‘Trata-se de forma de dominação permanente e acontece em todas as classes sociais raças e etnias’ [...] ‘paira sobre a cabeça de todas as mulheres a ameaça de agressões masculinas, funcionando isto como mecanismo de sujeição aos homens, inscrito nas relações de gênero.’

A violência de gênero é carregada de preconceitos sociais, não acontece só no âmbito doméstico, mas na sociedade em geral, carregando consigo preconceitos de uma herança cultural, marcada por relações machistas.

Somente a partir dos anos 80, a violência de gênero passou a ser vista de maneira mais complexa, resultado das ações dos movimentos feministas e ONGs, fazendo com que o Estado reconhecesse a necessidade da criação de órgãos

12

Dicionário Aurélio (1999, p. 1248), o significado de machismo: Atitude ou comportamento de quem não aceita a igualdade de direitos para o homem e a mulher, sendo contrário, pois, ao feminismo. Machista: relativo ao, ou que é adepto do machismo.

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especializados para atender às vítimas e também proporcionar tratamento legal, foi colocado em pauta que a violência doméstica e de genêro é problema cultural e social.

Entende-se que gênero se integra a rede de micro poderes, no ambiente doméstico é domínio e a submissão, marcadas pelas desigualdades culturais, social, configurando a discriminação das mulheres, também uma violação dos direitos fundamentais.

Para que as diferenças entre homens e mulheres sejam superadas, é preciso trabalhar na emancipação das mulheres vítimas de Violência, buscando o seu reconhecimento no campo social, isso implica investir em projetos individuais e também coletivos. Pensar a totalidade significa considerar que estas lutas são de todos na sociedade, para que tais situações de violência e discriminação sejam erradicadas das relações na sociedade.

A violência doméstica tem impacto negativo de grande dimensão na vida social das mulheres. No atual contexto globalizado, em meio a diferentes contextos de exclusão, a violência contra a mulher tanto pode ocorrer dentro de casa, como fora dela. Muitas vezes ela é praticada por pessoas não relacionadas à família, mas que mantêm certo poder sobre a mulher. A justificativa para os atos de violência estaria somente no fato de ser mulher, portanto, um ser submisso, que deve obediência ao homem.

È a partir deste processo sócio-cultural de construção da identidade, tanto masculina, quanto feminina, que ao menino é ensinado a não materno, não exteriorizar seus sentimentos, fraquezas e sensibilidade, a ser diferente da mãe e espelhar-se no pai, provedor, seguro e justiceiro; em contrapartida, à menina acontece o oposto, ela deve identificar-se com a mãe e com as características definidas como femininas: docilidade, dependência, insegurança, entre outras (BADINTER, 1993 apud,PASSOS, 1999).

As práticas no âmbito doméstico têm sido reservadas à mulher, com a justificativa de sua capacidade natural de ser mãe. Assim, o fenômeno da maternidade sofre uma elaboração social, favorecendo a crença de que cabem à mulher os cuidados e a educação dos filhos. Só é direcionada esta função a outra pessoa quando a mulher precisar garantir o sustento da casa ou complementar o salário do marido. Para Saffioti (1987), estas relações:

Nas classes dominantes, a delegação desta função não carece da legitimação da necessidade de trabalhar, porém, mesmo nesta condição, a mulher não está isenta da responsabilidade de orientar os filhos e supervisionar o trabalho

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doméstico. Assim, tais papéis vão se inscrevendo na “natureza feminina”. Deste modo, o labor profissional, realizado em concomitância com o doméstico, impõe às mulheres uma dupla e injusta jornada de trabalho.

A violência contra a mulher resulta da relação de poder. Para manter o poder e afirmar o mesmo há um domínio sobre o outro. As mulheres culturalmente aceitam a punição para o seu comportamento e não conseguem sair desta situação, as mulheres resignadas cumprem o papel que historicamente lhe foi imposto na sociedade patriarcal em que homens e mulheres, são frutos da educação diferenciada.

Para Silva (1992), “as relações estabelecidas entre homens e mulheres são, quase sempre, de poder deles sobre elas, pois a ideologia dominante tem papel de difundir e reafirmar a supremacia masculina, em detrimento à correlata inferioridade feminina”.

As mulheres em geral, não aceitam como natural o lugar e os papéis a elas impostos pela sociedade, os homens usam formas mais ou menos sutis como a violência simbólica (moral e ou psicológica) para fazer valer suas vontades, e usando a violência física como forma de reafirmar o poder sobre ela.

O modelo tradicional de família patriarcal, formado a partir do poder nas relações exige a submissão e obediência da mulher à figura masculina, com exclusividade e direitos sobre a propriedade que é ela, onde resulta no processo de “coisificação” da mulher, é neste sentido que “apanhar” é a forma de se estruturar como pessoas, no modelo de relação apreendido na infância.Para Cardoso (1997 apud MENEZES, 2000, p.128):

Sofrer violência na infância torna as pessoas inseguras, com baixa auto-estima. Com ausência de senso crítico sobre a violência e dificuldades de estabelecer relações positivas. Essas consequências repercutem na escolha que a mulher fará de seu futuro marido, bem como na sua reação frente à violência.

Para enfrentar a cultura machista e patriarcal da sociedade brasileira, são necessárias políticas públicas que atuem modificando a discriminação e viabilizando a incompreensão de que os Direitos das Mulheres são Direitos Humanos. Modificar a cultura da subordinação de gênero requer uma ação conjugada. Para isso é fundamental estabelecer uma articulação entre os programas dos Ministérios da Justiça, da Educação, da Saúde, do Planejamento e demais ministérios, visando ao mesmo objetivo – a equidade entre homens e mulheres – constitui um caminho para alterar a violência em geral. A Secretaria dos Direitos da Mulher pode desempenhar

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este papel articulador, associando-se aos Conselhos ou Secretarias da Mulher em todos os Estados e com a participação da sociedade civil.

3.2 FORMAS E FASES DA VIOLÊNCIA

Para compreender as formas da violência é necessário entender que a violência ocasiona sérias consequências para a saúde da mulher e também das pessoas envolvidas.

É neste sentido que Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica contra a mulher como uma questão de saúde pública, que afeta negativamente a integridade física e emocional da vítima, configurada por círculo vicioso de “idas e vindas” aos serviços de saúde e o consequente aumento com os gastos neste âmbito (GROSSI, (1996)).

Segundo a AGENDE (2009)13 - Ações Em Gênero Cidadania e

Desenvolvimento, os tipos de violência e suas consequências para a saúde da mulher são:

Violência física é toda ação que produz dano à integridade física da pessoa:

tapas, murros, empurrões, pontapés, puxões de cabelo, chicotadas, arranhões, mordeduras; provocar queimaduras; arrancar a roupa, amarrar, arrastar e deixar em lugares desconhecidos; atacar com armas brancas (dar facadas, usar porretes) ou armas de fogo (pistolas, revólveres); tentar afogar a vítima; obrigá-la a ingerir drogas ou medicamentos; recusar-se a cuidar e proteger alguém de situações de perigo ou danos evitáveis, entre outras.

Consequências: dores crônicas, perda de sangue, hematomas, abortamentos,

cicatrizes, limitação de movimentos, problemas em algum membro ou órgão (como cegueira, perda da função de gerar filhos, paralisias) e até mesmo a morte.

13 Sobre a AGENDE Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento - a AGENDE atua praticamente em

todo o território nacional e na América Latina, no sentido de fortalecer a articulação e a capacidade de ação das organizações de mulheres brasileiras e latino-americanas. Além de monitorar as políticas públicas, acordos e convenções internacionais existentes, a instituição cria espaços de reflexão, socialização e troca de experiências, para capacitar organizações de mulheres e sensibilizar agentes governamentais e formadores de opinião sobre o tema de gênero.

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Violência sexual é toda ação na qual uma pessoa por meio da força, ameaças,

intimidação e mesmo sedução, obriga uma outra a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, da qual o agressor tenta obter gratificação, tais como carícias não desejadas, comportamento indecente, exibicionismo e masturbação forçada; sexo forçado, realizar a força penetração oral, vaginal ou anal com pênis ou objetos; estupros; impedir o uso de anticoncepcionais; obrigar a parceira a fazer sexo com outras pessoas, entre outras.

Consequências: dores agudas e crônicas; perda de sangue; doenças

sexualmente transmissíveis; sono difícil; problemas alimentares; Aids, gravidez indesejada; abortamentos de risco; distúrbios sexuais; depressões agudas e crônicas (tristeza, falta de interesse pela vida).

Violência psicológica é toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano

emocional e diminuição da auto-estima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar, controlar as ações da pessoa, seus comportamentos, crenças e decisões. Inclui: ameaças, constrangimento, insultos constantes, humilhação, ser ridicularizada e colocada de lado, receber críticas e comentários maldosos, chantagem, isolamento de amigos e familiares, referências preconceituosas a determinadas condições da pessoa, exploração, negligência, impedir a pessoa de sair de casa ou de sair sozinha.

Consequências: não deixa marcas visíveis, é difícil de provar que ela está

acontecendo. Destrói pouco a pouco as defesas da pessoa agredida, que se vê envolvida numa teia difícil de desmanchar. Reduz a auto-estima, fragiliza e expõe a pessoa vitimada a situações de risco. É também causa de insegurança, ansiedade e depressão.

Violência patrimonial é qualquer ato destrutivo ou de omissão que afeta o

bem-estar e a sobrevivência da pessoa, tais como roubo; destruição parcial ou total de documentos e objetos pessoais ou de trabalho; apropriação indevida de rendimentos, salários, pensões ou outros bens materiais; recusa em pagar pensões ou dividir gastos que devem ser compartilhados.

Consequências: prejuízos financeiros; rebaixamento do padrão de vida;

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jóias, móveis e objetos domésticos herdados de familiares ou adquiridos com o seu dinheiro.

Assédio moral em local de trabalho é toda e qualquer conduta abusiva

manifestada, sobretudo, por meio de comportamentos, palavras, atos, gestos, que possam trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física, sexual ou psíquica da pessoa, ou degradar o ambiente de trabalho. O assédio moral é caracterizado por situações humilhantes, constrangedoras, que se repetem durante o dia e, em geral por longo tempo.

Consequências: pode trazer dificuldades no ambiente de trabalho, com os

colegas e na realização de tarefas cotidianas; pode resultar em danos à saúde física, sexual, reprodutiva e psicológica. Também pode levar à perda do emprego.

Assédio sexual: tem adquirido maior visibilidade nas relações de trabalho com

o crescimento da entrada das mulheres no mercado formal de trabalho. A dependência econômica, o receio de ser desacreditada e a vergonha são fatores que impedem a pessoa assediada de denunciar a situação. Com frequência, o assédio sexual é feito de forma dissimulada, a portas fechadas, com comentários indiretos, sussurros, olhares maliciosos. São práticas características do assédio sexual: atitudes de conotação sexual imposta por pessoa em posição de superioridade - como patrão em relação à empregada - exigência de favores sexuais para manutenção do emprego, aumento de salário ou promoções.

Consequências: tal como o assédio moral, o assédio sexual pode trazer

dificuldades no ambiente de trabalho, com os colegas e na realização de tarefas cotidianas; pode resultar em danos à saúde física, sexual, reprodutiva e psicológica. Também pode levar à perda do emprego

Violência institucional é a violência praticada nas instituições públicas. Por

ação ou omissão destas instituições, a pessoa que busca ajuda se vê exposta a situações tais como: peregrinação por diversos serviços até ser atendida; não ser escutada ou acolhida; ser atendida às pressas, de maneira rude ou negligente; não receber informações que ajudem na resolução de seus problemas; não ter sua intimidade preservada; ser julgada e tratada de modo preconceituoso; ser punida por ter praticado algum ato considerado imoral ou criminoso, como é o caso do aborto; ser deixada de lado quando reclama de mau atendimento; ser vítima de agressão, moral,

Referências

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