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CAPÍTULO II – ENVOLVIMENTO FAMILIAR E RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA/

2.3. Formas de participação/ envolvimento

Cada vez mais presentes, as questões relativas à participação dos pais e encarregados de educação no sistema educativo impõem-se na actualidade remetendo não só para as já tradicionais e voluntárias associações de pais, mas também para a necessária participação individual de cada pai.

É precisamente neste âmbito que João Barroso (1995) diferencia a participação dos pais. Este autor considera assim a sua divisão em duas vertentes, a participação ao nível individual e ao nível colectivo, definindo a primeira como aquela que se dá aquando do contacto individual dos pais com professores e/ou directores de turma para obtenção de informações ou prestação de contas – que pode ocorrer por meio de notas escritas, de telefonemas, pessoalmente ou oralmente através dos educandos - e a segunda, que apelida de ―participação social e cívica ‖, ligada ao sentido de ―solidariedade, co-responsabilização e partenariado‖, em que o contacto se dá através de Associações de Pais e Encarregados de Educação que os representam junto da direcção da escola (Barroso, 1995:25)56.

Sublinhando que o envolvimento parental de cariz individual é o mais frequente, justificando esta predominância por se tratar da defesa directa dos interesses dos próprios filhos, Pedro Silva (2002:97-99) corrobora esta perspectiva de classificação/ divisão, e acrescenta que para além destas duas dimensões de actuação, a complexa relação entre a escola e a família é composta por duas vertentes a “escola” e o ”lar‖. A primeira, segundo o autor, refere-se a actividades escolares desempenhadas em casa pelo aluno e/ou pelos pais ou ao apoio que lhes é dado pela família em casa e a segunda, a actividades decorridas na escola, individuais ou colectivas, por iniciativa dos professores, dos pais e dos alunos.

Por sua vez, Lima (1992) realça a importância da passagem de uma ―participação espontânea‖ para a ―participação organizada‖ surgida em consequência da sua contemplação na lei enquanto ―princípio democrático consagrado politicamente ao mais alto nível normativo‖. Realçando que a sua contemplação legal conduziu a uma reorganização formal da escola para o cumprimento das condições necessárias a essa participação que passou a ser ―instrumento de realização da

democracia‖, afirma que a participação se estabelece não só como um direito mas também um

dever cívico que ―deve constituir uma prática normal, esperada e institucionalmente justificada‖ (Lima, 1992: 178).

O mesmo autor distingue ainda vários tipos e graus de participação baseado em quatro critérios: ―Democraticidade‖, ―Regulamentação‖, ―Envolvimento‖, ―Orientação‖. No que concerne à ―Democraticidade‖, considera que esta participação é o meio que proporciona uma intervenção

mais democrática de todos os intervenientes, podendo estes assumir formas de intervenção directa - participação directa no processo de tomada de decisões - ou indirecta - participação intermediada por representantes designados para o efeito.

Relativamente à ―Regulamentação‖, Lima distingue a participação formal – aquela que é decretada e que, como tal, está sujeita a um conjunto de regras formais previstas na lei (estatuto, regulamento, etc.) -, a participação não formal – baseada em regras menos formais, geralmente constantes de documentos produzidos no âmbito da organização -, e a participação informal – com regras informais, normalmente partilhadas pelo grupo sem recurso à sua elaboração em estatutos e/ou regulamentos. Em relação à questão do ―Envolvimento‖ nas organizações, três tipos de participação podem ser considerados: a ―activa‖, a ―reservada‖ e a ―passiva‖. Enquanto na primeira há um maior empenhamento e envolvimento nas actividades da organização, um profundo conhecimento de direitos e deveres e, como tal, uma grande capacidade para a acção, na segunda, situada entre a participação activa e a passiva - podendo evoluir para uma ou outra -, há uma actividade menos voluntária, uma atitude mais prudente, de expectativa, que, não se caracterizando contudo pelo desinteresse, pode dar lugar à tomada de posição e acção. Na participação ―passiva‖, considerada uma estratégia de não envolvimento ou de envolvimento mínimo, o desinteresse e consequente falta de informação são manifestos, havendo uma certa apatia e descuramento dos seus papéis e responsabilidades que se traduz, entre outras, em absentismo e falta de comparência em reuniões.

Por último, quanto à “Orientação”, Lima considera que a participação poderá ser ―convergente‖ ou ―divergente‖, sendo a primeira orientada por objectivos formais tomados como referência normativa pelos participantes e a segunda, que pode ser considerada contestatária, orientada para a inovação e mudança57.

A estas duas categorias, Teixeira (1995) e Alves-Pinto (1995) acrescentam a ―apatia‖ e o ―abandono‖que se caracterizam pela degradação ou recusa completa da cooperação ou ausência total, respectivamente, e apontam para uma participação deteriorada e mínima, apenas motivada pelo que é exigido, traduzida frequentemente numa ―ausência em presença‖.

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Contudo, este autor sublinha que além do direito de acompanhar a escolarização dos filhos e exercer o controlo democrático sobre o funcionamento da escola, os pais devem ser integrados na escola enquanto co-educadores e, como tal, devem participar nas estruturas formais e informais de gestão quotidiana da escola (Barroso, 1995).

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Na participação convergente, ainda que as pessoas ―joguem‖ de acordo com as regras que estão estabelecidas e consigam inscrever os seus próprios projectos de forma não problemática, tal não significa que não possam discordar, mostrar a sua insatisfação e tecer críticas ao funcionamento da escola. O que acontece nestes casos é que o fazem nos locais apropriados, usando os mecanismos formais e informais ao seu dispor, gerindo as suas divergências de forma ―democrática e frontal‖, alcançando soluções por vezes mais adequadas do que as originariamente projectadas (Alves- Pinto, 1995).

O segundo autor sublinha ainda o carácter dinâmico destas formas de estar na escola - defendendo que estas podem facilmente evoluir para outras formas - e a imperatividade da participação de todos na escola - alunos, professores, pais e funcionários - referindo que aqueles que não participam, estão no fundo a optar por uma modalidade específica de participação que apelida de ―participação de assimilação‖, considerando contudo que aqueles que se enquadram nesta ―categoria‖ podem participar mais quando sentem que ―vale a pena‖ (Alves-Pinto, 1995).

Ainda na opinião de Ramiro Marques (1993:111), baseando-se em Davies (1989), paralelamente ao dever da escola manter os pais informados - seja por meio de reuniões formais, encontros esporádicos, entrevistas individuais, envio de postais e uso do telefone, do caderno diário ou da caderneta escolar – outras formas de envolvimento são possíveis e desejáveis: o ―trabalho

voluntário dos pais‖- respeitante a apoio dado na organização de festas, visitas de estudo, por

exemplo -, a ―defesa de pontos de vista‖ – concernente à participação em reuniões e organismos de consulta – as ―actividades de co-produção”- que dizem respeito à participação conjunta de pais e professores na organização de actividades educativas – e a ―participação na tomada de decisões‖- referente a uma participação na gestão dos assuntos escolares.

Analogamente, na perspectiva de Jorge Lima (2002) o envolvimento dos pais na educação escolar dos filhos é concebido em três patamares distintos: ―mera recepção da informação‖, ―presença nos

órgãos de gestão da escola‖ e o ―envolvimento significativo na vida da sala de aula‖. No primeiro,

a relação entre a escola e a família resume-se à recepção de informação, no segundo os pais colaboram com a sua presença nos órgãos da escola e no terceiro há um envolvimento activo dos pais na vida escolar e uma efectiva uma partilha de saberes, ideias, planificações e avaliações.

Neste contexto, e face às diferentes modalidades de participação e envolvimento, é imperativo compreender os actuais impedimentos ao desenvolvimento destas relações e promover da melhor forma a sua superação.

2.4. Estado actual da participação parental: obstáculos e estratégias para a sua