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6.2 RELAÇÕES INTERORGANIZACIONAIS NO AMBIENTE HOSPITALAR

6.2.1 Formas da Rede de Relacionamento

As formas da rede de relacionamento estão identificadas por meio de três variáveis: se as relações são formalizadas ou não; se as relações são centralizadas (simétricas ou assimétricas); e, pelos mecanismos de coordenação. Os dados obtidos na pesquisa destas variáveis reproduzem as percepções dos diretores estratégicos da organização pesquisada e dos parceiros estratégicos por ela eleitos para a investigação. O Quadro 10, demonstra como estas variáveis ficaram dispostas nos cinco tipos de parcerias identificadas neste estudo. Estas variáveis serão fonte de análise para as demais categorias. As operadoras foram analisadas separadamente (seguradora, cooperativa e auto-gestão). No entanto, como apresentaram as mesmas características nas variáveis pesquisadas, foram agrupadas para melhor entendimento.

Todas as cinco parcerias estão reguladas formalmente por contrato, que por sua vez, define vários aspectos da organização das relações interorganizacionais.

Existem algumas peculiaridades na coordenação das atividades, específicas das parcerias estratégicas da organização pesquisada, que precisam ser analisadas e consideradas na análise destas inter-relações.

Estas variáveis agrupadas permitem classificar os relacionamentos em tipos de redes (GRANDORI; SODA, 1995). A COORDENAÇÃO DAS ATIVIDADES É CENTRALIZADA PARCEIROS AS RELAÇÕES SÃO

FORMALIZADAS NO PARCEIRO NO HOSPITAL

MECANISMOS DE COORDENAÇÃO Medicina diagnóstica contrato de gestão SIM Atividades técnicas Gestão administrativa

Incentivos, negociação, normas e regras, centralização e controle interação estratégica. Medicina diagnóstica franquia SIM Atividades técnicas Gestão administrativa

Negociação, incentivos, normas e regras, interação estratégica, centralização e controle.

Associação médica SIM No parceiro Negociação, interação estratégica e descentralização com base nas relações.

Operadoras SIM Na organização, com controle do parceiro

Negociação, normas e regras, mercado (preços).

Especialidades médicas organizadas

SIM No parceiro, com controle da organização

Negociação, incentivos, normas e regras, descentralização com base nas relações e interação estratégica. Quadro 10 – Variáveis para análise dos tipos de redes de relacionamento

O grau de formalização classifica a rede de relacionamentos dentro das categorias “rede burocrática” ou “rede proprietária”, que não substituem a presença de redes sociais, mas têm um caráter mais formal em suas relações (GRANDORI; SODA, 1995). A coordenação das atividades, se centralizada em um parceiro ou exercida conjuntamente (de forma paritária), determina a simetria da rede (simétrica ou assimétrica). Os mecanismos de coordenação permitem avaliar as parcerias sob a ótica relacional das trocas e confirma ou não mecanismos mais formais de relacionamento.

Ao agrupar as variáveis é possível conhecer os tipos de rede de relacionamento encontradas no ambiente da organização pesquisada, dispostos no Quadro 11.

Para melhor aprofundamento dos conceitos, a seguir serão analisadas uma a uma, todas as parcerias e interpretados os resultados obtidos para cada tipo de rede.

A parceria com a medicina diagnóstica (contrato de gestão) está formalizada em contrato e a coordenação – gestão das atividades médicas – está centralizada nos parceiros, com o acesso da organização às suas competências técnicas. Por outro lado, a organização assume a coordenação (gestão) das atividades administrativas e desenvolve seus parceiros (acesso a competências de gestão). Se consideradas todas as atividades desenvolvidas no “negócio”, a coordenação das atividades é descentralizada, com divisão de responsabilidades. Estas variáveis caracterizam esta rede de relacionamento como uma Rede Burocrática Assimétrica. Segundo os gestores entrevistados são utilizados tanto mecanismos de coordenação mais formais, como regras e normas estabelecidas em contrato, como mecanismos mais sociais como a interação estratégica e a descentralização com base nas relações. Neste caso, as redes sociais também estão presentes nos relacionamentos. No entanto, a presença de redes sociais não implica em total autonomia. Os gestores médicos (terceiros) se reportam à diretoria do hospital (médica e administrativa), que por sua vez, exerce total controle sobre os processos.

PARCERIAS ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TIPOS DE REDE MEDICINA

DIAGNÓSTICA (CONTRATO DE

GESTÃO)

Contrato formal, coordenação descentralizada, mecanismos de coordenação: Incentivos, negociação, normas e regras, centralização e controle, interação estratégica.

Rede Burocrática Assimétrica. MEDICINA

DIAGNÓSTICA (FRANQUIA)

Contrato formal, coordenação centralizada na organização, mecanismos de coordenação: Incentivos, negociação, normas e regras, centralização e controle, interação estratégica.

Rede Burocrática Assimétrica.

ASSOCIAÇÃO MÉDICA

Contrato formal de uso de marca, coordenação das atividades descentralizada, mecanismos de coordenação: Negociação, interação estratégica e descentralização com base nas relações e incentivos.

Rede Social Assimétrica

OPERADORA

Contrato formal, coordenação das atividades descentralizada, mecanismos de coordenação: negociação, normas e regras, mercado (preços). Rede Burocrática Simétrica ESPECIALIDADES MÉDICAS ORGANIZADAS

Contrato formal, coordenação das atividades centralizada no parceiro, mecanismos de coordenação: incentivos, normas e regras, descentralização com base nas relações e, interação estratégica.

Rede Burocrática Simétrica

Quadro 11 – Tipos de redes de relacionamento para os diferentes tipos de parcerias Fonte: o autor

A parceria com a medicina diagnóstica (“franquia”) está formalizada por contrato, que prevê a gestão administrativa para a organização, bem como a presidência do conselho administrativo. Esta formatação foi condição para a efetivação da parceria. O parceiro faz a coordenação das atividades técnicas operacionais.

Esta parceria poderia estar classificada dentro de dois tipos de rede. Se considerado o empreendimento conjunto de capital, o envolvimento entre os investidores e a organização, o alto teor tecnológico e a transferência do conhecimento gerencial, esta parceria seria classificada como uma Rede Proprietária Assimétrica. No entanto, ao vincular um contrato de direito do uso da marca da organização pesquisada – que centraliza a gestão e têm uma participação acionária de apenas 9%, a parceria assume características de franquia. As franquias são identificadas por Grandori e Soda (1995) como características de redes burocráticas. Portanto, para efeito deste estudo, a parceria será considerada como uma franquia, obedecendo à classificação dos autores como uma Rede Burocrática Assimétrica.

Ambas as relações anteriores são parcerias compostas de forma a dar total autonomia técnica para o parceiro, sem necessariamente dar autonomia administrativa, muito embora no primeiro caso o parceiro participe, em parte, também da gestão administrativa.

A parceria com as especialidades médicas organizadas, também é formalizada por contrato e a coordenação das atividades técnicas e administrativas está sob a responsabilidade do parceiro, o que a caracteriza como uma Rede Burocrática Simétrica. No entanto “a organização têm um controle forte sobre os processos”, segundo um diretor do nível estratégico entrevistado. A autonomia se restringe à gestão técnica e o gestor da especialidade

médica também se reporta aos diretores do hospital (médico e administrativo). São utilizados tanto mecanismos formais como regras e normas, como mecanismos mais sociais como a interação estratégica e a descentralização. Segundo um dos gestores parceiros entrevistados “na tônica do dia a dia das relações prevalecem as interações sociais, mesmo que desenvolvidas com grande controle”.

Na parceria com a associação médica, o contrato apenas prevê a responsabilidade do parceiro para com a marca e define algumas obrigações neste sentido. Apesar de formalizar o direito de uso da marca, a coordenação das atividades é realizada de forma totalmente independente e descentralizada (assimétrica). Este tipo de parceria não prescinde de controle, não está pautada em mecanismos de coordenação mais formais (ausência de normas e regras), antes pelo contrário, utiliza-se de mecanismos de coordenação mais relacionados de perto com interações sociais. Segundo Grandori e Soda (1995), as redes sociais assimétricas freqüentemente estão vinculadas por contratos formais, mas não especificam a organização das relações interorganizacionais. Portanto, esta parceria pode ser entendida como uma Rede Social Assimétrica.

Na parceria com as operadoras de planos de saúde, cada uma participa do processo com atividades distintas, porém a atividade geradora da parceria – assistência à saúde – acontece no ambiente hospitalar, coordenado pelo mesmo. Ainda que muitas trocas sejam efetivadas durante o atendimento dos clientes (autorizações e auditorias médico-assistenciais) mais a auditoria de contas, que migrou em grande parte para dentro do hospital, ainda assim, a atividade norteadora do negócio de ambos está sob a responsabilidade do hospital.

Apesar de parceiros no negócio saúde, é uma relação de grande instabilidade, motivada pela falta de informação, pelos altos custos e por questões culturais do sistema, segundo a percepção dos diretores entrevistados na organização pesquisada. Todos os parceiros reconhecem estes como sendo os motivos de conflitos de interesse. No entanto, um dos parceiros entrevistados responsabiliza os prestadores. Os mecanismos mais utilizados são as normas e regras e a negociação. Segundo os diretores do nível estratégico e os gestores dos planos de saúde entrevistados, a premissa da “parceria” está pautada muito fortemente na negociação de descontos (da prestadora) e de ofertas de demanda, conforme o desconto, das operadoras de plano de saúde. Ou seja a pauta está nos custos e preços. Ambos os parceiros percebem a necessidade de evoluir para práticas de negociação mais voltadas para a melhorias de processos de atendimento aos clientes ou melhorias na qualidade, porém afirmam ser muito incipientes. Os mecanismos utilizados para a coordenação das atividades classificam esta parceria como uma Rede Burocrática Simétrica.

Observa-se que existem alguns mecanismos de coordenação comuns a todas as cinco parcerias, como as normas e regras e a negociação e outros, específicos de determinados perfis de parcerias, como a descentralização. A interação estratégica aparece na maioria das relações, de forma mais efetiva nas relações mais maduras e com maior tempo de relação. Este fato demonstra que mesmo diante da centralização e controle pode haver interação estratégica. Existe uma tendência a compor parcerias com mecanismos de coordenação do tipo “incentivos”, com cotas de participação e/ou comissões (remuneração estratégica), que segundo os diretores muda as formas de relacionamento e traz ganhos em produtividade.

Em todas as entrevistas, tanto os diretores estratégicos, como os parceiros, entendem que não existem mecanismos de coordenação únicos para uma relação interorganizacional. Para diferentes momentos e situações, diferentes mecanismos podem ser necessários. A interação estratégica pode estar presente junto à centralização e controle. Segundo palavras de um diretor do nível estratégico, “a organização exerce o comando com tranqüilidade, porque não o exerce de forma arbitrária. Sempre são considerados os resultados positivos para todos. É o chamado ganha-ganha”. Esta parece ser a forma pela qual a organização consegue a interação de objetivos com os demais agentes envolvidos nas relações interorganizacionais.

De todas as parcerias, prevalecem as Redes Burocráticas como os tipos mais comuns de redes de relacionamento encontradas nesta organização. Um aspecto que chama a atenção é que mesmo em redes burocráticas, mecanismos mais “democráticos”, comparáveis mais de perto com interações sociais são utilizados, garantindo, em meio a estas redes, também a presença de redes sociais.