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2 A CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS HIDRELÉTRICAS E O DANO MORAL

2.6 Formas de reparação

Conforme o estudo realizado, percebemos que o dano moral ocorre nas construções de barragens hidrelétricas sob diversas formas, sendo especificados os três tipos: os danos ao valor de afeição, os danos à vida de relação e os danos ao direito de bem viver.

No entanto, os empreendedores de barragens hidrelétricas têm escondido a respeito de sua reparação nos estudos de impacto ambiental, sob o argumento de que a dor sentida pelos atingidos não pode ser paga, por ser esta imensurável, sendo mera conseqüência do empreendimento, devendo ser suportada pelos atingidos sem nenhuma reparação. (REZENDE, 2002)

Este pensamento, conforme estudado acima, já está ultrapassado em quase todos os ordenamentos jurídicos modernos, sendo hoje amplamente aceita a tese da compensação do dano moral.

As compensações das lesões morais geradas pela construção de barragens hidrelétricas podem ser requeridas de duas formas pelos moralmente atingidos. A primeira seria pela via administrativa, onde os lesados podem requerer a compensação moral pelos meios previstos na legislação que regula o licenciamento ambiental de barragens hidrelétricas.

Uma das formas é requerendo a compensação junto ao órgão ambiental responsável pelo licenciamento ambiental, através de manifestações e requerimentos nas audiências públicas.

Pode ocorrer também, que, apesar das manifestações e requerimentos realizados pelos atingidos morais da barragem hidrelétrica, o órgão ambiental e/ou o empreendedor do projeto não reconheçam a possibilidade da compensação moral.

Diante desse fato, a segunda forma seria recorrer ao poder judiciário através de ações judiciais compensatórias. Essas ações posem ocorrer durante a realização dos estudos de Impacto Ambiental, ou seja, antes da construção da hidrelétrica, como podem ocorrer após esta, quando então todos os danos morais serão certos e atuais. (REZENDE, 2002)

Quando ocorrer a via judicial, caberá ao Poder Judiciário a grande tarefa de decidir a lide moral entre comunidade atingida e empresa construtora da hidrelétrica.

Nesse sentido, pertinente citar a lição de Leite (2000, P. 344), o qual afirma que:

Compete, pois, ao poder judiciário a importante tarefa de transplantar para a prática o disposto na Constituição Federal e na legislação ordinária acerca do dano extrapatrimonial ambiental. Somente com a reiteração dos pronunciamentos dos Tribunais no tocante à responsabilização civil dos causadores de danos ao meio ambiente é que atingirá efetivamente o idealizado pelo legislador.

A ação civil pelos danos ambientais apura-se em procedimento ordinário, em uma ação de reparação de dano. A parte legitima para intentar a ação é aquela que sofreu o prejuízo em virtude de ação ou omissão causadora do dano ambiental.

E sobre o exercício do direito de ação pela pessoa lesada moralmente por uma construção de uma barragem hidrelétrica, vale frisar a lição de Silva (1999, P. 316), o qual afirma que:

Ora: toda lesão, toda contrariedade externa, originada de ato de terceiro e que venha a turbar essa ligação ou esse jus que prende ou liga determinado sujeito a determinado objeto, merece repulsa. E impedido que esteja, o titular, do exercício normal de seu jus, pode e deve mesmo invocar a proteção que lhe é assegurada pela ordem jurídica a fim de fazer restabelecer de novo o equilíbrio rompido.

Essas ações podem ser em litisconsórcio ativo nos termos do art. 46 do Código de Processo Civil ou então, requerer individualmente esse direito. As ações judiciais intentadas em litisconsórcio ativo podem facilitar a defesa dos direitos dos moralmente lesados pelas construções de barragens hidrelétricas, quando for o caso do dano a vida de relação, já que, nesse caso, pode a parte pugnar pela realização de uma perícia técnica, onde se poderá comprovar a existência de um modo de vida e de uma cultura que será ou foi afetada.

Pela via judicial, deve o magistrado fixar a compensação do dano moral por arbitramento, ou pode também ocorrer um acordo entre as partes, apesar de que esta maneira talvez não seja muito usada. Uma dessas razões pode-se dar pelo fato de que os empreendedores têm negado compensar o dano moral. A outra razão, ligada a esta primeira, pode ocorrer pelo fato desta conduta em admitir a compensação do dano moral aumentar os custos econômicos do projeto.

CONCLUSÃO

Pela realização do presente trabalho monográfico, foi analisada a construção de barragens hidrelétricas. Podemos afirmar que a construção de barragens hidrelétricas é geradora de diversos impactos ecológicos, econômicos e socioculturais, conseqüências estas que podem causar danos materiais e imateriais à população atingida.

O presente estudo buscou enumerar os principais danos morais gerados pelas construções de barragens hidrelétricas, apontando sua fundamentação legal e as formas para requerimento de sua compensação.

Foi analisado o conceito de dano moral feito pela doutrina, bem como o histórico e a fundamentação legal do dano moral. Percebeu-se que grande foi a discussão acerca da possibilidade da reparação do dano moral, sendo certo que hoje quase todos os juristas e os ordenamentos jurídicos são adeptos da tese da possibilidade da compensação do dano moral.

As construções de barragens hidrelétricas trazem diversos benefícios financeiros a seus empreendedores e, conforme já visto causam diversos impactos ambientais, dentre estes, o dano moral.

O código civil brasileiro vigente não limitou os casos possíveis de ocorrência do dano moral, garantindo ainda no seu artigo 186 o dano exclusivamente moral. Logo, a legislação vigente assegura de forma ampla e assegura a possibilidade da compensação de todos os danos morais porventura surgidos na sociedade.

Por seu turno, a Constituição Federal, na corrente da evolução legislativa veio dar amparo à possibilidade da reparação ao dano moral, em seu artigo 5º, incisos V e X, juntamente com outras legislações extravagantes específicas, finalizando a discussão sobre a possibilidade da reparação do dano moral.

A luta dos atingidos por barragens deve ser na busca não só da indenização material, mas também da defesa de seus patrimônios morais lesados pelas construções de hidrelétricas. Pensar de outra maneira seria negar o principio da igualdade dos cidadãos e da repartição dos ônus e encargos sociais.

Podemos destacar ainda que, de acordo com a legislação brasileira, o processo de licenciamento ambiental possui um embasamento jurídico sólido e consistente. No entanto, os interesses governamentais e empresariais atropelam o processo, fazendo com que os instrumentos de gestão e política ambiental se transformem em etapas burocráticas, cujo resultado final é a aprovação dos respectivos projetos. Além do mais, a utilização do expediente do fato consumado solapa a cidadania e o direito a sociedade à qualidade de vida e ao meio ambiente ecossustentável.

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