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Dano moral e o licenciamento ambiental em barragens hidrelétrica

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UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ANDERSON DE SOUZA

DANO MORAL E O LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM BARRAGENS HIDRELÉTRICAS

Santa Rosa 2012.

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ANDERSON DE SOUZA

DANO MORAL E O LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM BARRAGENS HIDRELÉTRICA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul DEJ - Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas.

Orientador (a): Ms Fernada Serrer

Santa Rosa 2012

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Agradeço á Deus por me permitir chegar a este ponto e dando-me saúde, para alcançar meus objetivos, á minha mãe por ter apoiado em todos os tempos, com seus conselhos, valores e motivação constante, permitiu-me ser uma boa pessoa.

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Obrigado a todas as pessoas que contribuíram para meu sucesso e para meu crescimento como pessoa. Sou o resultado da confiança e da força de cada um de vocês, em especial à minha MESTRE pelo seu grande apoio e motivação para a conclusão do trabalho monográfico, e por ter transmitido o conhecimento adquirido e tendo-me ajudado no aprendizado.

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A ganância insaciável é um dos tristes fenômenos que apressam a autodestruição do homem.

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RESUMO

A construção de barragens hidrelétricas para a produção de energia elétrica é uma atividade que causa diversos danos ao meio ambiente. Dentre estes, podemos destacar os impactos ecológicos, os sócio econômicos, e os culturais, que afetam respectivamente a fauna e a flora, bem como o modo de vida das populações direta e indiretamente atingidas por estes empreendimentos.

Assim, é que a presente monografia de conclusão do curso de Direito tem a finalidade de defender a possibilidade da configuração do dano moral nas construções de barragens hidrelétricas, seu respectivo embasamento legal no ordenamento jurídico pátrio e sua respectiva compensação, apontando as formas em que pode ser requerido pela população lesada moralmente.

Palavras-Chave: Barragens Hidrelétricas. Meio Ambiente. Impactos Ambientais. Licenciamento Ambiental. Dano Moral.

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ABSTRACT

La construcción de represas hidroeléctricas para la producción de energia eléctrica es una actividad que causa muchos daños al medio ambiente. Entre ellos, se destacan los impactos ecológicos, los socio-económicos y culturales, afectando respectivamente a la fauna y a la flora, así como tambien, el modo de vida de la población directa e indirectamente por dicha obra.

Teniendo en cuenta esto, es que esta monografía de termino del curso de la faculdad de derecho tiene como finalidad defender la posibilidad de considerar el daño moral en la construcciones de las represas hidroeléctricas, su fundación legal respectivo a las leyes en el ordenamiento juridico nacional y su respectiva compensación, señalando la forma en que puede ser requerido por la población moralmente lesionada

Palabras clave - represas hidroeléctricas. Medio Ambiente. Impactos Ambientales. Licenciamiento Ambiental. Daño moral.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...11

1 A RESPONSABILIDADE CIVIL E A REPARABILIDADE DO DANO MORAL...13

1.1 Noções gerais e elementos da responsabilidade civil...13

1.2 O dano...14

1.2.1 Conceitos, requisitos, espécies (patrimonial/moral)...15

1.2.2 Danos coletivos, difusos e interesses individuais homogemeos...16

1.3 O dano moral: conceito, histórico e fundamento legal, características, fixação do quantum compensatório, da prova do dano moral...18

1.4 Responsabilidade civil do estado: conceito, evolução...23

2 A CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS HIDRELÉTRICAS E O DANO MORAL DECORRENTE...27

2.1 O histórico da construção de barragens hidrelétricas no brasil...27

2.2 Do movimento dos atingidos por barragens...29

2.3 Licenciamento ambiental em barragens...30

2.3.1 Licença prévia...32

2.3.2 Licença de instalação...33

2.3.3 Licença de operação...33

2.4 Danos morais ocorridos na construção de barragens hidrelétricas...34

2.4.1 Valor de afeição...34

2.4.2 Perda da vida de relação...36

2.5 Dano ao direito de bem viver...39

2.6 Formas de reparação...40

CONCLUSÃO...43

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INTRODUÇÃO

Os danos ocasionados por construções de barragens hidrelétricas são de grande monta e estão relacionados às lesões praticadas contra o ambiente, atingindo conjuntamente, na maioria das vezes, a interesses individuais, coletivos e difusos. No que concerne à extensão, esse dano complexo, divide-se em patrimonial e moral, ou extrapatrimonial.

A lesão ambiental é ainda tema recente e de difícil imputação, considerando-se o surgimento de novos direitos e o tema da responsabilidade civil em transformação. Os danos ambientais invisíveis e de responsabilidades difusas, além de muitos outros, frutos da sociedade pós-industrial, e de risco são de difícil indenização e reclamam, que repensemos as formas de sociabilidade e os modos de produção, como também uma proteção jurídica que traga maior segurança ao cidadão.

Diante de tais impactos, a legislação brasileira prevê á realização de Estudo Prévio de Impacto Ambiental para a construção de barragens hidrelétricas. Para a realização de tais estudos, o empreendedor do projeto tem que se submeter ao licenciamento ambiental previsto em lei, sendo este dividido na concessão de licenças ambientais.

Em relação aos danos causados á população atingida, os estudos ambientais tem previsto a lesão material a estas e sua devida forma de indenização. Ainda há também a duvida, se todos esses impactos, que afetam o intimo das pessoas atingidas, gerados pela construção de uma barragem hidrelétrica, configuram o dano moral,

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devendo ou não ser objeto de ressarcimento quanto da realização dos estudos de impacto ambiental.

Visando investigar a ocorrência e abrangência dos danos de ordem moral experimentados por moradores afetados por construção de barragens hidrelétricas o presente trabalho monográfico foi dividido em dois capítulos. No primeiro capitulo é estudado a Responsabilidade Civil e a Reparabilidade do Dano Moral. No segundo capítulo A Construção de Barragens Hidrelétricas e o Dano Moral Decorrente.

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1 A RESPONSABILIDADE CIVIL E A REPARABILIDADE DO DANO MORAL

Segundo José de Aguiar Dias (1992, p. 12) “toda manifestação humana traz em si o problema da responsabilidade”. A responsabilidade civil deriva da agressão a um interesse jurídico em virtude do descumprimento de uma norma jurídica pré-existente, contratual ou não. A lei busca reconstituir o ordenamento jurídico violado.

1.1 Noções gerais e elementos da responsabilidade civil

A responsabilidade civil é um assunto de grandes discussões no campo jurídico, sendo o tema que estuda o ressarcimento ao ofendido, por haver sido violado, um direito deste.

Pressuposto de uma atividade danosa de alguém que, atuando em regra ilicitamente, viola uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se (o agente causador do dano pode controlar a ação, mas as consubordinando-seqüências do dano fogem de seu controle) dessa forma a as conseqüências de seu ato.

A responsabilidade civil está ligada à limitação das atividades do homem, razão pela qual está intimamente vinculada ao direito, pois este nada mais é do que a regulação da vida social.

Rodrigues (1989, p. 13), ao discorrer sobre a responsabilidade civil, enfatiza que:

Principio geral de direito, informador de toda a teoria da responsabilidade, encontradiço no ordenamento jurídico de todos os povos civilizados e sem o qual a vida social é quase

inconcebível, é aquele que impõe, a quem causa dano a outrem, o dever de reparar.

Embora este princípio geral da obrigação de indenizar a quem causa um dano seja por si mesmo auto-explicável, por si só não possui o condão de explicar a

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existência dessa obrigação de indenizar. Para que ocorra esta, mister analisar outros elementos.

Os pressupostos da obrigação de indenizar são a existência de um dano, de um ato ilícito ou proveniente do risco, e um nexo de causalidade entre os dois elementos anteriores.

Vemos que todos os casos de responsabilidade civil obedecem a quatro séries de exigências comuns. Os indispensáveis são, em primeiro lugar, a certeza do dano, podendo este ser moral ou material. Deve haver também o nexo causal entre o fato gerador do dano e este. A força maior e a culpa exclusiva da vitima suprimem o nexo causal necessário para caracterizar a responsabilidade civil, ao passo que as autorizações judiciárias e administrativas não constituem motivo de exoneração de responsabilidade.

1.2 O dano

O conceito de dano não é muito divergente na doutrina. Alguns autores ampliam seu conceito, e já outros o restringem. Segundo Larenz (1998, p.65), o dano material ocorre “quando o patrimônio do prejudicado é atingido seja porque diminui, seja porque fica impossibilitado de aumentar”.

Já o dano imaterial seria toda alteração causada por um fato social, no íntimo da pessoa, afetando seus bens incorpóreos. Zenum (1998, p. 65) vem definir o dano não patrimonial como sendo o causado no interior do homem. Vejamos sua lição transcrita abaixo:

Quando falamos de dano não patrimonial, entendemos referir-se de dano que não lesa o patrimônio da pessoa. O conteúdo deste dano não é o dinheiro nem de uma coisa comercialmente reduzível em dinheiro, na il dolore, o sofrimento, a emoção, o defeito físico ou moral, em geral uma dolorosa sensação sentida pela pessoa, atribuindo-se á palavra dor o mais amplo significado.

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O dano pode ser conceituado como a lesão a um interesse jurídico tutelado, material ou moral. Para que um dano seja indenizável é preciso alguns requisitos: violação de um interesse jurídico material ou moral, certeza de dano, mesmo dano moral tem que ser certo e deve haver a subsistência do dano.

1.2.1 Conceitos, requisitos, espécies (patrimonial/moral)

O direito a indenização não provém de qualquer dano causado por atos omissivos ou comissivos. Segundo Celso Antonio Bandeira de Mello (1981, p. 154-156), primeiramente, o dano deve corresponder à lesão a um direito da vítima. Portanto, não se deve confundir dano patrimonial, dano econômico e dano em direito. O primeiro seria:

Qualquer prejuízo sofrido por alguém, inclusive por ato de terceiro, consistente em uma perda patrimonial que elide total ou parcialmente algo que se tem ou que se terá. O segundo, ademais de significar subtração de um bem ou consistir em impedimento a que se venha tê-lo, atinge bem a que se faz jus. Portanto, afeta o direito a ele. Incide sobre algo que a ordem jurídica considera como pertencente ao lesado. Logo, o dano assim considerado pelo direito, o dano ensejador de responsabilidade, é mais que simples dano econômico. Pressupõe sua existência, mas reclama além disso que consista em agravo a algo que a ordem jurídica reconhece como garantido em favor de um sujeito.

O instituto em comento pode, a depender da natureza jurídica da norma violada, ser de duas espécies: contratual (artigos 389 e 395 do Código Civil Brasileiro), com base no inadimplemento da obrigação, e, extracontratual ou aquiliana, oriunda do descumprimento direto da lei (artigos 168 e 927 do Código Civil Brasileiro).

No caso de responsabilidade contratual a efetivação é processualmente mais facilitada posto que já existe um contrato vinculando as partes. Nesse caso, existe uma presunção de dano e de culpa. Na responsabilidade aquiliana a vítima deve provar o dano.

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O princípio que rege a responsabilidade aquiliana é aquele segundo o qual a ninguém é facultado causar prejuízo a outrem, denominado princípio do neminem laedere, o qual encontra se epigrafado no artigo 186, do Código Civil Brasileiro, o qual trata sobre o ato ilícito, sendo o mesmo, a principal fonte da responsabilidade civil. (REZENDE, 2002)

Os elementos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil são os seguintes: conduta ou ato humano, nexo de causalidade e o dano ou prejuízo. A culpa não é um elemento geral da responsabilidade civil e, sim, um elemento acidental.

A responsabilidade civil pode ser ato próprio como também pode ocorrer por ato de terceiro ou por fato da coisa ou do animal, chamada responsabilidade civil indireta. Neste último caso haverá conduta humana mesmo que por omissão. As presunções de culpa não existem mais no Código Civil Brasileiro sendo substituída, na maioria das vezes, pela responsabilidade objetiva. (REZENDE, 2002)

1.2.2 Danos coletivos, difusos e interesses individuais homogêneos.

Os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos nasceram com a Constituição Federal de 1988 e foram materializados com a edição da Política Nacional do Meio Ambiente em 1981, da Lei de Ação Civil Pública - Lei (7.347/85) e do Código de Defesa do Consumidor – (Lei 8.078/90).

Historicamente, os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos são oriundos de conquistas sociais e são considerados instrumentos processuais eficientes no atendimento da demanda reprimida, permitindo, desse modo, a solução dos conflitos coletivos de ordem econômica, social ou cultural.

Podem significar o alcance de um determinado direito em relação a um indivíduo ou em relação a um grupo de indivíduos. A defesa destes direitos pode ser exercida

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pelo Ministério Público, mas em relação aos direitos individuais homogêneos a legitimidade do Ministério Público é bastante controvertida.(SILVA, 1999)

Direitos difusos constituem direitos transindividuais, ou seja, que ultrapassam a esfera de um único indivíduo, caracterizados principalmente por sua indivisibilidade, onde a satisfação do direito deve atingir a uma coletividade indeterminada, porém, ligada por uma circunstância de fato. Por exemplo, o direito a respirar um ar puro, a um meio ambiente equilibrado, qualidade de vida, entre outros que pertençam à massa de indivíduos e cujos prejuízos de uma eventual reparação de dano não podem ser individualmente calculados. (SILVA, 1999)

Direitos coletivos constituem direitos transindividuais de pessoas ligadas por uma relação jurídica base entre si ou com a parte contrária, sendo seus sujeitos indeterminados, porém determináveis. Há também a indivisibilidade do direito, pois não é possível conceber tratamento diferenciado aos diversos interessados coletivamente, desde que ligados pela mesma relação jurídica. Como exemplo, citem-se os direitos de determinadas categorias sindicais que podem, inclusive, agir por meio de seus sindicatos.

Direitos individuais homogêneos são aqueles que dizem respeito a pessoas que, ainda que indeterminadas num primeiro momento, poderão ser determinadas no futuro, e cujos direitos são ligados por um evento de origem comum. Tais direitos podem ser tutelados coletivamente muito mais por uma opção de política do que pela natureza de seus direitos, que são individuais, unidos os seus sujeitos pela homogeneidade de tais direitos num dado caso. (SILVA, 1999)

1.3 O dano moral

O que se tem que ter em mente é que não se indeniza a dor, o sofrimento, mas apenas reparam-se as conseqüências da lesão moral com a respectiva reparação. Para

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os juristas contrários á compensação do dano moral, argumentam que a dor é insuscetível de ser valorizada monetariamente.

O dano moral é conceituado por diversos autores, podendo ser considerado como aquele dano que afeta os bens incorpóreos das pessoas, ou seja, atinge sobre tudo o psíquico do individuo, lesionando seus sentimentos ou sua afetividade. Dentre estes autores destaca-se Silva (1992, p. 2), o qual preceitua que:

Seu elemento característico é a dor, tomado o termo em seu sentido amplo, abrangendo tanto os sofrimentos meramente físicos, quanto os morais propriamente ditos. Danos morais, pois, seriam, exemplificadamente, os decorrentes das ofensas á honra, ao decoro, a paz interior de cada qual, as crenças intimas, aos sentimentos afetivos de qualquer espécie, a liberdade, a vida, à integridade corporal.

Indo mais além, a doutrina ainda procura o real significado da expressão dano moral, conceituado em sentido lato e estrito. Estes seriam os danos relacionados aos tributos valorativos, às virtudes da pessoa como ente social, ou seja, integradas a sociedade como a honra, reputação e manifestações do intelecto. A interpretação mais ampla integra ao dano moral toda e qualquer violação da pessoa, como os danos ao corpo, a psique, abarcando os constrangimentos, transtornos e aborrecimentos que lhe são causados por ato de terceiro.

A indenização do dano moral já foi objeto de várias controvérsias entre os mais diferentes juristas. Sua previsão já ocorria no Código de Hamurabi, evoluindo ainda mais na Lei Aquilia de Justiniano, apesar de, no direito romano, ter havido enorme divergência acerca da aceitação de sua compensação. REZENDE, 2002)

Podemos distinguir o dano em duas teorias: a positivista para os que admitiam o ressarcimento do dano moral, e os negativistas, para aqueles que negavam a possibilidade de sua compensação.

Com a existência destas correntes, não demorou muito tempo para surgir uma intermediária, defendendo a compensação do dano moral, somente nos casos

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expressamente previstos pelo Código Civil. Esta corrente chamada pela doutrina de positivismo moderado, admite a reparação do dano moral apenas nos casos previstos em lei, como no ordenamento jurídico brasileiro as hipóteses previstas nos artigos 1.538, 1543, 1.548, 1.549 e 1550, todos do Código Civil brasileiro de 1916. Apesar de já ter sido considerado um avanço doutrinário, os adeptos desta corrente, ainda pecavam em uma questão: não admitiam a cumulação do dano moral com o material. (REZENDE, 2002)

Na evolução das correntes doutrinárias, surge a que defende a indenização do dano moral, desde que houvesse reflexos patrimoniais ao ofendido.

Belivacqua (1998, p.45), ilustre defensor deste posicionamento, com maestria assevera que:

Se o interesse moral justifica a ação para defendê-lo ou restaurá-lo, é claro que tal interesse é indenizável, ainda que o bem moral não se exprima em dinheiro. È por uma necessidade dos nossos meios humanos, sempre insuficientes, e, não raro, grosseiros, que o direito se vê forçado a aceitar que se computem em dinheiro o interesse de afeição e os outros interesses morais.

A respeito da previsão constitucional da possibilidade da reparação moral, Parizatto (2000, p.3), tendo em vista a evolução do dano moral no ordenamento jurídico, afirma que:

É evidente que tal espécie de dano já era contemplado anteriormente, mas com o advento da Constituição Federal de 1988, houve um maior interesse pela questão e a própria sociedade passou a buscar com maior freqüência a tutela jurisdicional quando violado um dano moral.

Em seguida, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) veio dar um ponto final na questão, editando a Súmula 37, assegurando que “são cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. A partir de então, a jurisprudência vem concedendo a compensação do dano moral independente da indenização do dano

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material, podendo os pedidos de reparação e compensação virem cumulados na mesma ação de ressarcimento.

Também o Código de Defesa do Consumidor, a luz da evolução doutrinária, veio assegurar a compensação do dano moral nas relações de consumo. Tal previsão está estampada no art. 6°, incs. VI e VII.

Uma discussão terminológica acerca do dano moral é pertinente. Muitos aplicadores e estudiosos do direito usam os termos “indenização por dano moral” e “compensação por dano moral” sem, contudo, diferenciá-los. (REZENDE, 2002)

A doutrina diz que a expressão ressarcimento do dano moral não é adequada ao caso, e sim, compensação deste. Indenizar significa eliminar o prejuízo e suas conseqüências, o que não é possível em danos extrapatrimoniais, tratando-se de compensação, sendo um modo de satisfação á vitima.

Portanto, o ressarcimento tem natureza sancionatória. A indenização então visa evitar um injustificado empobrecimento de alguém em face de um dano, ao contrário do que ocorrer no dano moral, em que a “indenização” tem o objetivo de compensação, pois o bem atingido neste nunca poderá ser reposto. (REZENDE, 2002)

Vê-se assim que a compensação do dano moral, apesar de ter previsão legal, é matéria que gera diversas discussões doutrinárias e jurisprudenciais. Duvida há se todos esses impactos que afetam o íntimo das pessoas atingidas, podem ser gerados pela construção de uma barragem hidrelétrica, configurando ou não o dano moral, devendo ou não, ser objeto de compensação quando da realização dos estudos de Impacto Ambiental.

O dano não se limita apenas às interferências negativas dos bens materiais, ocorrendo também nos classificados como imateriais ou pessoais.

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Os danos podem ser divididos em dois grupos. Os primeiros são aqueles originados da violação de direitos inerentes à personalidade, que protegem os bens que integram o aspecto objetivo e social do patrimônio moral, como a honra e o nome. O segundo grupo é composto pelos danos originados da violação dos direitos inerentes à personalidade que integram o aspecto subjetivo do patrimônio moral, como as afeições legítimas, como, por exemplo, o valor de afeição de certos bens materiais.

O dano moral ou psíquico pode ocorrer sobre os sentimentos, sobre a vontade ou intelecto da pessoa separadamente ou em conjunto. Conforme Cahali (1998, p.189) pode assim:

Provocar uma lesão psíquica em função dos sentimentos do sujeito; sentimentos, sensibilidade, que, como é sabido, variam de pessoa a pessoa; a pena, o sofrimento, a dor de afeição, produto do dano, terá, provavelmente, maior intensidade e duração em pessoas extremamente sensíveis; esse dano, causado á esfera sentimental do sujeito, é conhecido, tradicionalmente, pela expressão dano moral.

Podemos perceber da exposição do autor acima, que o leque abrangido pelo dano moral é bem amplo, dificultando ou sendo até mesmo impossível a sua divisão ou classificação.

A fixação do quantum compensatório em relação ao dano moral sempre foi objeto de controvérsia na doutrina, sendo tal divergência atenuada quando da aceitação da compensação do dano moral, muito embora não haja posicionamentos unânimes.

Para elucidar o tema, vale citar os questionamentos feitos por Silva (1999, p. 2) acerca da dificuldade de fixação da compensação do dano moral:

Acaso as dores são sempre idênticas?

Porventura não intervém, em cada hipótese singular, uma série, complexa, de fatores subjetivos e anímicos, variáveis de pessoa a pessoa?

Não é certo que determinados fatos produzem em cada ser reações diferentes?

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Não há pessoas dotadas de maior ou menor sensibilidade, de maior ou menor ressonância espiritual?

Diante do exposto percebe-se, que é impossível, e, porque não dizer, injusto, estabelecer-se um critério objetivo para fixar a compensação do dano moral.

O atual Código Civil contém disposição acerca da fixação do quantum indenizatório, previsto no artigo 944, transcrito abaixo:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo Único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

A disposição acima pode ser muito bem aplicados para casos de danos materiais, já que nestes é possível quantificar a extensão do dano. No entanto, para casos de danos morais, esta “extensão de dano” não pode ser quantificada, razão pela qual o aplicador da lei para casos tais, continua a ter que considerar os critérios desenvolvidos pela doutrina e jurisprudência para fixar o quantum compensatório.

É justamente nesse arbitramento, que a doutrina pondera os cuidados a serem tomados pelo magistrado quando da fixação do quantum compensatório.

Castro (1993, p. 529) ao comentar este fato enuncia:

Como a dor não se mede monetariamente, a importância a ser paga terá de submeter-se a um poder discricionário, e segundo, um prudente arbítrio dos juízes na fixação do quantum da condenação, arbítrio esse que emana da natureza das coisas.

Pertinente lembrar que, em casos de desapropriação, a legislação constitucional, no art. 5°, inc. XXIV prevê que a indenização além de prévia, deve ser justa.

Assim, nada mais que justo do que compensar a lesão moral gerada pelas construções de barragens hidrelétricas, devendo esta também ser prévia ao acontecimento da lesão, já que é certa, podendo ser atual ou futura, conforme o caso.

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Uma dúvida ainda paira. Como provar o dano moral, se é impossível quantificar a dor sentida pelo lesado. Acerca do assunto, Bittar (1994, p. 79) esclarece que não se deve cogitar de mensuração do sofrimento, ou da prova da dor, exatamente porque esses sentimentos estão ínsitos no espírito humano.”

Na mesma obra, o autor acima citado põe um ponto final quanto a discussão da produção da prova no dano moral. Disserta o autor que “na verdade, prevalece o entendimento de que o dano moral dispensa prova em concreto, tratando-se de presunção absoluta, não sendo, igualmente, necessária a prova do dano patrimonial.” (BITTAR, 1994)

1.4 Responsabilidade civil do estado

A responsabilidade civil é um assunto de grandes discussões no campo jurídico, sendo o tema que estuda o ressarcimento ao ofendido, por haver sido violado, um direito deste.

A doutrina jurídica nem sempre é unânime quando se trata da teoria a ser aplicada para o ressarcimento do dano. Certo, no entanto, é que o posicionamento a ser adotado deve ser o de assegurar maiores oportunidades de igualdade na sociedade para que os danos por acaso surgidos sejam devidamente reparados.

A responsabilidade civil está ligada á limitação das atividades do homem, razão pela qual está intimamente vinculada ao direito, pois este nada mais é do que a regulação da vida social.

Rodrigues (1989, p. 13), ao discorrer sobre a responsabilidade civil, enfatiza que:

Principio geral de direito, informador de toda a teoria da responsabilidade, em contradiço no ordenamento jurídico de todos os povos civilizados e sem o qual a vida social é quase inconsebivel, é aquele que impõe, a quem causa dano a outrem, o dever de reparar.

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Para caracterizar a responsabilidade civil do estado, temos que ter um dano certo e o nexo causal entre o fato gerador e o dano.

Cretella Júnior (1980, p.7-8), assim escreve sobre os elementos caracterizadores da responsabilidade civil:

Envolve a responsabilidade juridica, a pessoa que infringe a norma, a pessoa atingida pela infração, o nexo causal entre o infrator e a infração, o prejuízo ocasionado, a sanção aplicável e a reparação, consistente na volta ao status quo ante da produção do dano.

Para fundamentar a responsabilidade civil, há a existência de duas teorias: a primeira denominada subjetiva, e a outra denominada objetiva, cujos detalhes serão objeto de estudo no próximo item.

A responsabilidade civil do Estado perante os cidadãos evoluiu no tempo, sendo asseguradas maiores garantias ao cidadão para obter o ressarcimento ou compensação por algum dano causado pela administração pública.

Percebe-se que nos dias de hoje existem atividades que colocam os homens em um risco continuo, o que pode gerar diversos danos aos mais variados bens da pessoa humana. Aliás, essa é uma das características mais marcantes da modernidade, onde o homem, ao mesmo tempo que obtém as benesses da tecnologia, é dependente desta, estando sujeito aos efeitos negativos desta.

Com o desenvolvimento e crescimento dos Estados, alguns juristas e ordenamentos jurídicos passaram a adotar a teoria subjetiva da culpa para a responsabilização da Administração Pública. Assim o lesado teria que provar a culpa ou o dolo do Estado, junto com o dano e o nexo causal, para o recebimento da indenização (REZENDE, 2002).

Apesar de toda a evolução da doutrina jurídica na busca de uma maior garantia para os cidadãos, ainda assim perceberam-se dificuldades de estes provarem a culpa

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ou o dolo dos agentes estatais, ocorrendo muitas vezes injustiças com os afetados, sem receber indenização alguma pelo dano sofrido.

Pereira (1989, p. 44 grifos do autor), ao comentar as dificuldades enfrentadas pelas pessoas que sofriam danos para provar a culpa estatal, assim enuncia:

Especialmente a desigualdade econômica, a capacidade organizacional da empresa, as cautelas do juiz na aferição dos meios de prova trazidas ao processo nem sempre logram convencer a existência de culpa...” Apesar de alguns juristas admitirem a aplicação da teoria do risco integral quando de danos ao meio ambiente, ainda é resistente sua adoção na doutrina. Sua aplicação para danos ao meio ambiente é absurda, pois deve haver a existência de uma relação de causa e efeito entre o prejuízo e a ação ou fato que se possa imputar ao ofensor.

Do exposto acima, percebe-se que aplicar a teoria subjetiva aos atos praticados pelo Estado pode gerar dificuldades para o ressarcimento do lesado, sobretudo na questão probatória da culpa ou dolo do Estado.

Por outro lado, adotar o posicionamento da teoria do risco integral seria onerar muito as atividades do Estado, já que este se responsabilizaria por qualquer dano, independente de quem o provocou.

De todas as teorias enunciadas, a do risco ou objetiva, é a que encontrou maior guarida na doutrina jurídica. Mas uma questão merece ser analisada: qual teoria que tem sido adotada pela legislação brasileira?

Atualmente é adotada a teoria objetiva para responsabilização do Estado, sendo assegurado pela Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, parágrafo 6°:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

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obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,também ao seguinte:

[...]

Parágrafo 6°. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

No atual Código Civil, a redação do Art. 15 do Código Civil de 1916 foi mantida no Art. 43, com um acréscimo, conforme o dispositivo atualmente vigente:

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

Percebe-se então que a legislação, primeiramente, adotou uma posição a qual podemos chamar de “conservadora”, ao aplicar a teoria subjetiva aos atos praticados pela Administração Pública.

Porém sua aplicação mostrou-se injusta, o que ocasionou a adoção posterior pela legislação da teoria do risco, vindo esta, inclusive, a ter garantia constitucional.

Tendo sido feita a discussão doutrinária dos principais aspectos do dano moral, pertinente agora estudarmos alguns pontos sobre a Construção de Barragens hidrelétricas e o Dano Moral decorrente

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2 A CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS HIDRELÉTRICAS E O DANO MORAL DECORRENTE

A construção de barragens para a produção de energia elétrica é uma atividade que causa diversos danos ao meio ambiente. Dentre estes podemos destacar os impactos ecológicos, os socioeconômicos, e os culturais, que afetam respectivamente a fauna e a flora, bem como o modo de vida das populações direta e indiretamente atingidas por estes empreendimentos.

2.1 O histórico da construção de barragens hidrelétricas no Brasil

Desde o ano de 1970, dentro do modelo econômico desenvolvimentista, a construção de grandes barragens no Brasil tem provocado enormes impactos sociais e ambientais, destruindo grandes áreas e expulsando populações do campo, sendo segundo alguns entendimentos, uma verdadeira expropriação de suas terras e de suas condições de reprodução social.

Para Sigaud (1986, p.6):

A inundação de milhares de hectares de terra e de outros recursos naturais (utilizados ou potencialmente aproveitáveis para outras finalidades , como a produção de alimentos e as atividades extrativas), decorrente do privilegiamento dessa forma de geração de energia , representa, no que concerne ao pais como um todo, a redução do estoque de alternativas disponíveis de apropriação do território.

A partir do ano de 1990, o governo federal, no contexto da escassez de recursos para investimento no setor e diante das potencialidades para autogeração de energia por consórcio de empresas privadas, tem incentivado a entrada dessas empresas na geração de energia elétrica.

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A produção de energia elétrica no Brasil, em sua maioria, sempre foi realizada por empresas estatais ou concessionárias públicas, sendo hoje em dia também produzidas por empresas particulares, no contexto da privatização no setor elétrico.

É neste contexto da privatização da geração de energia do setor elétrico, que ocorre um agravamento e um maior distanciamento entre as lógicas que norteiam as condutas do empreendedor da barragem hidrelétrica e a população atingida por esta. É também neste contexto que o presente estudo está inserido.

De acordo com Vainer e Araújo (1990, p.20):

As empresas, seguindo uma lógica do lucro e do imediatismo, ao elaborar os estudos de impacto ambiental, e na hora da construção da barragem, vêem a população atingida, os usos da água feito por essa população bem como todas as atividades econômicas e sociais que preexistem ao projeto, como um mero obstáculo a ser retirado, enquanto os atingidos tem em mente, a vontade de preservar os seus níveis e modo de vida.

Diante das estratégias usadas pelas empresas construtoras de barragens, a participação bem como a garantia dos direitos da população atingida, assegurados pela legislação, tem sido bastante difíceis. Segundo (VAINER e ARAUJO), essas estratégias podem ser divididas em três modos: (Segundo VAINER e ARAÚJO, 1990)

a) A desinformação: nos momentos iniciais, há a sonegação de informação, o que facilita o ingresso da empresa na região. Numa segunda etapa, na atividade de comunicação social, há a propagação de benefícios da obra em contraposição aos impactos negativos, que não são falados. Há também o lançamento de informações desencontradas e contraditórias para a população e regiões atingidas.

b) Estratégia territorial patrimonialista: através de ações individualizadas de compra e venda, a empresa reduz o problema social à sua dimensão patrimonial-legal, discutindo o valor da indenização.

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c) Negociação individual: para a empresa, a população não existe enquanto coletividade/comunidade, mas apenas como um somatório de proprietários individuais.

Portanto, em torno da questão ambiental, a qual inclui a questão social, estão interesses econômicos, que são camuflados pela terminologia viabilidade ambiental. Assim, o projeto ideal é o que tem o menor custo e o maior benefício para quem o realizará.

2.2 Do movimento dos atingidos por barragens

Diante das construções de barragens hidrelétricas, organizou-se no Brasil um movimento social composto de pessoas atingidas por estes empreendimentos, movimento este denominado atualmente de (MAB) – Movimento dos Atingidos por Barragens.

O MAB constitui um movimento social organizado hoje, não só no Brasil, como em todo o mundo. Em nosso país nasceu no alto Uruguai, no final dos anos 70 e início dos anos 80, após a divulgação da possibilidade de construção de mais de vinte aproveitamentos hidrelétricos. Foi construído a partir das necessidades imediatas dos camponeses diante da expropriação de suas terras e tem como, bandeira de luta o reassentamento e a justa indenização.

Martins (1989, p. 79), ao falar dos camponeses que são obrigados a sair compulsoriamente de suas terras afirma que:

Sua expulsão da terra, embora muitas vezes mascarada por decisão legal, aparece-lhe como ato iníquo, porque é sempre violento e compromete a sua sobrevivência. Porque priva-o do que é seu – o seu trabalho, meio e instrumento de sua dignidade e de sua condição de pessoa.

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Mas resta saber quem são estes atingidos, de onde e quando surgiram.Scherer-Warren (1986, p. 95) ao falar das vitimas das políticas econômicas que estimulam projetos de grande escala, afirma que:

Os diretamente atingidos são os expropriados urbanos e rurais (camponeses e índios) com possíveis perdas em seus meios de produção e/ou que são removidos compulsoriamente de suas moradias e/ou terras para dar lugar a construções de grandes obras.

Assim, esses grupos atingidos são formados por pessoas de diferentes capacidades econômicas e classes sociais, sendo que em sua maioria são pequenos agricultores que vivem em um sistema de agricultura familiar.

2.3 Licenciamento ambiental em barragens

O surgimento do licenciamento ambiental como instrumento de política Nacional de meio ambiente decorre basicamente do crescimento dos problemas ambientais causados por empreendimentos geradores de consideráveis impactos ambientais, e por outro lado, de uma necessidade do estado de exercer uma regulação destas atividades degradantes.

O licenciamento ambiental é o instrumento mais importante para a aplicação do principio da prevenção de danos ambientais, pois é por seu intermédio que as autoridades públicas responsáveis pela proteção ambiental, podem, efetivamente, adotar medidas capazes de evitar danos ambientais. (REZENDE, 2002)

O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo realizado pelo órgão ambiental competente, que pode ser federal, estadual ou municipal. No licenciamento ambiental, são avaliados impactos causados pelo empreendimento.

O principal documento, no âmbito federal, que dispõe sobre o licenciamento ambiental é o Decreto n° 99.274, de 6 de junho de 1990. O licenciamento das

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atividades utilizadoras de recursos ambientais, está previsto em seus artigos 17 e seguintes.

O artigo 17 determina que:

A construção, instalação, ampliação e funcionamento de atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetivas ou potencialmente poluidoras, bem assim como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento dos órgãos estaduais que integram o Sistema Nacional do Meio Ambiente.

Não obstante a competência dos órgãos estaduais compete ao Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONAMA) e ao poder público federal a fixação dos critérios gerais a serem adotados para o licenciamento de atividades utilizadoras de recursos ambientais e potencialmente poluidoras.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) exerce funções de caráter supletivo na atividade de licenciamento ambiental e na conseqüente fiscalização do efetivo cumprimento dos termos nos quais foi concedida a licença.

Por atividade supletiva não se deve entender uma atividade exercida em substituição daquela que deve ser desempenhada pelo órgão estadual de controle ambiental, salvo nas hipóteses em que o órgão regional não exista.

A implementação da política ambiental encontra-se freqüentemente, subordinada a considerações de natureza conjunturais, pelos objetivos expressos pela esfera estritamente econômica. Em geral, o licenciamento ambiental não tem sido utilizado como um instrumento preventivo, destinado a fazer com que os impactos ambientais de projetos, programas, planos ou políticas sejam considerados já no momento da concepção dos mesmos. Na verdade eles são orientados apenas para empreendimentos isolados, cujas decisões técnicas e políticas praticamente já estão definidas.

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O procedimento de licenciamento ambiental compreende a concessão de duas licenças preliminares e a licença final, as quais serão abordadas.

2.3.1 Licença prévia

A licença prévia deve ser solicitada na fase de planejamento da implantação, alteração ou ampliação do empreendimento.

Para atividades de significativos danos ambientais, a concessão da licença prévia dependerá de aprovação de estudo prévio de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA). Esses estudos também dependem para financiamentos e obtenção de incentivos fiscais.

A coordenação de aplicação da AIA, a avaliação técnica do EIA/RIMA, organização de audiências públicas e vistorias técnicas à área do empreendimento ficam a cargo da FEAN – Federação Estadual de Meio Ambiente.

Alguns fatores são analisados para a obtenção da licença, dentre eles podemos citar os impactos ambientais e sociais prováveis do empreendimento, a magnitude e a abrangência de tais impactos, as medidas que uma vez implantadas, serão capazes de diminuir ou aumentar os impactos, dentre outros, os quais os órgãos e entidades serão ouvidos e se pronunciarão.

O prazo de validade da licença prévia deverá ser de no mínimo igual ao estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, ou seja, ao tempo necessário para a realização do planejamento, não podendo ser superior a cinco anos.

A liberação de recursos para convênios em que haja danos ambientais estará condicionada à existência da licença prévia.

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2.3.2 Licença de instalação

É a licença que aprova os projetos, autoriza o início do funcionamento da obra/empreendimento, e é concedida depois de atendidas as condições da licença prévia.

Ao conceder a licença de instalação, o órgão gestor de meio ambiente terá autorizado o empreendedor a iniciar as obras, concordando com o que consta nos planos, programas e projetos ambientais.

O órgão ambiental acompanhará o empreendimento, ao longo do processo de instalação, sendo o prazo de validade da licença de instalação deverá ser de no mínimo igual ao estabelecido pelo cronograma de instalação, não podendo este ser superior a seis anos.

2.3.3 Licença de operação

È a licença que autoriza o início do funcionamento do empreendimento/obra e, é concedida, depois de atendidas as condições da licença de instalação.

A licença não tem caráter definitivo, e está sujeita a renovação por parte do empreendedor. O prazo de validade da licença de operação deverá considerar os planos de controle ambiental, e será de no mínimo quatro anos e, no máximo dez anos. (IBAMA, 2002)

A renovação da licença de operação deve ser requerida cento e vinte dias antes de expirar. Ele deve ser publicado no jornal oficial do estado, e em um jornal periódico de grande circulação, conforme o artigo 10 parágrafo primeiro da lei 6.938/81.

A licença de operação possui três características básicas: É concedida após o cumprimento da licença prévia e de instalação; contém medidas de controle ambiental, para servir de limite para o funcionamento o empreendimento ou atividade, e, contém

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as regras para o cumprimento do empreendimento, sob pena de suspensão ou cancelamento da obra se estes não forem cumpridos. (IBAMA, 2007)

2.4 Danos morais ocorridos na construção de barragens hidrelétricas

Percebe-se que o dano moral atinge uma gama de bens imateriais das pessoas na sociedade, sendo quase impossível para á legislação quanto para os doutrinadores enumerar as hipóteses de sua ocorrência, cabendo á primeira assegurar sua reparação em caso de violação.

2.4.1 Valor de Afeição

O valor de afeição é o primeiro tipo de dano moral causado pelas construções de barragens hidrelétricas apontados no presente estudo. Apesar de estar ligado a um dano material, não se confunde com este. É um dano imaterial, já que atinge o psíquico do indivíduo. A respeito do assunto Fischer (1938, p. 46) afirma que:

O valor estimativo (ou afetivo) é o que tem a coisa para o seu proprietário, em função de reações absolutamente íntimas. Quando a avaliação que a sua representação individual atribui ao objeto coincide com a estimação alheia, perde interesse a questão do valor afetivo, que só tem importância quando há essa divergência entre o proprietário da coisa e o avaliador estranho, a respeito do seu valor. Daí resulta que o valor estimativo não se inclui na espécie dos danos patrimoniais.

Assim, ao contrário do valor moral, o valor patrimonial permanece para qualquer proprietário do bem, sendo um critério objetivo a ser aplicado, ao contrário do critério subjetivo aplicado aos bens que possuem um valor afetivo.

No entanto o valor de afeição era consagrado pela legislação brasileira no art. 1.543 do Código Civil de 1916 á seguir transcrito:

Art. 1.543. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa (art. 1.541), estimar-se-á pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se avantaje àquele.

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No atual Código Civil, a disposição acima foi repetida no parágrafo único do artigo 952, sendo, portanto o valor de afeição também garantido pela atual legislação. Vejamos este artigo:

Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a titulo de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao prejudicado.

Parágrafo Único. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa, estimar-se-á pelo seu preço ordinário e pelo de afeição , contando que este não se avantaje àquele.

Pela leitura da disposição acima, percebe-se que sua primeira parte refere-se ao dano patrimonial, ao passo que a segunda prevê um caso típico de dano imaterial.

Como no Código Civil vigente o legislador pátrio assegurou expressamente a compensação pelo valor de afeição como no Código Civil de 1916, este merece ser protegido pelo direito, devendo-se assegurar sua compensação, quando afetado. Muitos bens materiais, pela ligação afetiva que é criada junto a seu proprietário ou possuidor, causam sérios transtornos a estes quando são destruídos ou perdidos.

Nesse sentido Silva (1999, p. 728) aponta que Uma causa moral pode determinar gravíssimos prejuízos econômicos, assim como causas materiais podem dar origem a danos materiais da mais pura espécie.

Reconhecer o dano ao valor de afeição é, antes de tudo uma necessidade do ordenamento jurídico e da doutrina. Somente assim é que os sentimentos humanos poderão ser não só garantidos como também incentivados a existir.

No caso dos atingidos por barragens hidrelétricas o valor de afeição de determinados bens deve ser não só respeitado pelo empreendedor da barragem hidrelétrica como também incluído nos estudos ambientais para, posteriormente, ser devidamente compensado.

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2.4.2 Perda de vida de relação

É no ambiente à beira-rio onde os empreendedores idealizam seus projetos para a construção de hidrelétricas, que os agricultores, além de relações econômicas, desenvolvem outras relações sociais, como, por exemplo, as de cunho cultural.

Essas relações, com o advento das barragens hidrelétricas são necessariamente desfeitas, face à separação forçada das pessoas, que ocorre em uma comunidade existente de um determinado território atingido. Isto acontece principalmente pelo deslocamento de centenas de produtores rurais atingidos. E é com esse deslocamento compulsório, que toda a vida de relação dos atingidos é desfeita.

Assim o deslocamento gera muito mais do que apenas danos materiais. A perda da possibilidade de manter sua cultura e reproduzir-se enquanto classe social especifica, pode ser considerado um dano imaterial para as populações atingidas por barragens hidrelétricas.

O espaço social onde vivem algumas comunidades atingidas, está intimamente relacionado com estas, sendo que a população também depende não só da materialidade deste espaço, como também subjetivamente.

Dai concluir-se que o deslocamento compulsório da população não pode ser entendido somente como perda material desta e sim, também como perda imaterial, já que a construção de um espaço social específico, a manutenção e o direito de herdar este constitui um bem incorpóreo da população atingida. Toda essa conveniência que o ambiente ribeirinho proporciona aos agricultores atingidos pelos projetos hidrelétricos é o que faz serem eles portadores de um modo de vida e cultura específicas.

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a) A do tipo primitivo, baseada sobre as relações do homem no atendimento de suas necessidades fundamentais: habitação. Defesa própria e família;

b) A do tipo associativo, concernente ás complexas relações do homem no âmbito da sociedade moderna.

Portanto, busca a vida de relação, de acordo com o item “b”, o estudo da pessoa na sua relação com a comunidade, com a sociedade, tanto em suas atividades culturais, recreativas, como nas suas relações de trabalho.

A vida de relação varia de acordo com o meio sociocultural em que vive a pessoa, possuindo características próprias dos vários meios sociais existentes na sociedade. Daí, certo é concluir-se que aos ribeirinhos atingidos pelo projeto hidrelétrico possuem uma vida de relação completamente diferente da do meio urbano. O lazer, a cultura e a afetividade, por exemplo, são conceitos que irão variar de acordo com o meio social analisado.

O dano a vida de relação pode-se dar em várias atividade praticadas pela pessoa, como atividades esportivas, artísticas e culturais extra-profissionais, vida recreativa em grupos, bem como o contato com a natureza, como a caça e a pesca.

Segundo Montenegro (grifos do autor) (1999, p. 451):

O aspecto patrimonial do dano á vida de relação encontra-se no comprometimento da capacidade de manifestação ou expansão da personalidade do individuo no mundo externo, além dos cofins da sua ordinária produtividade.

Severo (1996, p. 153) ao comentar sobre o dano da vida de relação, afirma que:

O prejuízo de lazer, ou préjudice d’ agrément corresponde a diminuição dos prazeres da vida, causada pela impossibilidade ou dificuldade de dedicação ás atividades usuais de lazer.

[...]

Este dano concretiza-se na impossibilidade de atender a atividades normais de lazer (passeio, viagens, etc), esportivas (futebol, vôlei, etc), culturais (exposições, concertos, teatro, etc) ou da vida em si (jantares, recepções, etc)

(38)

[...]

Assim, quando por culpa de outra pessoa, alguém se vê privado das atividades que lhe são abituais, surge o prejuízo de lazer, como uma parcela integrada aos danos extrapatrimoniais sofridos pela vitima.

Na hipótese do presente estudo, a perda dos laços culturais, dos costumes como a caça, a pesca, as festas religiosas, causadas pela separação obrigatória da comunidade, configura um dano a vida de relação dessas pessoas, causando prejuízos ás atividades sociais e habituais dos atingidos pelas barragens hidrelétricas.

Quanto à prova do dano à vida de relação, pode-se considerar presumida, todavia, em casos tais, a produção de prova pericial, testemunhal e documental quanto á existência de uma cultura específica e um modo de vida das pessoas atingidas pelos empreendimentos hidrelétricos mostra-se pertinente.(REZENDE, 2002)

Porém, a adoção deste posicionamento pode ser um complicador para que os lesados possam ser compensados. Uma saída viável e que facilitaria a defesa dos direitos das populações atingidas por barragens hidrelétricas seria ajuizar ações coletivas, já que a prova produzida valeria para todas as pessoas que estivessem no pólo ativo da ação.

Com a desagregação da comunidade e a perda da cultura e do modo de vida especifico das populações ribeirinhas e provada a existência desses elementos pelos meios de prova apontados, cabível falar-se em presunção do dano moral .

Da análise sobre o dano à vida de relação, certa é a lesão provocada pela construção de barragens hidrelétricas às pessoas atingidas por esses empreendimentos. Essa lesão toca fundamentalmente o patrimônio imaterial das pessoas atingidas, por afetar sua cultura e seu modo de ser e viver.

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2.5 Dano ao direito de bem viver

As construções de barragens hidrelétricas, além dos danos à vida de relação e aos sentimentos afetivos de determinados patrimônios, geram também outro dano psíquico. Esse pode ser determinado pela lesão da vida tranqüila e da saúde das populações atingidas, pois com a preocupação gerada pelo projeto e as suas possíveis conseqüências, parte da população, principalmente a de idade mais avançada, passa a sofrer constantemente, chegando inclusive a afetar sua saúde, necessitando do uso de remédios para diminuir as conseqüências.

Theodoro Junior (1998, p. 8), acerca dos danos psíquicos, chamados aqui de dano ao direito de bem viver, enuncia:

Viver em sociedade e sob o impacto constante de direitos e deveres, tanto jurídicos como éticos e sociais, provoca, sem dúvida, freqüentes e inevitáveis conflitos e aborrecimentos, com evidentes reflexos psicológicos, que, em muitos casos, chegam mesmo a provocar abalos e danos de monta.

Uma das causas desse dano é a falta de informação da população atingida sobre o projeto. Esta quase não possui ou tem acesso às informações dos estudos de Impacto ambiental e relatório de Impacto ambiental, ambos documentos elaborados pelo empreendedor e necessários à aprovação do projeto.

Estes danos morais podem ser considerados como os de índole mais íntima dentre os analisados no presente estudo. De sua ocorrência, dúvida não há. O mais difícil, no entanto, é provar este terceiro tipo de dano, já que sua existência está no interior do individuo, lugar que o homem dificilmente consegue alcançar. (REZENDE, 2002)

Em relação a este, está presente lesão de um dano certo, pois sua consumação ocorre ao tempo do requerimento de sua compensação. Também não há que se falar de sua prova, pois esta, além de impossível, ainda é considerada por alguns

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doutrinadores como presumida. Deve-se então provar apenas a conduta que gerou a lesão.

2.6 Formas de reparação

Conforme o estudo realizado, percebemos que o dano moral ocorre nas construções de barragens hidrelétricas sob diversas formas, sendo especificados os três tipos: os danos ao valor de afeição, os danos à vida de relação e os danos ao direito de bem viver.

No entanto, os empreendedores de barragens hidrelétricas têm escondido a respeito de sua reparação nos estudos de impacto ambiental, sob o argumento de que a dor sentida pelos atingidos não pode ser paga, por ser esta imensurável, sendo mera conseqüência do empreendimento, devendo ser suportada pelos atingidos sem nenhuma reparação. (REZENDE, 2002)

Este pensamento, conforme estudado acima, já está ultrapassado em quase todos os ordenamentos jurídicos modernos, sendo hoje amplamente aceita a tese da compensação do dano moral.

As compensações das lesões morais geradas pela construção de barragens hidrelétricas podem ser requeridas de duas formas pelos moralmente atingidos. A primeira seria pela via administrativa, onde os lesados podem requerer a compensação moral pelos meios previstos na legislação que regula o licenciamento ambiental de barragens hidrelétricas.

Uma das formas é requerendo a compensação junto ao órgão ambiental responsável pelo licenciamento ambiental, através de manifestações e requerimentos nas audiências públicas.

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Pode ocorrer também, que, apesar das manifestações e requerimentos realizados pelos atingidos morais da barragem hidrelétrica, o órgão ambiental e/ou o empreendedor do projeto não reconheçam a possibilidade da compensação moral.

Diante desse fato, a segunda forma seria recorrer ao poder judiciário através de ações judiciais compensatórias. Essas ações posem ocorrer durante a realização dos estudos de Impacto Ambiental, ou seja, antes da construção da hidrelétrica, como podem ocorrer após esta, quando então todos os danos morais serão certos e atuais. (REZENDE, 2002)

Quando ocorrer a via judicial, caberá ao Poder Judiciário a grande tarefa de decidir a lide moral entre comunidade atingida e empresa construtora da hidrelétrica.

Nesse sentido, pertinente citar a lição de Leite (2000, P. 344), o qual afirma que:

Compete, pois, ao poder judiciário a importante tarefa de transplantar para a prática o disposto na Constituição Federal e na legislação ordinária acerca do dano extrapatrimonial ambiental. Somente com a reiteração dos pronunciamentos dos Tribunais no tocante à responsabilização civil dos causadores de danos ao meio ambiente é que atingirá efetivamente o idealizado pelo legislador.

A ação civil pelos danos ambientais apura-se em procedimento ordinário, em uma ação de reparação de dano. A parte legitima para intentar a ação é aquela que sofreu o prejuízo em virtude de ação ou omissão causadora do dano ambiental.

E sobre o exercício do direito de ação pela pessoa lesada moralmente por uma construção de uma barragem hidrelétrica, vale frisar a lição de Silva (1999, P. 316), o qual afirma que:

Ora: toda lesão, toda contrariedade externa, originada de ato de terceiro e que venha a turbar essa ligação ou esse jus que prende ou liga determinado sujeito a determinado objeto, merece repulsa. E impedido que esteja, o titular, do exercício normal de seu jus, pode e deve mesmo invocar a proteção que lhe é assegurada pela ordem jurídica a fim de fazer restabelecer de novo o equilíbrio rompido.

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Essas ações podem ser em litisconsórcio ativo nos termos do art. 46 do Código de Processo Civil ou então, requerer individualmente esse direito. As ações judiciais intentadas em litisconsórcio ativo podem facilitar a defesa dos direitos dos moralmente lesados pelas construções de barragens hidrelétricas, quando for o caso do dano a vida de relação, já que, nesse caso, pode a parte pugnar pela realização de uma perícia técnica, onde se poderá comprovar a existência de um modo de vida e de uma cultura que será ou foi afetada.

Pela via judicial, deve o magistrado fixar a compensação do dano moral por arbitramento, ou pode também ocorrer um acordo entre as partes, apesar de que esta maneira talvez não seja muito usada. Uma dessas razões pode-se dar pelo fato de que os empreendedores têm negado compensar o dano moral. A outra razão, ligada a esta primeira, pode ocorrer pelo fato desta conduta em admitir a compensação do dano moral aumentar os custos econômicos do projeto.

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CONCLUSÃO

Pela realização do presente trabalho monográfico, foi analisada a construção de barragens hidrelétricas. Podemos afirmar que a construção de barragens hidrelétricas é geradora de diversos impactos ecológicos, econômicos e socioculturais, conseqüências estas que podem causar danos materiais e imateriais à população atingida.

O presente estudo buscou enumerar os principais danos morais gerados pelas construções de barragens hidrelétricas, apontando sua fundamentação legal e as formas para requerimento de sua compensação.

Foi analisado o conceito de dano moral feito pela doutrina, bem como o histórico e a fundamentação legal do dano moral. Percebeu-se que grande foi a discussão acerca da possibilidade da reparação do dano moral, sendo certo que hoje quase todos os juristas e os ordenamentos jurídicos são adeptos da tese da possibilidade da compensação do dano moral.

As construções de barragens hidrelétricas trazem diversos benefícios financeiros a seus empreendedores e, conforme já visto causam diversos impactos ambientais, dentre estes, o dano moral.

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O código civil brasileiro vigente não limitou os casos possíveis de ocorrência do dano moral, garantindo ainda no seu artigo 186 o dano exclusivamente moral. Logo, a legislação vigente assegura de forma ampla e assegura a possibilidade da compensação de todos os danos morais porventura surgidos na sociedade.

Por seu turno, a Constituição Federal, na corrente da evolução legislativa veio dar amparo à possibilidade da reparação ao dano moral, em seu artigo 5º, incisos V e X, juntamente com outras legislações extravagantes específicas, finalizando a discussão sobre a possibilidade da reparação do dano moral.

A luta dos atingidos por barragens deve ser na busca não só da indenização material, mas também da defesa de seus patrimônios morais lesados pelas construções de hidrelétricas. Pensar de outra maneira seria negar o principio da igualdade dos cidadãos e da repartição dos ônus e encargos sociais.

Podemos destacar ainda que, de acordo com a legislação brasileira, o processo de licenciamento ambiental possui um embasamento jurídico sólido e consistente. No entanto, os interesses governamentais e empresariais atropelam o processo, fazendo com que os instrumentos de gestão e política ambiental se transformem em etapas burocráticas, cujo resultado final é a aprovação dos respectivos projetos. Além do mais, a utilização do expediente do fato consumado solapa a cidadania e o direito a sociedade à qualidade de vida e ao meio ambiente ecossustentável.

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Referências

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