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Formoso e Bela Lorena: velhos pioneiros

CAPÍTULO II. BELA LORENA E FORMOSO: ESPAÇOS E RECORDAÇÕES

2.1 A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO: LUGARES DE LEMBRANÇAS

2.1.4 Formoso e Bela Lorena: velhos pioneiros

Dentre os primeiros registros citados em documentos da época e aqueles elaborados por viajantes e historiadores, estão aqueles relativos à passagem dos bandeirantes, desde o século XVII, como assinala Xiko Mendes13:

Naquela época a região do município era ocupada por fazendeiros do Norte de Minas e a área do Alto Urucuia – onde Formoso se encontra – pertencia ao domínio usufrutuário de Matias Cardoso de Oliveira, que sucedeu à família baiana Garcia D’Ávila, que tinha o usufruto do Alto Carinhanha desde 1690.

Consta de registros históricos que na região trijuntora de Minas-Goiás-Bahia, a 70 km da atual cidade de Formoso, foi instalado em 1736 o Registro Fiscal de Santa Maria, com a

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Banco de dados sobre Formoso. In: http://xikomendes.blogspot.com/; acesso em 01.06.2009.

Figura 2.7. Jatobá centenário em área central da cidade de Formoso-MG, certamente um pioneiro e testemunha ocular de sua história. Fonte: Mendes (2002)

finalidade de recolher impostos e controlar o fluxo de negociantes do sertão para as minas de ouro dos Guayazes. O pesquisador Xiko Mendes14 confirma:

O povoamento do território formosense começou na segunda metade do século XVIII como decorrência da movimentação rodoviária colonial pela Picada da Bahia – Estrada Real oficializada em 1736 pelo rei D. João V, que no mesmo ano instalou o Registro Fiscal de Santa Maria, na fronteira entre Minas Gerais e Goiás, a menos de 70 km da atual cidade de Formoso para fiscalizar o comércio de ouro e gado entre o Vale do São Francisco e as Minas do Centro-Oeste.

Tratava-se, portanto, de uma rota na qual as autoridades por ali já palmilhavam por interesses econômicos, e por questões de demarcação de fronteiras e limites, daquela que veio a ser posteriormente chamada de região trijuntora. Pela Estrada Real transitavam bandeirantes, mascates, viajantes estrangeiros e autoridades do Reino. Dessas viagens ou passagens, muitas foram registradas em diários e relatórios.

Dentre elas, aquela que revelou a data provável de origem do povoamento e, principalmente, a existência do Sítio Formoso, pelo recém-nomeado Governador da Capitania de Goiás - D. Luiz da Cunha Menezes, vindo da “Cidade de Bahia” e de passagem para o Registro de Santa Maria, com destino à “Vila Boa, Capital de Goyaz”, pernoita no Sítio do Formoso, em 4 de Outubro de 1778 e registrou o fato em seu diário de viagem – sendo esta a data de origem oficial do nosso povoamento, conforme Mendes (2002).

O registro de D. Luiz da Cunha Menezes sobre sua passagem pelo Sítio Formoso é considerado o mais antigo sinal de ocupação (colonização) portuguesa na região em que está incluído o município. O Auto de Vereação em que se tratou da demarcação do Termo da Vila de Paracatu, de 1800, como declara em nota Coraci Neiva15, deve ser reconhecido como a “certidão de nascimento jurídico” de Formoso. “[...] Nele, estão demarcados os limites

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Banco de dados sobre Formoso. Disponível em: http://xikomendes.blogspot.com/; acesso em 01.06.2009

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Professora Coraci da Silva Neiva Batista, Diretora-presidente da Academia de Letras Noroeste de Minas, sediada em Paracatu, em nota inclusa no livro do historiador Xiko Mendes (2002, p. 16). Uma das minhas entrevistadas para este estudo.

territoriais paracatuenses e registrada a inclusão das Povoações das Chapadas de Santa Maria (na serra homônima localizada a oeste de Formoso) como pertencentes a Minas e integrando Paracatu”.

Outro registro é o do cientista inglês, que no ano de 1840 relata sua passagem pelo município de Sítio d’Abadia (GO) e pelo Arraial de Formoso, a menos de 20 km um do outro (MENDES, 2002, p. 28-29), como também Paulo Bertran por ele citado, informa:

De Sítio d'Abadia-GO ao Arraial do Formoso - (atual Formoso-MG, pouso no século XVIII e que, portanto, pelo relato de Gardner chamando-o de arraial, pode datar-se como anterior a 1840) - distam-se pouco mais de 10 km em linha reta. Mas Gardner errou a estrada - Gardner vivia errando os caminhos - e foi parar num lugarejo chamado Campinho. De fato, existe a sudeste de Formoso uma região de nome Campo. (BERTRAN, 1999, p. 60).

Em 1800, outra autoridade, o ouvidor José Gregório de M. Navarro, lavra o termo de demarcação da Vila de Paracatu do Príncipe, de sua inclusão e das “povoações das Chapadas de Santa Maria” (onde atualmente fica a região da trijunção), aos domínios das Minas Gerais. Incluindo-se aí o então arraial de Formoso. Como assinalou Coraci Neiva, considero, assim como outros historiadores (BERTRAN, 1999; MENDES, 2002), que esse último registro, corresponde à referência jurídica que reconhece Formoso como pertencente ao atual Estado de Minas Gerais e concede-lhe, desde então, identidade mineira.

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a primeira metade do século XVIII, em que as minas auríferas de Paracatu e Santa Luzia de Goiás foram descobertas: “em pleno coração dos Cerrados as duas últimas grandes minerações do ciclo aurífero clássico brasileiro, setecentista.” (BERTRAN, 1999, p. 31). O autor comenta os desdobramentos desse novo evento e seu impacto em toda a região, inclusive Goiás:

Despovoou-se o vale franciscano de todo um gradiente geracional de impulsão demográfica, em favor da nova linha de expansão ocidental. O julgado paroquial de São Romão viu-se lentamente desvanecer-se de

importância. Em 1800 foi anexado, junto com o vale abaixo, à nova, emergente e rica Comarca de Paracatu, que também capturava a Picada de Goiás e o trânsito mercantil para o grande oeste cerratense. Giraram os fluxos do sertão. A linha dinâmica da economia brasileira descolou-se da Bahia e de Pernambuco para o Rio de Janeiro, tornado capital. Um trauma de tal importância e que permanece desestudado. (BERTRAN, 1999, p. 31).

As rotas do sertão mudam seu curso e São Romão, que até então polarizava o trânsito mercantil para o oeste, entra em sua fase de isolamento. Se antes era foco de insurreições e disputas, passa por um período de ostracismo e somente em 1800 é incorporado à jurisdição da emergente Paracatu, para onde acorreram os fluxos migratórios, repercutindo em todo o vale são-franciscano. Daí a preocupação das autoridades, na demarcação e controle desses limites.

No início do século XIX, começam a chegar à região dessa trijunção, fazendeiros vindos dos Estados de Goiás e da Bahia. Entre eles Felipe Tavares. Não se sabe quem era o proprietário da Fazenda Formoso16: “segundo conservou a tradição oral do século XIX e os ‘registros paroquiais’ encontrados na Divisão Fundiária de 1942, era de propriedade do sertanista Felipe Tavares dos Santos, que se supõe ser parente próximo do bandeirante paulista Antônio Raposo Tavares”. Certo é que, esses registros paroquiais comprovaram que o sertanista ou bandeirante, foi o doador de 139 alqueires de suas terras – patrimônio para Nossa Senhora da Abadia e para iniciar um povoado na Fazenda Formoso e ser construída uma capela em sua homenagem – hoje, padroeira do município.

Chegaram tropeiros, comerciantes, boiadeiros, dentre outros que começam a se estabelecer em diferentes áreas e formar propriedades rurais, na sua maioria de subsistência, já que a comercialização e o transporte de mercadorias eram extremamente difíceis e, em algumas épocas do ano, como no período chuvoso, era quase impossível realizar viagens, mesmo nas proximidades e/ou vizinhanças.

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Capistrano de Abreu (2000) avalia que, embora as bandeiras não tivessem como finalidade o povoamento das regiões que adentraram, pois os interesses que as moviam era a busca de riquezas e metais preciosos, por outro lado, as necessidades de sobrevivência dos componentes das expedições foram determinantes para a fixação de grupos de pessoas em determinadas paragens. O maior entrave e problema dos bandeirantes era com a alimentação da comitiva. Os víveres que traziam iam se escasseando com o prolongamento das jornadas.

“A solução foi o gado vacum [...], que dispensava a proximidade da praia, pois como as vítimas dos bandeirantes (os índios) a si próprios transportavam das maiores distâncias [...]; capital fixo (o gado) e circulante a um tempo, multiplicando-se sem interstício; fornecia alimentação constante, superior aos mariscos, aos peixes e outros bichos de terra e água” (ABREU, 2000, p. 150-151).

A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (IBGE, 1959, p. 271), comentando sobre a história do surgimento de São Romão e da ocupação da região, atribui à navegação do Rio São Francisco a movimentação e o fluxo de pessoas vindas da Bahia e de todo o Brasil e que, escorraçaram os indígenas que ali habitavam. Desse modo, bandeirantes, aventureiros e tropeiros foram ocupando as terras e estabelecendo propriedades de uma margem à outra – barranqueiros, como ficaram conhecidos aqueles que se estabeleciam nos barrancos, às margens do “Velho Chico”. Aos poucos, surgiram também povoações que se tornaram cidades-portos, como São Romão, Januária e Pirapora, em Minas Gerais.

Sobre essa região incluída no estudo, Antônio Emílio Pereira (2004, p. 152), também apresenta sua versão: “Foi o gado acompanhando o curso do rio São Francisco”. A região do São Francisco era inicialmente habitada por diversas tribos indígenas, entre elas os tapuias, na margem direita e os caiapós á esquerda. “Com elas houve guerras [...] resistiram bastante os índios do Pajeú” (PEREIRA, 2004, p. 152). As duas margens eram ocupadas por várias tribos indígenas. Os da margem direita eram bravos e travaram batalhas sangrentas tanto com as tribos rivais como com os invasores/colonizadores. Resistiram muito, mas depois foram se

afastando da região ribeirinha, buscaram locais mais seguros, sertão a dentro, como relata o Padre Navarro, em suas cartas aos seus superiores, por volta de 1554:

“Escorraçados do litoral pelos guaranis, embrenharam-se pelo interior, vindo instalar-se às margens do rio São Francisco [...]. Os caiapós, nação bravia, fixaram-se à margem esquerda, numa faixa que vai do atual São Romão ao Carinhanha”. (PEREIRA, 2004, p. 47).

Não há dúvidas de que o cráton do rio São Francisco, cortando todo o interior, facilitou a navegação dos bandeirantes na região, como também o rio Carinhanha unindo Minas e Bahia, próximo à divisa de Goiás e da Estrada Real, que abria uma picada para a Bahia, permitiram que viajantes adentrassem por Formoso e Bela Lorena e tornassem o lugar propício para a instalação de fazendas, precursoras dos povoados na região.

Assim, ao longo dos séculos, as disputas entre tribos indígenas, entre eles e bandeirantes, das bandeiras entre si, em busca de riquezas ou apenas de uma terra para sobreviver, ou expandir suas propriedades, o sertão foi sendo povoado. Ora pelos metais preciosos, ora pelas grandes extensões de terras devolutas, concessões e demarcações de fronteiras e posse dos limites.

No século XX, entretanto, muitos sustos e sobressaltos ainda estavam por vir: “os revoltosos” da Coluna Prestes, que afugentavam os fazendeiros e suas famílias para as grotas e grutas, amedrontados e confusos por não compreenderem os reais objetivos do “cavaleiro da esperança.”

A crise mundial com a quebra da bolsa de valores em Nova York, que trouxe consigo a chamada “depressão de 30,” e a desvalorização do café, o comércio e a economia na região, como no Brasil e no mundo já não eram as mesmas, tampouco as pessoas. O mundo mudara muito. O Brasil iniciava a longa “era Vargas”. Começa o processo de reformas no campo.

Na primeira metade do século XIX, além da Família do seu Fundador, outras também se tornaram co-responsáveis pela colonização do território como Ornelas, Almeida, Carneiro e Magalhães, que se juntaram a outras no século XX como Moreira, Andrade, etc. Formoso foi elevado à categoria de Distrito do Município de Paracatu pela Lei Provincial nº. 1.713 de 5 de Outubro de 1870; e seu território distrital foi transferido para o Município de São Romão por determinação da Lei Estadual nº. 843, de 7 de Setembro de 1923. O arraial foi alçado à condição de Vila em 1933.17

Tomo de empréstimo, aqui, as reflexões do urucuiano e antropólogo Sidney Valadares Pimentel (2007), ao relatar suas histórias e recordações sobre a Vila de Nossa Senhora da Pena do Burity no Urucuia, ou simplesmente Buritis, como é hoje denominada. Integra a área do Parque do sertão roseano, também fronteiriça dos três estados e próxima à região trijuntora. Assim, ele interpreta as versões de que se recorda sobre a cidade onde nasceu:

De um modo geral, os elementos usados são os mesmos [...]: a terra pertencia provavelmente a uma sesmaria dada a fulano por este ou aquele motivo. [...]. A doação feita por alguém [...], que se apossou de uma parcela pertencente ao sesmeiro. Em volta do orago começou a crescer uma corrutela cujos moradores praticavam devoção a este santo ou esta madona. E aí começou a distribuição de terra mediante venda ou cessão temporária [...]. No fundo, é um alicerce mitológico criado pela cultura para permitir aos grupos se pensarem como comunidade (PIMENTEL, 2007, p. 22).

Assim, também Formoso, tem sua identidade cultural semelhante à de Buritis, já que inseridas na mesma região. Conta a tradição oral e ancestral do lugar que um suposto aparentado de um bandeirante, o sertanista Felipe Tavares dos Santos, por volta do século XVIII era proprietário das terras da Fazenda Formoso, provavelmente por concessão e fruto das entradas permitidas nos sertões, doando parte dessas terras para Nossa Senhora da Abadia, um orago, em torno do qual surgiu a povoação (Figura 2.8). Esse é também o mesmo alicerce mitológico que explica o surgimento do vizinho Sítio d'Abadia – que tem inclusive a mesma padroeira, festejada no mesmo dia 15, mudando apenas o mês – um em julho e outro em agosto. Segundo os moradores mais antigos, foram os padres que definiram essas datas para

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facilitar o atendimento dos fiéis em suas paróquias e celebrações, estabelecendo um calendário mais favorável às suas viagens pelo interior.

Considero importante destacar aqui também outras vertentes e/ou versões que buscam explicar as origens dos lugares e cidades brasileiras, principalmente as interioranas. Incluo aqui uma vez mais as contribuições de Sidney Pimentel, que lembra o desfecho dado pela Coroa Portuguesa para as demandas entre as Casa da Torre e a Casa da Ponte, que vinham empreendendo a conquista dos sertões desde o século XVI. Decidiu então, a Coroa que “a Casa da Torre estenderia suas conquistas a oeste e ao norte do rio São Francisco, enquanto a Casa da Ponte se beneficiaria de tudo que conseguisse angariar a leste do mesmo rio, até o centro de Minas Gerais” (PIMENTEL, 2007, p. 23).

Antes disso, porém, é bom lembrar que as instalações de pequenas fazendas esparsas, com ranchos e currais improvisados, com uma pequena criação de gados e outros animais,

sempre ocupados por um casal de escravos, que cuidava para que a posse fosse resguardada, também consistiu numa das formas mais antigas de ocupação, a exemplo dos Guedes de Brito (Casa da Ponte). Mas, Pimentel, como outros historiadores18 e sertanistas consideram que o gado movimentando-se entre essas fronteiras, “precedeu o colonizador”.

Tal como a Vila de Nossa Senhora da Pena do Burity no Urucuia, que venho tomando de “empréstimo” do meu conterrâneo Sidney Valadares, a Vila de Formoso e Bela Lorena também guardam suas representações simbólicas. Ligadas, imbricadas, sem possibilidade de garantia onde uma começa e a outra termina. Mas, começa com o “Era uma vez”... uma família Tavares, que aqui chegou, doou terras para a Santa, fundou um orago, procriou seus descendentes, chegaram outras famílias, organizaram fazendas, prosperaram. Povoado o lugar, virou comunidade, organizou-se juridicamente e politicamente. Não foram os únicos. Vários outros lugares, Vilas, como os vizinhos e fronteiriços tiveram origens semelhantes, por todo Brasil, como foi a Vila de São Vicente, em São Paulo. Entrelaçaram-se as famílias, formaram-se os grupos sociais. Surgiram as disputas, alianças e as demandas do lugar: capela, estradas, plantações, criações, intercâmbios.

Nessa parte da narrativa, abrevio para aqueles pioneiros que hoje são reconhecidos na história do lugar como aqueles que empreenderam esforços ou que marcaram, por várias razões, as versões fixadas pela oralidade dos seus habitantes. Também, os registros oficiais como os demonstro acima e das contribuições, mais uma vez de historiadores que me precederam na empreitada e elaboraram obras focadas na história desses lugares e que trazem seus detalhamentos.

Assim é que entre os pioneiros de Formoso está a família dos Ornelas, que tem como patriarca o Sr. Martinho Antônio D'Ornellas – “o Antigo” – proprietário da Fazenda Rasgado,

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Cf. ABREU, Capistrano de (2000); PEREIRA (2004); GONZAGA (1910); PIMENTEL (2007); IBGE (1959), entre outras, tratam do surgimento de várias vilas e cidades na região e das disputas entre índios, bandeirantes, o clero, autoridades e jagunços: movimentos de insurreição, independência ou “motins do sertão”, para a coroa portuguesa.

situada no vale do córrego homônimo e afluente do rio Piratinga. O historiador Xiko Mendes apresenta cópia do seu inventário, datado de 18 de julho de 1879, constando seu falecimento em 1876, quando o então arraial de Formoso já fazia parte da jurisdição da Comarca de Paracatu, onde a documentação está registrada. Teve dois filhos: Ana Joaquina Rodrigues D'Ornellas, que se casou com Joaquim Teixeira Mariz, fazendeiro na vizinha Sítio D'Abadia e lá passando a residir. O filho, Martinho Antônio D'Ornellas Junior (1839-1910), que fixou residência no povoado de Formoso, por volta de 1850, na sua adolescência e, nessa época administrada pelos Tavares desde 1830, como família fundadora do arraial, como mencionei e segundo pesquisas de Mendes (2002, p. 69).

Assim, quando os irmãos Borges Carneiro montavam acampamento em Bela Lorena, o piratinguense D'Ornellas também se estabelecia às margens do Córrego Formoso. Também nessa época, contraía a primeira das suas quatro núpcias (à medida que enviuvava), que realizou ao longo da sua vida, e, das quais lhe nasceram 17 ou 18 filhos, entre homens e mulheres. Seus descendentes, por sua vez também tiveram uma prole numerosa, motivo porque se confere à família dele o título de maior povoadora da cidade de Formoso.

Passam a “dominar o panorama” da região e conseqüentemente, ocuparem as posições de liderança no cenário econômico, ocupando e adquirindo grandes extensões de terras e sedimentando fazendas e propriedades no entorno e na região. Construíram, assim, considerável patrimônio e passaram exercer forte influência político-econômica em Formoso e Sítio d'Abadia (GO). Ali, o primogênito de Martinho Junior, ganha ascensão política o temido Coronel Joaquim Gomes Ornelas, que manteve por longos anos o mando local em Sítio d'Abadia, onde também procriou numerosa descendência.

Os descentes de Tavares mudaram-se todos de Formoso, no início do século XX, para o Vale do Paranã e outras localidades na região, ao que tudo indica por questões conflituosas entre as famílias locais. Ficaram poucos deles em Formoso. Entre eles, Ludgéria Tavares de

Souza (1839-1910), que se casou em Formoso, teve um filho, José Tavares Pereira, conhecido como Zé Maduro, que se casando com Dorotildes (Tide) tiveram oito filhos, cinco estão vivos e lá residem.

Hoje, entre eles está Dona Valdeci, considerada a principal representante dos Tavares na cidade, primogênita do Sr. José, casou-se com um dos descendentes dos Ornelas, Joaquim Moreira Ornelas, bisneto de D'Ornellas Junior. Também tiveram oito filhos. Esses são os descendentes que residem, hoje, em Formoso. Outro irmão de Dona Valdeci, o senhor Geraldo Tavares - “Geraldinho de Tide” – é o zelador do cemitério de Formoso. Ambos foram entrevistados por Xiko Mendes e falaram das poucas lembranças que guardam dos familiares e das tristes reminiscências dos relatos do pai. Pairam dúvidas sobre as razões que levaram os descendentes do fundador a se retirarem numa misteriosa diáspora até hoje, pouco esclarecida e/ou compreendida pela maioria da população, mas tácita ou inconscientemente silenciada, segundo o historiador (MENDES, 2002, p. 65-68).

O “Antigo” D'Ornellas e o lendário fundador Felipe Tavares são considerados, hoje, os primeiros colonizadores do Vale do Piratinga. Do mesmo modo, os Borges Carneiro em Bela Lorena, “não há dúvida, foi o primeiro centro irradiador da cultura formosense e pólo de incontestável importância na civilização dos longínquos vales urucuianos” (MENDES, 2002, p.84). Assim, seus fundadores são também reconhecidos como pioneiros do Formoso, já que assumiram a sua organização administrativo-jurídica, econômica e, também dos intercâmbios e comunicações com outros lugares.

Em 1910, o professor e historiador Olympio Gonzaga, em seu livro Memória Histórica de Paracatu,19 apresenta como os principais criadores (no sentido de atividade

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Olympio M. Gonzaga (1877-1948) nasceu em Capim Branco (atual Unaí) e viveu e faleceu em Paracatu. Foi jornalista, escritor e professor, formado na escola Normal de Paracatu. Realizou pesquisas no Arquivo Público Mineiro- BH; nos arquivos paroquiais e da Câmara Municipal de Paracatu e dos lugares

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