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Delimitando caminhos: da construção do projeto ao dia-a-dia das escolas

2.1. A formulação da pesquisa

No capítulo anterior descrevi que os profissionais docentes vinculados administrativamente à Prefeitura Municipal de São Paulo são respaldados legalmente pelo Estatuto do Funcionário Público Municipal − Lei 8.989/79 − e pelo Estatuto do

Magistério − Lei n° 11.229/92 − na possibilidade de obter concessões em relação às

faltas em seus postos de trabalho, ou seja, de não comparecerem às escolas, mesmo em dias letivos. Ocorre que, havendo a prescrição legal, o questionamento formulado foi o de que, se por um lado é garantida ou ao menos é concedida a possibilidade de se ausentar aos professores, como se configura de fato o exercício desse direito, como a administração pública municipal opera as escolas de ensino fundamental de modo que elas possam atender aos alunos de maneira a garantir o atendimento descrito pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e ratificado pela Lei Orgânica do Município de São Paulo?7 A administração municipal tem conseguido respaldar a valorização dos professores e, ao mesmo tempo, cumprir o atendimento escolar de que é responsável? As aulas têm sido dadas?

De acordo com Selltiz et al. (1965), para o atendimento a um problema de pesquisa é necessária a formulação de um plano de pesquisa que especifique os tipos de

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O artigo 201 da Lei Orgânica declara ser o município responsável pela: organização e manutenção de seu sistema de ensino [atendendo] ao disposto no art. 211 e parágrafos da Constituição da República, [garantindo] a gratuidade e padrão de qualidade de ensino.

informações a serem buscadas, bem como a disponibilidade da “aplicabilidade dos fins da pesquisa com a economia da realização” (p.61).

Para atender a essa recomendação dos autores, procedeu-se a uma busca, junto aos órgãos da Secretaria Municipal de Educação (SME) da cidade de São Paulo, dos dados referentes à utilização das concessões de faltas pelos professores. Porém, a informação recebida foi a de que os mesmos não podiam ser disponibilizados, uma vez que sequer eram contabilizados.

Levantamento bibliográfico realizado concomitantemente à busca dos dados quantitativos também revelou a ausência de trabalhos acadêmicos que caracterizassem as faltas dos professores no decorrer de um ano letivo, seja em instituições privadas, seja em instituições públicas municipais, estaduais ou federais8. Entretanto, como descrevo no capítulo anterior, a possibilidade de os docentes faltarem a seus postos de trabalho, ou seja, de não irem às escolas, está respaldada legalmente aos docentes das redes públicas, pelo menos desde meados dos anos 30 do século XX.

Essas constatações me levaram a reformular o plano de pesquisa, tendo por base as observações dos autores Selltiz et al (1965) sobre a realização de pesquisas exploratórias, com quatro possíveis propósitos:

1) a obtenção de familiaridade com um fenômeno, ou a obtenção de novos discernimentos sobre ele;

2) especificar, com exatidão, as características de um especial indivíduo, situação ou grupo;

3) determinar a freqüência com que algo ocorre ou com que uma coisa está relacionada à outra;

4) analisar uma hipótese causal entre variáveis (p. 61).

Dos propósitos descritos, atento-me aqui ao de número um (1) a três (3) que pareceu atender às finalidades deste trabalho, uma vez que, de acordo com as informações recebidas junto ao poder público municipal, encontrava-me diante da necessidade de iniciar um levantamento de dados específicos, não disponibilizados.

Selltiz at al (1965) indicam que, para se atingir determinados dados é necessário que também se criem maneiras diferenciadas de atingi-los, principalmente quando esse

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A constatação da inexistência de estudos com essa temática se manteve durante a realização desta pesquisa.

estudo passa a ser denominado de formulativo ou exploratório. O estudo exploratório é, portanto, aquele em que “dá-se ênfase à descoberta de idéias e discernimentos” (p. 61).

Ainda segundo Selltiz at al (1965), os estudos exploratórios podem, entre outros itens, “intensificar a familiaridade do pesquisador com o fenômeno que ele deseja investigar (...) e colher informações sobre possibilidades práticas em ambientes da vida real” (p. 62). Ou seja, há casos que necessitam adequação da metodologia ao foco da pesquisa pois, “muitas vezes a teoria é demasiada genérica ou excessivamente específica para fornecer uma orientação esclarecida para as pesquisas empíricas” (Selltiz at al 1965, p. 63).

Para que ocorra uma pesquisa exploratória, os autores destacam, também, a importância da atitude do pesquisador, comparando-o a um vigilante quanto à receptividade, devendo este se orientar “pelas características do objeto que está sendo estudado. Seu inquérito deve estar constantemente fazendo reformulações e reinquirições, à medida que obtém novas informações” (p.72-73).

Com relação às faltas dos professores, o quadro que se apresentou, a priori, era de que existia, de fato, a possibilidade legal de os professores faltarem às escolas. Porém, na ausência de dados sobre a utilização, ou não, dessas concessões, uma pretensa investigação sobre a organização das escolas municipais de ensino fundamental (EMEFs) da cidade de São Paulo não se apresentava de forma objetiva. Ao contrário, levantavam outros questionamentos como: quais os critérios de concessão para essas faltas? Quantos professores faltavam diariamente? Que estratégias eram utilizadas por essas escolas para suprir suas faltas? Enfim, eram muitos os questionamentos e poucas as informações disponíveis.

Mediante essas questões e reportando-me mais uma vez a Selltiz at al (1965), ao revelar que um trabalho de pesquisa exploratória pode “fornecer um recenseamento de problemas considerados urgentes, por pessoas que trabalham em um determinado setor de relações públicas” (p.62), e considerando que, com relação às faltas dos professores, as mesmas poderiam se caracterizar como um problema à organização das EMEFs de São Paulo, passarei a descrever, no próximo tópico, os procedimentos de pesquisa que necessitaram ser adequados às circunstâncias que fazem deste um trabalho exploratório: a originalidade do tema, dada a inexistência de pesquisas com o enfoque proposto e a necessidade de se buscar uma metodologia específica.