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Fotografia como documento histórico no ensino de História

CAPÍTULO 3 FOTOGRAFIA, ENSINO E APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA:

3.1 O USO DO DOCUMENTO HISTÓRICO EM SALA DE AULA

3.1.1 Fotografia como documento histórico no ensino de História

Os materiais didáticos utilizados no ensino de História há tempos procuram associar texto e imagem. Nesse caso particular, tem sido ainda mais evidente o uso do documento como mera ilustração, afastando os alunos do conhecimento mais do que os aproximando.

As novas possibilidades metodológicas, traduzidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, também atingiram em cheio a concepção que se tinha acerca do uso de fotografias no ensino de História, resultando na elaboração de materiais didáticos enriquecidos por uma diversidade cada vez maior de fotografias. Porém, apesar de oferecer uma proposta mais atraente, esses materiais nem sempre podem ser compreendidos por professores e alunos.

Dois motivos podem justificar a importância de se pensar o uso de fotografias no ensino de História: 1) as particularidades potenciais dessa tipologia de fonte na abordagem de questões sociais invisíveis em outros documentos; 2) o notável interesse que os alunos de hoje dispensam às tecnologias fotográficas oferecidas pelos aparelhos celulares e computadores.

Esse interesse, para além do aspecto fascinante das novas tecnologias, explica-se ainda pelo caráter afetivo que a fotografia tradicionalmente comporta.

51 Com os Parâmetros Curriculares Nacionais, houve uma importante valorização do ensino de

história local, principalmente para os primeiros ciclos. As discussões acerca da “localidade” no ensino de História foram muito valiosas para nossa proposta didática com o uso das fotografias.

Porém, muitas vezes, este é desperdiçado em sala de aula, pois o aproveitamento das potencialidades da fotografia, enquanto documento histórico exige certa familiaridade com a linguagem que é particular da fotografia e que só pode ser apreendida mediante estudo dos seus aspectos constitutivos.

Os estudos que têm se dedicado à linguagem fotográfica, a partir de uma nova perspectiva para o ensino de História, sintonizam-se com as mudanças mais recentes que propuseram um repensar na própria concepção de História. Principalmente a partir das propostas da História Cultural, a fotografia passou a ser considerada uma poderosa aliada na formação dos alunos, principalmente pela possibilidade de estudo com elementos visuais próximos ao referencial empírico deles.

Nesse sentido, o domínio da linguagem fotográfica significa um aprimoramento na capacidade de leitura do mundo pelo aluno que, atualmente, dispõe de um grande volume de imagens, fotográficas ou não, presentes em toda parte e que já se incorporaram ao seu cotidiano. Dessa forma, para além dos materiais didáticos produzidos com fins pedagógicos, há um leque de opções produzidos socialmente que podem oferecer riquíssimas possibilidades de questionamentos e abordagens no diálogo do presente com o passado, aprimorados com o exercício da interpretação multiperspectivada no ensino.

Pinto e Turazzi (2012) ressaltam que, no ensino de História:

[...] os alunos frequentemente são apresentados a imagens do passado que devem ser observadas com atenção, sendo-lhes indicado por que e para que fazê-lo, mas raramente como isso deve ser feito. A percepção da existência de determinadas informações em suportes visuais não representa, por si só, o pleno desenvolvimento da competência leitora, cada vez mais necessária à compreensão e fruição do universo imagético contemporâneo (PINTO; TURAZZI, 2012, p. 109).

A historiadora Isabel Calado (1994), utiliza o termo “alfabetismo visual”52 ao

se referir ao desenvolvimento da competência leitora de imagens e para chamar a atenção dos educadores contemporâneos. Considerando as transformações que as novas tecnologias vêm promovendo na forma como interpretamos o mundo, a autora reconhece nas imagens um alto poder educativo e comunicativo, que independe da escola formal para convencer e/ou comover. Para ela, a indiferença ou incapacidade

52 A autora se inspira nos estudos da designer e professora Dondis (1988), que se refere aos

dos educadores em compreender tal potencial, permite à “escola paralela”53 o

controle quase absoluto desse poder, pois, o investimento em “consultar o cliente para vender mais” tem sido muito maior que o investimento em “consultar o cliente para educar melhor”.

De acordo com Calado (1994), entender o universo das imagens hoje não significa apenas introduzi-las no processo de ensino e aprendizagem, conforme também alerta Napolitano (2006). Trata-se de repensar uma epistemologia visual que nos permita manipular as imagens, em vez de sermos manipulados por elas. Caberia à escola “a tarefa de intensificar os efeitos positivos produzidos pelos media, bem como a de anular aqueles que fossem considerados negativos” (CALADO, p. 93).

Armando Martins de Barros (1999), refletindo sobre a “pedagogia da imagem” na formação docente, destaca a importância de conteúdos que discutam essas problematizações na graduação, considerando o caráter multidisciplinar inerente ao trabalho com imagens. O autor ressalta que é necessário pensar multidisciplinarmente. Ainda é raro nas escolas o desenvolvimento de projetos e experiências envolvendo diferentes disciplinas. Segundo o historiador:

A presença da imagem educando os sentidos é histórica. Todavia, a escola permanece entre o fascínio, o receio e a paralisia. Mais do que práticas apenas voluntaristas em sua crítica ou recurso, urge discutirmos seu estatuto, seu campo, suas metodologias, de forma a permitir à escola intervir concretamente nas práticas sociais que autorizam ao olhar significar a imagem, identificando e dialogando com os atores sociais que teimam em ocultar-se (BARROS, 1999, p. 27-28).

É nesse sentido que Calado (1994), acerca de uma pedagogia da imagem, fala em “pedagogia da comunicação”, defendendo a promoção do seu caráter ativo nas crianças e jovens, pois mesmo sem perceber somos estimulados pela imagem a nos comunicarmos, verbal e/ou visualmente. Os media, hoje imbricados na internet, principalmente através das redes sociais, potencializaram esses estímulos comunicativos. Poderíamos emprestar de Calado (1994) o termo “media de grupo” para nos referirmos a tais. O mesmo fator que nos anima, diante de tantas possibilidades educativas de comunicação, nos assusta, diante da complexidade

53 A autora refere-se aos meios de comunicação, os media, em especial a televisão. Percorre os

campos da “psicossociofisiologia” e da “semiologia da imagem” para apresentar importantes contribuições acerca das características da linguagem visual, nos quais articula os conceitos de leitura, alfabetismo e aprendizagem.

que atravessa as novas formas e conteúdos da comunicação pelos jovens das novas gerações.

Algumas produções acadêmicas voltadas para pesquisa e ensino podem oferecer importantes instrumentos metodológicos a serem experimentados e adaptados em sala de aula, não como receitas prontas, mas como possibilidades de ações e práticas. Sem abandonar o diálogo com os autores que nos acompanharam até aqui, prosseguiremos com o intuito de pensar esses instrumentos e possibilidades.