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3. CAPÍTULO III: A intertextualidade da iconografia do Forte Reis Magos a partir

3.3. Fotografia do Forte Reis Magos

Diante da dimensão de oferecer uma ligação direta ou indireta da influência do registro artístico do Forte Ceulen a partir de Frans Post sobre o período moderno não é uma perspectiva fácil, pois são dimensões totalmente distintas. Porém é por meio da leitura visual que podem se destacar as permanências do olhar de Frans Post e as mudanças posteriores, a partir de um olhar do fotógrafo Jaeci.

Figura 20 (Forte Reis Magos, Jaeci Emerenciano Galvão, anos 1940).

Nesse sentido, observa-se que o olhar do fotógrafo Jaeci, profissional, natural do Rio Grande do Norte, responsável por um dos maiores acervos de Natal a partir da década de 40 do século XX, teve, certamente, influência da modernidade de utilizar máquinas fotográficas como: a Polaroid Model 95, que representou a primeira câmera com filme instantânea, ou Hansa Canon. O que se entende é que Jaeci utiliza o olhar de cima para baixo como estivesse tirando à foto de dentro de uma aeronave, ou helicóptero.

Na fotografia em preto e branco visualiza-se grosseiramente nas paredes externas o formato de pedras encaixadas, provavelmente, nesse tempo, o Forte ainda conservava rabiscos semelhantes às que se enxerga na pintura de Frans Post, uma imagem antiga.

Contudo, a fotografia por ser mais nítida do que uma pintura, possibilita observar que a intenção do fotografo Jaeci deixa de lado a visão paisagista de destacar o horizonte ao redor do Forte. Esse período do século XX parece que o objeto do Forte em destaque tem mais importância do que se pode visualizar da parte periférica ao redor da parte externa.

Diferentemente de Frans Post, que tinha um olhar primário sobre o Forte e sua familiaridade não estava ligado pelo costume rotineiro do local, e seu serviço foi passageiro

visualizando que o interior do Forte não representou muita importância no seu registro. Por outro lado, a fotografia de Jaeci parece ser familiarizada na sua vida diária, porém parece que o interior do Forte passa a ser uma tendência misteriosa de saber o que tem lá.

Figura 21 (Forte Reis Magos, João Alves de Melo, século XX).

Mas uma fotografia dos meados da década de 20 do século XX, foto em preto e branco, a autoria do fotografo é de João Alves de Melo. Porém observa-se a tentativa de destacar o interior do Forte Reis Magos, principalmente, um destaque de uma das partes que estão ao redor do interior do forte. Nesse caso, a foto está direcionada para a capela no centro do pátio no interior do Forte.

Em uma crônica antiga, Câmara Cascudo, acreditava que a Capelinha dos Reis Magos foi construída junto com a Fortaleza dos Reis, onde seus defensores deveriam adorar os primitivos padroeiros dos três reis, que certamente foram destruídos durante a invasão dos holandeses.

Cascudo (1999) que mostra várias descrições deste sítio arqueológico, feitas por cronistas do século XVII e aponta que a mesma foi destruída na derrota dos holandeses. Depois o local foi reconstruído e em 1755 recebeu as imagens dos três Reis Magos, um regalo de El Rei D.

José, que atualmente se encontram na igreja de Santos Reis, onde são celebrados a cada dia 6 de janeiro, um dos feriados oficiais da capital potiguar.

Diante da perspectiva de olhar a fotografia como instrumento de registro pode-se, portanto, concluir que a relação intertextual observada nos fotógrafos João Alves de Melo e Jaeci Emerecenciano Galvão tem tendências para a intertextualidade na fonte de Frans Post, pois as intenções registradas pelos fotógrafos deixam claro que mesmo não havendo o interesse de mostrar a mesma perspectiva paisagista de Post, mas o objeto é o Forte. Por outro lado não se enxerga nas fotos uma visão panorâmica ao redor do Forte, mas isso não configura que não possa existir elemento intertextual.

CONCLUSÃO

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Artes Visuais ofereceu como proposta de pesquisa monográfica o pintor Frans Post, que abrange a área de História das Artes. Espera-se alcançado o objetivo de apresentar a contribuição do pintor holandês na arte local (Rio Grande do Norte), mas levando em consideração as contribuições do pintor também no Nordeste. É provável que o título desde trabalho tenha gerado dúvida, ou complexidade em relação à palavra “Invenção”, mas a finalidade é apresentar a partir dos aspectos escritos sobre a primeira fase de Frans Post, e a intertextualidade da iconografia do Forte Reis Magos indagações sobre a veracidade do pintor estrangeiro no Brasil.

Os capítulos desenvolvidos tiveram como meta informar os fatos históricos e artísticos sobre o pintor Frans Post no Nordeste, especificamente direcionando para o Forte Reis Magos, sobretudo, objeto de estudo para este trabalho. Porém, como foi diagnosticado que pesquisar o pintor Frans Post somente levando em conta sua contribuição no Rio Grande do Norte poderia acarretar poucas informações sobre o pintor. Por isso, foi resolvido abranger a produção artística de Post em toda sua passagem no Nordeste, desde 1637 a 1644 do século XVII. Observa-se detalhadamente o período do século XVII que o Brasil vivia sobre o regime colonial (1530-1808), que esse período correspondeu o auge da exploração de materiais brutos do Novo Mundo, mas que ao mesmo tempo correspondeu possibilidades de invasões de outras nações interessadas em fazer do Brasil suas colônias.

Quando os holandeses conseguiram dominar por 25 anos o Nordeste do País sobre o comando do governador Maurício Nassau que foi responsável de fazer do Nordeste a nova Amsterdã não deixou de lado registro dos acontecimentos presentes daquele período entre 1630 a 1655 do século XVII. As presenças de Albert Eckhout (1610-1666) e de Frans Post (1612-1669) holandeses que estiveram no Novo Mundo não apenas contribuíram para registrar o domínio do poder holandês no Brasil, mas colaboram para carimbar nas imagens produzidas no Nordeste várias informações relacionadas às arquiteturas, as paisagens, monumentos, costumes, etnias, faunas e floras.

Segundo Lago e Lago (2009) Frans Post foi o primeiro pintor há pisar em solo do Novo Mundo, certamente, sem o persistente olhar externo jamais poderia ter existido documentação visual que proporcionasse analisar o cotidiano daquele período do século XVII, pois a arte no Brasil trazida pelos portugueses, ou o estilo do Maneirismo influência do

renascimento com a transição para o barroco não possuía o mesmo olhar do holandês com seu naturalismo, paisagismo e cotidiano.

A arte holandesa é diferenciada da arte portuguesa, pois a influência do protestantismo possibilitou para os pintores holandeses evoluir os temas de pinturas para os campos, boques e rios; já as pinturas portuguesas ainda concentravam os temas em figuras religiosas, ensinamentos catequéticos e imagens de santos.

No entanto, o Trabalho de Conclusão de Curso deste trabalho teve como metodologia duas abordagens, inicialmente, construídas ao longo da pesquisa sobre Frans post. A primeira foi analisar as sete obras, exceto uma que é datada no ano de 1640 do século XVII, que está no Instituto Ricardo Brennand, localizada em Recife – PE. As outras seis inclusive a obra do Forte Reis Magos no Rio Grande do Norte estão todos localizadas no Museu de Luvre – França. Porém as abordagens foram feitas por meio de impressões das imagens e procurando analisar e descrever cada uma. A segunda foi relacionar outras imagens sobre o Forte Reis Magos comparando sobre a intertextualidade das imagens.

Enquanto isso, alguns leitores de Artes visuais podem perguntar-se por que desenvolver um TCC sobre o pintor Frans Post, principalmente, levando em consideração o Forte Reis Magos? Outros leitores podem ainda ir além, por que apresentar um pintor estrangeiro e não um que seja brasileiro? Diante disso, pode-se verificar que a contribuição principal é oferecer uma pesquisa voltada para a História das Artes no Rio Grande do Norte, porém como poucas informações existem sobre a História das Artes no Rio Grande do Norte no período colonial o único caminho que foi possível para não deixar de fazer um trabalho monográfico artístico no período colonial foi apresentar o pintor Frans Post, que foi um dos vários pintores que desenhou e pintou o Forte Reis Magos.

Com efeito, alguns críticos em Artes podem não considerar o pintor Frans Post como um pintor que possa fazer parte da História das Artes no Rio Grande do Norte, pois sua passagem no local foi curta, e não há informação se existe outra obra que possa ser considerada ou incluída na História das Artes local. A obra do Forte é a única que foi registrada oficialmente por Frans Post na sua presença no RN, mas isso não caracteriza negar ou afirmar que a História das Artes pode ser analisada a partir de Frans Post. Porém pode-se concluir que a obra do Forte de Frans Post em si mesma representa uma marca histórica e artística para o período colonial.

A intertextualidade desenvolvida deste trabalho iniciou a partir das contribuições oferecidas pelo professor Vicente Vitoriano Marques Carvalho, professor de Artes do DEART, que foi o orientador do TCC I sugerindo que o discente desenvolvesse uma finalidade concreta sobre o trabalho, mas como os capítulos estavam sendo desenvolvidos a partir da definição da invenção estava gerando muita confusão, principalmente, por ausência de argumentação eficiente. Nesse sentido, foi resolvido dividir o trabalho em três partes, a primeira sendo a influência do renascimento da arte holandesa; a segunda a comparação de composições e texturas na primeira fase de Frans Post; e a terceira apresentar o sentido real do trabalho que foi a intertextualidade na imagem do Forte Reis Magos a partir de Frans post.

REFERÊNCIAS

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PEIXOTO, Renato Amado. “Duas Palavras”: Os Holandeses no Rio Grande e a invenção da identidade católica norte-rio-grandense na década de 1930. Revista de História Regional 19(1), Natal, 2014.

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ZUMTHOR, Paul. A Holanda no tempo de Rembrandt. Tradução de Maria Lúcia Machado. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.

ANEXOS

RELATÓRIO DA AÇÃO PEDAGÓGICA.

A programação da Semana de Artes Visuais ocorreu entre os dias 06 a 10 de maio de 2019, no DEART/UFRN possibilitando aos formandos do Curso de Licenciatura em Artes Visuais (2019.1) apresentar suas ações pedagógicas na sexta feira.

A programação da ação pedagógica disponibilizou para o formando Herbton Severo Calafange da Silva, matrícula 20160005567, apresentar o Trabalho de Conclusão do Curso de Artes Visuais entre 09h às 11h.

O público alvo foram os próprios alunos do curso de Artes visuais que sentiram convidados a fazerem presentes na palestra na área de História das Artes, especificamente, na História Local do Rio Grande do Norte, mas que abrangeu o Nordeste. A temática oferecida para a palestra foi problematizar a seguinte questão: Invenção ou Criação nas obras de Frans Post no Nordeste.

Ação pedagógica foi iniciada no horário previsto a partir das 09h no qual contou com a presença de aproximadamente 20 pessoas, além do bolsista que esteve como orador de auxiliar o palestrante, e o professor Vicente Vitoriano Marques Carvalho que esteve presente para contribuir na abordagem proferida pelo palestrante.

A palestra foi dividida em três etapas, sendo a primeira uma visão panorâmica da pesquisa do TCC, o estudo dos capítulos, focalizando nas principais colunas que sustentavam os capítulos, tais como: o renascimento, os pintores Rembrandt e Frans Hals, a intertextualidade na imagem do Forte Reis magos a partir de Frans Post; o segundo momento foi mostrar algumas imagens que compõem os recursos metodológicos para a leitura visual, entre essas: a primeira fase do pintor Frans Post no Brasil (1637-1644), e a relação intertextual entre outras imagens do Forte. Além disso, realizando uma aula didática de descrever e analisar as sete obras da primeira fase; e o terceiro momento que foi realizar uma avaliação contínua, mas disponibilizando de duas questões: qual é a importância da intertextualidade na arte? O pintor Frans Post pode ser considerado uma criação ou uma invenção nas pinturas do Novo Mundo?

O tempo programado foi utilizado muitíssimo bem sem a necessidade de ter havido pausa na palestra. Às duas horas disponibilizadas para a palestra foram suficientes para

manter o público presente e participativo. Apenas houve dois contratempos: o primeiro a mudança de sala em última hora, sem o aviso prévio, e a segunda da invasão de uma funcionária durante a palestra informando que os mesmos que se encontravam na sala evitassem falar alto, pois estava ocorrendo um concurso na sala ao lado, ou a sala onde era para ter sido a ação pedagógica. Felizmente, como o público de Artes Visuais não é de gerar confusão e nem de se incomodar com questão secundária continuei a palestra sem mais problema constrangedora.

Anterior a semana de Artes Visuais realizada entre os dias de 06 a 10 de maio de 2019 foi realizada no dia 24 de abril de 2019 uma ação pedagógica na Escola Estadual Myriam Coeli, localizada no conjunto Nova Natal. A palestra teve a participação de duas turmas no horário matutino; a primeira foi do 1º ano do Ensino Médio, que totalizou 28 participantes. A segunda turma teve a participação de 18 estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental. A duração foi totalizada em quatro horas.

O objetivo nesse primeiro encontro da ação pedagógica foi apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso para os alunos de rede pública com a finalidade de mostrar a partir do tema de pesquisa “Frans Post, estudo sobre a invenção e a intertextualidade na primeira fase, estimular os alunos conhecer sua própria história voltada para as artes no Rio Grande do Norte.

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