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5.4 Conclusões

5.4.1 Framework do processo de criação de conhecimento em empresas participantes

A partir de cada um dos quatro casos selecionados, as publicações científicas e as evidências empíricas conduziram à construção do modelo lógico de nível organizacional que representa a tipologia de caso geral de como ocorre o processo de CC em empresas que fazem parte de CIs, conforme apresentado na figura a seguir.

biotecnologia. A figura apresenta tal processo no nível interno da empresa bem como os ativos internos utilizados neste processo, os ativos que estão localizados no cluster (nível intra-cluster) e fora do cluster (nível extra-cluster).

A empresa inicia seu processo de CC a partir de um problema, necessidade ou oportunidade a ser explorada, como seria o caso de patentes ou descobertas biotecnológicas. Estes são os starters para o início do processo, pois as empresas buscam transformar uma descoberta feita em laboratório em algo de valor, ou seja, a inovação. Para isso, é preciso alocar ativos (tangíveis e intangíveis) para que tal processo de CC ocorra no nível interno da empresa.

Em um primeiro nível, a empresa aloca os seus ativos internos, sejam eles tangíveis ou intangíveis. Nos primeiros, a empresa busca reduzir seus custos por meio da utilização de materiais de baixos custos assim como aloca recursos financeiros para o desenvolvimento de seus processos de CCs. Em virtude de o setor da biotecnologia ser um setor de conhecimento de fronteira, a empresa não possui todos os recursos tangíveis em seu interior, logo a empresa pode firmar parcerias com outras empresas ou instituições para o estabelecimento de projetos conjuntos, principalmente para obter acesso à infra-estrutura laboratorial de seus parceiros. Tais parcerias reduzem os custos dos processos internos da empresa e favorecem no seu desempenho.

Com relação aos ativos intangíveis, a empresa aloca informações específicas do setor, com o auxílio dos meios de comunicação que dispõe. Estas informações são essenciais à aceleração dos processos internos pois tais conhecimentos explicitados complementam as atividades da empresa. As iniciativas do nível estratégico são igualmente importantes, pois fazem com que a empresa obtenha os ativos necessários ao desenvolvimento de suas atividades. Logo, as colaborações entre os integrantes da empresa são essenciais para alavancar os processos internos de CCs. O poder de barganha, exercido notadamente pelo nível estratégico, é utilizado essencialmente para persuadir investidores quanto ao recebimento de investimentos externos à empresa, pois as atividades das empresas são consideradas de alto risco e muito custosas. O nível estratégico das empresas necessita de conhecimentos gerenciais, que são considerados essenciais para o sucesso das empresas no que compreende a gestão das mesmas, bem como o conhecimento sobre o mercado consumidor e sobre os investidores. A capacidade absortiva da empresa, em explorar informações que estão no seu interior bem como assimilar informações que podem ser

146 captadas tanto no nível intra-cluster como extra-cluster, permite avanços significativos nos processos internos de CCs. Os resultados da empresa poderá proporcionar visibilidade junto às demais empresas do setor, bem como no nível interno ao cluster (intra-cluster).

A partir da alocação dos seus ativos, o processo de CC inicia com a externalização do conhecimento das pessoas, que se trata essencialmente dos conhecimentos específicos em biotecnologia dos profissionais altamente qualificados, contratados pelas empresas. Na dimensão tácita, os profissionais qualificados detêm os conhecimentos, habilidades, competências e experiências que são necessários para alavancar os processos de CCs, para alcançarem as descobertas biotecnológicas. Os conhecimentos novos após o processo são protegidos por meio de segredo e da confiança depositada entre os envolvidos nestes processos. Na dimensão explícita, os conhecimentos existentes (oriundos da dimensão tácita) são utilizados neste processo, onde há a primeira fase de externalização do conhecimento das pessoas por meio de interações entre os profissionais que atuam no nível interno da empresa. Estes conhecimentos intercambiados no nível interno da empresa são apreendidos e combinados, em fórmulas e processos que possam conduzir à descobertas biotecnológicas. Existem fases de testes de um determinado agente biotecnológico, que garantem a eficácia e possibilidade de utilização em humanos. Nesta fase, as tecnologias e informática (softwares e computadores) são específicos e utilizados para a fase seguinte, a construção do arquétipo, onde também são utilizadas tecnologias e informática nos processos de CCs. Na última fase deste processo, os conhecimentos criados são compartilhados novamente por meio de interações entre os profissionais qualificados. Como resultados destes processos tem-se novos conhecimentos (processos, segredos) que podem se transformar em propriedades intelectuais ou em patentes; e também tem-se a inovação, que pode resultar na descoberta de processos inovadores de produção ou no desenvolvimento de novos produtos (seja de forma individual ou na forma de projetos em parceria).

Estes conhecimentos são armazenados em dois repositórios de conhecimento, um deles está presente na dimensão tácita, ou seja, os conhecimentos são apreendidos pelos profissionais qualificados. Além deste, as empresas também podem armazenar seus conhecimentos em repositórios físicos, tais como em publicações científicas ou em computadores.

Pelo fato de os conhecimentos no setor da biotecnologia serem muito específicos e as empresas apresentarem diversas limitações, é natural que tais empresas busquem ativos que possam complementar seus processos internos. No nível interno do cluster (nível intra-

relacionados a seguir.

Com relação aos ativos tangíveis, as empresas participantes de clusters industriais de biotecnologia podem se beneficiar dos profissionais qualificados disponíveis, formados por universidades integrantes do cluster, que podem suprir as necessidades de conhecimentos específicos das empresas. As empresas podem se valer das universidades próximas por meio de acordos universidade-empresa além do desenvolvimento de produtos em parceria com outras empresas integrantes do cluster, como forma de redução de custos e também como forma de acessar novos conhecimentos não disponíveis no nível interno destas empresas. As empresas que celebram parcerias entre si normalmente se beneficiam da infra-estrutura laboratorial como forma de redução de custos com máquinas e equipamentos. Estas empresas acessam os repositórios de conhecimento de seus parceiros e obtêm destes os conhecimentos necessários para incrementar seus processos internos de CCs. As empresas também podem obter diversos incentivos financeiros e financiamentos a partir da governança do cluster, que pode disponibilizar tais recursos às empresas em forma de políticas locais de incentivos. As empresas também podem obter a ajuda da governança do cluster para buscarem recursos junto às esferas políticas federais. As empresas do cluster coopetem entre si no cluster, ou seja, há cooperação quando existem projetos colaborativos para o desenvolvimento de produtos em parceria, porém, competem na busca de recursos que são repassados pelo cluster ou por meio deste.

Com relação aos ativos intangíveis, disponíveis no nível interno do cluster, as empresas podem obter informações específicas do setor, que são repassadas normalmente por

spillovers de conhecimento, integrantes do cluster. Algumas empresas buscam também no cluster informações gerenciais que são utilizadas no seu nível interno. Estas informações são

essenciais aos processos de CCs internos das empresas. Logo, existem relações de confiança e interações sociais entre as empresas e os integrantes do cluster, principalmente com a governança do mesmo e com os spillovers de conhecimento. As parcerias estabelecidas entre as empresas e os integrantes do cluster favorecem a redução de custos no nível interno destas empresas, além de as parcerias serem uma forma de acesso aos conhecimentos específicos dos parceiros. A proximidade geográfica entre os integrantes do cluster favorece as interações e parcerias. Já a proximidade de conhecimentos faz com que as empresas obtenham conhecimentos que são variados e específicos e estão disponíveis no nível interno do cluster. Estes conhecimentos são captados e absorvidos pelas empresas em seus processos internos.

148 As empresas colaboram com os integrantes do cluster no tocante à captação de recursos para projetos conjuntos ou em parceria. A governança do cluster bem como seus principais

spillovers de conhecimento promovem iniciativas e apoios diversos às empresas integrantes

do cluster, no sentido de acelerar os processos internos destas e promovendo ações de propaganda junto à investidores e comunidade em geral, para dar maior visibilidade às empresas e também ao cluster.

No nível externo ao cluster (extra-cluster), as empresas podem obter ativos (tangíveis ou intangíveis) que não estão disponíveis no nível do cluster.

Em relação aos ativos tangíveis disponíveis no nível extra-cluster, a empresa pode encontrar profissionais qualificados disponíveis, conforme a necessidade e especificidade do conhecimento requerido pela empresa. As informações relativas aos concorrentes estão no nível extra-cluster e a sondagem da concorrência é feita pelas empresas do cluster para a adoção de posicionamentos estratégicos por parte de cada uma das empresas. Estes posicionamentos estratégicos em relação à concorrência, bem como em relação à exploração do mercado consumidor potencial são feitas de maneira individual, por cada uma das empresas do cluster. As empresas podem estabelecer parcerias com empresas ou instituições que estão fora do cluster, devido à especificidade dos conhecimentos requeridos nos processos no nível interno das empresas. Neste nível extra-cluster encontram-se as fontes de investimentos das empresas, notadamente tratam-se de investimentos públicos e privados, incentivos públicos e investidores diversos que repassam recursos financeiros às empresas mediante acordos e contratos. Os investidores privados barganham com as empresas pois querem rentabilizar o investimento na melhor forma possível. Neste nível também encontram- se repositórios de conhecimento, tais como bases nacionais de conhecimento que disponibilizam publicações científicas, bem como banco de dados que asseguram prioridades na exploração de descobertas biotecnológicas. A legislação federal também está neste nível extra-cluster e também influencia as questões político-fiscais das empresas.

Em relação aos ativos intangíveis no nível extra-cluster, as empresas se comunicam, colaboram e intercambiam conhecimentos com outras empresas ou instituições que estão fora do cluster, o que requer igualmente relações de confiança entre os parceiros (entidades especializadas ou outras empresas). As políticas nacionais de desenvolvimento também podem beneficiar as empresas no nível interno do cluster, caso haja interesses públicos federais no desenvolvimento de um determinado setor, neste caso o de biotecnologia.

que o processo de CC de empresas integrantes de CIs de biotecnologia são complexos devido à especificidade dos conhecimentos que são utilizados por cada uma das empresas integrantes. No entanto, é possível perceber que muito embora os processos internos de CCs sejam similares em sua estrutura, enquanto processo, os diferenciais para a obtenção de novos conhecimentos e inovações são os ativos tangíveis e intangíveis que estão disponíveis no interior de cada uma das empresas e nos mesmos ativos que são captados em seu exterior. É possível constatar que o cluster favorece, em grande medida, às empresas que usufruem de um ambiente institucional que oferece apoios diversos, com o objetivo de acelerar os processos internos das empresas.

A partir das publicações científicas e das evidências empíricas que embasaram a presente pesquisa, para a elaboração da síntese de casos cruzados que permitiu a construção do framework que representa o processo de CC de empresas integrandes de CIs no setor de biotecnologia, apresentado na figura 13, podem ser elaboradas proposições a serem devidamente testadas em futuras pesquisas, conforme apresentadas a seguir.

• Quanto mais próximo da fronteira do conhecimento for o processo de CC da empresa, maior será a dependência em relação aos ativos do cluster.

• Quanto maior o incentivo público para o desenvolvimento do setor, mais próximo do conhecimento de fronteira estarão os processos de CCs da empresa.

• Quanto mais especializados e específicos forem os conhecimentos, mais facilmente a empresa obterá inovações.

• Quanto mais inovador for o conhecimento produzido pela empresa, mais a empresa estará voltada aos seus processos internos de CCs.

• Quanto mais ativos tangíveis e intangíveis a empresa dispor no nível intra-cluster, mais velozes serão os seus processos de CCs.

• Quanto mais conhecimentos específicos a empresa absorver de seus parceiros no nível intra-cluster, mais inovações serão produzidas.

• Quanto mais próximo do conhecimento de fronteira for a área de atuação da empresa, mais esta estará propensa a estabelecer parcerias com os integrantes do cluster para obter conhecimentos específicos que não detém.

• Quanto mais avançado for o estágio de CC, mais a empresa se aproximará das esferas políticas para obter vantagens e incentivos diversos.

150 • Quanto mais inovações produzidas pela empresa, maior a atração de recursos de

investidores públicos ou privados.

• Quanto menos forem as inovações produzidas pela empresa, mais ela estará voltada à uma abordagem de redução de custos em seus processos de CC no nível interno. • Quanto mais auto-suficiente for a empresa em relação aos seus processos internos de

CC, mais a empresa utilizará o cluster como um espaço político para interações sociais.

• Quanto mais recente for o ciclo de vida da empresa, mais ela estará voltada à uma abordagem de redução de custos em seus processos de CC no nível interno.

• Quanto mais específicas e mais exclusivas forem as informações obtidas no cluster pela empresa, mais inovadores serão os resultados de seus processos.

• Quanto mais a empresa dispor de conhecimentos gerenciais, mais inovadores serão seus processos internos de CCs.

Estas proposições, elaboradas a partir das evidências apresentadas anteriormente, poderão nortear futuras pesquisas em relação ao processo de CC de empresas inseridas em CIs de conhecimento de fronteira.

5.4.2 Semelhanças e diferenças no processo de criação de conhecimento na França e no