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FRASEOLOGIA E TRADUTOLOGIA: ASPECTOS DA TRADUÇÃO ENTRE AS LÍNGUAS PORTUGUESA E ESPANHOLA

PHRASEOLOGY AND TRADUCTOLGY: ASPECTS OF TRANSLATION BETWEEN PORTUGUESE AND SPANISH LANGUAGE

Daniella Domingos de Oliveira (Mestranda-PGET) Introdução

Historicamente o estudo dos elementos linguísticos que interessam à fraseologia, a saber, o conjunto de locuções, idiomatismos, expressões idiomáticas, frases feitas, refrães e provérbios de um idioma teve início na Rússia. Mais especificamente, no início do século XX, Charles Bally (1909) tratou de apresentar a primeira classificação sobre as fraseologias, dividindo-as entre unidades não decomponíveis e unidades cambiantes (TIMOFEEVA, 2008), dando origem ao que em meados do mesmo século começa a se consolidar como uma disciplina linguística.

Esses elementos representam uma parte importante de uma língua, pois demonstram seu repertório cultural, histórico e conceitual, resultando em um importante aspecto a ser considerado pelo tradutor, por exemplo. Pois, sendo este último um mediador entre culturas, precisa dominar muito bem esse campo linguístico para que possa responder competentemente a esses elementos que são, por vezes, movediços.

Ainda no que se refere à consolidação da fraseologia como disciplina linguística e seu desenvolvimento na península ibérica, que é o contexto que mais interessa neste trabalho, em meados do século XX, e de forma tardia quando comparado aos estudos na Rússia, Julio Casares (1950 apud TIMOFEEVA 2008), em seu trabalho intitulado Introducción a la Lexicografía Moderna, se encarregou de criar uma taxonomia das locuções da língua espanhola, chamando a atenção para o fato de que dita classificação deveria ocorrer segundo o significado e a função gramatical das locuções. Dessa forma, teve início na Espanha uma série de trabalhos que objetivavam descrever e analisar as unidades fixas das línguas, desenvolvendo uma área de estudos que está atualmente bastante consolidada no contexto europeu e também brasileiro.

É importante ressaltar que desde as primeiras tentativas taxonômicas em torno das unidades fraseológicas se desenvolveu um vasto campo terminológico e uma série de estudos que tentam delimitar e definir o objeto de estudos da fraseologia. Neste trabalho, se apresentará alguns dos principais teóricos espanhóis. No entanto, com a ciência de que é apenas uma demonstração de um vasto campo.

É possível observar que é somente a partir da década de oitenta, trinta anos após Casares, que começam a florescer no contexto ibérico os estudos mais relevantes sobre o conjunto de fraseologias da língua espanhola. É nessa época que vem a público os trabalhos de Zuluaga (1980 apud TIMOFEEVA 2008) e, mais tarde, a proposta de Corpas Pastor (1996 Ibid) e Ruiz Gurillo (1997 ibid).

Cada uma das teorias que tiveram como foco as unidades fraseológicas delimitou e redefiniu o objeto da fraseologia. Casares (1950), quando da inauguração da disciplina no contexto espanhol, se preocupou principalmente com as categorias de locução e frases proverbiais, deixando de lado os refrães da língua. Segundo Timofeeva (2008), isto se deve ao fato de que suas prioridades eram visivelmente lexicográficas, o que fazia, inclusive que, como estudioso, fosse contrário a incluir em um dicionário da língua os refrães que pertencem ao idioma.

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As ideias propostas por Zuluaga (1980), ainda segundo Timofeeva (2008), são a continuação da proposta de Casares. Segundo a investigadora, para Zuluaga, a ocorrência em grande escala e consequente cristalização seria a base da unidade fraseológica. Tal concepção demonstra a ênfase que essa proposta dá ao aspecto fixo dos fraseologismos. Em outras palavras, o foco dessa proposta recai, do ponto de vista da estrutura, sobre o aspecto paradigmático das unidades fixas, que permite pouca ou nenhuma substituição. Para Timofeeva, esses aspectos excluem a característica denotativa dessas expressões.

As propostas de Corpas Pastor (1996) e Ruiz Gurillo (1997) são respectivamente uma concepção ampla e uma concepção estreita de fraseologia. A primeira delas se trata de uma concepção ampla porque permite que ocupem o mesmo estatuto de unidade fraseológica, tanto locuções como unidades léxicas maiores, tais como os provérbios. Por outro lado, a concepção de Ruiz Gurillo é descrita como uma concepção estreita porque se interessa apenas pelas locuções, alguns tipos de frases proverbiais e as unidades sintagmáticas da língua.

Além dos diferentes matizes que cada pesquisador coloca sobre as fraseologias, outra questão bastante importante na área é a vasta terminologia que se emprega. De forma geral, o que se percebe são nomenclaturas diferentes para elementos bastante semelhantes. Sobre isso, Jorge, (2012, p. 61) afirma que:

Embora exista um extenso acervo bibliográfico, sobretudo desde os anos 80, falta nessa profusão bibliográfica, a nosso ver, uma obra de referência terminológica, assente em bases científicas e baseada na objectividade da observação. O campo da fraseologia é heterogêneo e essa heterogeneidade, por estranho (ou não) que pareça, foi aumentando com a própria investigação […] A falta de coerência terminológica tem sobretudo a ver com a ausência de um enquadramento teórico e a não instituição desta área como área científica ou dependente directamente de várias áreas científicas. Existe ainda um terreno muito movediço e pantanoso à espera de ser estancado.

Permitiu-se uma citação tão longa porque se entende que ela deixa transparecer dois aspectos importantes dos estudos sobre as unidades fraseológicas: (i) a vasta terminologia na área e (ii) a tentativa de alguns estudiosos em estabelecer os estudos em fraseologia como disciplina autônoma.28

Com relação à vasta terminologia fraseológica, Jorge (2012, p. 65) aponta os trabalhos de Bardosi (1990 apud JORGE, 2012) e Pavel (1995 apud JORGE, 2012) como estudos que reúnem a terminologia mais usual na fraseologia das línguas francesa e portuguesa, evidenciando a existência de dezenas de nomenclaturas. Uma demonstração disso é a presença de diversos termos para classificar os diferentes tipos de expressões, o que leva à divisão deste grande grupo em: expressão corrente, expressão familiar, expressão figurada, expressão fixa, expressão literária, expressão popular, expressão proverbial, expressão imagética, expressão idiomática, expressão lexicalizada e expressão idiomática-metafórica, ao mesmo tempo em que fala em forma idiomática, por exemplo. Concomitantemente, o grande grupo das locuções se divide na teoria geral analisada em: locução, locução familiar, locução figurada, locução figurada adverbial, locução fixa, locução idiomática, locução metalinguística, locução proverbial, locução verbal, locução verbal figurada e verbal fraseológica, locução sentenciosa e locução figurativa. Dessa forma, o que se percebe é uma vastíssima nomenclatura que designa se não os mesmos elementos, pelo menos unidades fraseológicas muito semelhantes.

28 Nesse sentido, a fraseologia, como disciplina autônoma, daria origem à paremiologia, um subdomínio a ela

pertencente. Essa demanda teórica é reforçada pela existência de instituições interessadas em estudar integralmente e exclusivamente as fraseologias das línguas, tal como a EUROPHRAS, e a existência de congressos nacionais e internacionais que trazem como escopo único o estudo das fraseologias e paremiologias de diferentes línguas.

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Frente a esses aspectos, faz-se necessário esclarecer, portanto, que se adotará para essa discussão o conceito amplo de fraseologia proposto por Corpas Pastor, por entender-se que essa proposta permitirá pensar os diferentes desafios que o tradutor enfrenta na tradução do que, segundo este arcabouço teórico, é denominado Unidade fraseológica – UF, de agora em diante. Como já dito antes, cabem no escopo dessa proposta todas as manifestações linguísticas com aspecto de unidade semântica, de locuções a provérbios.29

Para fins didáticos, pode-se empregar a proposta de Jorge (2012, p. 61-62) para UF. Em uma tentativa de compilar o que é consenso entre a maioria dos pesquisadores, a investigadora propõe alguns aspectos gerais das fraseologias. Segundo ela:

A fraseologia é a disciplina que estuda o conjunto das fraseologias, enquanto subdomínio da Lexicologia, onde cabem os vários tipos de sintagmas constituídos por duas ou mais palavras e que selecionem traços como: enunciado formado por duas ou mais palavras; não composicionalidade (lexia complexa indecomponível); sentido idiomático, metafórico, moralizante; não permitem substituições paradigmáticas – lexicalização; enunciados consagrados pelo uso; possibilidade de existência de um duplo sentido: literal e figurado.

É importante ressaltar que as UF apresentam um caráter heterogêneo. Apesar das taxonomias de estudiosos como Casares ou Ruiz Gurillo, esse fenômeno linguístico não só representa um desafio à tradução, mas também à classificação. O grupo das expressões idiomáticas e dos provérbios, por exemplo, ainda que compartilhem algumas semelhanças, inevitavelmente, também apresenta diferenças fundamentais na forma, no processamento e no emprego no discurso.

Fraseologia e Tradutologia

Como já dito anteriormente, a fraseologia é importante para o tradutor na medida em que se localiza em um ponto idiossincrático da língua, aquele que reflete, como demonstrado por Jorge, as cristalizações, metáforas e o sentido conotativo. É importante destacar que as unidades fraseológicas são elementos de grande ocorrência nas línguas, pois elas estão relacionadas ao contexto de produção e se localizam na linguagem oral. Por isso, muitas vezes elas caracterizam o discurso dos personagens ou a linguagem própria de uma obra literária.

Tais considerações são importantes, uma vez que revelam o aspecto motivado das unidades fraseológicas. Se um personagem utiliza frequentemente expressões idiomáticas, escolhe um dito popular para emitir sua opinião, ou ainda, se em determinada obra existe a ocorrência constante de expressões idiomáticas de tipo metafórico, certamente esses elementos são características motivadas na obra, fazendo, em muitos casos, parte da macroestrutura significativa. Dessa forma, o tradutor, com seu labor de interpretar e ressignificar, precisa estar atento a tais elementos linguísticos e desenvolver o que alguns estudos denominam “habilidade fraseológica ou paremiológica”. Além disso, seria possível dizer que cada modalidade de tradução exige um diferente grau ou tipo de competência na tradução de unidades fraseológicas, dado que na tradução audiovisual, por exemplo, o tradutor não pode lançar mão do recurso da nota, ou da paráfrase. Esse tema será abordado um pouco mais adiante.

A relação entre fraseologia e tradução, como se pode verificar até aqui, é uma relação de contato e contraste entre as línguas. Parece até mesmo que se trata de uma relação de complementaridade, pois se a tradução se interessa pela fraseologia, na medida em que o

29 Grosso modo, algumas tentativas de classificar as UF das línguas as classificam segundo seu “tamanho” ou, em

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conhecimento que o tradutor detenha destas unidades o amparará na atividade tradutória, o contrário também acontece. A fraseologia, pois, tem na tradução destas expressões, um estudo comparativo, que permite observar um dos paradigmas dos estudos das unidades fraseológicas das línguas, a saber, o caráter universal frente ao aspecto cultural. Fato que está demonstrado pela existência de alguns conceitos subjacentes às unidades fraseológicas e que parecem se repetir nas línguas. Tal aspecto tem sido amplamente estudado sob a ótica da Semântica Cognitiva.

Para além da tradução como atividade laboral, há ainda os Estudos da Tradução ou Tradutologia que, como disciplina, se ocupa da teoria e da prática da tradução. Como está demonstrado por vários estudos que relacionam os dois campos, também existe um interesse pelas unidades fraseológicas. Sobre isso, Chacoto (2012, p. 215) aponta que:

A Tradutologia, também designada Estudos sobre a Tradução ou Estudos de

Tradução, é uma disciplina relativamente recente, que data dos anos 70 do

séc. XX, e se ocupa da teoria e prática da tradução. A perspectiva tradutológica atual parece ser tendencialmente não prescritiva, analisando-se o processo de tradução e as estratégias do tradutor face aos problemas com que se depara, através do confronto do texto de partida com o de chegada.

Ainda para Chacoto, o confronto sistemático do texto na língua fonte e na língua alvo é uma ferramenta de auxílio na compreensão do processo de tradução que permite analisar o jogo criativo e a resolução de problemas empregados pelo tradutor.

A citação acima conduz a duas discussões concernentes à tradução. A primeira delas, relaciona-se à questão da equivalência e a segunda ao prescritivismo nessa área de estudos. Na sequência, se tecerá algumas considerações gerais com relação a essas duas questões.

Historicamente, a noção de equivalência se relaciona ao conceito de fidelidade na tradução. No entanto, a discussão que atualmente vigora é no sentido de entender a equivalência a partir de uma noção dinâmica e funcional, guiada pela finalidade e o contexto de tradução, superando, assim, a noção prescritiva e notadamente linguística de equivalência. Com relação à visão funcional de tradução, Nord (2016, p. 53) afirma que: “Em uma visão funcional de tradução, a equivalência entre texto fonte e texto alvo é encarada como sendo subordinada a todo skopos de tradução possível e não como um princípio de tradução válido ‘de uma vez por todas’”.

Considera-se que a visão funcionalista da tradução acrescenta valor para a tradução de fraseologias porque põe em evidência o aspecto multifacetado das fraseologias e a sua subordinação ao contexto, tendo em conta que demonstram a dificuldade em estabelecer estratégias rígidas na tradução de unidades fraseológicas. Por outro lado, isso não impede que valorosos estudiosos da tradução fraseológica estabeleçam aspectos gerais da tradução nessa área.

Xatara (2002) sugere, por exemplo, a tradução de um idiomatismo por outro equivalente quando existe tal ocorrência no par de línguas. Seria o caso de expressões como A quién madruga, Diós le ayuda – Deus ajuda quem cedo madruga, Morder el anzuelo – Morder a isca, Por la boca muere el pez – O peixe morre pela boca, Quién te ha visto y quién te ve – Quem te viu, quem te vê etc, nas línguas espanhola e portuguesa; o emprego do recurso de compensação quando não há uma correspondência idêntica, mas existe um equivalente semântico, como em Tal palo, tal astilla – Tal pai, tal filho, Diós aprieta, pero no ahoga – Deus falha, mas não tarda, Estar como un pulpo en un garaje – Mais perdido que cachorro em feira, Navegar con bandera de tonto – Dar uma de João-sem-braço etc; e a tradução por uma paráfrase quando não existir nenhuma correspondência como as demonstradas anteriormente.

A proposta descrita há pouco, em alguma medida, dá à tradução uma tonalidade pragmática, que torna possível a sua realização dentro de um número determinado de contextos

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e para um número bastante amplo de ocorrências. Por outro lado, a tradução por um equivalente semântico, conforme sugerido por Xatara, revela um aspecto essencial das línguas em contraste e que também é objeto de estudos da fraseologia, a saber, a conceitualização subjacente às expressões idiomáticas. Como dito há pouco, os estudos cognitivistas e sociocognitivistas em Semântica Cognitiva têm observado o aspecto mais idiossincrático das expressões idiomáticas, aquele que revela um conceito particular e metafórico como base de uma expressão. Em termos mais filosóficos, significa dizer que há nas expressões de cada língua uma forma particular de conceituar seres, objetos, emoções etc.

Alousque (2010) analisa algumas UF da língua inglesa com o propósito de evidenciar as motivações culturais emergentes de ditos elementos. Segundo a pesquisadora, “As expressões idiomáticas constituem uma categoria de unidades léxicas marcadas culturalmente, e são, portanto, fonte indiscutível de inequivalências tradutológicas que revelam problemas na hora de serem transpostas para outra língua” (ALOUSQUE, 2010, p. 133, tradução nossa). Segundo a autora, a motivação de muitas UF provém de três fontes: (i) a alusão a costumes, fatos históricos, obras artísticas, lendas, mitos e crenças; (ii) a referência a áreas de cultura ou, em outras palavras, áreas da realidade que refletem as idiossincrasias culturais; e (iii) expressões idiomáticas baseadas em metáforas.

A primeira fonte citada por Alousque diz respeito às UF que evocam elementos que conformam o acervo cultural de cada povo, dele fazem parte os costumes e tradições, as obras literárias, os acontecimentos ou personagens que são prototípicos de uma situação ou qualidade, associações a partir das quais se interpreta a realidade e as crenças. Como exemplo da língua portuguesa, o ditado “Inês é morta” exemplifica como um acontecimento ou personagem pode originar uma UF.

Com relação à segunda fonte motivadora das UF, Alousque demonstra que alguns campos culturais como a gastronomia e esportes como equitação, caça e críquete são domínios- fonte na cultura inglesa, formando parte de um grande número de UF da língua inglesa na sua variedade britânica. Se fosse possível traçar um paralelo com a cultura brasileira, poder-se-ia afirmar que com relação aos esportes ocorre o mesmo no Brasil, com a diferença que o esporte é outro, possivelmente o futebol.

Por último, com relação à terceira fonte motivadora, como já se falou neste trabalho, se tratam das expressões de cunho metafórico e que explicam determinados termos a partir de aspectos prototípicos de outros, que demonstra, entre outras coisas, uma forma particular de conceitualização.

A mesma investigadora também propõe que existam três técnicas para a tradução de expressões idiomáticas marcadas culturalmente, a saber, a tradução literal, a substituição cultural ou adaptação, e a paráfrase ou explicação. E assim como Xatara, sugere que a paráfrase é um recurso último, pois, segundo a autora, “a paráfrase sempre gera uma perda de valor figurativo da expressão que produz uma perda estilística” (ALOUSQUE, 2010, p. 138 tradução nossa). Para ela, a maioria da UF metafóricas se traduz por paráfrases, dado que cada língua possui um inventário metafórico sustentado pela importância de determinado campo léxico no contexto cultural e linguístico em questão. Por último:

A tradução literal é a técnica menos habitual na tradução de expressões idiomáticas com uma base cultural devido à natureza própria desta. Apesar da existência de culturas próximas, cada cultura tem suas particularidades, que se plasmam na sua língua, dando lugar a inequivalências translinguísticas. Tais inequivalências derivam de vazios semânticos (Dagut 1981), que podem ser de dois tipos: referenciais (referential voids) ou linguísticos. Os vazios referenciais representam objetos ou conceitos ausentes na outra língua (black

Friday), enquanto os vazios semânticos representam conceitos não

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lógico que se produzam vazios semânticos quando as expressões idiomáticas estão vinculadas a referentes próprios de uma cultura ou a zonas de cultura. As inequivalências geradas pelos vazios semânticos se resolvem mediante o recurso de adaptação e paráfrase. (ALOUSQUE, 2010, p.138, tradução nossa). Acredita-se que a citação de Alousque elucida alguns pontos importantes para o debate que se instaurou nesta pesquisa. O primeiro deles diz respeito ao que a autora nomeia vazios semânticos, que podem ser de tipo referencial ou linguístico. De tal posicionamento se origina um aspecto duplo da tradução de fraseologias, pois se por um lado sabe-se das diferenças inerente às línguas e às UF que as compõem, por outro, assume-se uma postura pragmático- comunicativa, que prioriza o valor funcionalista da tradução. Em outras palavras, apesar dos vazios semânticos, é possível descrever e compreender a trajetória tradutora implicada no processo de versão de uma fraseologia. O que tanto pesquisadores têm feito, portanto, é descrever o processo e guiar as alternativas que se pode empregar na tradução de UF.

Outro aspecto importante e que vale a pena chamar a atenção, é que a inequivalência translinguística pode existir até mesmo em culturas próximas, o que entende-se valer também para línguas próximas, uma vez que a relação língua-cultura é indissociável. Neste trabalho, nos detemos justamente em um par de línguas bastante próximas, o português e o espanhol. Apesar disso, as características intrínsecas a cada uma dessas línguas é única e podem ser um desafio para o tradutor caso este não detenha uma “habilidade fraseológica” bem consolidada. A tradução de tais elementos inicia-se, por certo, por sua leitura e identificação. Dessa forma, é bom que o tradutor esteja atento a todos os enunciados fixos/compostos presentes no texto- fonte.

Por último, um aspecto que deve ser lembrado é que a modalidade de tradução implicada na tarefa vai reger sobremaneira as estratégias tradutoras disponíveis. Isso porque na TAV (Tradução Audiovisual), por exemplo, não existe muito espaço para que o tradutor parafraseie as unidades fraseológicas com as quais se encontre. Por ser um espaço limitado, o da linha de legenda ou da fala de algum personagem, como no caso da dublagem, o tradutor está, nesses contextos, restrito. Na dublagem, por exemplo, é verdadeiramente impossível parafrasear de maneira explicativa uma expressão idiomática, pois a necessidade de sincronização (lip-sync) não permite que nada seja dito fora do contexto de dublagem. Nesses contextos, geralmente se