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A TRADUÇÃO DE REFERÊNCIAS CULTURAIS EM THE MAGDALENE SISTERS, DE PETER MULLAN

THE TRANSLATION OF CULTURE-BOUND TERMS IN THE MAGDALENE SISTERS, BY PETER MULLAN

Antonia E. M. Gehin (Mestranda- PGET) Introdução

Mídias audiovisuais como a televisão, o rádio, a internet e o cinema são parte indissociável da experiência humana no mundo moderno, cujo aperfeiçoamento contínuo e a crescente distribuição internacional de produtos audiovisuais — novelas, filmes e documentários, programas de rádio, cursos em DVD — contribuem para a expansão da tradução audiovisual. O cinema em particular, visto não somente como um meio de expressão artística, mas como uma poderosa ferramenta de comunicação social, está entre as mídias com maior alcance intercultural e desenvolve importante função na construção de identidades nacionais. A capacidade que o cinema possui de ultrapassar fronteiras torna a tradução uma atividade fundamental no processo de comunicação intercultural.

Tradução audiovisual é uma subárea de Estudos da Tradução que trata da transferência de textos multimodais para outra língua e cultura (GONZALÉS, 2009). Dentre as modalidades que a compõem, a dublagem e a legendagem são consideradas as mais comuns. Dentre os diversos aspectos que distinguem a tradução audiovisual de outros modos tradicionais, restrições técnicas de tempo e espaço resultaram no desenvolvimento de diversas estratégias que possibilitam a compreensão da mensagem pela audiência.

Com o intuito de investigar como esse processo ocorre na prática, diálogos do filme The Magdalene Sisters serão utilizados como exemplo neste trabalho. O propósito é identificar quais estratégias foram empregadas na tradução dos diálogos selecionados, uma vez que o drama, que trata de questões morais e religiosas da Irlanda no século XX, apresenta inúmeras referências culturais, além do uso frequente de linguagem emotiva, palavrões e palavras tabus relacionadas a religião e a sexualidade.

Tradução audiovisual e o cinema

De acordo com Dixon e Foster (2008), de 1923 a 1927 a indústria cinematográfica resistiu a introdução do som no cinema por receio de que esta transição resultaria em profundas mudanças tecnológicas e econômicas. Apesar disso, a Warner Bros produziu o primeiro filme falado The Jazz Singer (1927), marcando uma nova era na história do cinema. De fato, o advento do cinema falado transformou a forma como filmes são produzidos e distribuídos, e foi responsável pelo surgimento da tradução multimídia, sem a qual a distribuição internacional de filmes não teria sido possível. Assim, “desde os primórdios do cinema, com o intuito de tornar os programas audiovisuais compreensíveis para audiências que desconhecem a linguagem do original, formas diferentes de transferência linguística se tornaram necessárias” (CINTAS; ANDERMAN, 2009, p. 4, tradução nossa). Para atender a necessidade de transferência de textos multimodais para outra língua e cultura, a tradução audiovisual surgiu, mais tarde, como uma subárea do campo Estudos da Tradução.

Coincidentemente, a era de ouro da tradução audiovisual aconteceu na década de 1990, quando uma intensa atividade resultou numa crescente sistematização da pesquisa, de um ponto

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de vista acadêmico e educacional (CINTAS, 2009, p.3). É interessante notar que apenas alguns anos antes, no meio acadêmico, a disciplina estudos da tradução passou por intensas transformações que acarretaram na tradução cultural como uma nova abordagem que compreende a cultura como elemento essencial do processo tradutório (BASNETT; LEFEVERE, 1998). Ainda que as consequências da reestruturação proposta por Bassnett e Lefevere (1998, p. 123) tenham sido mais fortemente percebidas no campo da tradução literária, questões ideológicas e relações de poder comprometem a tradução cinematográfica desde a escolha entre dublagem e legendagem – predominante em determinados países – até limitações técnicas de espaço que podem ser utilizadas como estratégias para eliminar informações consideradas inadequadas para a cultura de chegada (BASSNETT; LEFEVERE, 1998, p. 136). Ao mesmo tempo em que os estudos da tradução passavam por transformações e a tradução audiovisual ganhava espaço no universo acadêmico, a revolução digital marcada pela chegada da internet, representou uma mudança radical na comunicação social e interpessoal. Por volta de 1992, a primeira world wide web (www.) foi liberada para o público em geral. Apenas sete anos mais tarde a internet estava disponível em quase todos os países, provocando um crescimento súbito da produção de material audiovisual e aumentando a demanda por profissionais de dublagem e legendagem.

Restrições em legendagem cinematográfica

“Tradução entre mídias é impossível (ninguém pode traduzir da forma falada para a forma escrita de um texto ou vice versa)”7

escreve, J.C. Catford (1965, p. 53, tradução nossa). No entanto, a tecnologia parece ter-se encarregado de provar que a afirmação de Catford está equivocada e transformou a legendagem — tradução de um texto falado para a forma escrita — em um dos métodos de tradução mais praticados nos dias de hoje.

Enquanto a dublagem pode ser definida como um processo de substituição do áudio original por sua versão traduzida, a legendagem é o processo de transferência do áudio original para a forma de texto, exibido na tela juntamente com a imagem. A passagem de um código oral para outro escrito não é somente o modo de tradução mais comum, como é o mais complexo e restrito. Legendagem não permite notas de rodapé ou textos explicativos e frequentemente não dispõe de tempo e espaço suficiente para a transcrição literal do áudio.

Assim, a legendagem pode ser definida como:

Legendagem pode ser definida como uma prática de tradução que consiste na apresentação de um texto escrito, geralmente na parte inferior da tela, que se empenha em narrar o diálogo original dos personagens, assim como os elementos discursivos que aparecem na imagem (letras, encartes, rótulos, cartazes, e outros itens semelhantes), e a informação que está contida na trilha sonora (música, voice-over). Todos os programas legendados são constituídos por três componentes principais: a palavra falada, a imagem e as legendas. A interação desses três componentes, juntamente com a habilidade do telespectador de ler ambos o texto escrito e a imagem a uma certa velocidade, além do tamanho da tela, determinam as características básicas do meio audiovisual. (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 8-9, tradução nossa)8.

7 Translation between media is impossible (i.e. one cannot 'translate' from the spoken to the written form of a text

or vice-versa). (CATFORD, 1965, p. 53).


8 Subtitling may be defined as a translation practice that consists of presenting a written text, generally on the

lower part of the screen, that endeavours to recount the original dialogue of the speakers, as well as the discursive elements that appear in the image (letters, inserts, graffiti, inscriptions, placards, and the like), and the information that is contained on the soundtrack (songs, voices off). All subtitled programmes are made up of three main components: the spoken word, the image and the subtitles. The interaction of these three components, along with

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Durante uma entrevista para o jornal online IndieWire (2012) o jornalista crítico de cinema e legendador francês Henri Baher afirmou que o desafio de criar legendas eficazes é torná-las invisíveis para a audiência, e que esse objetivo demanda mais do que extrema humildade. A noção de invisibilidade do texto em legendagem também é defendida por teóricos como Cintas e Remael (2014). Legendas devem ser “invisíveis” para que sua leitura na tela seja quase imperceptível pela audiência e não atrapalhe a compreensão da informação transmitida pela imagem. O termo “poluir” a imagem é frequentemente usado para descrever esse fenômeno (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 87). Esta argumentação teórica baseia-se na ideia de que legendas longas acabam por cobrir parte da imagem, prejudicando a visibilidade de elementos essenciais mostrados na tela. Com isso, pretende-se que o espectador leia a legenda sem se dar conta de que o está fazendo. A tradução para legendagem está submetida a diversas regras como número de linhas por legenda; número de caracteres por linha; tempo de exposição de cada legenda na tela e sincronização com o áudio original.

O número máximo de caracteres por linha varia de acordo com o alfabeto, é comum permitir 35 para idiomas cirílicos como o búlgaro macedônio e o russo, 34 36 para o grego e o árabe, 12 a 14 para o japonês e o coreano, e entre 14 e 16 para o chinês (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 85, tradução nossa)9.

Dessas restrições derivam limitações textuais, linguísticas e extralinguísticas em meio as quais o tradutor é obrigado a recorrer a estratégias específicas que, normalmente, não são adequadas para outros modos de tradução. A dublagem, por exemplo, que consiste na substituição do áudio original por sua versão traduzida, não necessita dividir a atenção do espectador entre dois modos de comunicação distintos, como no caso da legendagem. Assim, o tradutor para legendas se encontra numa situação realmente desafiadora, na qual precisa decidir o que deve substituir, adaptar ou até mesmo omitir para transferir, dentro de um espaço limitado, o sentido de um diálogo audiovisual.

The Magdalene Sisters, um filme de Peter Mullan

Dirigido pelo escocês Peter Mullan, o filme The Magdalene Sisters (2002), ganhador do prêmio de melhor filme no festival de Veneza do mesmo ano, conta a história de quatro jovens encarceradas em instituições católicas denominadas Asilos de Madalenas, na Irlanda. O filme é baseado no documentário Sex in a Cold Climate (1997), produzido e dirigido por Steve Humphries para expor o que viria a ser um dos maiores escândalos da sociedade irlandesa do século XX. Conhecidas também como Lavanderias de Madalenas, essas instituições religiosas dirigidas por freiras são acusadas de terem explorado e abusado física e psicologicamente de milhares de mulheres entre 1900 e 1996 na Irlanda, segundo diversos testemunhos citados no documento oficial Report of the Inter-Departmental Committee to establish the facts of State involvement with the Magdalen Laundries. No entanto, como surgiram e em quais ideologias estão fundamentadas essas instituições projetadas para oprimir mulheres em situação vulnerável?

Para melhor compreender como surgiram e com que finalidade foram criados os Asilos ou Lavanderias de Madalenas faz-se necessário investigar as ideologias religiosas que motivaram sua fundação e determinaram o estilo de vida de seus membros. Diversos estudos indicam que os asilos surgiram no século XVII em um contexto monástico medieval.

the viewer’s ability to read both the images and the written text at a particular speed, and the actual size of the screen, determine the basic characteristics of the audiovisual medium. (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 8-9).

9The maximum number of characters per line varies according to alphabets, and it is normal to allow 35 for Cyrillic

languages like Bulgarian, Macedonian and Russian, 34 to 36 for Greek and Arabic, 12 to 14 for Japanese and Korean and between 14 and 16 for Chinese. (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 85)

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No século XVII, época marcada por eventos que intensificaram a marginalização da mulher na Europa como a peste negra, padre João Eudes (1601-1680) movido de compaixão por prostitutas que viviam nas ruas da França, percebeu que a melhor maneira de lidar com elas era formando uma ordem de “mulheres santas” (virgens consagradas). Assim, em 1641 Eudes fundou a ordem Irmãs de Nossa Senhora da Caridade em Caen, Normandia. As “mulheres santas” que aderiram a esta ordem eram chamadas a “reformar” – segundo a doutrina católica – uma classe inferior de mulheres: prostitutas ou mulheres “caídas” rejeitadas pela sociedade. Além de prostitutas, a ordem também recebia meninas em situação vulnerável, correndo o risco de se perderem ou caírem na prostituição, como um meio de prevenção. Com o estabelecimento da ordem, reformatórios do governo também foram incorporados aos mosteiros. Nasciam os primeiros Asilos de Madalenas operados por freiras que, algum tempo depois, se expandiram na Irlanda e outras regiões da Europa. Porém, sua relação com o nome da figura bíblica Maria Madalena se deu oficialmente somente dois séculos depois, quando Maria Eufrásia Pelletier (1796-1868) foi eleita superiora desta ordem em Tours, França. Eufrásia estava insatisfeita com o fato de as penitentes que viviam nos refúgios não serem aceitas em sua ordem10

. Este princípio demonstra que o fato de terem abandonado a prostituição não mudava a condição social que as tornava inadequadas para a vida consagrada, por terem crescido ou vivido em um ambiente desfavorável. Essas mulheres eram apenas objeto da caridade que a Igreja lhes dedicava.

Diante dessa realidade, Eufrásia começou a idealizar uma ordem onde penitentes que aspiravam à vida religiosa pudessem se tornar freiras. Seu desejo se concretizou em 1825 com a fundação da ordem Irmãs de Madalena (The Magdalene Sisters), tendo como padroeira Maria Madalena, a prostituta arrependida do Novo Testamento que foi perdoada por Jesus (Lucas 7, 36-50). Eufrásia determinou que este instituto formado por mulheres “caídas” que aspiravam a conversão não seria autônomo, mas dirigido por outra ordem formada por mulheres de uma classe superior (mulheres santas). Quando em 1835, divergências entre Eufrásia e as Irmãs de Nossa Senhora da Caridade a levaram a se desligar desta ordem, Eufrásia fundou sua própria congregação a qual deu o nome de Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor. Com isso, O instituto Irmãs de Madalena passou a ser governado pela nova congregação, assim como os refúgios de penitentes fundados por Eufrásia11

, de modo que uma ordem estava incorporada e era dependente de outra.

Com o passar do tempo, os refúgios criados por Eudes e Eufrásia se expandiram por diversos países, porém perderam sua motivação original e foram transformados em instituições lucrativas que ficaram conhecidas como lavanderias de madalenas. Na Irlanda, registros dos primeiros asilos operados por freiras datam de 1837, enquanto o último encerrou suas atividades somente em 1996.

Se considerarmos o processo de cristianização da Irlanda e o papel da Igreja Católica na formação do Estado irlandês, poderíamos argumentar que a Irlanda foi uma espécie de terreno fértil, propício à evolução da cultura do confinamento, levando ao encarceramento de milhares de mulheres em Asilos de Madalenas, como resultado da cooperação entre Estado e Igreja, detentores da moral na recém proclamada república irlandesa (SMITH, 2004, p. 208).

The Magdalene Sisters é um filme baseado em fatos reais idealizado pelo diretor Peter Mullan para dar voz às mulheres silenciadas por um sistema patriarcal opressor dentro e fora dos conventos. The Magdalene Sisters denuncia desigualdade de gênero, violação de direitos humanos, manipulação religiosa e controle social numa sociedade em que a moralidade católica impunha punição física e moral sobre mulheres com a finalidade de gerar lucro.

10 http://catholicpamphlets.net/pamphlets/St%20Mary%20Euphrasia.pdf 11 Ibidem.

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Referências culturais em The Magdalene Sisters

Em meio as várias restrições que a legendagem encerra, a tradução de referências geográficas, etnográficas, sociopolíticas e históricas, aparecem quase como intraduzíveis, especialmente quando um termo equivalente não existe na cultura de chegada, ou é desconhecido pelo público-alvo. No campo da tradução audiovisual, alguns autores definem referência cultural como aqueles itens que fazem uma cultura diferente da outra, ou aqueles elementos particulares da cultura de partida que não existem na cultura de chegada:

Lugares específicos de qualquer cidade ou país; aspectos relacionados a cultura, a arte e os costumes de determinada sociedade e época (música, literatura, conceitos estéticos); personagens populares, mitologia, instituições, moeda corrente, sistemas de peso e medidas. (CANÓS, 1999, tradução nossa)12.

Especificidades culturais de uma determinada cultura são referências extralinguísticas de itens que estão vinculados com a cultura, história ou geografia de um país, e tendem a impor sérios desafios a tradução. Eles também são chamados de referências culturais, “realia” (coisas reais), e mais recentemente, ECRs ou referências culturais (extralinguísticas). (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 200, tradução nossa)13.

Para solucionar problemas de tradução que envolvem as especificidades culturais, estratégias de tradução foram criadas com o objetivo de preservar o sentido do texto original e torná-lo compreensível pela audiência obedecendo, ao mesmo tempo, as restrições de tempo e espaço. De acordo com a classificação descrita por Cintas e Remael (2014, p. 202) as principais estratégias são: empréstimo (loan), tradução literal (calque), explicitação, substituição, transposição, criação de neologismos (lexical recreation), compensação, omissão e adição.

Para Cintas e Remael (2014, p. 202-203), a estratégia empréstimo é empregada quando uma palavra ou frase do texto de partida é incorporado ao texto de chegada porque a tradução não é possível ou termo é igual em ambas as línguas. Nos casos de calque, a tradução de referências culturais é literal, porém, o grau de transparência varia (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 202). A estratégia explicitação é utilizada quando o tradutor procura tornar o texto mais acessível para audiência e o especifica através de hipônimos ou o generaliza através de hiperônimos.

Criação de neologismos ou a invenção de um neologismo na língua de chegada é uma estratégia que auxilia na compreensão da mensagem quando neologismos aparecem no texto fonte. Compensação, por sua vez, acontece quando o legendador tenta solucionar problemas de perdas na tradução de uma legenda com a adição de termos na legenda seguinte. Adição refere- se a situações nas quais especificidades culturais representam um problema, mas não devem ser omitidas por serem essenciais para para a compreensão da mensagem.

A omissão é usada para situações em que há limitação de espaço ou a língua de chegada não possui um termo correspondente. Além de limitações técnicas que determinam quando um termo deve ou não ser omitido, a decisão é sempre ditada por questões de redundância e

12Specific places of any city or country; aspects related to the history, the art and the customs of a given society

and age (songs, literature, aesthetic concepts); very popular characters, mythology; gastronomy, institutions, currencies, systems of weight and measurement. (CANÓS, 1999, tradução de Irene Ranzato).

13Culture-bound terms are extralinguistic references to items that are tied up with a country‟s culture, history, or

geography, and tend therefore to pose serious translation challenges. They are also referred to as cultural references, realia, and, more recently, ECRs or extralinguistic cultural- bound references. (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 200).

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relevância (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 163), especialmente em casos de referências culturais que não possuem um equivalente na língua de chegada. Nesse sentido, a omissão é uma estratégia válida que consiste em não traduzir parte do diálogo.

Frequentemente utilizada para a tradução de legendas, a substituição é necessária quando restrições de espaço não permitem o uso de frases longas, ainda que equivalentes sejam encontrados na cultura de chegada (CINTAS; REMAEL, 2014, p. 204). Para Pedersen (2005), substituição consiste na troca de uma referência específica da cultura de partida por outra da cultura de chegada.

Quadro 1 – Exemplo 1: (00:10:12)

– You spend all your time hanging around playgrounds, do you? – Which one of us do you like?

– She fancies me.

– How could she fancy you with this stomach on you?

– Vocês ficam o tempo todo aí é? – De qual de nós você gostou? – De mim.

– De você! Seu barrigudo!

Fonte: The Magdalene Sisters, 2002 (DVD).

Na primeira parte do exemplo acima, devido a restrições de espaço, ocorreu a substituição de “you spend all your time hanging around playgrounds, do you?” pela frase “vocês ficam o tempo todo aí, é?”. No entanto, esta escolha de tradução também pode ser classificada como omissão, se considerarmos que “hang around” (passar tempo livre em determinado lugar) trata- se de uma expressão idiomática da língua inglesa, que foi omitida. Na tradução das falas seguintes, o legendador optou por substituir “she fancies me” – outra expressão idiomática comumente usada na Irlanda para denotar interesse romântico por alguém – por apenas “de mim” omitindo, assim, a especificidade cultural do texto fonte sem, contudo, substituí-la por outra no texto alvo. Com isso, o legendador também evitou a repetição da palavra gostou (ela gostou de mim), uma vez que a redundância deve ser evitada em legendagem. Já o uso da expressão “seu barrigudo” como tradução de “with this stomach on you” é entendido como tabu linguístico devido a sua conotação de insulto contra características reais do corpo tratadas como anormalidades.

Outro exemplo de substituição em The Magdalene Sisters diz respeito a expressão “fallen women” utilizada para designar prostitutas. Durante a Era Vitoriana, a expressão passou a ser usada para se referir a qualquer mulher que se comportasse sexualmente de maneira inadequada.

Quadro 2 – Exemplo 2 (00:17:00):

– Through the powers of prayer, cleanliness and hard work, the fallen may find their way back to Jesus Christ.

– Mediante o poder da oração, da hygiene e do trabalho árduo, as perdidas podem voltar a Jesus Cristo.

Fonte: The Magdalene Sisters, 2002 (DVD).

No exemplo acima, o termo “fallen” que traduzido literalmente para o português possui o equivalente “caídas”, foi substituído pelo termo “perdidas”, já que em português é comum utilizar o eufemismo “mulher perdida” para se referir a prostituta. Assim, a estratégia substituição pareceu mais adequada para o tradutor ou tradutora por manter o sentido da frase. No entanto, a expressão “fallen women” também possui conotação religiosa. “Fallen women” remete a mulheres que perderam a graça divina pelo pecado do sexo. Ao mesmo tempo, remete ao anjo caído, aquele que caiu em pecado, que perdeu a graça. Nesse sentido, a tradução de