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Função da Educação Ambiental

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CAPÍTULO 2 A CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO

2.2 Fundamentos da Educação Ambiental

2.2.3 Função da Educação Ambiental

Erigir, erguer, mudar, transformar. São todos vocábulos que exprimem ação (ou participação, como dito pela Profa. Martha Tristão) e que manifestam a função da EA: ser agente transformador da sociedade, instrumento e estratégia de mudança de paradigma. Deve buscar criar práticas que estabeleçam uma nova forma de a humanidade se relacionar com a natureza, que não seja a do improfícuo binômio utilitarista exploração–destruição, que há bastante tempo experimentamos (TRISTÃO, 2005, p. 3)

E o modo como isso se ocorrerá, é, de fato, encargo da EA. Desenvolver projetos pedagógicos que tenham por escopo questionar dogmas, mudar conceitos,

corrigir vícios e cultivar hábitos que formem cidadãos conscientes sobre questões ambientais, notadamente com práticas sustentáveis e enfrentamentos às principais causas de agressões ao ambiente: a política, a econômica e a cultural.

Já constava no relatório “Nosso Futuro Comum” que a política ambiental não deve ser vista como uma responsabilidade setorial fragmentada. E a própria Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento estabelece que as políticas ambientais e desenvolvimentistas devam ter como objetivos retomar o crescimento, alterar a qualidade do desenvolvimento, atender às necessidades essenciais de emprego, alimentação, energia, água e saneamento, manter um nível populacional sustentável, conservar e melhorar a base de recurso, reorientar a tecnologia e administrar o risco, e incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisões (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988).

Mas até que ponto tais políticas são efetivamente obedecidas e tidas como prioridades pelos órgãos governamentais? Não é o que efetivamente ocorre. As escolhas (e o ato político é essencialmente um procedimento de escolha) dos representantes que ocupam os cargos públicos pouco levam em conta tais metas.

Da mesma forma, a economia global exerce enorme pressão ao ambiente há bastante tempo, notadamente após a utilização da máquina a vapor e o uso do carvão mineral como principal matriz energética, no século XIX, o que aumentou exponencialmente a degradação ambiental (SANTOS, 2012)

A migração das grandes massas humanas do campo para a cidade com o abandono dos pequenos núcleos familiares, o desenvolvimento tecnológico, já no século XX, e, por último, já após a Segunda Grande Guerra, o fantástico crescimento das atividades econômicas de diversas regiões do globo, notadamente os Estados Unidos, a Europa e o Japão (estes dois últimos com recursos do Plano Marshall), o incremento da atividade industrial, o fluxo mundial de matérias primas, fontes energéticas (principalmente petróleo) e produtos acabados apresentaram um crescimento fantástico que acabou por gerar a intensificação de diversos processos de globalização e trouxe novos problemas ambientais como a poluição provocada pelas emissões atmosféricas, resíduos e efluentes industriais, consumo desenfreado etc., fazendo o ambiente experimentar prejuízos incomuns (SIQUEIRA, 2004).

Veja que mesmo a produtividade prevista e almejada na Constituição Federal de 1988 (art. 170, III) preconiza o respeito à terra e ao meio ambiente. Deve levar

em conta o cumprimento da função social e é estabelecida como princípio da ordem econômica e social, tendo por propósito afastar o caráter exclusivamente exploratório-patrimonialista que predomina na relação do homem com a natureza.

O professor gaúcho Siqueira (2004, p. 4), citando A. Giddens, mostra a prevalência da “orientação produtivista para o mundo”, ou seja:

“os mecanismos de desenvolvimento econômico substituem o crescimento individual e uma vida em harmonia com os outros. A lógica do produtivismo orienta a vida de um grupo de indivíduos (os ‘consumidores adequados’), enquanto um outro grupo (os ‘consumidores falhos’) fica à deriva econômica, política, social e psicológica, lutando pela sobrevivência”.

Tal qual a política e a economia, mudou também, ao longo do tempo, o complexo dos padrões de comportamento da sociedade com a natureza. Se antes tal interação era menos invasiva e, por isso, causava um menor impacto ambiental, essa revolução passou a oprimir absurdamente os diversos sistemas ecológicos (bióticos e abióticos). Isso não significa que devamos ignorar todas as conquistas adquiridas pela humanidade. Mas assinala, igualmente, que também não podemos destruir nossa própria casa (SIQUEIRA, 2004).

É o que Leonardo Boff (1999) chama de “Novo Paradigma Civilizacional” – onde se exige um novo modo de viver, de produzir, de distribuir os bens e de consumir, em uma nova relação para com a natureza e a Terra. Há

“a necessidade de uma nova forma de diálogo com a totalidade dos seres e de suas relações, respeitando a terra com sua identidade e autonomia como um organismo extremamente dinâmico e complexo, que se apresenta como a grande Mãe que nos nutre e nos carrega, apresentando um novo paradigma de complexidade e a lógica da reciprocidade”. (BOFF, 1999, p. 29-30).

Aqui se introduz a EA. Ela, a escola em si, que Saviani (2005, p. 18) define como: “uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado”, as organizações não governamentais (são diversas as ONG’S, nacionais e internacionais, voltadas para a seara ambiental), os Poderes Públicos, as igrejas, os sindicatos, as empresas, os meios de comunicação etc., são indispensáveis para a construção desse novo modelo que se revela inadiável para a humanidade.

O propósito da EA é gerar uma atitude educativa na formação de cidadãos com consciência ecológica e participação social que possam influenciar na resolução das questões ambientais (inclusive na elaboração de leis como veremos no capítulo do Direito Ambiental) em nível local, regional ou global fazendo conciliar o crescimento econômico com o respeito à natureza.

Esse processo educacional evidentemente não tem, assim, uma fase específica de aplicação. Deve ocorrer em todos os níveis e modalidades de ensino, em todos os momentos da formação da personalidade – desde a infância (que para muitos educadores é o período mais importante na formação do cidadão) até a educação superior.

Conceitos sobre fauna, flora, recursos hídricos, ocupação do solo, crescimento populacional, utilização adequada do lixo, saneamento básico, condições climáticas, desperdício, consumo desenfreado etc. devem, necessariamente, ser objeto de projetos e estudos em educação ambiental que levem os indivíduos a uma conduta ambientalmente sustentável. Veja, para ilustrar, um ótimo exemplo produzido por uma televisão pública paulista destinado ao público infanto-juvenil (o Cocoricó da TV cultura) que trata da poluição dos rios no vídeo de autoria de Fernando Salem “Esse rio não tem peixe”. A letra encontra-se no anexo 01.

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