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4. REPRESENTAÇÃO SOCIAL

4.4 Funções das representações sociais

Nos textos anteriores desta seção abordaram-se, de forma resumida, os conceitos de representação social e da teoria das representações sociais, os universos consensuais e reificados do conhecimento, além dos elementos formadores da representação social: a ancoragem e a objetivação. No texto que segue, discutem-se, também de forma concisa, as funções das representações sociais.

Segundo ABRIC (1994, apud SÁ, 1996, p.43-44), são quatro as funções essenciais das representações sociais:

Funções de saber: elas permitem compreender e explicar a realidade (...) elas

permitem aos atores sociais adquirir um conhecimento e integrá-los a um quadro assimilável e compreensível para eles.

Funções identitárias: elas definem a identidade e permitem a salvaguarda da

especificidade dos grupos [...] tem por função situar o indivíduo e os grupos no

campo social;

Função de orientação: elas guiam o comportamento e as práticas. A representação

intervém diretamente na definição da finalidade da situação, determinando assim a

priori o tipo de relações pertinentes para o sujeito.

Funções justificatórias: elas permitem justificar a posteriori as tomadas de posição

e os comportamentos. A montante da ação as representações desempenham um papel. Mas elas intervêm também a jusante da ação [...].

Segundo Chamon (2014, p. 121), “[...] as representações têm influência sobre as

práticas, estas, em retorno, moldam ou reconstroem as representações”. Assim sendo, existe

intensa e constante relação entre as práticas sociais e as representações sociais. As representações que circulam entre os professores influenciam, não apenas a prática em sala de aula e seu papel como professor desta disciplina, mas as representações que constrói acerca do papel desta disciplina na formação do aluno.

5. MÉTODO

O conhecimento científico surgiu no século XVIII. É, portanto, uma conquista recente da humanidade. Segundo Rampazzo (2009, p. 19), isso não significa que não houvesse nenhum saber rigoroso antes, pois desde a Grécia, no século VII a.C., os filósofos “[...] já buscavam um saber racional que se distinguia do mito e do saber comum, do conhecimento empírico” (grifo do autor).

Esse conhecimento racional, durante muito tempo chamado de filosofia, abrangia todos os conhecimentos: matemática, física, astronomia, biologia, ética, etc. Toda a ciência existente nesse período estava atrelada à filosofia. Somente na Idade Moderna a ciência inicia um processo de busca por métodos específicos (RAMPAZZO, 2009, p. 19).

Desse modo, a ciência torna-se particular na medida em que busca e encontra métodos próprios para cada área do conhecimento. Inicialmente, privilegiando setores distintos da realidade física, sensível, por meio da experimentação e, séculos depois, ampliando sua área de atuação para as ciências humanas. Preocupada com as regularidades, a objetividade, as generalizações e o estabelecimento de leis, a ciência da época passa a enfrentar os dilemas presentes no estudo das ciências humanas, “[...] cujo componente qualitativo não pode ser reduzido à quantidade” (RAMPAZZO, 2009, p. 20). Foi para resolver questões presentes no conjunto das ciências humanas, sem contudo perder o rigor, que a pesquisa científica moderna pôde avançar, desenvolvendo novos métodos de pesquisa.

Por método entendem-se “[...] as diversas etapas ou passos que devem ser dados para solucionar um problema, [...] a coordenação unitária dessas diferentes etapas” (RAMPAZZO, 2009, p. 35).

Chauí (2000, p. 157-158) esclarece que a palavra método vem do grego, methodos, composta de meta (através de, por meio de), e de hodos (via caminho). Usar um método é, segundo a autora, “[...] seguir regular e ordenadamente um caminho através do qual uma

finalidade ou um certo objetivo é alcançado” (CHAUI, 2000, p. 157). Tratando-se da busca

pelo conhecimento, é o caminho ordenado que o pensamento segue por meio de um conjunto de regras e procedimentos racionais. Desse modo a autora define método como “[...] um

instrumento racional para adquirir, demonstrar ou verificar conhecimento” (CHAUI, 2000, p. 157).

Saber se poderia ou não alcançar a verdade por meio de um determinado método de pesquisa fomentou e ainda fomenta calorosos debates e posições muito divergentes sobre os caminhos a serem percorridos. Rampazzo (2009) resume as principais propostas identificadas no processo de elaboração dos métodos científicos de acordo com as exigências da pesquisa científica: “[...] Bacon apresenta a necessidade de indução, Galileu, a importância da experimentação e Descartes fixa as regras do método matemático-indutivo, ressaltando a

importância da razão humana” (RAMPAZZO, 2009, p.3 5) (grifos do autor).

Chauí (2000, p. 159-160) complementa essa ideia considerando o método dedutivo, ou matemático, como próprio para objetos que existem apenas idealmente e que são construídos inteiramente pelo pensamento; o indutivo, como próprio das ciências naturais que observam e realizam experimentos; e, os métodos de compreensão e interpretação, como próprios das ciências humanas (grifos nosso). “[...] no caso das ciências humanas o método é chamado compreensivo-interpretativo, porque seu objeto são as significações ou os sentidos dos comportamentos, das práticas e das instituições realizadas ou produzidas pelos seres

humanos” (CHAUI, 2000, p. 160) (grifo do autor).

A escolha de um método de pesquisa é uma tarefa complexa, que exige do pesquisador reflexão crítica e antecipação dos eventos. A opção por um método deve ser feita a partir da devida correlação entre os métodos existentes e os elementos constitutivos da pesquisa, como: objetivos, possibilidades do pesquisador, tempo disponível, custos e formas de coleta e análise dos dados coletados. Betti, (2013, p. 21), que se dedica à pesquisa na área de Educação Física, explica a necessidade de rigor nas escolhas: “[...] é no confronto entre as teorias e o mundo que vai determinar o quanto elas [técnicas] são aplicáveis ao mundo, e tal confronto deve

ocorrer da maneira mais rigorosa possível”. Santos (2005, p. 20) afirma que a “[...]

metodologia escolhida é, portanto, consequência do modelo teórico adotado que possibilita a relação prática com o objeto estudado”. Chamon (2006) pontua que técnicas distintas podem ser utilizadas dentro de um mesmo método, entretanto sempre haverá uma mais adequada. Bauer e Gaskell (2010, p. 18) acrescentam que “[...] uma cobertura adequada dos acontecimentos sociais exige muitos métodos e dados: um pluralismo metodológico se origina

como uma necessidade metodológica”. Os autores observam ainda que a investigação de uma

ação empírica exige a observação sistemática dos fatos.

Segundo Chamon (2009, p. 5-6), no Brasil vários pesquisadores propuseram-se a discutir os métodos de pesquisa em representações sociais, contudo muitas críticas atribuídas

aos aspectos metodológicos são “[...] herdadas das críticas normalmente feitas aos usos de

ferramentas qualitativas e quantitativas em Ciências e Humanas e Sociais”. A autora complementa afirmando que “[...] os desenvolvimentos teóricos em representações sociais

não prescrevem uma metodologia única para a aplicação” (CHAMON, 2014, p. 122). Alves-

Mazotti (2008, p. 34) diz ser grande a variedade de abordagens encontradas no estudo das representações sociais, e isso não se deve apenas ao fato de esses estudos serem realizados em áreas diversas, nas quais predominam diferentes tradições de pesquisa, mas também porque

não há uma metodologia “canônica” no estudo das representações sociais.

Chamon (2014, p. 122) considera que os métodos básicos para a pesquisa em representações sociais são: os grupos focais, as entrevistas e os questionários. Aponta, ainda, que a triangulação ou combinatória de métodos é normalmente uma proposta produtiva para a análise das representações. Com relação à triangulação, vale acrescentar as considerações de Spink (1996, p. 105), que discute o sentido dado à estratégia denominada “triangulação”. Segundo a autora, Denzin estuda a triangulação desde a década de 1970, e ela vem sofrendo profundas modificações, especialmente em função da adoção de posturas epistemológicas construtivistas (BERGER e LUCKMAN, 1966, GERGEN, 1985, apud SPINK, 1996. p. 105). A triangulação que havia sido introduzida por Denzin como estratégia para a validação dos dados, perdeu espaço para um novo sentido, o de alternativa à validação, “[...] emergindo como uma forma de aprofundamento da análise e não mais como um caminho para chegar à

verdade objetiva”. Como considera FLICK (1992, apud SPINK, 1996, p. 106), o potencial da

triangulação de diferentes abordagens metodológicas está na combinação de diferentes perspectivas de pesquisa e na possibilidade de focalizar diferentes aspectos do problema de estudo. Chamon (2014) pontua que as análises de conteúdo e de discurso são as técnicas aplicadas com maior frequência na avaliação dos materiais verbais coletados. Ainda com relação a essa questão, Chamon (2014) destaca que os processos de objetivação e ancoragem podem ser estudados, tanto com abordagens qualitativas (material verbal, escrito, entrevista,

materiais impressos) quanto com abordagens quantitativas (questionário e avaliação estatística). Contudo, os resultados não são apresentados de forma imediata ao pesquisador:

“[...] é preciso identificar nesses resultados as simplificações operadas pelos sujeitos e as redes de significados sobre as quais se apoiam” (CHAMON, 2014, p. 122-123). Assim sendo,

é preciso conhecer também os contextos sociais dos grupos para a apreensão dos objetos de representação, conclui a autora. As colocações de Chamon (2014) encontram fundamento nesta afirmação de Moscovici (1984):

Sejam quais forem as razões, o fato é que apenas uma descrição cuidadosa das Representações Sociais, sua estrutura e sua evolução em vários campos, poderá possibilitar sua compreensão; e uma explicação válida só poderá emanar de um estudo compreensivo destas descrições. MOSCOVICI (1984, apud SPINK, 1996, p. 106).

Spink (1996, p. 101) afirma que existe uma enorme variedade de instrumentos que podem ser utilizados para a coleta de dados. Ela afirma também que pesquisas em representações sociais desenvolvidas em situações complexas aproximam-se das etnografias ou da pesquisa participante em antropologia. A autora destaca a pesquisa de Denise Jodelet (1989) sobre as representações sociais da loucura em uma comunidade rural da França. Essa pesquisa, desenvolvida ao longo de quatro anos, passou por várias fases, com diferentes instrumentos, como observação participante, análise de documentos e entrevistas com informantes-chave na reconstituição da história do Hospital Colônia; caracterização da organização com informantes, recenseamento de famílias por meio de formulários, entrevistas em profundidade, etc. Depreende-se, portanto, que os instrumentos devem estar também relacionados à complexidade da pesquisa.

Para a presente pesquisa sobre as representações sociais, docência e práticas em Educação Física dos professores que ministram aulas de Educação Física nas escolas rurais do município de Cunha - SP, os instrumentos escolhidos em função das colocações acima foram: o questionário, a entrevista semiestruturada e a fotografia. Com o propósito de delinear e deixar mais claro o caminho percorrido neste projeto de pesquisa, elaborou-se, a partir do modelo apresentado por DIAS (2014, p.104), um quadro com as etapas propostas para a

realização da pesquisa levando em conta seus objetivos, o tempo disponível, a metodologia escolhida, os recursos existentes, além das exigências da instituição de ensino. Na Figura 30 apresenta-se o quadro explicativo do percurso metodológico elaborado.

Etapas Procedimentos

1-Definição da pesquisa Definição do problema; Definição do Objetivo Geral Definição dos Objetivos Específicos.

2-Definição da amostra Levantamento da população; Definição da amostra.

3-Procedimentos administrativos e éticos

Autorização das instituições; Aceite do orientador; Autorização do CEP.

4-Elaboração do método

Estabelecimentos de procedimentos e ferramentas para a coleta dos dados quantitativos;

Estabelecimentos de procedimentos e ferramentas para a coleta dos materiais qualitativos. 5-Preparação para a coleta de dados/materiais - Revisão de literatura; - Adaptação do questionário; - Elaboração do roteiro de entrevista; - Definição das técnicas para o registro fotográfico;

- Definição de roteiro para coleta de dados.

6-Coleta dos dados/materiais

- Coleta de dados/materiais - Digitação dos dados/materiais; -Seleção dos registros fotográficos;

7-Tratamento dos dados e materiais

-Tabulação e análise dos dados quantitativos (software Sphinx); - Categorização dos dados qualitativos; (software Alceste);

- Organização das fotografias.

8-Análise dos dados Quantitativo; Qualitativos; Triangulação de dados.

9-Discussão dos resultados

Discussão dos dados coletados à luz da Teoria da das Representações Sociais e de outras pesquisas realizadas.