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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.2. O MERCADO E O EXERCÍCIO DA MEDICINA

3.2.2. Funcionalismo público

Vale a pena esclarecer alguns conceitos importantes no funcionalismo público. Primeiramente, a Constituição Federal de 1988 trocou a expressão “funcionário público” para “servidor público” por esta incorporar a ideia de servir à população que vai além daquela de apenas fazer funcionar a máquina estatal. Desta forma, a expressão “funcionário público” é considerada anacrônica.

Outro conceito relevante diz respeito ao “agente público”. Esta expressão diz respeito à “toda pessoa física que desempenha, definitiva ou transitoriamente, alguma função estatal, ou em outras palavras, é toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da administração indireta” (GUERRA, 2002, p.1).

O agente público se classifica em: agente político, agente administrativo, agente honorífico, agente delegado e agente credenciado.

A definição de agentes políticos varia conforme a referência. Hely Lopes Meirelles (2001), citado por Guerra (2002), os define como “componentes do Governo, nos seus principais escalões, investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões, por nomeação, eleição, designação ou delegação para o exercício de atribuições constitucionais”. Nesta visão, segundo Guerra (2002), incluem-se chefes de do Poder Executivo, e seus auxiliares diretos (Ministros e Secretários de Estado), os membros do Poder Legislativo, também os da Magistratura, Ministério Público, Tribunais de Contas e representantes diplomáticos. Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello (2002) e Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2001), citados por Guerra (2002), agente político são “os titulares dos cargos estruturais à organização política do País”. Nesta visão, segundo Guerra (2002), incluem-se apenas o Presidente da República, os Governadores, os Prefeitos e os respectivos auxiliares imediatos (Ministros e Secretários), os Senadores, os Deputados e os Vereadores.

Os agentes honoríficos

são pessoas convocadas, designadas ou nomeadas para prestar, transitoriamente, determinados serviços ao Estado, em razão de sua condição cívica, se sua honorabilidade ou de sua notória capacidade profissional, mas sem qualquer vínculo empregatício ou estatutário e, normalmente, sem remuneração. São exemplos desta categoria: o jurado e o mesário eleitoral (Guerra, 2002, p. 2).

“os particulares que recebem a incumbência da execução de determinada atividade, obra ou serviço e o realizam em nome do próprio Estado e sob a permanente fiscalização do delegante. Nessa categoria encontram-se os concessionários e permissionários de obras e serviços públicos, os tradutores e intérpretes públicos“ (GUERRA, 2002, p. 3).

Agentes credenciados são “os que recebem a incumbência da Administração para representá-la em determinado ato ou praticar certa atividade específica, mediante remuneração pública” (GUERRA, 2002, p. 3). Como exemplo tem-se o perito ad hoc.

Por último, tem-se o agente administrativo. Este também é conhecido como “servidor público” no sentido amplo. Esta expressão, como já foi dito, surgiu oficialmente na Constituição Federal de 1988. Pode-se definir servidor público, como base no texto constitucional, como o ocupante de cargo na “administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios” (BRASIL, Constituição, 1988). É oportuno termos ciência de outra definição.

Assim sendo, Di Pietro (2009, p. 443) define servidores públicos como “as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades da Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos”.

Guerra (2002) faz uma revisão sucinta sobre agente público administrativo. Desta forma, o servidor público caracteriza-se por prestar serviço ao Estado e às entidades de Administração indireta, manter vínculos profissionais e estar sujeito à hierarquia funcional. Este tipo de agente público se divide em militar, servidor público (sentido restrito), empregado público e agente temporário.

Os militares pertencem às forças armadas ou forças auxiliares. Os servidores públicos (senso restrito) são providos por concurso e estão sujeitos ao regime estatutário. Por esta razão também são conhecidos apenas como “estatutários”. Esta categoria de servidor também pode ser chamada de “efetivos”, pois ocupam um cargo efetivo. Os empregados públicos são providos por concurso e regidos pela CLT. Os servidores temporários são providos sem concurso e com contrato de trabalho por tempo determinado, às vezes em caráter de emergência (BACCHELLI, 2008; GUERRA, 2002).

É comum nos depararmos com a expressão “servidor público militar”. Deve ficar claro que, neste caso, considera-se a visão mais ampla de servidor público. Deve-se ressaltar que os militares estão sujeitos a um estatuto, o “Estatuto dos

Militares” (Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980). Isto não nos autoriza a denominar os militares de estatutários.

Em nossa pesquisa, trabalharemos, na maioria das vezes, com a acepção mais restrita da expressão “servidor público”, ou seja, aquela equivalente ao estatutário.

Os servidores públicos federais seguem a Lei nº 8.112/90. Os estados e os municípios também têm suas respectivas leis do funcionalismo público, todas semelhantes à lei do funcionalismo público federal. Estas leis são os estatutos dos servidores públicos civis.

Três instâncias dos servidores públicos civis devem ser reforçadas: o regime jurídico a que estão submetidos, a via de entrada e os direitos.

O servidor público pode ser contratado, em sua grande maioria, sob dois regimes jurídicos: CLT ou estatutário (obedece à lei do funcionalismo público).

A via de entrada do estatutário no serviço público é o concurso público, salvo situações onde é necessária uma contratação de emergência, situação esta que confere a este cargo público uma condição de temporaneidade, diferentemente do cargo obtido por concurso. Isto não impede que se preste serviço para o Estado, mas a pessoa que presta não será considerada “servidor público estatutário”.

Algumas diferenças são importantes de se enumerar entre o servidor público efetivo federal (regime jurídico estatutário) e o “servidor” celetista.

Com relação ao FGTS, o servidor público não recebe e o celetista tem direito. No tocante à licença não-remunerada, licença por motivo de afastamento do cônjuge e auxílio-funeral, o servidor público tem direito após uma avaliação do caso. Os celetistas não têm direito.

Com referência ao adicional noturno, o servidor público tem direito a no mínimo 25% e o celetista a 20%.

As regras quanto à estabilidade também são diferentes. Fundamentalmente, no tocante à dispensa após o período de aquisição de estabilidade (três anos), os servidores públicos não podem ser demitidos sem justa causa. Já os celetistas, mesmo após o período de aquisição da estabilidade (três meses), podem ser demitidos sem justa causa. Neste caso, o empregador terá que pagar os direitos prescritos em lei: multa por rescisão de contrato, férias proporcionais e gratificação natalina (13º salário) proporcional. Além disso, o empregado poderá sacar o FGTS, caso deseje.

Quanto à licença nos casos de adoção ou guarda judicial, também há diferenças. Embora o tempo de licença varie conforme o tipo de vínculo, o mesmo princípio prevalece: tempos maiores para crianças menores e vice-versa.

Com relação ao auxílio-natalidade, as servidoras públicas têm direito no caso de parto múltiplo. As celetistas não têm direito a este benefício.

Outra peculiaridade com relação ao funcionalismo público é o acúmulo de cargos. Por lei (§ 1º do artigo 17 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias), qualquer profissional da saúde pode ter no máximo dois cargos públicos, inclusive os médicos (BRASIL, Constituição, 1988). É relevante relatar que este dispositivo legal se aplica aos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e “fundacional”, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos [...] (BRASIL, Emenda Constitucional nº 41, 2003).

No tocante à seguridade do servidor público, maiores considerações serão feitas no item “seguridade”.

Conforme pesquisa de Carneiro e Gouveia (2004), 69,7% dos médicos exercem a profissão no setor público. Esta realidade “obriga” a classe médica a conhecer o básico da legislação do funcionalismo público.

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