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1. INTRODUÇÃO

1.5. Funcionalização de suportes cromatográficos baseados em sílica para

1.5.2. Funcionalização de sílica porosa por imobilização de polissiloxanos

Uma forma alternativa de funcionalização da sílica é através da imobilização de polissiloxanos. O primeiro relato de uma fase estacionária para cromatografia líquida preparada utilizando imobilização térmica de polissiloxanos foi o de Figge et al., de 1986 [34]. Neste trabalho, polissiloxanos foram imobilizados em

Sílica ( )17

( )17

( )17 ( )17 ( )17

Camada homogênea Camada heterogênea

sílica porosa utilizando aquecimento a 180 oC por 20 horas. Dois tipos de sílica foram

utilizados, uma que recebeu um pré-tratamento de silanização com trimetilmetóxissilano e outra que não recebeu este tratamento. A quantidade de polissiloxano imobilizado na sílica do primeiro tipo foi relativamente baixa, correspondendo a uma porcentagem de carbono de 3%. Já sobre a sílica que não recebeu a pré-silanização, a porcentagem de carbono foi maior, 6%.

Segundo os autores, a imobilização pode ser justificada pela formação de ligações entre as cadeias poliméricas e a sílica, geradas através da reatividade dos silanóis da sílica com relação às ligações Si-O-Si do polissiloxano, de acordo com o Esquema 4.

Esquema 4 - Reação do polissiloxano com a sílica.

A partir da década de 1990 a imobilização de polissiloxanos em sílica porosa foi extensivamente estudada no laboratório LabCrom da Unicamp como uma alternativa no preparo de fases estacionárias para HPLC. Vários polissiloxanos foram utilizados, como o polidimetilsiloxano (PDMS), poli(metiloctilsiloxo) (PMOS), poli(metiloctadecilsiloxano) (PMODS), poli(metilfenilsiloxano) (PMFS) e poli(butadieno) (PBD), demonstrando que este método de funcionalização pode ser utilizado para obtenção de fases estacionárias com variadas seletividades [35].

Além disso, vários métodos de imobilização foram estudados, como por tratamento térmico, radiação gama e auto-imobilização.

A auto-imobilização é a imobilização dos polissiloxanos no suporte à temperatura ambiente. Nesta condição, o processo ocorre de forma lenta e são necessários dias para que a quantidade de polímero imobilizado resulte em uma fase estacionária com bom desempenho [35].

O PMOS (Figura 16) foi um dos polissiloxanos mais estudados. Caracterizações físicas e químicas comparando os diferentes métodos de imobilização do PMOS forneceram informações importantes, especialmente com relação ao mecanismo de imobilização do PMOS. Dentre as técnicas utilizadas para estas caracterizações estão: análise elementar, cromatografia de permeação em gel, espectroscopia de ressonância magnética nuclear de 29Si e espectroscopia de

absorção no infravermelho [36].

Figura 16 – Estrutura do PMOS.

A análise elementar mostrou que, dentre os três métodos de imobilização utilizados (por tratamento térmico a 120 oC ou 220 oC por 4 h, por radiação gama a 80

kGy e por auto-imobilização por 30 dias a 23 oC), os tratamentos térmicos são os que

são capazes de imobilizar a maior quantidade de polímero. Já no RMN de 29Si, os

tratamentos térmicos foram os que resultaram na maior redução da intensidade do sinal correspondente à presença dos silanóis da sílica, em especial para o tratamento realizado a temperatura de 220 oC, indicando um recobrimento mais completo do

suporte de sílica. Além disso, este tratamento a alta temperatura, também resultou na formação de novas ligações Si-C, que sugere a quebra da cadeia do polímero e formação de novas ligações entre o próprio polímero (entrecruzamento) ou entre a sílica e o polímero, como proposto por Figge et al. [37]. Esta possibilidade de quebra

da cadeia do polissiloxano também é indicada pelo cromatograma de permeação em gel do PMOS extraído após o tratamento térmico, no qual foi observado um pico correspondente a uma estrutura de massa molar menor, que só foi observado para a fase estacionária que recebeu o tratamento térmico a 220 oC [36]. A Figura 17 ilustra

as diferentes formas que um polissiloxano pode ser imobilizado sobre a sílica.

Figura 17 – Formas de deposição de um polissiloxano no poro da sílica a) Recobrimento apenas nas paredes do poro ou b) Preenchimento do poro. Adaptado

de [35].

A espectroscopia de absorção no infravermelho foi especialmente importante para a observação de outra particularidade do tratamento térmico a 220oC,

que foi a absorção correspondente a ligação C=O, indicando a oxidação do PMOS [36].

A oxidação do PMOS, resultando na formação de grupos polares, pode ser prejudicial para o desempenho cromatográfico, como foi observado no trabalho de Bottoli et al. [38]. Neste trabalho, foi observada a expressiva diminuição na eficiência

Ligação covalente Cadeias do polímero Sílica Fase móvel

das fases estacionárias com PMOS imobilizado a temperaturas maiores que 120 oC

em atmosfera oxidante. Já quando a imobilização térmica foi realizada em atmosfera de N2, foram obtidas altas eficiências mesmo, utilizando altas temperaturas, até 300 oC [39].

A boa estabilidade das fases estacionárias preparadas por imobilização térmica de polissiloxanos foi uma das principais características que permitiu avaliar este método de funcionalização de sílica como adequado para o preparo de fases estacionárias para HPLC. Esta estabilidade foi inicialmente demonstrada pelo trabalho de Anazawa et al., no qual as fases estacionárias preparadas com PDMS e PMOS praticamente não apresentaram variação do fator de retenção e eficiência quando lavadas com fase móvel acetonitrila-água 50:50 (v/v) [40]. Em 2012, Borges e Collins [41] realizaram um estudo mais aprofundado sobre a estabilidade das fases estacionárias com PMOS imobilizado termicamente. Neste estudo, os parâmetros cromatográficos foram avaliados durante testes de estabilidade em condições brandas e também em condições altamente agressivas. Nas condições brandas foi utilizada fase móvel com pH neutro e temperatura 23 oC. Já nas condições agressivas, foi

utilizada fase móvel com pH expressivamente básico ou ácido e temperaturas de até 80 oC. As fases estacionárias mostraram-se razoavelmente estáveis por até 5000

volumes de coluna em quase todas as condições. Foi observada rápida degradação apenas quando se utilizou fases móveis com tampão carbonato ou fostato (pH básico), especialmente a altas temperaturas [41].

A alta qualidade das fases estacionárias com polissiloxanos imobilizados permitiu a aplicação destes materiais na separação de diversas misturas compostas por substâncias de interesse comercial como pesticidas, herbicidas e compostos farmacêuticos, que geralmente possuem ampla faixa de polaridade e também características tanto ácidas quanto básicas, portanto, exigem que a fase estacionária possua eficiência e seletividade adequadas para que a mistura seja resolvida [35].

Recentemente, a imobilização térmica de um polissiloxano em suportes monolíticos baseados em sílica para cromatografia líquida capilar foi descrita pela primeira vez pelo nosso grupo de pesquisa. Neste trabalho, o PDMS foi imobilizado em dois tipos de suporte monolíticos: um sintetizado apenas com TMOS, completamente inorgânico, e outro híbrido, sintetizado com uma mistura de TMOS e

MTMS. Estas fases estacionárias foram testadas no modo fase reversa utilizando uma mistura teste composta por alquilbenzenos. As colunas preparadas foram capazes de resolver a mistura teste, indicando que a imobilização térmica de polissiloxanos é um método promissor para estes novos suportes cromatográficos, mas otimizações são necessárias, principalmente devido aos longos tempos de análise e a baixa capacidade de retenção das colunas, pois, foi necessário utilizar fase móvel com baixa força cromatográfica e baixa vazão para separar a mistura de alquilbenzenos [42]. Além disso, propriedades importantes não foram avaliadas, como estabilidade e seletividade com relação a substâncias polares.

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