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4 MODELO DE SISTEMA MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO O objeto da tese foi a proposição, elaboração e avaliação de

4.1 FUNDAMENTAÇÃO PARA O MODELO DE SMP

De acordo com Nesbitt (2006), a desconstrução examina a fundamentação racional do pensamento que, ao definir oposições binárias privilegia uma delas, como se tal condição tivesse sido institucionalizada em um preciso momento: através da desconstrução analisa-se a justificativa para tal institucionalização e, sendo o caso, propõem-se remontagens na construção.

Após a análise do modelo tradicional de SMP em prática atualmente no Brasil, e na fundamentação a que se denomina de urbanismo desconstrutivista, foi proposta a re-montagem da atual composição e gestão de sistemas municipais de planejamento.

4.1.1 Proposição de re-montagem da atual composição e gestão de SMP A desconstrução age nas margens para revelar e desmontar oposições e pressupostos vulneráveis do objeto em análise. Nesbitt (2006) analisa o conceito em relação ao projeto urbano, comparando-o como a filosofia: na comparação, questiona no que se apóia o desenho urbano. Nessa comparação Nascimento (1999) apresenta a organicidade urbana e, ao citar Barthes no póstumo Le Désir de neutre, compara a cidade com a vida, onde os caminhos se abrem à cada passo.

No modelo proposto de sistema municipal de planejamento - SMP para implementação e monitoramento de planos diretores em municípios brasileiros, os objetivos fundantes deviam estar de acordo com os conceitos até então apresentados na tese. Considerando que se pressupôs a possibilidade de implantação prática, o modelo devia atender aos princípios preconizados pela legislação brasileira e pelo Ministério das Cidades: em estrutura e processo participativo de planejamento, e em gestão democrática.

A premissa na proposição do modelo foi a de que: os planos diretores municipais para os municípios onde o modelo possa vir a ser

implantado, foram elaborados por iniciativa do poder executivo através de equipe técnica municipal especialmente designada por Decreto que, pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) e pelo Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), elaborou-o em parceria com atores sociais, no que denomina-se de processo participativo de planejamento, conforme preconizado nas leis brasileiras.

Por tais razões o modelo da tese tem fundamentação desconstrutivista, com o uso da reengenharia e reengenharia de processos, pela mudança de atitude esperada na alta gerência municipal. A abordagem foi a da gestão de sistemas. As bases conceituais foram as da democracia deliberativa, da qualidade da GESPÚBLICA, da governança, da governação e do marketing de relacionamento interno. O foco foi a implementação e monitoramento do plano diretor municipal, concebido em processo de planejamento estratégico.

Considerando a aplicação prática, o modelo devia propor para o sistema e para cada uma das entidades que o compõem funções estratégicas, táticas e operacionais. Devia ainda atuar em processo de melhoria contínua, oportunizar a avaliação da qualidade e a efetividade das ações municipais planejadas e propostas no plano diretor municipal. No que diz respeito à gestão democrática, as referências apresentadas da governança demonstram que, se implantadas com qualidade, atingem os objetivos a que se propõe, como no caso do Município de Porto Alegre (PMPA, 2005): esse é o motivo pelo qual a governança esteve proposta na composição do modelo. Usou-se ainda, na composição do modelo de SMP, do preconizado pela Gespública, objetivando-se que o SMP possuisse qualidade em sua atuação e atingimento de seus objetivos.

Quanto à governação, destaca-se que o processo participativo de planejamento em gestão democrática, recomendado pelo Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) e praticado nos princípios da democracia participativa e da governança, não pressupõe seja o Estado excluído de suas funções e responsabilidades. Ressalta-se o apresentado por Nesbitt (2006) ao afirmar que, no princípio da desconstrução, não deve haver privilégio em nenhuma das pontas de oposições binárias. No caso, tais oposições binárias podem ser consideradas como o Estado e a participação popular.

O modelo governamental em vigência de SMP pressupõe que o sistema seja composto por “governo” e “conselho”. Em tais premissas, qual a vulnerabilidade para a ação exitosa do SMP?

Sem dúvida a vulnerabilidade é discursiva, e está na tentativa da implementação do SMP sem que o seu discurso tenha sido

compreendido, assimilado, aceito e praticado pelos seus integrantes, participantes e interessados em seus resultados.

4.1.2 A necessidade de práticas discursivas em SMP

Considerou-se haver a necessidade, na composição do SMP, além do binário instituído composto por “governo” e “conselho”, de uma terceira entidade, responsável pela compreensão e multiplicação do discurso elaborado no PDM. Esse discurso devia ser compreendido, propagado e difundido em todos os níveis de poder do e no município, e em educação cidadã. Tal discurso devia abarcar os integrantes e participantes do sistema municipal de planejamento, no princípio da unidade discursiva, do nível local ao municipal, conforme apresentado por Bilhim (2004b), e Seixas (2008).

A propagação da unicidade discursiva gerada no PDM ocorre na utilização do conceito do marketing de relacionamento interno, ao propor a consolidação da base cultural e do comprometimento do público interno (atores sociais) com a organização (cidade), apresentado por Cerqueira (1994), através da promoção dos quatro critérios de autoridade apresentados por Brum (1994). A intenção dessa ocorrência gerou modelo de gestão pela propagação do discurso institucional, que implica:

a. no estabelecimento de nova divisão de tarefas (divisão horizontal);

b. na re-distribuição de poder e status no grupo (divisão vertical);

c. na definição de regras de relacionamento entre os indivíduos. O conceito, desconstrutivista, pressupôs haver a consciência de que as proposições interferem no status quo de grupos de poder. Essa interferência desestabiliza as relações existentes e age na cultura e nas relações sociais que se estabeleceram a partir de determinadas práticas de poder de indivíduos e dos grupos aos quais pertencem. (PEREIRA, MIRANDA, 2007).

Na Escola de Governo do Paraná (PARANÁ, 2004), no Programa de Formação de Conselheiros Nacionais – PFCN (BRASIL, 2008b) e na Escola de Cidadania (UFJF,2002), percebe-se que o governo do Estado do Paraná, o governo federal e instituições de ensino aliadas à pesquisa e à extensão, constatam a necessidade de formação qualificada e de formação político-comunitária de servidores públicos, conselheiros, gestores, técnicos e de cidadãos. Nos três casos, percebe-se a similaridade das práticas com conceitos:

a. da democracia deliberativa apresentadas por Tenório e M. Filho (2002);

b. preconizados no Marketing de Relacionamento Interno, por Peck et. al. (1999);

c. dispostos no bloco “informação e conhecimento” apresentados no modelo de excelência da GESPUBLICA (BRASIL, 2006a);

d. propostos no vértice denominado de “capital sócio-cultural” da governação urbana, apresentado por Seixas (2008).

Na reflexão, percebeu-se que para a efetivação exitosa do discurso do PDM e do SMP, há a necessidade de uma terceira entidade que deverá compor o SMP, juntamente com o “governo” e o “conselho”: a essa terceira entidade denominou-se, nessa tese, de “escola”.

A “escola” devia ser a entidade, no SMP, que promove e pratica o seu discurso, embasada em princípios norteadores que alicerçam o modelo, abaixo propostos.

4.1.3 Princípios norteadores do SMP

Os princípios norteadores e que alicerçaram o modelo foram: a. gestão sistêmica;

b. busca de unicidade na construção, divulgação e aplicação dos discursos;

c. busca da melhoria contínua; d. liderança forte na gestão;

e. aplicabilidade da gespública, dos princípios da governança deliberativa, da governança e da governação, no sistema; f. fundamentação racional do pensamento;

g. busca de desmontagem de oposições e pressupostos vulneráveis;

h. busca de solução de questões ideológicas, sócio-econômicas e identitárias;

i. envolvimento interativo entre entidades, membros e atores que compõe o sistema;

j. processos elaborados e implantados pelo planejamento estratégico;

k. resultados voltados para o atingimento dos objetivos do PDM e do SMP;

l. oportunizar a integração regional; m.auto-correção das práticas;

n. redução do distanciamento entre pessoas, instituições e governo;

o. serviço púbico de qualidade, executado com eficiência, eficácia e economicidade;

p. divisão de tarefas de forma horizontal; q. distribuição de poder e status no sistema;

r. atos pautados e que estabeleçam: veracidade; sinceridade; retidão; inteligibilidade; convencibilidade; co-existência social; pluralidade; diálogo; democracia.