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No que se refere ao primeiro aspecto, Freitas (1987) afirma que o projeto his- tórico enuncia o tipo de organização social que se pretende para a atual sociedade e os meios a serem colocados em prática para sua consecução. Esses meios são concretos e, como os fins, vinculam-se às condições existentes.

Reconhece-se a possibilidade do projeto histórico socialista, pois a meta do socialismo é o homem, mas um homem não alienado. O socialismo, segundo Marx, tem como objetivo criar uma forma de produção e uma organização da sociedade onde o homem possa superar a alienação de seu produto, de seu trabalho, de seu semelhante, de si mesmo e da natureza; na qual ele possa regressar a si mesmo e apreender o mundo com suas próprias forças, tornando-se, unido ao mundo.

O socialismo, portanto, é a condição para o desenvolvimento da criatividade, da liberdade e do atendimento das necessidades do homem. Mas, tanto liberdade, como necessidades, exigem a explicitação de seus verdadeiros sentidos. O sentido da liberdade é o da independência apoiada no fato de o homem valer-se a si próprio, utilizando suas próprias forças e relacionando-se produtivamente com o mundo. O sentido de necessidades é o das verdadeiras necessidades, ou seja, aquelas cuja satisfação é indispensável à efetivação de sua essência como ser humano. As verda- deiras necessidades só serão possíveis quando o capital parar de explorar as falsas necessidades e quando a produção servir ao homem.

A educação, nesse contexto, tem como tarefa estratégica contribuir para a formação humana pelas vias da produção, da apropriação crítica e da socialização do conhecimento científico. Essa tarefa exige uma compreensão do homem como ser ativo e criativo, prático, que se transforma na medida em que transforma o mundo por sua ação material e social. Une-se, aí, a compreensão teórica à ação real com vista à transformação radical da sociedade.

Por mais que as utopias pareçam estar riscadas do horizonte da história, de um lado pelo neoliberalismo e, de outro, pelo pós-modernismo, a construção de- mocrática do socialismo está em pauta como o modo de produção estruturalmen- te capaz de pôr fim ao que Marx denominou de pré-história da humanidade, as sociedades regidas por classes sociais que cindem o humano. A luta de classes é, portanto, uma manifestação histórica dessa cisão, o que tem expressão em todos os âmbitos da vida humana.

Em seguida, foram destacados os fundamentos de um projeto de escolariza- ção e formação voltados para a auto-organização e auto-determinação dos sujeitos na perspectiva da emancipação humana.

Dentre os fundamentos, podemos apontar: a prática de ensino como articu- ladora do currículo, acrescentando-se a organização do conhecimento, orientada por complexos temáticos, que possibilita reflexões sobre a totalidade, de conjunto e radicais, sobre, também, a unidade metodológica e a auto-organização das co- letividades. Esses indicadores evidenciam que o trabalho pedagógico é o elemento identificador da atuação do professor. Este trabalho, que é específico, traz em si traços essenciais do trabalho em geral.

Há uma compreensão coletiva de que existe uma única pedagogia quando se trata da perspectiva para além do capital – é a pedagogia socialista – cujas bases são: a história como matriz científica, o trabalho como princípio educativo, o movi- mento dos trabalhadores e sua autodeterminação no enfrentamento dos pilares de sustentação do capital, a exploração do trabalho humano e a propriedade privada da terra, como método de organização.

A autodeterminação possibilita a construção da organização autônoma. Essa autonomia é compreendida como um processo em que cada trabalhador se torna sujeito de sua vida e criador em seu trabalho. O trabalhador, através do processo auto-organizativo, apropria-se do processo e dos meios de produção, mas, prin- cipalmente, do fruto de seu trabalho, não mais em uma perspectiva individualista, mas sim, planificada, com base nas necessidades vitais dos seres humanos e de suas vidas dignas, e não mais do mercado consumidor.

No que se refere ao aspecto metodológico, tomamos como referência a pes- quisa-ação (THIOLLENT, 2007), que permitiu, em primeiro lugar, criar um vínculo coletivo entre a universidade, a escola e os movimentos sociais de luta da classe trabalhadora, especificamente neste projeto, o Acampamento do MST no Estado de Sergipe onde o projeto era desenvolvido, definindo as problemáticas do proces- so de ação pedagógica recíproca.

O objeto de trabalho – metodologia para o desenvolvimento do esporte e lazer – é, portanto, constituído pelas situações sociais e pelos problemas de diferentes na- turezas encontrados nessa situação de práticas corporais e esportivas e de lazer, em que estão implícitas nas ações as variáveis: organização do trabalho; conhecimentos; tempo pedagógico; espaços; materiais; processos pedagógicos; orientações peda- gógicas; motivações; condições objetivas de trabalho; entre outras.

O objetivo da pesquisa-ação permite, além da resolução de problemas ob- servados na prática esportiva e de lazer, tais como falta de espaços, materiais, orien- tações, motivações, informações e outras, também intensifica o diálogo, a ação conjunta, responsável e solidária na perspectiva do desenvolvimento de processos que intensifiquem as práticas corporais e esportivas e de lazer.

As ações pedagógicas na forma da pesquisa-ação não se limitaram a uma mera ação desprovida de reflexão. Pretendeu-se, sim, aumentar o conhecimento de todos, ou seja, o grau de consciência das pessoas e grupos a respeito das práticas corporais e esportivas de lazer.

Salientamos que através da pesquisa-ação desenvolveram-se objetivos práti- cos voltados para se encontrar uma solução imediata, ou de médio prazo, dentro do contexto e, também, os objetivos de produção do conhecimento científico, inerentes a qualquer estratégia de pesquisa. Portanto, a prática corporal e esportiva e de lazer foi o eixo em torno do qual foram articulados os conhecimentos científicos e as refle- xões filosóficas acerca do esporte e do lazer nos espaços das cidades e do campo.

O ponto de partida foi o saber espontâneo, do senso comum, que foi am- pliado com as explicações e orientações científicas e os dados da realidade. Essa metodologia permitiu o estabelecimento de uma estrutura coletiva, relacional, par- ticipativa, ativa, responsável e solidária.

A abordagem metodológica observou características próprias dos processos argumentativos, presentes nas explicações e interpretações das práticas corporais e esportivas e de lazer. Os procedimentos de ensino-aprendizagem e de pesquisa estiveram centrados em procedimentos qualitativos, interativos, interpretativos, ex- plicativos.