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Fundamentação teórica

No documento Relatório de estágio profissional (páginas 104-107)

Capítulo 2 – Planificações

2.1. Fundamentação teórica

O ato de planificar encontra-se presente em quase todas as nossas atividades diárias, uma vez que nos orienta na realização de atividades. Segundo Habermas (1984, citado por Serra, 1999)

planear, constitui um processo espontâneo que radica na relação entre o individuo e o contexto da sua acção. A abordagem reflexiva sobre as coisas e os acontecimentos do mundo sobre assuntos da nossa intimidade, implica sempre uma maior ou menos capacidade de apropriação e representação do futuro. (p.18)

A planificação em educação determina em grande parte o que é ensinado e de que modo é feito. A sua orientação depende de cada educador (do seu estilo próprio) e reflete a forma como este aborda todo o processo de ensino-aprendizagem.

Assim sendo, e de acordo com o Decreto-Lei n.º 240/2001, de 30 de agosto, o perfil geral de desempenho profissional do educador de infância deverá seguir estas linhas orientadoras:

3 – No âmbito da observação, da planificação e da avaliação, o educador de infância:

a) Observa cada criança, bem como os pequenos grupos e o grande grupo, com vista a uma planificação de actividades e projectos adequados às necessidades da criança e do grupo e aos objectivos de desenvolvimento e da aprendizagem;

b) Tem em conta, na planificação do desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem, os conhecimentos e as competências de que as crianças são portadoras;

c) Planifica a intervenção educativa de forma integrada e flexível, tendo em conta os dados recolhidos na observação e na avaliação, bem como as propostas explícitas ou implícitas das crianças, as temáticas e as situações imprevistas emergentes no processo educativo;

d) Planifica actividades que sirvam objectivos abrangentes e transversais, proporcionando aprendizagens nos vários domínios curriculares.

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A função principal de planificar é a de transformar e modificar o currículo de forma a adequá-lo às características particulares de cada situação de ensino, sendo um instrumento cuja aplicação ajuda na reflexão sobre as melhores formas de trabalhar com os alunos. Assim, Braga et al. (2004) referem:

(...) na perspectiva construtivista a planificação passa pela criação de ambientes estimulantes que propiciem actividades que não são à partida previsíveis e que, para além disso, atendam à diversidade das situações e aos diferentes pontos de partida dos alunos. Isso pressupõe prever actividades que apresentem os conteúdos de forma a tornarem-se significativos e funcionais para os alunos, que sejam desafiantes e lhes provoquem conflitos cognitivos, ajudando-os a desenvolver competências de aprender a aprender. (p.27)

Não devendo ser constituir-se como um processo rígido, a planificação deve alterar-se e adaptar-se sempre que necessário, às situações ou necessidades particulares manifestadas pelos alunos, possibilitando aos mesmos, aprendizagens significativas.

A planificação assume desta forma um papel essencial em todo o processo educativo pois, tal como refere Zabalza (2001)

Sem programação não se pode fazer “boa escola”. Porém, para que a programação responda ao seu sentido curricular tem que possuir certas características importantes que afectam tanto o processo da sua planificação como a sua posterior aplicação prática na aula. (p.96)

Este interesse e preocupação pelos alunos, pela organização e pela profissão, irá dar lugar a um ensino mais efetivo, porque nos permite prever com organização os elementos do currículo. Caso contrário, todo este processo seria improvisado e, como tal, deficiente e consequentemente impeditivo da aquisição conhecimentos, destrezas e atitudes pelos alunos.

A planificação é então um processo, um instrumento orientador do trabalho docente.

Zabalza (2000) atribui-lhe uma forma concreta de organizar ideias de forma a atingir um objetivo específico, sustentando que a mesma reflete

um conjunto de conhecimentos, ideias ou experiências sobre o fenómeno a organizar, que actuará como apoio conceptual e de justificação do que se decide;um propósito, fim ou meta a alcançar que no indica a direcção a seguir;uma previsão a respeito do processo a seguir que deverá concretizar-se numa estratégia de procedimento que inclui os conteúdos ou

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tarefas a realizar, sequência das actividades e, de alguma forma, a avaliação ou encerramento do processo. (p. 48)

O modelo de planificação utilizado na metodologia João de Deus assenta no modelo T de Martiniano Pérez. Esta proposta de desenho curricular de aula confere uma visão integral daquilo que o educador vai realizar, quais as competências que tem como objetivo desenvolver nos seus alunos.

É possível visualizar, de uma forma panorâmica e global, integrando, de acordo com o mesmo autor (s.d.) “(…) todos os elementos do currículo e da cultura social e organizacional para ser apreendida na escola ao longo do curso escolar.” (p. 401)

É exibido em seguida no Quadro 5 a estrutura de um plano de acordo com o modelo referido anteriormente:

Quadro 5 – Modelo T de unidade de aprendizagem

CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS – MÉTODOS

CAPACIDADES – DESTREZAS OBJETIVOS VALORES – ATITUDES

Pérez (s.d.) sublinha que

O desenho curricular de aula supõe uma concreção do currículo na aula e portanto contém também estes elementos básicos: capacidades – destrezas, valores – atitudes como objetivos e conteúdos e métodos / procedimentos como meios. Trata-se de desenhar (programar) e avaliar o currículo e a cultura social e institucional na aula para um curso escolar ou um ano escolar.” (p. 38)

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Para elaborar o Modelo T é necessário ter muito claras uma série de breves definições, que são fundamentais para não haver erros graves de desenho e aplicação.

Os conceitos prévios a ter em conta, de acordo com Pérez (s.d.), são:

Currículo: É uma seleção cultural, cujos elementos fundamentais são capacidades – destrezas e valores – atitudes, conteúdos e métodos / procedimentos.

Desenho curricular: Implica a seleção dos ditos elementos e uma planificação adequada dos mesmos para levá-los para as aulas

Capacidade: Habilidade geral que utiliza ou pode utilizar um aprendiz para aprender, cujo componente fundamental seja cognitivo

Destreza: Habilidade específica que utiliza ou pode utilizar um aprendiz para aprender, cujo componente fundamental seja cognitivo. Um conjunto de destrezas constitui uma capacidade.

Atitude: Predisposição estável face a…cujo componente fundamental é afetivo. Um conjunto de atitudes constitui um valor.

Valor: Estrutura-se e desenvolve-se por meio de atitudes. Uma constelação de atitudes associadas entre si constitui um valor. A componente fundamental de um valor é afetiva.

Conteúdo: É uma forma de saber. Existem dois tipos fundamentais de conteúdos: saber sobre conceitos (conteúdos conceptuais) e saber fazer sobre feitos (conteúdos factuais)

Método/Procedimento: É uma forma de fazer.

Inteligência afetiva: Consta das capacidades e valores de um aprendiz.

Cultura institucional: Indica as capacidades e valores, conteúdos e métodos/ procedimentos que utiliza ou que já utilizou uma organização ou instituição determinada. (p.7)

No documento Relatório de estágio profissional (páginas 104-107)

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