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Desenho 19 Desenho de alguém cuidando da saúde da criança elaborado por Dandara

3 MÉTODO

3.1 Fundamentação teórico-metodológica

Este estudo fundamenta-se na Abordagem Histórico-Cultural, tendo Vigotski como referencial teórico-metodológico. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que segundo Minayo (2007, p. 76), “é o que melhor se coaduna a estudos de situações particulares, grupos específicos e universos simbólicos”. Ainda, segundo a autora, “é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam” (MINAYO, 2007, p. 57). É neste caso que o presente estudo se insere.

Segundo Fava, Nunes e Gonçalves (2013) o homem, sendo um ser histórico e constituído a partir da cultura em que se insere, tem a linguagem como elemento mediador e é capaz de planejar a sua ação; no método de investigação essa capacidade deve ser utilizada no que diz respeito ao planejamento e à ação na pesquisa como um todo.

O método de pesquisa é visto pela ciência moderna como a chave para o conhecimento, separado da teoria e dos resultados para os quais existe e é constituído historicamente “como algo a ser aplicado, um meio funcional para um fim, de caráter basicamente pragmático ou instrumental” (NEWMAN; HOLZMAN, 2002, p. 47).

Vigotski (1998), em sua discussão acerca da questão do método de pesquisa, apoiou-se no materialismo histórico-dialético de Karl Marx, contrapondo-se ao método das Ciências Naturais que explicava o comportamento humano e ao método das Ciências Mentais que visava a descrever a consciência do homem. Segundo Barros et al. (2009),

Uma questão central para esse debate é que, segundo Vygotsky, nenhuma das principais tendências vigentes no seu tempo lograva buscar uma explicação para o que há de especificamente humano no ser humano a partir da sua própria condição. (p. 177)

Nesse sentido, Vigotski (1998) propôs explicar a consciência e o comportamento humanos, relacionando-os às mudanças históricas. Assim, mostrou a importância de se estudar a unidade sem desconectá-la do todo, estudar o homem nas suas especificidades caracterizando aspectos tipicamente humanos do comportamento: as funções psicológicas superiores.

O autor traz contribuições para a pesquisa qualitativa, à medida que aponta o quão relacionados são o método de pesquisa e o referencial teórico que o norteia. O referencial

deve perpassar o estudo, assim como o método; tanto a construção quanto a análise dos dados devem ser feitas de acordo com esse referencial.

Newman e Holzman (2002) corroboram quando dizem que o método é algo prático, tanto quanto o objeto de estudo; a pesquisa é uma atividade prático-crítica, revolucionária, uma práxis.

Segundo esses autores, o foco da investigação psicológica nunca está somente no objeto, mas, em tudo o que está à volta dele; por isso afirmam ser impossível, numa investigação de cunho social, generalizar para a vida diária algo que foi produzido em um laboratório; eles corroboram Vigotski ao atentarem para a questão social da pesquisa e, ao enfatizarem, no autor, a primazia pela busca da unidade de análise adequada do estudo, distinguindo essa unidade, para se ter uma psicologia ecologicamente válida, como sendo não o indivíduo, mas a “interface pessoa-ambiente” ou o “cenário” de investigação. Isso trouxe um novo modelo de investigação para a psicologia: o laboratório psicológico não é somente um ambiente ou um lugar, mas sim uma metodologia (NEWMAN; HOLZMAN, 2002).

Zanella et al. (2007) resumem, nessa discussão em que a construção do método é de suma importância, os caminhos pontuados por Vigotski (1998):

“Análise do Processo ao Invés do Objeto/Produto” - é necessário analisar o processo histórico em que o objeto (sujeito) do estudo está inserido: o homem é o objeto de estudo da pesquisa qualitativa e, sendo histórico-cultural, é construído historicamente; portanto, devemos analisá-lo enquanto processo, um ser em transformação, e não como um dado pronto;

“Análise Genotípica ao Invés de Fenotípica” - é preciso fazer uma análise genotípica e não fenotípica desse objeto de estudo: o “dado” é o resultado do processo que se constitui histórica e socialmente na complexidade das relações, portanto olhar a sua origem e não somente o que ele aparenta ser. É o que Vigotski (1998) aponta como o problema do comportamento fossilizado;

“A contraposição das tarefas descritivas e explicativas de análise” - é importante descrever o fenômeno, mas, ainda mais importante é explicar ao analisar os “dados”. A descrição é importante, mas não é suficiente, sendo necessário explicar as relações contextuais em que está baseado o fenômeno pesquisado. Assim, Vigotski (1998) aponta para as unidades de análise que dizem respeito às características e propriedades concretas do fenômeno analisado, sem que elas se percam do todo, do contexto de que fazem parte.

Newman e Holzman (2002) destacam a dimensão do pesquisador como um “ferramenteiro”que cria a totalidade instrumento-e-produto, construindo sua ferramenta, o

método, durante todo o processo de pesquisa. Destaca-se que uma das ferramentas desta pesquisa são os processos pelos quais se chegam aos significados construídos pelos sujeitos – muitas vezes em conjunto com o pesquisador – e interpretados de acordo com o referencial teórico e visão de mundo. O processo de significação é contínuo e ocorre na mediação do sujeito com o mundo; por isso, a pesquisa não tem de ser um fim em si mesma, mas o ponto de partida para mudanças.

Portanto, no desenvolvimento do estudo, o pesquisador transforma sua forma de pensar, implicando a mudança no pensamento do participante; a pesquisa, nesse sentido deve ser uma atividade revolucionária, que, mediada pela linguagem, é capaz de provocar transformações em ambos (FAVA; NUNES; GONÇALVES, 2013).

Esta pesquisa tem como material empírico a ser analisado, desenhos – e histórias sobre eles, realizados por crianças. Ferreira (2001, p. 41), embasada na Abordagem Histórico- Cultural, afirma que “[...] a imaginação é um produto social [...]” e o desenho da criança é uma figuração que se constitui em uma atividade mental resultando na interpretação de sua cultura e da realidade construída através de conceitos. As experiências vividas pela criança são recriadas através da imaginação, modificando a realidade presente, projetando nela os seus significados (FERREIRA, 2001).

Assim, em uma pesquisa com crianças, os desenhos figurados por elas propiciam a compreensão sobre significados atribuídos à saúde e como estes se relacionam à formação de conceitos sobre o tema.

Nesse sentido, Vigotski (1998) ressalta que o método na pesquisa é o próprio produto e o processo de transformação, sendo importante considerar o aspecto histórico como processo de mudança. Na Abordagem Histórico-Cultural, a história não é o pano de fundo, mas o próprio foco da pesquisa, porque é onde estão sendo construídos os processos. Essa construção afeta os sujeitos e afeta o investigador, transformando-os e deixando sempre uma inquietação, um devir. Assim, o pesquisador deve perceber-se parte de sua pesquisa já que ele intervém e é também modificado nesse processo; portanto, não há neutralidade na pesquisa.

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