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Desenho 19 Desenho de alguém cuidando da saúde da criança elaborado por Dandara

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceito de saúde e promoção da saúde

2.3.3 Imaginação e criação

Outro ponto fundamental a se destacar é a importância atribuída por Vigotski (2009b) às atividades de imaginação e criação. Quando o homem cria algo novo, está executando sua atividade criadora. Segundo o autor, o cérebro humano dispõe de duas funções que permitem a adaptação do homem no mundo através de seu comportamento: a atividade reprodutiva e a atividade criadora. A atividade reprodutiva faz com que o homem conserve uma experiência anterior, facilitando sua adaptação ao mundo em que vive. A atividade criadora é a que resulta em novas imagens e ações combinadas e reelaboradas dessa experiência passada. Nesse sentido, a imaginação é a base de qualquer atividade de criação que está presente na cultura; tudo o que existe foi criado pelas mãos humanas, através da cultura e é produto dessa imaginação.

Ao contrário do que se pensa, a criação existe e é a capacidade de qualquer pessoa e não só dos grandes nomes da arte, da música, da ciência, mesmo porque a maioria “de tudo o que foi criado pela humanidade pertence exatamente ao trabalho criador anônimo e coletivo

de inventores desconhecidos” (VIGOTSKI, 2009b, p. 16). É desse modo que a criança cria a partir de algo que já vivenciou; antes, porém traz sempre algo novo e não uma simples reprodução da realidade que observou.

Vigotski (2009b) afirma que a criação desenvolve-se lentamente e é produto do acúmulo de experiências e existe de forma característica em cada período da infância. Sendo assim, no mecanismo da imaginação, há uma relação entre realidade e fantasia, já que elas não se separam e fazem parte do comportamento do homem. A imaginação é uma função vital ao ser humano.

Para o autor, a atividade de desenhar é uma forma importante de criação na primeira infância. Porém, através do desenho é possível perceber que o desenvolvimento da imaginação diverge do desenvolvimento da razão pelo simples fato de que a autonomia que a criança apresenta em relação à imaginação denota a pobreza da fantasia infantil. A criança imagina menos que o adulto e é capaz de inventar mais do que ele. Assim, quanto mais ricas experiências o sujeito possui, maior será a sua capacidade de imaginação.

No que diz respeito à criança pré-escolar, que se relaciona com adultos e com objetos que circundam sua vida, há uma ampliação em sua consciência em relação à realidade em que se insere, apropriando-se dos significados da cultura. “A figuração é uma das formas de apropriação da realidade e permite a manipulação das imagens dos objetos reais” (FERREIRA, 2001, p. 44). Essa figuração que se representa no desenho tem significado que reflete a cultura e o desenvolvimento intelectual da criança, na medida em que se constitui em um produto de sua atividade mental e, quanto maior o contato da criança com ambientes culturais privilegiados, mais será capaz de realizar figurações e guardar imagens mentais (FERREIRA, 2001).

Segundo Vigotski (2009b), o desenhar infantil passa por rupturas e é caracterizado por quatro marcos em seu desenvolvimento: 1 – no primeiro estágio, a criança desenha de forma esquemática e representa o objeto bem diferente de sua forma real e fidedigna, além de desenhar de memória, não por observação, o que lhe parece mais importante, dando um caráter de inverossimilhança ao desenho, sem se preocupar com a semelhança exata com o real e vai falando sobre ele durante a figuração – os desenhos de Raios x, em que a criança vai sobrepondo elementos, desenhados de memória, ao personagem que figura, são característicos desse estágio; 2 – no segundo estágio, surge o sentimento da linha e da forma, e a criança sente necessidade em demonstrar as relações entre as partes do desenho que ainda se constituem em esquemas, representando os rudimentos da realidade, caracterizada pela disposição um pouco mais verdadeira das partes do objeto; 3 – no terceiro estágio, o desenho

já apresenta uma verossimilhança em sua representação, e o esquema desaparece completamente, porém o objeto desenhado ainda é disposto em plano, sem perspectiva; 4 – no quarto estágio, a criança já evolui para a representação plástica do objeto, representando as partes em relevo, com luz e sombra, com perspectiva, transmitindo movimento com o maior grau de realidade possível. Assim, o conteúdo e o caráter do tema do desenho não interferem na representação do mesmo, pois esta se relaciona à evolução pela qual a criança passa em cada estágio. Segundo o autor, as crianças de 6 anos estão no primeiro estágio da evolução do desenho.

Lembrando o que Mukhina (1995) afirma sobre os períodos do desenvolvimento infantil: as etapas do desenvolvimento biológico não coincidem com o desenvolvimento por idade que tem origem histórica. A duração da infância e a preparação para o trabalho social, bem como as formas em que se dão essa preparação, dependem de condições sociais e históricas.

Dessa forma, os estágios do desenho infantil também passam por essas condições sociais e históricas, podendo uma criança apresentar um desenho em diferentes estágios de desenvolvimento, dependendo dessas condições.

Como já visto, a criança, de início, desenha de memória, portanto o que conhece e não o que está vendo no momento da realização do desenho. Por isso, o desenho infantil, muitas vezes, não condiz com o que o objeto significa na realidade. Ela não está preocupada com que o desenho se pareça com algo e faz apenas indicações superficiais do objeto representado. Para a criança, “o desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal (VIGOTSKI, 1998, p.149), já que, para desenhar, a criança libera sua memória, contando uma história; isso contém alguma abstração imposta pela fala. Desse modo, a fala é o elemento determinante no desenvolvimento tanto do desenho quanto da escrita da criança (VIGOTSKI, 1998).

O autor ainda afirma que

[...] crianças pequenas dão nome a seus desenhos somente após completá-los; elas têm necessidade de vê-los antes de decidir o que eles são. À medida que as crianças se tornam mais velhas, elas adquirem a capacidade de decidir previamente o que vão desenhar. Esse deslocamento temporal do processo de nomeação significa uma mudança na função da fala (VIGOTSKI, 1998, p. 37).

Vigotski (1998) acredita que, apesar de a criança reconhecer o que desenha desde cedo, ela ainda não atribui uma função simbólica ao desenho, encarando-o como um objeto e não a sua representação. Outras funções psicológicas, tais como a imaginação e a figuração

em conjunto com a realidade do dia a dia da criança, são mediadas pela linguagem, fundem-se e compõem o desenho do que é percebido pela criança (FERREIRA, 2001).

Vigotski (2009b) salienta que é importante que a criação artística da criança, incluindo o desenho, siga o princípio da liberdade, condição primeira para qualquer tipo de criação.

Assim, a teoria vigotskiana traz o aporte necessário para esta pesquisa, com base nos estudos sobre as significações de saúde, mediação, formação de conceitos, imaginação e criação, elementos que contribuíram tanto para a interpretação como para a própria construção dos dados a serem analisados.

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