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2. Conceção da ação educati va

2.2. O contexto da Prática de Ensino Supervisionada em 1º Ciclo do Ensino

2.2.2. Fundamentos da ação educativa no 1º Ciclo do Ensino Básico

Em relação ao modelo pedagógico utilizado pela professora Paula, posso referir que não segue nenhum em particular, no entanto, apresenta alguns instrumentos de pilotagem do Movimento da Escola Moderna (MEM), entre eles, o mapa de tarefas, o mapa de presenças e o mapa do tempo. Segundo Niza (1996:156) citado por Folque (2014, pág. 55), os instrumentos de pilotagem baseiam-se na ação de documentar os acontecimentos do grupo, dando ao educador/professor e às crianças o poder de “orientar/regular (planear e avaliar) o que acontece (individualmente e em grupo) na sala”, ou seja, através destes instrumentos, tanto as crianças como o professor têm a oportunidade de avaliar e, com base nessa avaliação, planear o que fazer a seguir e a forma como o fazer. Irei agora, explicitar cada um dos instrumentos de pilotagem utilizados na sala onde desenvolvi a minha prática, bem como o modo como contribuíram para a aprendizagem do grupo. Neste sentido, o mapa de presenças (imagem 8) consiste numa tabela mensal de dupla entrada, onde, nas colunas, estão presentes os dias da semana e o mês em questão e, nas linhas, o nome de todas as crianças. Na minha opinião a diferença encontrada entre o mapa de presenças do 1º Ciclo e o mapa de presenças do pré-escolar, salienta-se pela forma como as presenças são marcadas. No pré-escolar, as crianças, à medida que vão chegando à sala, deslocam- se ao mapa e marcam a presença. Já no 1º Ciclo, existe um aluno responsável por essa tarefa e que o faz num determinado momento do dia, assinalando as presenças e as faltas de todos os colegas. Esta tarefa está inserida no mapa de tarefas da sala que abordarei mais à frente no presente capítulo. Ao fim da semana, era possível ver que as crianças se dirigiam até ao mapa de presenças e visualizavam quantas vezes tinham faltado, gerando aprendizagens na área da matemática, pois, uma vez, uma aluna, por motivo de doença faltou a semana toda, e os colegas referiam várias vezes que a M. tinha faltado às aulas cinco dias (uma semana), outras vezes, as crianças referiam que um colega tinha faltado dois dias numa semana (de segunda a sexta-feira) com cinco dias, tendo ido à escola apenas três dias.

58 Imagem 8 – Mapa de presenças

Imagem 9 – Mapa de tarefas

O mapa de tarefas (imagem 9) dá às crianças a oportunidade de se responsabilizarem pelo cumprimento de diversas tarefas essenciais ao desenvolvimento da atividade escolar, entre elas, registar as presenças, registar e distribuir o leite, distribuir e recolher manuais e cadernos, recolher e registar os tpc’s, registar os estados de tempo, distribuir sandes. A cada duas semanas, os alunos poderiam, em conjunto com a turma, autoavaliar/avaliar a sua prestação enquanto encarregados por determinada tarefa. Esta autoavaliação/avaliação era registada através de “smiles”: o verde correspondia a “cumpriu sempre bem”, o amarelo a “umas vezes cumpriu, outras vezes não e por vezes foi lembrado” e, por fim, o vermelho correspondia a “não cumpriu mesmo quando foi lembrado”. As aprendizagens que advém desta situação são a autonomia possibilitada às crianças pela responsabilização e realização de determinada tarefa, bem como a questão da autoavaliação, do tomarem consciência daquilo que fizeram, se foi bem ou menos bem conseguido e o seu porquê.

59 Imagem 10 – Mapa do tempo

O mapa do tempo (imagem 10) é semelhante a uma folha de calendário, onde é colocado o mês, a estação do ano e os dias da semana (de domingo a sábado). Os responsáveis por este mapa teriam de colocar o dia e o tempo que estava (se estava sol, sol com nuvens, neve, chuva, vento, nuvens). Considero que este mapa dá às crianças a noção do que é o estado do tempo, bem como o que é um calendário e para que serve, sendo que não eram apenas os responsáveis que contribuíam para o seu preenchimento, mas também toda a turma que os ia ajudando.

Ao longo da minha prática não introduzi nenhum momento, pois, em conversa com a professora Paula, fiquei a saber que numa fase mais avançada iria implementar o plano do dia, ou seja, através da conversa com os alunos, a docente iria apresentar a planificação feita anteriormente e, através do diálogo, chegar-se-ia a um acordo sobre o que seria aprendido e as atividades que seriam realizadas. Considero que este será mais um aspeto que contribui para a questão da democracia existente na sala, permitindo que todos deem a sua opinião, todos oiçam e expliquem o porquê das suas decisões.

2.2.3. Organização do espaço e do tempo

Pensamos o espaço como um território organizado para a aprendizagem. (…) Um lugar para aprender porque dá acesso aos instrumentos culturais. Este conceito de espaço como lugar de encontro e de habitar conduz-nos à ideia de espaço(s) pedagógico(s) como lugar(es) que integra(m) intencionalidades

60 Imagem 11 – Sala de aula onde desenvolvi a PES

múltiplas: ser e estar, pertencer e participar, experienciar e comunicar, criar e narrar.

(Júlia Oliveira-Formosinho (2011), O Espaço e o Tempo na Pedagogia em

Participação)

A citação acima descrita mostra o que o espaço na educação de infância, em geral, deve ser, pois é neste espaço que as crianças, ao longo de vários anos vão aprender, trocar experiencias, vão sentir que aquele espaço é delas. Por isso, considero que a organização do espaço e os materiais escolhidos para os mesmos devem ser pensados para as crianças e com as crianças, na medida em que, podem participar na sua organização.

Neste sentido, a sala onde desenvolvi a minha Prática de Ensino Supervisionada, está localizada no piso inferior (rés-de-chão). É uma sala espaçosa (imagem 11), com grandes janelas (o que permite que exista uma boa iluminação natural) e uma porta, também ela de vidro, que dá para o exterior (uma espécie de quintal, delimitado por muros altos).

Ao longo de 13 semanas de Prática de Ensino Supervisionada, foram várias as vezes que a disposição da sala se alterou. Inicialmente, a organização das mesas e cadeiras encontrava-se em forma de “U”, no entanto, o 1º e 2º ano encontravam-se misturados, o que dificultava o conhecimento das crianças. Posteriormente, existiu uma separação entre os dois anos de escolaridade, ficando o 1º ano disposto em forma de “U” e o 2º ano também organizado em forma de “U”. Por fim, o 1º ano sofreu uma pequena alteração, ficando sempre com a mesma disposição e o 2º ano ficou em “semi- U”, pois existiu a necessidade de todos os alunos do 2º ano ficarem juntos apoiando-se mutuamente.

61 Considero que estas alterações se revelaram fundamentais para o bom funcionamento das aulas e dos grupos, não impedindo a troca de experiências, a partilha de saberes e a entreajuda entre alunos e entre professora e alunos.

A sala apresenta também dois placards, um atrás da secretária da professora e outro no fim da sala.

Pretendo mencionar que ambos os placards se encontravam vazios no início da minha prática, no entanto foram sendo compostos. Contudo, o placard que se encontra atrás da secretária da professora começou por servir de mural para se colocarem frutos relacionados com a estação do ano em que se estava, neste caso, outono. No entanto, como o quadro de ardósia é pequeno e quando eu o estava a utilizar com o primeiro ano e a professora necessitava de explicar alguma coisa ao segundo, tornava-se bastante complicado conseguirmo-nos conciliar. Desta forma, em conversa com a professora titular da turma decidiu-se que seria fundamental a existência de outro quadro na sala. Por isso, o placard situado atrás da secretária da professora ficou tapado com o novo quadro, servindo apenas para colocar informações importantes e o horário da turma.

No segundo placard, estão expostos o mapa do tempo, o mapa de tarefas, o mapa do comportamento, o registo dos trabalhos de casa (todos ao alcance das crianças), cartazes informativos acerca da reciclagem e da necessidade de a fazer e ainda cartazes relativos às letras já aprendidas bem como alusivos às listas de palavras (imagem 12).

Podemos ainda encontrar quatro armários onde pode ser guardado todo o material escolar, como os livros escolares, folhas brancas para trabalhos, réguas, colas, tesouras, materiais de expressão plástica, entre outros e ainda uma pequena biblioteca de

62 turma, onde podemos encontrar livros de histórias, informativos, enciclopédias, entre outros. (imagem 13).

Como referi anteriormente, a sala dispõe ainda de três quadros, um de ardósia, um interativo e um de caneta, existe ainda, um computador e um projetor ligado ao quadro interativo, que pode ser usado para pesquisas, apresentações ou até mesmo para a exposição das aulas. Ao longo da minha prática este material (computador/quadro interativo) foi bastante utilizado, pois considero que é um importante recurso na aprendizagem das crianças, visto puderem ser elas a realizarem a atividade proposta diretamente no local onde é para ser elaborada, ou até mesmo para realizarem jogos relativos a partes da matéria, tornando as aulas mais interativas, mais apelativas e mais dinâmicas.

Em relação à organização dos alunos na sala, estes ocupam sempre o mesmo lugar, havendo apenas alterações por mau comportamento, ou seja, quando a forma de estar na sala de aula começa a perturbar o trabalho dos restantes colegas, por realização de provas de avaliação ou por trabalhos de grupo. Este último, tornando-se mais visível no primeiro ano do que no segundo ano e no trabalho de projeto.

No que diz respeito à organização do tempo este encontra-se descrito num horário (tabela nº 4) e dividido em blocos de tempo mais pequenos. Estes horários já vêm feitos do agrupamento e na minha perspetiva são um ponto negativo na aprendizagem das crianças visto que, muitas vezes têm no primeiro período da manhã uma disciplina e no segundo período da manhã outra disciplina (por exemplo, das 09:00h-11:30h têm Português e das 11:30h-12:30h têm Matemática) gerando assim uma

Imagem 13 – Armário para arrumação do material escolar

63 aprendizagem pouco produtiva pois não se consegue aprender e ensinar tudo o que se pretende num curto espaço de tempo. Contudo, a professora cooperante sempre me disse que raramente se consegue seguir o horário à risca, visto que não convém deixar- se uma matéria a meio, conseguindo-se interligar muitas vezes a diferentes matérias com as diferentes áreas curriculares.

Horas Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

09:00-10:00 ING MAT PORT MAT MAT

10:00-11:00 PORT MAT MAT MAT PORT

11:00-11:30 Intervalo

11:30-12:30 PORT PORT MAT PORT PORT

12:30-14:00 Almoço

14:00-15:00 MAT EM ING EM OC

15:00-16:00 AE EM EM EX. MUS. AE

16:00-16:30 Intervalo

16:30-17:30 EFM/ED AFD EX. PLÁS. AMB AFD

Tabela nº 4 – Horário escolar da turma

O presente horário era cumprido sempre que possível e alterado pela professora ou por mim, sempre que existia a necessidade de o fazermos ou quando ocorria algum imprevisto ou alguma atividade alheia à sala.

Assim, na segunda-feira de manhã, iniciávamos com uma conversa acerca dos acontecimentos acontecidos durante o fim-de-semana. Notava uma grande necessidade por parte das crianças, sobretudo de primeiro ano, em contar as suas novidades, mostrando que o pré-escolar teve grande influência nas suas vidas e que queriam continuar com algumas dessas rotinas. Após este momento, passávamos para o tempo letivo de português, onde por norma, se iniciava uma letra (no caso do primeiro ano) e se iniciava uma matéria diferente (no caso do segundo ano). Depois do intervalo da manhã o tempo era utilizado para realizar exercícios e atividades acerca da matéria lecionada anteriormente. Durante a tarde passávamos para o tempo letivo de matemática, onde era trabalhado o ensino exploratório da matemática, o qual dava autonomia aos alunos, que em grupo discutiam formas de resolver o problema proposto. No tempo das expressões dirigíamo-nos para o espaço exterior, para que as crianças

64 pudessem estar num espaço sem limitação de espaço, onde pudessem desenvolver as mais diversas atividades de forma mais lúdica.

Na terça-feira, iniciávamos com matemática, onde por norma eram introduzidos novos conteúdos programáticos, quer no primeiro ano, quer no segundo. Após o intervalo dávamos início ao tempo de português, onde eram consolidados os conteúdos iniciados no dia anterior. Para esta consolidação tentava sempre fazer jogos, para que as crianças vissem que se pode aprender a brincar, sem ser com o tipo de aula mais expositivo por parte do professor. Durante a tarde, no tempo letivo de estudo do meio, realizávamos trabalho de projeto, no qual os grupos eram compostos por crianças de primeiro e segundo ano, por considerar que lhes dá mais autonomia e mais espírito de entreajuda, pois era frequente ver-se os alunos de segundo ano com um espírito muito protetor e de ajuda aos alunos de primeiro ano.

A quarta-feira de manhã era utilizada para trabalhar questões de oralidade através da audição de textos, tanto para a turma de primeiro ano como para a de segundo ano, sendo que esta atividade estendia-se por vezes para o tempo de matemática. Durante a matemática, realizávamos atividades de consolidação dos conteúdos lecionados anteriormente e aproveitávamos para rever todos os conteúdos aprendidos. Após o almoço, como as crianças tinham AEC de inglês, eu e a professora Paula juntávamo-nos para planificar e corrigir alguns trabalhos dos alunos. Na aula de estudo do meio, dávamos continuidade ao trabalho de projeto, normalmente ocupado pela pesquisa na biblioteca escolar. Não tive oportunidade para assistir às aulas de expressão plástica, pois à hora que estava marcada no horário, tinha aulas na Universidade.

Na quinta-feira, aproveitávamos os dois tempos de matemática para a resolução de problemas individualmente ou em pequenos grupos, de forma a podermos ver em que ponto é que estão e como poderíamos ajudar nas dificuldades e dúvidas das crianças. No tempo letivo de português eram iniciados novos conteúdos, sempre com revisão de matérias já lecionadas para que fossem recordando e fazendo ligações com a matéria lecionada no dia. Durante a tarde, fazíamos trabalho de projeto e tínhamos aula de expressão musical, uma aula, onde se notava que as crianças se sentiam libertas e com uma grande capacidade de reter, de uma semana para a outra, novas músicas aprendidas.

65 Na sexta-feira, costumávamos fazer um “apanhado” geral do que aconteceu ao longo da semana, bem como dos conteúdos abordados, aproveitávamos também para introduzir novos conceitos. Neste dia contávamos com a presença da professora Sumaia, que dava apoio a duas crianças de segundo ano, que eram levadas para uma outra sala. Considero que teria sido benéfico se esse apoio fosse dado na sala onde todos os dias estavam, pois podiam estar com os colegas e através das suas interações talvez compreendessem melhor o que estava a ser explicado e lecionado. Durante a tarde, era o tempo da educação literária, onde se lia para as crianças uma das obras presentes no Plano Nacional de Leitura. Essas obras eram expostas através do projetor, para além de se ter o objeto livro na sala. Por norma, liam-se um/dois capítulos e trabalhava-se muito os conteúdos presentes neles, também como forma de treinar a compreensão de textos. Em relação aos lanches, estes eram sempre na sala, por isso cinco/dez minutos antes de tocar a campainha parávamos o que se estava a fazer e as crianças podiam ir à casa de banho fazer a sua higiene e lanchar.

Considero que o tempo passado na sala de aula, deve ser um tempo de qualidade, onde as crianças possam ser autónomas na realização das mais diversas atividades, mas que ao mesmo tempo sentissem que eram apoiadas pelos adultos.

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3. Metodologia

Ao longo deste capítulo irei referir e descrever a metodologia utilizada na investigação realizada ao longo de toda a Prática de Ensino Supervisionada, tanto em Educação Pré-Escolar, como em 1º Ciclo do Ensino Básico, nos quais recorri a metodologias de carácter qualitativo.

Para que pudesse dar resposta aos objetivos explicitados mais à frente no presente capítulo, senti a necessidade de investigar e recorrer a instrumentos de pesquisa e materiais que me ajudassem a verificar se os objetivos tinham sido cumpridos ou não. Também o facto de me encontrar no papel de educadora/professora investigadora (relativa à questão da investigação-ação) me ajudou, no sentido em que me permitiu refletir sobre o trabalho realizado, permitindo-me organizar o meu trabalho à medida que ia recolhendo dados. Segundo Alarcão (2001, p. 6) “Ser professor-investigador é ser capaz de se organizar para, perante uma situação problemática, se questionar intencional e sistematicamente com vista à sua compreensão e posterior solução”, ou seja, o facto de se estar no papel de professor e, ao mesmo tempo, no papel de investigador, faz com que, perante diversas situações problemáticas se consiga questionar de forma intencional o que aconteceu e como se poderá chegar à sua resolução.