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Fundamentos para uma intervenção de educação patrimonial e cultural

No documento Avenida Luisa Todi, do rio á cidade (páginas 62-65)

3. O Projecto de Intervenção Museológica

3.1. Fundamentos para uma intervenção de educação patrimonial e cultural

No processo de pesquisa e investigação para o presente projecto, foram realizados registos sobre as diferentes intervenções e/ou projectos, e acções que anteriormente visaram informar, sensibilizar e envolver a população residente e/ou visitante relativamente ao espaço. Conclui-se, no entanto, que estas se revelaram pouco significativas quanto à sua interpretação enquanto conjunto, apresentando - se como intervenções meramente pontuais, apesar de terem constituído importantes referências para a conservação e preservação do edificado existente. Ao nível da educação patrimonial, relacionaram-se junto de públicos-alvo específicos e pouco abrangentes

Apresentar uma metodologia adequada a projectos de intervenção no património é também o objecto do presente projecto, numa perspectiva experimentalista, com a investigação histórica, a reflexão sobre a salvaguarda e protecção do património local, a definição de mecanismos de conservação e restauro do património arquitectónico, e a educação para o património, através da sua difusão e didáctica71.

Tendo sido analisado o relatório final do Programa Polis, conclui-se que a macro intervenção pretendeu valorizar a frente ribeirinha da cidade e consequentemente a avenida. Esta carece, no entanto, de um projecto que promova as dinâmicas sociais e culturais que por sua vez dinamizem esta artéria da cidade. A intervenção na Avenida Luísa Todi, de carácter funcional e de valorização paisagista, carece no entanto de referências materiais e imateriais enquanto conjunto patrimonial, das memórias da avenida e sua relação com a cidade.

O Programa Polis definiu outras áreas de intervenção prioritária, entre as quais a avenida, o Parque Urbano de Albarquel, a valorização das docas, e a futura Praia da Saúde, entre outras áreas.

No trabalho de pesquisa e investigação, junto do Museu de Setúbal, refiram-se as publicações, os folhetos e desdobráveis produzidos nos últimos anos, relacionados com a temática da avenida. O levantamento dos factos históricos e a caracterização patrimonial do espaço, propostas de percursos, assim como intervenções ao nível da educação patrimonial, foram realizados pela Dra. Francisca Ribeiro.

No Quadro 11, registam-se as intervenções de carácter museológico, realizadas no espaço objecto de estudo.

71 Ver Jaume Sureda Negre , Interpretacion de Patrimonio – Diseno de programas de âmbito municipal, Páginas 20 a 26.

54 Quadro 11 – Acções de investigação, estudo e divulgação da Avenida Luísa Todi

Projecto/Programa/ Intervenção Tipo de Intervenção

Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal

Estudos e registos diversos sobre os achados arqueológicos ao longo da avenida e da zona ribeirinha da cidade

Departamento de Centro Histórico da Câmara Municipal de Setúbal

Classificação do património de interesse municipal e publico, identificação do edificado, realização de percursos na avenida – cidade

L.A.S.A. – Liga de Amigos de Setúbal e Azeitão

Pequenas publicações sobre o património material e imaterial da área em estudo

Câmara Municipal de Setúbal Departamento de Centro Histórico Departamento de Arquitectura e Urbanismo

Elaboração do Plano de Pormenor para a Avenida Luísa Todi, em desenvolvimento. Plano a desenvolver pelo Arquitecto Valter Rossa.

Para a realização do projecto de intervenção museológica, e como diagnóstico do espaço, foi realizada e uma “análise swot”, com o objectivo de definir os potenciais do mesmo, tendo em vista uma acção e ou intervenção.

No Quadro 12, observamos as características do espaço, as ameaças e fraquezas no presente período, e as oportunidades face à implementação de um projecto de intervenção.

Quadro 12 – Análise “Swot” para o Projecto de Intervenção Museológica na Avenida Luísa Todi

Forças/ Oportunidades Fraquezas/ Ameaças

FORÇAS FRAQUEZAS

.Existência de património arquitectónico e urbanístico com referências históricas fortes no espaço em estudo;

. Importância da artéria/espaço na cidade, como

“interland” entre a cidade, o porto e o rio;

. Memórias orais e escritas, e de imagem, existência de diversos registos em arquivo;

. Forte afluência e vivência no local por parte da população residente e visitante;

. Fortes relações do espaço com a sua envolvente, com estruturas culturais e sociais diversificadas;

. Existência de um comércio tradicional, dinamizador social e financeiro do espaço.

. Existência de um espaço descaracterizado em termos de valorização da arquitectura e do seu património;

. Inexistência de estratégia ou visão globalizante por parte das entidades gestoras para a dinamização do espaço em termos sociais, culturais, e financeiro/económico;

. Fraca envolvência por parte da população residente e visitante relativamente aos diversos referenciais do espaço.

OPORTUNIDADES AMEAÇAS

. Valorizar o espaço através da criação de diversas estruturas sociais e culturais, atraindo a população

. Desvalorização do espaço por parte dos residentes, comerciantes e visitantes;

55 residente e visitantes, geradores de dinâmicas,

receitas para a sustentabilidade das intervenções/

projectos;

. Reflectir sobre a preservação das memórias escritas e orais do espaço, criar condições físicas para a sua inventariação, estudo e exposição junto do público;

. Criar um espaço museológico interpretativo do espaço em estudo, um espaço expositivo e de reflexão, com o objectivo de valorizar a “ arqueologia”

da arquitectura e do património urbanístico,

. Desvalorização do espaço em termos sociais e comerciais;

. Perca de suportes, dados e testemunhos, ou compilação sobre a história do espaço nos últimos cem anos, e na contemporaneidade do mesmo.

Analisando o Quadro 12, e realizando uma avaliação sobre o mesmo, concluímos que a avenida reúne as condições suficientes e favoráveis a uma intervenção, através de um projecto pluridisciplinar, justificando-se deste modo um programa de acção e educação patrimonial.

Informar e estabelecer novas relações de identidade das populações com o “seu” urbanismo e arquitectura, nos seus domínios sócio - culturais, é o objecto deste programa tendo em vista os futuros elos de cidadania entre a população e o seu património.

3.1.1. Estratégias e conceitos base para a intervenção

O trabalho de curadoria realizado sobre o espaço, através de uma observação atenta sobre as suas dinâmicas, assim como os diversos registos realizados, escritos e gráficos, e a sua interpretação, apresentaram indicadores para a definição de estratégias e de conceitos base do programa.

A fundamentação histórica, a sociológica, a urbanística e a arquitectónica seleccionaram em si os objectivos desta intervenção, eixos de programação face às sub-temáticas e conteúdos expositivos que se pretendem desenvolver e proporcionarem importantes veículos de comunicação para o envolvimento dos públicos com o programa.

Tivemos como base de interpretação as dinâmicas culturais pré-existentes na avenida, revelando - se esta, desde a sua formação, um “palco” de acontecimentos sociais, políticos, e culturais. Conclui-se que as actividades de lazer foram uma constante na vida deste espaço, a referência às artes é visível pela homenagem que a cidade faz aos seus poetas, pintores, cantores e actores.

A interpretação da avenida através dos seus autores locais, da visão fotográfica do setubalense Américo Ribeiro à pintura do pintor setubalense João Vaz, podemos neste contexto seleccionar

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os elementos conceptuais para o conceito base deste programa: a narrativa e interpretação do espaço urbano.

A observação destas constantes nos registos curatoriais, a perspectiva da cidade através das artes, nomeadamente da fotografia, definiram também opções para a comunicação do projecto.

A visão das artes e a representação do espaço pelos autores irão ser utilizadas como “suporte”

de comunicação dos conteúdos expositivos, constituirão uma estratégia na envolvência dos públicos alvo e fomentarão perspectivas e visões individuais e ou de grupo sobre o espaço.

A interpretação da avenida, através do olhar do fotógrafo Américo Ribeiro, na utilização dos seus registos fotográficos, patentes no arquivo do mesmo autor, na Casa de Bocage, serão um alvo expositivo por parte do presente programa.

Nesta perspectiva, o projecto apresentará vários “suportes” de comunicação e informação, tendo em vista a interpretação do espaço, numa perspectiva interactiva, através de exposições, percursos, debates e palestras.

No documento Avenida Luisa Todi, do rio á cidade (páginas 62-65)