• Nenhum resultado encontrado

4.2 Sobre a Escola ECIBA

4.2.1 Os Fundamentos

Como foi descrito anteriormente a Capoeira Angola possui características e

formas de organizar os seus fundamentos, que dependem do mestre, da sua linha-

gem e de seu entendimento. Será exposto aqui como se organizam os fundamentos

da Capoeira Angola na Escola ECIBA, a partir de muita discussão e reflexões. Além

disso, é importante colocar que as formas de fazer estão sempre em movimento,

não é uma coisa fechada, mas é preciso ter a base, é preciso organizar o que é fun-

damental para aprender essa arte, por isso o nome de fundamentos.

Os fundamentos são organizados em sete itens sendo eles: A História do Brasil,

a Musicalidade dos Instrumentos, a Fabricação dos Instrumentos, a Poesia Cantada,

a Coreografia e os outros dois não são ensinados para quem está iniciando, apenas

para os formados.

História do Brasil

Para estudar a capoeira é necessário conhecer a história do Brasil, pois ela

aparece em diferentes regiões contestando a ordem imposta, isso está na raiz. A

capoeira se apresenta em diversos momentos da história com formas, jeitos e

nomes diferentes, mas ela está presente. Se o capoeira não conhece a história

do Brasil, logo, da capoeira, faltará uma contextualização da pratica, de conhecer

as origens, de entender o passado, de saber e entender aquilo que vem prati-

cando e se envolvendo e capoeira é muito mais que uma pratica corporal, é a

história de um povo.

Musicalidade dos Instrumentos

A bateria é composta por oito instrumentos organizados da seguinte maneira:

da esquerda para a direita (olhando de frente, atrás da bateria) Gunga, Médio,

Viola, Pandeiro Marcante, Pandeiro Virante, Reco-reco, Agogô e Tambor.

28

Começando pelo instrumento Rei da Capoeira - O Berimbau: Na escola de

pensamentos da ECIBA, os sete toques básicos são: Angola, São Bento Grande de

Angola, São Bento Pequeno de Angola, Samba de Roda, Apanha Laranja no Chão

Tico-Tico, Iúna e Samango, esses são os básicos que o angoleiro deve conhecer e

dominar

29

.

De acordo com os fundamentos que são passados pelo Mestre Luiz, na sua

concepção o Gunga toca Angola, um toque lento e cadenciado, o Médio toca São

Bento Grande de Angola, onde contra põem o Gunga e a Viola toca São Bento Pe-

queno de Angola, um toque que muitos capoeiras não tocam mais e esta ficando

esquecido

30

. Mas a questão dos toques é talvez o item de maior diversidade entre as

linhagens. Cada linhagem, cada família, grupo, associação tem os seus. Alguns cri-

ados outros herdados de seus ancestrais

31

(MESTRE LUIZ).

Ainda na formatação da ECIBA o restante dos instrumentos chamados de Ins-

trumentos Acompanhantes

32

possui um toque específico e uma função, por exemplo,

o Pandeiro Marcante é aquele onde irá marcar um, dois, três e o Pandeiro Virante irá

28

Quando meu Mestre estava iniciando na capoeira teve a oportunidade de viajar para a Bahia, onde visitou vários mestre da linhagem de Angola. Até então em seu grupo Oxossi regido pelo Mestre Biri- ba (aluno de Mestre Índio, que foi aluno do Mestre Pelé da Bomba que foi aluno de Mestre Bugalho, um dos maiores tocadores de berimbau, que foi aluno de Mestre Waldemar da Liberdade), montavam a bateria de qualquer maneira, às vezes até com dois tambores. Então com seus estudos o Mestre Luiz viu que se eles se diziam praticar Capoeira Angola deveriam fazer como seus antepassados faziam. Assim viu que na Escola do Mestre Curió montavam a bateria com 8 instrumentos,

“A formatação da nossa bateria e os toques da nossa trinca é coisa minha, aprendi com a Jararaca e confirmei com Mestre Pelé quando o conheci em Porto Alegre. Portanto nossa raiz mais antiga toca assim e a família de pastinha também” (Mestre Luiz).

29

Conhecimentos meus adquiridos ao longo da minha aprendizagem na capoeira, pela oralidade e estudos com meu Mestre.

30“Eu sigo os toques que pela minha pesquisa se reafirmam com os toques que aprendi na minha

raiz” (Mestre Luiz).

31

Informações retiradas de conversas na Roda de Capoeira.

32

preencher os tempos de um, dois, três dado pelo pandeiro marcante. O Reco-reco

consiste em arrastar a baqueta (material que é utilizado para tirar o som do instru-

mento) três vezes independente de ser de cima para baixo ou de baixo para cima. O

Agogô também consiste em três batidas, na nossa escola batemos primeiro no sino

de baixo (grave), depois em cima (agudo) e depois em baixo (grave), em outras es-

colas fazem ao contrário, batem em cima, depois em baixo e em cima novamente.

Dessa forma de tocar (em cima, em baixo, em cima) é à base do toque do Afoxé. E

por último o tambor que faz a batida de um, dois, três, quatro, toque denominado

Ijêxá.

A Fabricação dos Instrumentos

É necessário que o capoeira saiba o processo de fabricação de cada instru-

mento que compõem a bateria da capoeira. É preciso dominar esse fundamento

para ser um capoeira que toca, joga, canta e que construi o seu próprio instru-

mento. Não menosprezando aqueles que compram, mas se não salvaguardar-

mos esse conhecimento de saber que material, como fazer, onde encontrar, ele

vai se perder.

Poesia Cantada

Organizada em Ladainha, Corrido, Cantiga, Chula.

Ladainha é uma História Cantada podendo ser de Aviso, de Desafio, de Im-

proviso, seguida de Louvação (é o momento em que o cantador puxa o Iê e al-

guma coisa que quer louvar, por exemplo, Iê Viva meu Deus, e todos repetem Iê,

Viva meu Deus Camará); após a ladainha vem o Corrido que consiste em uma

pergunta e resposta, o cantador pergunta e o coral responde, por exemplo, a

música do Marinheiro Só; Depois desses dois durante a cantoria da roda existe a

Cantiga e a Chula, a primeira consiste em cantar uma história seguida de corrido

e a segunda consiste na improvisação dos versos fazendo com que o cantador

use da sua criatividade, podendo cantar algo que esta acontecendo no momento

do jogo, por exemplo. Ela também pode ser usada para desafiar outro cantador,

como um duelo sendo assim os dois ficam versando provocando um ao outro,

até que um não consiga responder.

Denominados assim por entender, que carregamos de nossos ancestrais ges-

tos corporais de séculos de experiência corporal nesse novo mundo. Mestre Luiz

entende que são sete famílias de movimentos (Tesoura, Aú, Meia Lua, Rasteira,

Cabeçada, Cutila, Negativa) e dentro de cada família existem mais sete (Tesou-

ra: de frente... Aú: de perna trocada, cambaleão..., Meia Lua: de frente, de den-

tro, meia lua armada, de compaço..., Rasteira: em pé..., Cabeçada: de frente, de

lado..., Cutila, Negativa: de lado, pra traz...).

Também existem as Chamadas, como explicado anteriormente são denomi-

nados de Movimentos Ritualizados, Chamada para o Passo a Dois, por Nestor

Capoeira. Dentro da ECIBA as chamadas são sete, sendo elas:

Chamada em Cruz

Chamada de Frente

Chamada de Costas

Chamada de Sapinho

Chamada Volta ao Mundo

Chamada Falsa

Chamada Por Baixo

A Roda: é o lugar consagrado onde se encontram, se organizam todos os

fundamentos listados acima. Existe uma forma de entrar e sair da roda que depende

de cada mestre como mencionado anteriormente. Na ECIBA o ritual de Entrada e

Saída se organiza da seguinte maneira: Quem esta no pé do berimbau Gunga é o

dono da roda, ele pode escolher quem quiser para jogar (dos que estão sentados na

roda), quem foi chamado posiciona-se em frente ao pandeiro marcante. A ladainha é

cantada, depois vem à louvação, depois do Iê Vamos embora... , o Gunga abaixa,

começa o corrido com os jogadores já saindo para o jogo, os capoeiras apertam as

mãos, fazem suas reverências e viram de cabeça para baixo, trocando o pé pela

mão. O jogo acaba quando o berimbau abaixa novamente, os capoeiras apertam as

mãos e dão um abraço o restante da roda bate palma, após cada jogador compra

(escolhe) um instrumento de alguém que está sentado na bateria. Essa troca deve

ser feita um de cada vez para não parar dois instrumentos de tocar ao mesmo tem-

po.

Documentos relacionados