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5. Os Fundos de Financiamento Comunitário para a Cultura

5.1. Os Fundos Comunitários no setor cultural

5.1.3. Os Fundos para Países Terceiros

De menor impacto e alcance, importa apenas referir que estes instrumentos de cofinanciamento se destinam a países que não pertencem à União Europeia, nem se preveja que adiram no curto prazo. São exemplos o Tempus IV e o Erasmus Mundus.

Veja-se na figura 3 (Anexo 1) a listagem dos programas de financiamento, bem como os seus promotores.

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Após esta análise e após recolher as informações dadas nas entrevistas realizadas, podemos retirar algumas conclusões acerca do papel dos fundos comunitários na sociedade e economia.

É de opinião generalizada que as comissões de coordenação nacionais, a Comissão Europeia e os programas de financiamento por estas entidades promovidos desempenham um papel importantíssimo no desenvolvimento das regiões – nomeadamente a Região Norte, aquela que respeita aos entrevistados e ao nosso caso de partida, a Fundação de Serralves – possibilitando a realização de projetos que de outra forma não seriam viáveis. São vistos como um grande apoio, que tem vindo a tornar-se cada vez mais significativo. Por outro lado, alguns agentes consideram que são “sistemas altamente deficitários” (Entrevistado 1), na medida em que “não ativam os

players certos e têm um sistema de avaliação mal direcionado”.

Na entrevista às técnicas supeioresda CCDR-N, é possível perceber como os fundos comunitários são cruciais para a atividade de certos organismos, que recorrem aos programas operacionais porque não têm outra fonte de financiamento. A Entrevistada 6 conta a sua experiência nos Teatros e Cineteatros e partilha a sua perceção de que a CCDR-N constitui a única entidade financiadora dos seus projetos. Percebemos também que as comissões de coordenação (nomeadamente a da Zona Norte) sofreram uma grande evolução na sua missão na região, começando por concretizar estudos sobre as dinâmicas culturais do país e da região (foquemo-nos apenas no setor cultural), e compreendendo quais as áreas de interesse, as áreas onde valiam a pena investir, onde já tinha sido feito trabalho e era preciso corrigir algumas lacunas (Entrevistada 5). Só mais tarde a Comissão conseguiu tornar-se um organismo financiador de projetos.

As entrevistadas elogiam o esforço que tem sido realizado pela CCDR-N com o apoio de especialistas e a busca constante de colaboração, desde a criação da organização, na exploração da área da cultura e na deteção das vertentes prioritárias para a região com potencial de criação de valor económico. A “procura era orientada para aquilo que fazia falta na região”, abrindo programas que apostassem nessas áreas. Salientam que a comissão da zona Norte tem conseguido distinguir-se das demais (muito embora a do

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Alentejo também esteja a desempenhar um trabalho “notável”), pela aposta que tem feito no setor cultural. Contudo, foi no QCA III que “a cultura brilhou”, não sendo um campo muito favorecido no QREN, pela razão de, agora, as verbas para a cultura estarem cativas aos PO Regionais.

Esta opinião quanto à importância dada à cultura no actual QREN é partilhada pelo Entrevistado 3, ex-responsável pelo ON.2, e respondendo também apenas pela Zona Norte. Refere que no vigente quadro comunitário de apoio não foi dada a devida atenção ao campo cultural, com exceção das indústrias criativas, para as quais havia sido definido um objetivo específico com o nome “Valorização da Cultura e da Criatividade”. Segundo o entrevistado, também consultor e professor universitário, este investimento constituiu um significativo impulso para as indústrias criativas, com grande elogio por parte da Comissão Europeia.

As Entrevistadas 5 e 6 atribuem a justificação da menor atenção dada à cultura, aos menores recursos públicos e ao mais apertado orçamento de Estado. De facto, quando “o orçamento de Estado rareia, quando há menos dinheiro, é necessário estabelecerem- se prioridades e a cultura não é normalmente a mais favorecida”. Os novos regulamentos vieram definidos da Secretaria de Estado da Cultura, sendo a lógica do concurso introduzida pelo QREN uma decisão do governo.

Assistiram-se a diferenças na forma como as entidades fazem a articulação entre as atividades que desenvolvem e o seu financiamento, sendo de destacar que as estruturas de menor dimensão o fazem de um modo bastante mais adaptável do que as de maior dimensão, como é o caso da Fundação de Serralves5.

As primeiras, dada a sua menor capacidade financeira e maior vulnerabilidade às condições económicas do país, ao acesso a meios financeiros e à atividade da concorrência, veem-se obrigadas a construir uma programação muito mais flexível do que a das entidades numa situação económica mais confortável. Constroem portanto uma programação que se adapte, não só à procura de mercado, como também à variação das suas fontes financeiras. “Mantemos um pé no mercado e outro na arte e na cultura. Vamos produzindo aquilo que queremos ver produzido”. Segundo o testemunho do

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Entrevistado 1 (diretor de uma organização cultural de dimensão média), a sua instituição conta essencialmente com os seus fundos próprios, tendo optado recentemente pelo apoio da DGArtes (Direção-Geral das Artes)6, desde que as receitas de bilheteira deixaram de ser suficientes para cobrirem as despesas. Conta ainda com um parceiro, a Saco Azul – Associação Cultural, que financia as suas atividades sem fins lucrativos. Os fundos da DGArtes foram apontados como determinantes para a sobrevivência da instituição, na medida em que vieram numa altura decisiva.

O capítulo seguinte mostra como os fundos comunitários apresentam uma série de constrangimentos, que importam analisar e discutir formas de atuar no sentido de os contrariar.

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A DGArtes é um serviço central da administração direta do Estado, dotado de autonomia administrativa e resultado do processo de reestruturação do Instituto das Artes, no âmbito do Programa de

Reestruturação da Administração Central do Estado – PRACE (DGArtes, 2011).Tem por missão a coordenação e execução das políticas de apoio às artes, dinamizando, para isso, parcerias institucionais.

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6. PORTUGAL: DIFICULDADES NO ACESSO AOS FUNDOS