• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 4 – Análise da lateral palatal

4.2.2 Gênero

As variantes de uma determinada variável costumam apresentar comportamentos diferentes de acordo com o gênero do informante. As mulheres, pelo papel que possuem na sociedade e, por serem, segundo Labov (1972), mais sensíveis às formas de prestígio, tendem a utilizar a variante mais próxima ao padrão, enquanto os homens se distanciam mais dessas formas.

Tabela 33 – Distribuição das variantes conforme gênero do informante

[ ] [y] [l] [ø] Total Parâmetros Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Masculino 538 66,6 225 27,8 44 5,4 1 0,1 808 49,8 Feminino 609 74,6 130 15,9 51 6,2 26 3,2 816 50,2 Total 1147 70,6 355 21,9 95 5,8 27 1,7 1624

Pelos dados apresentados na tabela 33, nota-se que as mulheres utilizam mais a variante padrão do que os homens, sendo que estes apresentam um percentual maior de utilização da variante [y] do que os informantes do sexo feminino. A variante [l] apresenta números percentuais bem próximos, fato que leva à conclusão de que essa variante não é influenciada pelo gênero do informante. Quanto à variante [ø], observa-se que mais de 90%

das ocorrências aparecerem na fala feminina. Entretanto esse fato não pode delimitar um padrão, uma vez que o número de ocorrências da variante é baixo. Com base nessas informações, a variante [ø] foi excluída da análise referente ao fator gênero.

Para confirmação desses dados realizou-se a análise binária, composta da variante padrão mais uma das variantes não-padrão, com o objetivo de se obterem pesos relativos. Os resultados referentes à [y] estão presentes na tabela 34:

Tabela 34 – Comportamento da variante [y] conforme o gênero informante

[ ] [y]

Parâmetro

Freq. / % Peso Rel. Freq. / % Peso Rel.

Masculino 538/70,5 .42 225/29,5 .58

Feminino 609/82,4 .58 130/17,3 .42

TOTAL 1147/76,4 - 355/23,6 -

Os pesos relativos comprovam o favorecimento da variante vocalizada por informantes do sexo masculino. O fato de as mulheres preferirem a variante padrão deve-se, ao que parece, ao papel que elas desempenham na sociedade em relação, por exemplo, à educação dos filhos. A variante vocalizada, numa comunidade de fala urbana como Belo Horizonte, representa uma forma estigmatizada da variável / /. Além disso, na cultura sob análise, conforme se viu na seção 4.1.5, certos vocábulos em que ocorre vocalização, como caralho e velho (vocativo), são mais frequentes em falas masculinas do que em femininas, exatamente por não serem “apropriados” à fala de uma mulher.

Então, considerando os itens classificados nessa pesquisa como “especialização semântica”, notou-se que somente o item filho/filha foi utilizado por ambos os sexos, enquanto que velho e caralho foram utilizados apenas por informantes masculinos. Para saber se esses itens influenciam a vocalização na fala masculina, realizou-se uma rodada de dados sem os mesmos, cujos resultados estão expressos na tabela 35:

Tabela 35 – Comportamento da variante [y], conforme o gênero do informante, após retirada dos itens

classificados como “especialização semântica”

[ ] [y]

Parâmetro

Freq. / % Peso Rel. Freq. / % Peso Rel.

Masculino 535/74,1 .39 187/25,9 .61

Feminino 609/87,9 .62 84/12,1 .38

Após a retirada dos itens classificados como “especialização semântica”, observou-se que a variante [y] continua favorecida pelos informantes do sexo masculino, o que mostra que, apesar de favorecerem a realização da variante vocalizada, os itens velho, caralho e filho não são os maiores influenciadores da vocalização na fala masculina.

Na análise de tempo real – tendência (LABOV, 1994), ao se compararem os dados de Madureira (1987) com os atuais, percebeu-se que o comportamento em relação ao gênero permaneceu o mesmo, e que a variante [y] continua sendo favorecida na fala masculina, como exposto no gráfico 4:

Comparação dos dados referentes a utilização de [y] conforme o genêro (% ) 15,9 27,8 12 18 0 5 10 15 20 25 30

Dados 1985/6 (MADUREIRA, 1987) dados 2005/08

Feminino Masculino

Gráfico 4 – Comparação dos dados referentes à utilização de [y] conforme o gênero do informante

O gráfico 4 mostra que houve um crescimento na utilização de [y] na comunidade de fala belorizontina, comportamento que não era esperado, já que se trata de uma variante estigmatizada que tende a ter seu uso na comunidade de fala reduzido. O aumento do uso de [y] poderia ser explicado pelo fato de a presente pesquisa ter captado mais itens favorecedores da variante vocalizada, destacando-se na fala de informantes do sexo masculino, principalmente pelo fato de itens estigmatizados serem mais frequentes em falas masculinas. É importante salientar, também, que a maioria das ocorrências dos itens vocalizados pertencem ao grupo classificado como “especialização semântica”, o que contribuiu para o aumento de utilização dessa variante, como se pode observar na tabela 36:

Tabela 36 – Comportamento da variante [y], considerando o cruzamento dos fatores gênero e “especialização

semântica”

Parâmetros [ ] [y] Total

Gênero Especialização semântica Nº % Nº % Nº % Sim 03 07 38 93 41 2,7 Masculino Não 535 74 187 26 722 48,1 Sim 00 00 4610 100 46 3,1 Feminino Não 609 88 84 12 693 46,1 Total - 1147 76,4 355 23,6 1502

Passemos à análise da variante [l]. Os pesos relativos apresentados quando da análise binária entre [ ] e [l] estão presentes na tabela 37:

Tabela 37 – Comportamento da variante [l] conforme o gênero informante

[ ] [l]

Parâmetro

Freq. / % Peso Rel. Freq. / % Peso Rel.

Masculino 538/92,4 .50 44/7,6 .50

Feminino 609/92,3 .50 51/7,7 .50

TOTAL 1147/92,4 - 95/7,6 -

Como se pode observar, a variante [l] possui comportamento neutro entre homens e mulheres, conforme pesos relativos, o que leva a concluir que essa variante não é influenciada pelo fator gênero.

Concluindo a análise do fator gênero, pode-se dizer que os dados demonstraram que as mulheres privilegiam a variante padrão, enquanto os pertencentes ao gênero masculino apresentam uma maior utilização da variante vocalizada, quando comparados aos do gênero

feminino. Comportamentos próximos foram encontrados por Soares (2002), cujos resultados

apontaram para a preservação de [ ] pelos informantes do sexo feminino. Os resultados obtidos por Oliveira (1983) apontaram para uma preferência de informantes do sexo masculino pela variante vocalizada.

Ao se realizar estudo de tendência, observou-se, ao comparar os dados atuais com Madureira (1987), que o comportamento entre homens e mulheres não sofreu grandes

modificações em vinte anos, mesmo que, aparentemente, os homens tenham apresentado um crescimento maior que o das mulheres na utilização de [y]. Isso se deve ao fato de os dados atuais apresentarem mais itens favorecedores da variante [y], sendo que muitos deles, por serem estigmatizados na comunidade belorizontina, ocorrem com maior frequência na fala masculina (caralho e velho como “especialização semântica”).

A variante [l] não apresentou diferenças de usos significativas entre os gêneros, levando à conclusão que o sexo ao qual pertence o informante não favorece o uso dessa variante.

Documentos relacionados