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Gênero e funções sociais designadas a homens e mulheres

O trabalho proporciona aos indivíduos não só um meio para subsis- tência, mas também, é percebido como algo que impulsiona o crescimento humano e que o insere em um campo de convivência social.

Sendo assim, compreende-se que o trabalho é um fator importante na vida das pessoas, sendo um campo permeado por relações sociais e que podem favorecer ou não a pessoa que o exerce.

As mulheres conquistaram ao longo de suas trajetórias de vida, e me- diante as lutas e movimentos sociais, um espaço considerável no mercado de trabalho atual, sendo que muitas estão incorporadas nos campos sócio- -ocupacionais, e sua renda não pode ser mais considerada complementar a do homem, pois, em muitas situações estas são parte essencial ou total na renda familiar.

A categoria gênero pressupõe a compreensão das relações que se es- tabelecem entre os sexos na sociedade, diferenciando o sexo biológico do sexo social (FONSECA, 1997, p.10) e que as funções sociais de homens e mulheres são construídas historicamente. Nas palavras de Heleieth Saf oti (2004 p. 45) o gênero é a construção social do masculino e do feminino.

A referida autora, em seu livro “Gênero, patriarcado, violência” (2004) realiza tal discussão, correlacionando o conceito de sociedade de classes, gênero, patriarcado e violência de gênero. Também aborda a forma de im- posição e poder do homem pela mulher, e sua construção sócio-historica. Saf oti aclara que este a desigualdade de gênero é um fenômeno social e emergiu a partir da composição do Estado e foi rea rmado pelo modo de produção capitalista. Ressalta-se que a autora aborda o papel da mulher, a partir de sua inserção na sociedade de classe, que con gura como a primei- ra dominação social. Para vislumbrar esta a rmação, é necessário entender a desigual divisão social e sexual do trabalho na sociedade, compreendendo que estas questões são agravadas pela instituição da propriedade privada (onde mulher era vista como posse/objeto/coisi cada) e, concomitantemen- te, o surgimento do patriarcado, que é fortalecido com o positivismo (SA- FFIOTI, 2004). Desta feita, entende-se que gênero é uma categoria teoria e histórica, construída socialmente. Pode ser entendida a partir das relações de poder que se estabelecem em dada sociedade ou ainda, relação entre homens e mulheres numa determinada sociedade em determinado contexto histórico, visto que os papéis sexuais são de nidos socialmente.

Com base no exposto, pode-se realizar uma análise acerca da incor- poração de mulheres no mercado de trabalho e das principais tarefas que realizam. Estas atividades que são atribuídas em muitos casos estritamente as mulheres, são resultado de um construto social, onde as desigualdades são construídas socialmente.

A desigualdade, longe de ser natural, é posta pela tradição cultural, pelas estruturas de poder, pelos agentes envolvidos na trama de relações sociais. Nas relações entre homens e mulheres, a desigualdade de gênero não é dada, mas pode ser construída, e o é, com frequência. (SAFFIOTI, 2004, p.71)

É necessário compreender as múltiplas determinações que permeiam a vida das mulheres e entender que as funções sociais de mulheres e homens são fatores construídos socialmente. Sendo assim, grande parte do trabalho doméstico, como os afazeres da casa, o cuidado com os lhos e o papel de cuidadoras é exercido principalmente por pessoas do sexo feminino.

[...] Torna-se então coletivamente “evidente” que uma enorme massa de trabalho é efetuada gratuitamente pelas mulheres, que este trabalho é invisível, que não é realizado para elas mesmas, mas para outros, e sempre em nome da natureza do amor e do dever materno (HIRATA, 2007, p. 597).

Essas atividades realizadas no âmbito familiar são de extrema impor- tância para a manutenção da casa, e demandam muito tempo da mulher para serem executadas. São de grande relevância, e estas ainda tendem a conciliar os afazeres domésticos com o trabalho externo.

Apesar de todo o esforço realizado por essas mulheres em suas múlti- plas jornadas, que além dos afazeres domésticos e cuidados com os lhos, exercem atividades laborativas externamente ou não, seu trabalho não é reconhecido. Muitas vezes, esse labor é desconsiderado, entendido como algo ‘fácil de ser realizado’, ou seja, as atividades realizadas pelas mulhe- res em suas casas são consideradas distintas de trabalho. Os avanços no mercado de trabalho e a incorporação de mulheres neste são consideráveis, porém, as condições ainda são precárias e somadas ao trabalho doméstico (múltiplas jornadas de trabalho).

Importante compreender que a construção sócia histórica do Brasil é alicerçada sobre bases rigidamente patriarcais (SAFFIOTI, 1979), em que a mulher até então teve o dever de ser submissa ao homem, inferiorizada numa relação de poder estabelecida socialmente. O pensamento cientí co,

a cultura e as relações sociais que permeiam a sociedade patriarcal, são elementos que constituem o processo de subordinação de gênero, tanto na vida privada quanto na vida pública.

A não valorização do trabalho faz com que muitas mulheres não se percebam como trabalhadoras, não construindo, portanto, a identidade com sua classe (CISNE, 2012, p.114).

Além disso, a incorporação das mulheres no mercado de trabalho, e a não divisão das tarefas realizadas dentro dos domicílios, fazem com que estas recorram a mulheres que trabalham como empregadas domésticas e diaristas, em várias situações sem registro em carteira de trabalho, sendo assim, sem segurança para executá-lo.

A subordinação da mulher e os dons ou habilidades ditas femininas são apropriados pelo capital para a exploração da força de trabalho, pois, as atividades e trabalhos desenvolvidos por mulheres – ao serem vistos como atributos naturais, extensões de habilidades próprias do gênero feminino – são consideradas dons e não trabalho. (CISNE, 2012, p. 114)

Sendo assim, o trabalho feminino é considerado “menos complexo”, “menos importante”, é desvalorizado.

Outro fator importante e que deve ser enfatizado é que as mulheres efetivamente incorporadas no mercado de trabalho, ainda são direcionadas a realizar tarefas consideradas femininas e a pro ssões que exijam “um maior cuidado”, dentre essas pro ssões podem se destacar as emprega- das domésticas, cuidadoras, enfermeiras, professoras, assistentes sociais, dentre outras.

A partir de uma construção social nota-se que mulheres são designadas ao trabalho do “cuidado” e os homens o campo da intelectualidade e das ciências, àqueles que proporcionam maior valor aquisitivo, moral e social.

Esse processo de direcionamento das atividades se iniciam no seio fa- miliar, quando estes homens e mulheres são ainda crianças.

É necessário compreender então, que desde crianças, estes são educados para desempenharem seus papéis. As meninas são atribuídas brincadeiras como cuidar de bonecas, cozinhar e aos meninos realizar experimentos “cientí cos”, carrinho, jogar bola entre outros. Essas brincadeiras não apenas reforçar e legitimam a desigualdade sexual no trabalho, bem como, faz com que estes desenvolvam habilidades nestes aspectos, um exemplo disso é a costura e limpeza da casa, onde as meninas

são “treinadas” para exercer tais tarefas. [...] o papel feminino tradicional es- tabelece a maternidade como principal atribuição das mulheres, e com isso, também o cuidado da casa e dos lhos, a tarefa de guadiã do afeto e da moral na família. (FARIA e NOBRE, 2003, p.30)

Faz-se necessário compreender que além do trabalho manual realizado pelas mulheres, essas têm papel na educação dos lhos, ou seja, um papel moral e de manutenção da casa, mediando con itos entre o sujeito mascu- lino da casa e seus lhos e até mesmo de si própria com o marido. Por isso esta deve possuir características proporcionalmente necessárias como ser dócil, meiga, não falar muito entre outros.

O homem típico é considerado o provedor, isto é, o que trabalha fora, traz o sustento da família, realiza-se fora de casa, no espaço público. (FA- RIA e NOBRE, 2003, p. 30).

Neste sentido, compreende-se que a desigualdade existente entre ho- mens e mulheres é resultado de um construto social, na qual, as mulheres estiveram sempre em desvantagem. É necessário então romper com este modelo de favoritismo aos homens, e que as mulheres possam também conquistar suas realizações nos espaços públicos, com salários dignos, conquistem poder político e participem das tomadas de decisões da socie- dade e de suas próprias vidas.

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