• Nenhum resultado encontrado

Gênese: da Escola de Aprendizes Artífices de Goiás a Escola Técnica de Goiás

No documento Download/Open (páginas 87-91)

A história do Instituto Federal de Goiás insere-se na história da educação profissional no Brasil, considerando que sua criação e as posteriores transformações da instituição acompanharam o movimento dessa modalidade educacional no restante do país.

Quando, em 1909, o decreto do então Presidente Nilo Peçanha, criou 19 instituições destinadas à formação profissional da camada mais pobre da população, Goiás foi um dos locais escolhidos para a implantação de uma delas. A escola foi denominada inicialmente de Escola de Aprendizes Artífices de Goiás. As ações para sua implantação foram iniciadas em janeiro de 1910, em sede localizada na cidade de Goiás, onde, dois anos mais tarde, iniciaram suas atividades.

A instalação da instituição e o seu funcionamento inicial foram pontuados por inúmeras dificuldades, dentre elas, a inadequação da estrutura física, a insuficiência de equipamentos e pessoal, além da pequena quantidade de alunos.

Moreyra (2000) destaca os problemas anteriormente colocados e explica-os, a partir de dois fatores principais: a localização geopolítica e a mentalidade vigente na época. A cidade de Goiás encontrava-se em uma região isolada e pouco produtiva, não figurando dentre os principais centros de desenvolvimento da região. Além disso, a mentalidade da elite latifundiária assentava-se no preconceito em relação ao trabalho manual, destinado, nesta perspectiva, aos “desfavorecidos pela sorte”.

A autora destaca que pesava, ainda, contra a escola o fato de ter sido implantada em resposta a determinações externas, não estando diretamente relacionada ao anseio do povo ou a alguma demanda regional. Assim,

sua criação foi consequência de uma decisão federal unilateral, uma espécie de presente de grego que não tinha como e nem porquê ser recusado ou tampouco ser incorporado de fato ao contexto local, pois não fazia parte do universo dos meios de ascensão social que compunha o imaginário coletivo e a realidade concreta do mundo agrário sertanejo, nem reforçava o sistema vigente de poder (MOREYRA, 2000, p. 101).

Na verdade, a criação da Escola de Aprendizes Artífices de Goiás deve ser compreendida no contexto mais amplo, no qual a educação profissional se constituiu em uma tentativa estratégica de promover o desenvolvimento do país, uma vez que a industrialização era vista como principal via de acesso ao progresso, à autonomia econômica e política, bem como ao mundo da democracia e da civilização (CUNHA, 2005a).

Ainda que fosse corrente a ideia de que a educação profissional poderia atuar como instrumento de resolução de problemas sociais, a desconsideração à vontade popular e às características da localidade das escolas criadas revelam um importante traço do que foi a implantação de grande parte das instituições oriundas do decreto de 1909: a falta de critérios lógicos para sua alocação, em função de produção econômica e demanda regional. O critério subentendido para as novas instituições parece ter sido o da representatividade, de forma que cada capital dos estados da federação pudesse contar com uma escola de formação profissional (CUNHA, 2005a).

No caso de Goiás, a visão externa que se tinha da capital era a de um povoado decadente, precário, isolado e sem perspectiva de desenvolvimento, pois a atividade mineradora, predominante e responsável pelo surgimento da cidade, já se encontrava em declínio e nenhuma outra atividade se apresentava com potencial para substituí-la na produção econômica local (CHAUL, 2010).

A mineração, a partir de 1874, se tornou uma atividade, cada vez mais, em declínio, porém, a imagem da decadência, constituiu-se a partir do olhar europeizado dos viajantes que, na província de Goiás se depararam com condições bastante diversas daquelas a que estavam habituados no velho continente, “em que a dinâmica das comunicações acabara de atingir o ápice de seu desenvolvimento e a rapidez dos transportes não conseguia similar” (CHAUL, 2010, p. 44).

Nesta perspectiva, o estranhamento e a descrença presentes no relato dos viajantes tornam-se explicáveis, não sendo, porém, fieis à dinâmica da vida que, mesmo em ritmo diferente, pulsava nas terras de Goiás.

Na sociedade goiana pós-mineração, houve o esgotamento de uma determinada forma de produção, seguida pelo desenvolvimento de outras atividades econômicas, que implicaram no estabelecimento de um novo universo cultural, que não implica necessariamente, em ruína e decadência, conforme coloca Chaul (2010). Neste caso, a pecuária e, posteriormente, a agricultura, avançou, contribuindo com o povoamento da região e desmentindo as teses do atraso.

Este desmentido, no entanto, é recente na historiografia de Goiás. A maioria dos historiadores contribuiu para a reafirmação da ideia de inviabilidade da província de Goiás, num discurso que, nas primeiras décadas dos anos de 1900, se mostrou conveniente para os grupos que ascendiam ao poder, no rastro das mudanças que se impuseram, em todo o país, após a “Revolução de 1930”.

Estes grupos foram representados, em Goiás, por Pedro Ludovico Teixeira, nomeado interventor do Estado que, legitimado pelo discurso do atraso e da decadência, colocou em prática um projeto modernizador, do qual a transferência da capital constituía-se em elemento fundamental, um marco da ruptura entre o passado e o presente, no qual se instauram novas relações econômicas, políticas e de poder;

Assim, a ideia da instalação de uma nova capital se fortaleceu e se concretizou a partir de 1932, quando Pedro Ludovico Teixeira, interventor do Estado, nomeou uma comissão, com o objetivo de definir o melhor lugar para a construção da nova capital.

Fundada em 24 de Outubro de 1933, a cidade de Goiânia passou a ser sede do estado de Goiás no ano de 1937. Porém, a Escola de Aprendizes Artífices, não foi transferida imediatamente, permanecendo na cidade de Goiás até o ano de 1941.

Com a construção de instalações próprias, passou a funcionar no centro da cidade, em condições mais favoráveis, em local no qual se encontra, atualmente, o Câmpus Goiânia do IFG. Em 25 de fevereiro de 1942, pelo Decreto-Lei nº 4.127, o nome da instituição foi alterado para Escola Técnica de Goiânia.

A transferência da capital atendeu ao apelo de modernização em voga no país nos anos de 1940 e representou, para a Escola Técnica de Goiânia, uma melhoria considerável em sua infraestrutura e nas suas condições gerais de funcionamento.

Ao mesmo tempo, a transferência não implicou na maior identificação da instituição com as expectativas da população local, tendo em vista a continuidade do descompasso entre

as atividades econômicas predominantes na região e as áreas de formação atendidas pela escola.

A produção estadual continuava eminentemente rural, tendo por base as atividades agrícola e pecuária, enquanto as atividades de transformação ainda se mostravam bastante incipientes, ainda considerando o incremento da indústria e da construção civil, limitando assim o contingente populacional interessado no ensino industrial recém-criado e então ministrado pela instituição.

Até o ano de 1947 eram ofertados cursos básicos industriais, nas áreas de marcenaria, arte em couro, alfaiataria, tipografia e encadernação, herdados da escola de artífices, bem como outros, implantados já em Goiânia, equivalentes ao ginásio.

A transformação da Escola Técnica de Goiânia em uma autarquia federal, com o nome de Escola Técnica Federal de Goiás ocorreu em 1959, através da Lei 3.552, de 16 de fevereiro. Nesse período, a atuação da instituição consistia majoritariamente na oferta de ensino profissional. A este respeito assim está registrado no Plano de Desenvolvimento Institucional, PDI, em fase de aprovação no Instituto:

Com a fundação de Goiânia, em 1933, a Instituição foi transferida para a nova capital, em 1942, passando a ofertar cursos profissionalizantes na área industrial. Recebeu, então, a denominação de Escola Técnica de Goiânia. No final dos anos 1950 e nos anos 1960, o projeto de modernização, industrialização e urbanização em curso foi redefinido, reorientando a dependência e a associação ao capital internacional. O Estado passou a ser dirigido por um bloco de forças sociais e políticas vinculado ao capital industrial e bancário nacional e ao capital internacional. Nesse contexto, teve curso lutas sociais e políticas em reação a esse processo e em defesa de reformas estruturais (agrária, educacional) no país (IFG, 2012, p. 5-6).

Verifica-se, aqui, aquilo que foi apontado por Chaul (2010), sobre a ascensão de novas forças políticas no estado e sua busca de legitimação, a partir de ações vinculadas ao discurso da modernidade, centrada, por sua vez, na industrialização.

A este discurso ligam-se a criação da nova capital e também a orientação dos cursos ofertados pela Escola Técnica Federal de Goiânia, que ignora, pelo menos em um primeiro momento, o lugar de destaque das atividades agropecuárias, que verdadeiramente alavancavam o progresso e o povoamento de Goiás (CHAUL, 2010).

Apesar de ter se firmado como uma instituição pública de excelência, as atividades da instituição mantiveram-se restritas à capital e ao atendimento da região metropolitana, por mais de 40 anos.

Foi no contexto da redemocratização do país e dos movimentos em prol da educação pública, após o fim da Ditadura Militar (1964-1983), que se deu primeira ação de interiorização das atividades da então Escola Técnica Federal de Goiás, por meio da implantação de uma Unidade Descentralizada de Ensino - Uned - na cidade de Jataí, localizada no sudoeste goiano. Nos diversos documentos consultados, as informações sobre este fato não são muito detalhadas. A página do Campus Jataí coloca, no item destinado ao histórico da instituição:

A história do campus Jataí começou em 1988. No dia 18 de abril, foi fundada na cidade uma unidade da Escola Técnica Federal de Goiás, voltada para o ensino técnico integrado ao 2º grau. Em 1999, a denominação mudou para Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET-GO) e a instituição passou a oferecer cursos superiores de bacharelado, licenciatura e tecnologia (http://www.jatai.ifg.edu.br/index.php/historico).

Também o PDI não detalha como se deu o processo de definição para a escolha do local de implantação, referindo-se ao tema em uma afirmação simples: “No ano de 1988, foi construída a Unidade de Ensino Descentralizada no município de Jataí, integrando a Escola Técnica Federal de Goiás” (2012, p. 7).

Informações esparsas nos diversos Relatórios de Gestão do Instituto colocam a implantação da unidade de Jataí como resultado, dentre outras coisas, do empenho da população local e das lideranças políticas em receber a instituição, considerando, principalmente, o histórico já consolidado da instituição de oferta de educação pública de qualidade.

3.2 O processo de cefetização e o início da expansão no Centro Federal de Educação

No documento Download/Open (páginas 87-91)