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G EOPOLÍTICA I NTRA I MPÉRIO : O CUPAR , P OVOAR , C ONTROLAR E D ESENVOLVER

Durante a primeira metade do século XVIII, a disputa entre as potências européias (Inglaterra e França) pela hegemonia política continental respingava gotas de ameaças às colônias ultramarinas de uma e de outra, e também nas de seus aliados, causando ajustes nos arranjos geopolíticos.1

Frente à aliança luso-britânica, França e Espanha continuavam sendo ameaças constantes às colônias portuguesas, principalmente quando se observa a vizinhança que existia entre os domínios coloniais dos três países – ir além das linhas fronteiriças, geralmente mal vigiadas e mal demarcadas, não era difícil a nenhum dos Estados. Como sustenta, Maria Fernanda Bicalho, o apoio britânico nas contendas diplomáticas e bélicas era importante para Portugal por causa da memória ainda recente da União Ibérica.2 Além disso, as colônias tornaram-se cada vez mais importantes para as definições do poderio internacional e da hegemonia das potências européias, tanto como mercados consumidores dos produtos manufaturados europeus, como fornecedores de matérias-primas, especiarias e alimentos, conforme afirma Fernando Novais:

“...o mundo colonial ultramarino pesava significativamente como elemento essencial do equilíbrio das forças européias; os problemas dinásticos ou territoriais europeus ligavam-se assim inextricavelmente com as tensões do ultramar ... a posição de Portugal e de seu mundo colonial, contudo, estava definida: a aliança inglesa era uma garantia de sobrevivência do pequeno reino ibérico como nação colonizadora. Esta é a posição com a qual atravessou, basicamente, ileso, a rivalidade colonial anglo-francesa, que dominou todo o século XVIII.”3

1

Sobre estas disputas cf. em NOVAIS, Fernando. Portugal e o Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1771-1808), p. 32-43.

2

BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o Império, p. 52. 3

O tratado de Utrecht, de 1715, havia dado fim temporário às contendas bélicas e redistribuído áreas coloniais e direitos entre as potências européias, favoravelmente à Inglaterra e Portugal, seu aliado que assegurou legalmente o seu expansionismo colonial ao obter a posse sobre a Colônia de Sacramento. A Inglaterra, entre outros benefícios, recebeu o direito de vender escravos em Buenos Aires.

A contínua expansão mercantil britânica nas áreas de comércio espanhol ultramarino (entenda-se, contrabando), fez com que a Coroa hispânica resolve-se confiscar o direito de “assientamento” de escravos da inglesa South Sea Company, afetando o contrabando inglês na área platina. Isso resultou em nova guerra só resolvida devido à nova situação política-econômica da Europa, que passou a questionar as vantagens da Inglaterra no Tratado de Utrecht, e a um novo Tratado, a Paz de Aquisgrán, assinada em 1748 entre Inglaterra e Espanha. Contudo, este tratado também não neutralizou a hegemonia inglesa no Rio da Parta, o que só aconteceria se a Espanha se apoderasse definitivamente da Colônia de Sacramento, praça de comércio do contrabando inglês, que representava a sangria na economia colonial espanhola.4

O esgotamento das riquezas era evidente em cada uma das guerras e a paz diplomática foi apontada como uma forma de não despender mais rendas, iniciando-se então as confabulações para dar uma solução definitiva na limitação fronteiriça e na posse das áreas pretendidas por cada Estado. Era evidente à Espanha que Portugal fora muito além das fronteiras estipuladas pelo Tratado de Tordesilhas, principalmente na região setentrional, onde os portugueses interiorizaram-se através dos rios amazônicos. Por outro lado, também era corrente em Portugal que à Espanha interessava o controle da região meridional, principalmente para resguardar as suas minas de prata. O Tratado de Madri, assinado em janeiro de 1750, foi o acordo feito para substituir o antigo Tratado de Tordesilhas para redefinir as fronteiras dos dois impérios coloniais, sem precisar, no entanto, do aval papal, evidenciando a força do absolutismo régio no momento.

O Tratado de Madri referendava a ocupação portuguesa nas áreas amazônica e central do Brasil e a ocupação espanhola nas Filipinas e no Rio da Prata. Nele, os ibéricos reconheciam o avanço fronteiriço através do “adiantado da conquista”, apelando para o “uti possidetis” como princípio básico para a fixação e posse da terra, e propunham a averiguação dos “verdadeiros limites” ocupados. O tratado era uma barganha que auferia

4

Sobre o comércio no Rio da Prata e o contrabando anglo-luso-brasileiro conferir em GARCIA, Emanuel Soares de Veiga. O comércio ultramarino espanhol no Prata.

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vantagens para ambos os Estados, determinando a concessão das áreas já ocupadas por cada um, o estabelecimento de uma “zona neutra” meridional e o auxílio mútuo que deveriam ter nas regiões de fronteira.5

O acordo previa a entrega e efetiva posse das duas margens do Rio Amazonas a Portugal até a extensão real da interiorização conseguida pelos portugueses, garantindo o controle da comunicação à área aurífera (Goiás e Minas Gerais) pelo interior através dos rios e, por conseguinte, o controle do comércio e transporte às minas, criando, ainda um obstáculo ao possível avanço espanhol na área. A Espanha receberia a posse efetiva das duas margens da entrada do Rio da Prata, garantindo a livre circulação na bacia do Prata e o aniquilamento da rota de contrabando anglo-luso-brasileiro via Colônia de Sacramento.6 Portanto, as trocas de territórios seriam feitas porque os dois impérios ibéricos tinham interesses econômicos e estratégios específicos nas regiões que queriam garantir a posse.

As cláusulas do acordo previam também a liberação das terras do Rio Grande de São Pedro de domínio espanhol (área ocupada por estancieiros portugueses e por sete das Missões da Província Jesuítica do Paraguai), em troca da liberação da Colônia de Sacramento que os portugueses haviam plantado em território espanhol (hoje, uruguaio), em frente a Buenos Aires. Os jesuítas e índios missioneiros das Missões pertencentes à Província Jesuítica do Paraguai e que estavam na área que deveria passar a Portugal (áreas do atual Rio Grande do Sul) seriam obrigados a uma mudança para o território que permaneceria espanhol (na outra margem do Rio Uruguai), com indenizações irrisórias.

Os ajustes do Tratado, em 1751, foram responsáveis pela regulamentação da permuta e, principalmente, da indenização das perdas dos bens imóveis e móveis dos súditos que precisavam ser evacuados, tanto da Colônia de Sacramento, quanto dos povoados missioneiros: os bens que não pudessem ser transportados seriam indenizados pela Coroas respectivas que, porém, a si resguardavam o direito de pagar o que pudessem, ou quisessem. Dessa forma decidiram que os bens dos povos do Rio Uruguai, as Missões, valiam menos que os de Sacramento, além de permitir que os bens destes fossem comprados pelos espanhóis pelo preço que ajustassem entre si, não fazendo referências diretas aos bens dos missioneiros.

5

Sobre o Tratado de Madri e suas definições para as duas nações conferir em QUEVEDO, Júlio. As Missões: crise e redefinição. São Paulo: Ática, 1993.; e FONSECA, João Abel da. A propósito do tratado de limites a norte do Brasil: cartas secretas de Sebastião José de Carvalho e Melo, 1752-1756. Mare Liberum, n. 10, dez. 1995. p. 279-304. 6

Ora, os Guarani teriam que partir obrigatoriamente e poderiam levar apenas seu gado e bens móveis, deixando terras, herbais, hortas, algodoais, e todo o bem imóvel, recebendo em troca apenas quatro mil pesos por cada povoado, enquanto que nas avaliações missionárias em algumas povoações os bens deixados alcançariam os 700 mil pesos.Tal situação levou ao enfrentamento, que foi chamado pela historiografia de Guerra Guaranítica (1753-56), unindo os exércitos português e espanhol contra os Sete Povos, isto é, os índios guaranis das sete Missões que não aceitaram as transferências impostas.7

Em meados da década, no entanto, o Tratado de Madri era letra morta: as demarcações não foram feitas e, portanto, as novas delimitações territoriais também não ocorreram. Os Sete Povos das Missões foram massacrados por nada porque as permutas não foram consolidadas, permanecendo a Colônia de Sacramento nas mãos dos portugueses.8 Enquanto isso, a beligerância pela hegemonia continental na Europa levou à Guerra dos Sete Anos (1756-1763) entre França e Inglaterra, que acabou por envolver inevitavelmente Portugal e seus domínios de ultramar, levando ameaças constante e terror entre a população colonial.9

O término da guerra em 1763, não afastou a possibilidade de uma invasão francesa ao Brasil já que a aliança luso-britânica possibilitava tais medidas, principalmente porque, como analisa Novais, as colônias iam “...adquirindo importância crescente, para

assumir enfim no século XVIII o papel de elemento primordial deflagrador das hostilidades e consagrador das preponderâncias. Tal, na verdade, a função essencial que desempenha a exploração ultramarina na vida econômica das nações européias do período mercantilista.”10 Contudo quem maior benefício tiraria dessa invasão seria certamente a Espanha, aliada francesa, que aproveitaria a situação para tomar de volta a Colônia de Sacramento, e as áreas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, resolvendo o que o Tratado de Madri não havia solucionado na prática.11

7

Sobre a Guerra Guaranítica conferir em QUEVEDO, Júlio. Op. Cit; e em COUTO Jorge. Os conflitos com as reduções jesuíticas da Província do Paraguai: a Guerra Guaranítica. MEDINA, João (Dir.) História de Portugal dos tempos pré-

históricos até aos nossos dias, p. 173-183.

8

Sobre a revisão do Tratado de Madri, o Tratado de Santo Ildefonso e a perda da Colônia do Sacramento ver em MAGALHÃES, Joaquim Romero. As novas fronteiras do Brasil. In: BETHENCOURT, Francisco, CHAUDHURI, Kirti. História da expansão portuguesa, v. 3, p. 10-42.

9

BICALHO, Maria Fernanda. Op. cit., p. 60-69. 10

NOVAIS, Fernando. Op. cit., p. 33. 11

38

Todas essas ameaças, segundo Kenneth Maxwell expunham a “vulnerabilidade

das possessões coloniais” de Portugal.12

É essa vulnerabilidade que, se pode conjeturar, estava nas motivações de D. João V para dar início ao processo de consolidação da ocupação das regiões interioranas coloniais na primeira metade do século XVIII, com a criação e regularização de novas Vilas acompanhando a expansão espontânea da população no interior do continente, pois as disputas entre as potências européias acabavam por incentivar medidas que visavam tanto a proteção nas áreas litorâneas e de fronteiras, como o povoamento do interior, possibilitando a utilização do “uti possidetis” como justificativa da posse legal.13 Nesse sentido, a transferência da capital colonial de Salvador para o Rio de Janeiro é apenas uma das medidas efetivadas com a finalidade de melhor proteger as auríferas regiões sudeste e central das ameaças do vizinho meridional14

Por outro lado, Roberta Delson também ressalta que essa mesma política de ocupação do interior também tinha como finalidade intensificar o controle social e político da população já interiorizada, principalmente dada à grande movimentação da população colonial que acontecia com a pecuária extensiva e as descobertas e exploração minerais.15 Delson exemplifica a criação de várias vilas interioranas, ainda na primeira metade do século XVIII nas regiões do Nordeste e no Centro-Oeste coloniais: na Capitania do Piauí - Vila de Mocha, 1716; na do Ceará - Aquiraz, 1713; Fortaleza, 1706; Icó, 1736; Aracati, 1747; na de Goiás – Vila Boa de Goiás, 1739; Vila Bela da Santíssima Trindade, 1748; e na de Minas Gerais – Mariana, 1746.16 Segundo Roberta Delson: “... em conjunto, elas

deveriam ser encaradas como prova tangível do controle crescente da Coroa sobre a hinterlandia.”17

Essa interiorização das instituições governamentais coloniais, conforme Caio Boschi, teria a intenção de proporcionar o que chamavam de “sossego dos povos”, isto é,

12

MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, p. 55. 13

Sobre a política de interiorização colonial cf. em BOSCHI, Caio C. Administração e administradores no Brasil pombalino: os governadores da capitania de Minas Gerais. Actas do Colóquio O Século XVIII e o Marques de Pombal, p. 217-220.. Cf. Também em DELSON, Roberta. Novas vilas para o Brasil-Colônia: planejamento espacial e social no século XVIII.

14

Sobre as motivações para a transferência da capital para o Rio de Janeiro conferir em BICALHO, Maria Fernanda. Op.

cit., capítulo 3, p. 80-102.

15

DELSON, Roberta. Op. cit.,p. 9-16. 16

Ibidem, p.17-38. Para a criação dessas vilas, cf. também, principalmente para a documentação metropolitana que as

embasava, SANTOS, Paulo, Formação de cidades no Brasil Colonial, p. 46-58 17

DELSON, Roberta. Op. cit., p. 38. Cf. também FARIA, Miguel. Mato Grosso: Estado fronteira. Oceanos: A formação territorial do Brasil, n. 40, out./ dez. 1999, p. 161-178.

proporcionar condições que permitissem que as atividades econômicas se desenvolvessem e que a população estivesse sob maior controle das autoridades coloniais, seja procedendo no combate ao contrabando e na acurada cobrança de impostos e tributos, seja estabelecendo situações formais de maior segurança pública, como o estabelecimento de cadeias, e de controle de rebeliões, motins e quilombos.18

Para Laura de Mello e Souza, a Coroa pretendia “...tomar as rédeas do processo

urbanizatório que os colonos turbulentos haviam iniciado...”, para tanto, tratara não só de

esmagar levantes, mas também de controlar a população luso-brasileira que se manifestava em revoltas que se tornaram “surdas, constantes, disseminadas, cotidianas”. Por outro lado, devia controlar ainda outros “inimigos internos”, considerados ainda mais difíceis: os índios bravos, o negro quilombola e o vadio itinerante e biscateiro, principalmente pela ameaça constante que eram aos poderes instituídos.19

Essa tentativa de povoar e, ao mesmo tempo, controlar a população e definir o ordenamento na criação das novas vilas também atingiu a região Sul, inclusive em áreas litorâneas, quando da criação das povoações que acolheriam a migração estimulada de açorianos, que serviriam de linhas de defesa contra os espanhóis ainda na primeira metade do século XVIII.20

A política de ocupação do interior foi ampliada pelo Conde de Oeiras, na segunda metade do século, naquilo que Roberta Delson chamou de um “planejamento regional

abrangente”, que visava, além do aumento do estabelecimento de vilas no interior, a sua

integração econômica e política efetiva ao restante da colônia.21 Nessa política povoadora, foram incluídos os índios que desde a indicação de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Conde de Oeiras, para o Governo do Grão-Pará e Maranhão, em 1751, figuravam como novos “súditos” em potencial para garantir a presença da Coroa portuguesa nas áreas setentrionais da fronteira com os domínios espanhóis. 22

Mendonça Furtado foi encarregado secretamente por seu irmão, através das

Instruções que S. Maj. é servido mandar dar a Francisco Xavier de Mendonça Furtado e

18

BOSCHI, Caio. Op. cit. p. 222. 19

SOUZA, Laura de Mello e. Norma e conflito, p. 86-90.

20

DELSON, Roberta. Op. cit., p. 41-47. 21

Ibidem, p. 49-50.

22

Cf. RODRIGUES, Isabel Vieira. A política de Francisco Xavier de Mendonça Furtado no Norte do Brasil (1751-59).

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Capitão-General do Estado do Grão-Pará e Maranhão, de europeizar a colônia, fundando

novas Vilas à moda portuguesa e assimilando os índios à estrutura hierárquica da sociedade colonial, a fim de garantir a presença portuguesa na região e, conseqüentemente, a posse efetiva do território que estava em negociação com os espanhóis.23 Segundo Isabel Vieira Rodrigues, as Instruções... dadas pelo Conde de Oeiras ao seu irmão, na época da sua nomeação, definiam quatro objetivos correlatos: fortificar, delimitar, povoar e desenvolver o Estado do Grão-Pará e Maranhão, a fim de garantir a posse de vastos territórios da bacia amazônica. 24

O objetivo de fortificar o Estado referia-se à construção de pontos militares estratégicos que serviriam para punir e disciplinar os índios e foragidos, régulos e todos os elementos que escapavam à administração colonial e/ou desafiavam seu poder. Estes mesmos pontos militares, por outro lado, também serviriam de ponto de apoio para a concretização de outro objetivo, delimitar, isto é, demarcar a extensão máxima ocupada do território português, através da observação física e astronômica avançada na floresta.25

O terceiro objetivo, povoar, referia-se à imposição da autoridade e do controle metropolitano sobre todo o território ao qual foi mandado administrar. Para Portugal se apoderar legalmente das terras que reclamava como suas, deveria haver povoadores portugueses nelas e D. José e seu Primeiro Ministro entenderam que “a chave do

problema” para o povoamento da terra estava nos autóctones e na sua efetiva libertação.

Segundo Isabel Rodrigues, “As medidas de proteção e dignificação do íncola articulam-se

com os desígnios territoriais portugueses, porque só os índios aculturados garantiriam o ´utis possidetis` na região, e uma vez socializados nos costumes ocidentais transformavam-se em trabalhadores e contribuintes no sistema econômico introduzido no Estado.”26 Há que se considerar ainda que a fixação de novos colonos portugueses foi efetivada com projetos de colonização de açorianos, tanto nas colônias do norte quanto do

23

AHI, estante 340, prateleira 4, v. 4, doc. 31, Cópia da Carta Régia a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 30/05/1751. Contém as Instruções. Também em BNL, PBA 626, f. 7-12v. RODRIGUES, Isabel Vieira. O

Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado no Grão-Pará e Maranhão, p. 26-32, informa que essa Instrução,

de 31 parágrafos, era aberta e que havia outra Instrução secreta, com 39 parágrafos, passada por seu irmão, “Instrução

particular a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, nomeado Governador e Capitão-General do estado do Maranhão e Pará”, de 31/05/1751 (BNL, PBA 626, f. 13-19v.), sendo esta composta de temas mais melindrosos e

polêmicos, como o poder excessivo dos regulares e a criação de um seminário na colônia, concedendo-lhe o poder de eliminar qualquer obstáculo às suas ordens. Sobre as Instruções secretas... cf. também em AGUIAR, Sylvana Maria Brandão de. Triunfo da (des) razão: a Amazônia na segunda metade do século XVIII, p. 119- 128.

24

RODRIGUES, Isabel Vieira. A política de Francisco Xavier de Mendonça Furtado no Norte do Brasil (1751- 59).

Oceanos, Lisboa, n. 40, out./dez., 1999, p. 101.

25

Ibidem, p. 103.

26

sul, no entanto, a extensão territorial ocupada por Portugal exigia maior contingente populacional que esses projetos poderiam suprir.

Para Isabel Rodrigues, com a finalidade de obter esse vassalo-índio que garantisse a posse das terras almejadas, era imprescindível à Coroa portuguesa a “personalização” do índio através da imposição do nome cristão, do casamento com europeus, da integração na administração das povoações, do desempenho de funções como Juízes e Vereadores e do falar o português. Para tanto, os índios deveriam assumir um lugar de indivíduos claramente distintos dos escravos, inseridos no aparelho fiscal e financeiro da administração, transformados em “homens políticos, civis e econômicos”, isto é, homens trabalhadores e contribuintes de impostos ao Estado que, por sua vez, se incumbiria dos meios para isso, não só para a evangelização, mas também para a aculturação e socialização dos costumes ocidentais, através do estabelecimento de escolas, entre outros instrumentos de “alteração do índio.”27

Em último lugar, mas não de menor importância, o Governador deveria desenvolver economicamente o Estado, através da sistematização e implementação das idéias de “personalização” dos índios. 28 Dessa maneira, os índios, integrados à sociedade colonial e educados para o trabalho, poderiam prestar serviços adequadamente aos colonos luso-portugueses e, por conseqüência à Coroa, possibilitando uma maior expressão econômica.

Chamou-se essa estratégia de interiorização, de criação de novas Vilas e de incorporação da população nativa à colonização de “política metropolitana” porque foi levada a cabo ao mesmo tempo no Brasil e também nas outras áreas coloniais, como em África e Ásia, demonstrando a intenção da metrópole em definir uma direção única a seus domínios.29

Maria Fernanda Bicalho informa que em África, nas regiões do Rio Sena, as ordens régias para criação de novas Vilas, em 1761, resultaram na elevação de algumas

27

Ibidem, loc. cit.

28

Ibidem, p. 108.

29

Sobre a Política Colonial Pombalina ver em: PEREIRA, Arnaldo A. Para uma caracterização da Política Colonial Pombalina. Administração de Francisco Xavier de Mendonça Furtado no estado do Grão-Pará e Maranhão. In: Actas

das Primeiras Jornadas de História Moderna, p. 1076-1097. Para ele, as instruções dadas a Francisco Xavier de

Mendonça Furtado, e sua administração compatível com elas, demonstrariam que havia um plano prévio, portanto, uma “política colonial pombalina”; Cf. também: FALCON, Francisco Calazans. As reformas ilustradas pombalinas no âmbito da História Político-administrativa do Brasil-Colônia. In: Actas do Congresso “O Marquês de Pombal e a sua

Época”, p. 189-203; CAETANO, Marcelo. As reformas pombalinas e post-pombalinas respeitantes ao Ultramar. O

novo espírito em que são concebidas. In: História da expansão portuguesa no mundo, v. 3, p. 251-260; COUTO, Jorge. O Brasil pombalino. In: MEDINA, João (Dir.). História de Portugal dos tempos pré-históricos até aos nossos

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povoações nativas a Vilas com suas Câmaras nos principais centros, como Sena, Tete e na feira de Zumbo. Bicalho concorda que a criação das Vilas e respectivas Câmaras “...teria

sido uma estratégia de Lisboa no sentido de civilizar, ou seja, submeter aos preceitos da

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