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5.2 Processo Construtivo

5.3.3 Galgamento

A última ficha, com o código 3.4.3, é referente ao galgamento da estrutura de betão da ensecadeira, como se pode constatar na Tabela 5.6.

O galgamento da ensecadeira tem 2 perigos associados: dados geométricos inadequados, cuja causa remete para erros de execução da obra, condicionamentos da obra impostos pela subida do nível da água da albufeira durante a sua construção, folga insuficiente associada a condições de pluviosidade e condições de afluência excecionais.

Estes perigos remetem para as vulnerabilidades relativas às condições de exploração da albufeira de Salamonde durante a fase de construção e às condições de afluência a esta barragem durante a fase de exploração. Chama-se a atenção para o fato de esta barragem em termos hidráulicos não respeitar o atual Regulamento de Segurança de Barragens, designadamente as exigências em termos de cheia de projeto, o que levou a EDP a construir um novo descarregador de cheias complementar, referido no capítulo 1,o qual foi incluído na presente empreitada.

Desde modo, considera-se que a probabilidade associada ao galgamento é não desprezável, pelo que também foi admitida a possibilidade de galgamento da ensecadeira, mas agora com riscos associados muito mais elevados.

Este tipo de risco não implica a destruição da ensecadeira, mas ao inundar toda a área a jusante desta, pode provocar perdas de vidas humanas, danos em equipamentos, criando condicionamentos à circulação de equipamentos e de pessoas, aumentando os custos e prazos associados aos trabalhos de limpeza e reconstrução das estruturas afetadas, assim como uma depreciação da reputação das entidades envolvidas.

Este tipo de evento tem a probabilidade de ocorrência assume o valor de 1 (raro) com uma probabilidade de ocorrência inferior aos 2%. As respetivas consequências referentes aos custos e prazos tomam um valor muito elevado de 5, uma vez que este tipo de evento é muito prejudicial, sendo a sua classificação muito elevada. Os danos podem ser muito elevados em componentes definitivas da obra, que poderão conduzir a atrasos e sobrecustos muito elevados, nomeadamente um aumento superior a 25%, para os custos das atividades e um aumento superior a 15%, no prazo de execução dos trabalhos em análise. Ao nível da imagem/reputação atribui-se uma escala 3 (moderado), que já provoca uma cobertura adversa a nível regional, requerendo desta forma uma intervenção da direção do dono da obra e/ou do construtor [16].

Do produto destes valores obtém-se um valor de 5, no caso dos custos e prazos associados, sendo este um risco com uma classificação moderada, como se pode constatar na Tabela 1.4.

A resposta planeada, passa pelo estabelecimento de níveis de alerta e de alarme (sendo decretada evacuação total caso se atinga nível de alarme). Caso o nível de água seja elevado deve-se efetuar um abaixamento do nível da água na albufeira de Salamonde, nomeadamente quando for previsível a ocorrência de precipitação muito intensa e de longa duração. Em paralelo deve ser elaborado de um plano de emergência, a instalação das comportas na ensecadeira e na torre das comportas de segurança no circuito hidráulico da tomada de água logo possível, de modo a evitar a inundação dos túneis profundos [16].

Tabela 5.6- Ficha de análise de riscos, referente ao código 3.4.3.[16]

RESPOSTA PLANEADA

DESCRIÇÃO CAUSAS Custos Prazos Imagem/

Reputação Custos Prazos

Imagem/ Reputação

(Procedimentos, meios e condições de aplicação)

Prob. Sev. RISCO

2 Projectista / Fiscalização / Empreiteiro RISCO RESIDUAL RISCO RESPONSÁVEL 2 5 5 5 1

Estabelecimento de níveis de alerta e de alarme; Abaixamento do nível da água na albufeira de Salamonde quando for previsível a ocorrência de precipitação muito intensa e de longa duração; Elaboração de um Plano de Emergência; Instalação das comportas ensecadeira e de segurança no circuito hidráulico da Tomada de Água; Sobreavaliação das acções de projecto (nível de água na albufeira); Condições de pluviosidade excepcionais; Condições de afluência excepcionais SEVERIDADE PERIGO

VULNERABILIDADES EVENTO INDESEJÁVEL CONSEQUÊNCIAS PROBABI-

LIDADE 5 5 1 5 Dados geométricos inadequados Erros de implantação da obra; Condicionamentos da obra; Geometria de projecto que não satisfaz as condições de segurança (folga e comporta) Condições de exploração da albufeira de Salamonde Galgamento da ensecadeira

Perdas de vidas humanas; Danos em equipamentos; Condicionamentos impostos à circulação de

equipamentos e de pessoas; Custos e prazos associados aos trabalhos de limpeza e reconstrução das estruturas afectadas; Depreciação da reputação das entidades envolvidas

Acções superiores às do projecto

Se todos estes procedimentos forem criteriosamente cumpridos a probabilidade associada mantem-se (depende apenas da albufeira de Salamonde), a severidade passa para 2, pois não afetará as pessoas e apenas se limitará à zona imediatamente a jusante da ensecadeira, e o risco baixa para um valor de 2, caracterizado como trivial na respetiva escala, não levantando desta forma nenhum tipo de problema na frente de trabalho em causa.

6 Conclusão

No presente trabalho pretendeu-se estudar o plano de Gestão de Risco, focando a análise na obra referente ao reforço de potência do aproveitamento de Salamonde. Para a realização desta tese foi indispensável todo o apoio prestado pelo LNEC, Teixeira Duarte e Coba desde o fornecimento de dados, visitas à obra, acompanhamento de trabalhos, sendo imprescindível para o sucesso deste plano que todos os envolvidos trabalhem em equipa e com um espírito de interajuda.

A gestão de risco engloba a análise, avaliação e gestão do risco, passando desta forma pela análise, identificação e quantificação dos perigos que podem estar presentes na construção, ou seja, os perigos que podem ocorrer. A sua materialização depende das condições existentes em obra que a potenciam, aqui designadas por vulnerabilidades, e determina um conjunto de consequências.

Após a identificação da cadeia de eventos associada a um acontecimento indesejável ou modo de rotura – perigo, vulnerabilidade e consequência - são avaliadas de forma semi-quantitativa a probabilidade e a severidade em termos de custos, prazos e reputação das entidades envolvidas., com base no produto das quais é determinado o valor do risco.

Por fim a gestão envolve todas decisões tomadas pelos vários intervenientes deste o planeamento ao término dos trabalhos, optando-se pelas melhores soluções, de forma a minimizar custos e rentabilizar todos os meios envolvidos com os mínimos riscos possíveis. Após estas medidas os riscos são reavaliados obtendo desta forma um valor residual.

Toda esta análise foi efetuada para as frentes de obra da estrutura da tomada de água de um circuito hidráulico de uma barragem, nomeadamente de taludes de escavação, paredes ancoradas, paredes pregadas, incumprimentos de planeamento, cortina de impermeabilização e ensecadeira. Escolheu-se esta frente de obra pela diversidade de temas abordados, desde a estabilidade, à rotura de elementos estruturais, passando por problemas hidráulicos, enriquecendo desta forma o tema em questão da análise de risco e demonstrando a sua aplicação nos mais variados assuntos.

Este método possui uma enorme vantagem para todos os intervenientes na obra, desde o dono da obra até ao empreiteiro passando pelo projetista, fiscalização e outras entidades ligadas ao empreendimento, uma vez que permite controlar os riscos presentes em obra, constituindo assim uma prevenção ou solução imediata dos problemas que possam surgir, estando toda a informação apresentada de uma forma clara e simples nas fichas de análise de risco, elaboradas pelos analistas de risco.

Para o sucesso deste trabalho de análise sistemática de gestão de risco, os respetivos analistas tem de efetuar regularmente acompanhamentos no terreno, visitas regulares aos trabalhos alvos de estudo, sendo um acompanhamento permanente essencial para o desenvolvimento de um plano de gestão. Com a elaboração deste trabalho reforça-se a necessidade e importância do acompanhamento da obra.

Nesta obra, os prazos eram imperativos, uma vez que existia subjacente uma exploração hidroelétrica e a EDP não poderia por em risco o fornecimento de energia na data acordada com os financiadores. Adicionalmente, todos os trabalhos que condicionassem o abaixamento do nível da água na albufeira teriam de respeitar e cumprir criteriosamente todos os prazos previamente

estipulados, designadamente, os trabalhos relativos à construção e demolição da ensecadeira. Desta forma, a análise sistemática de risco é uma ferramenta indispensável para o sucesso e cumprimento de prazos predefinidos.

Cada vez mais no mercado da construção, em especial em obras de elevados custos e com incertezas associadas, se torna indispensável o controle de uma gestão de risco de forma sistemática com o objetivo de controlar todos os custos e tempos. Por vezes, pode facilitar mesmo a obtenção de financiamentos, participações e investimentos por parte de organismos externos dada a transparência e o registo inerentes ao processo.

A experiência tida durante este tempo de ligação aos trabalhos em Salamonde, leva a considerar que seria vantajoso a presença de um projetista acompanhando diariamente o decorrer das obras. Desta forma diminuir-se-iam os erros ou as inadaptações do projeto às condições reais, sendo que todas as partes entenderiam melhor a origem dos problemas, facilitando as respetivas soluções, evitando problemas como os descritos no capítulo 4. Complementarmente, os prazos decorrentes da falta de elementos de projeto viriam minimizados.

Em consequência do trabalho realizado, considera-se interessante para o desenvolvimento futuro de uma base de dados referente a vários tipos de riscos de várias obras, identificando a forma de gestão que foi adotada, promovendo a descrição dos respetivos riscos, que eventualmente foram materializados e as medidas tomadas.

Desta forma, seria criada uma plataforma que fomente a partilha de conhecimentos e práticas, sendo que este tipo de estudos requer experiência, entendimento de todas as causas que podem estar na origem e soluções. Este leque de variáveis, que oscilam de obra para obra, ao serem registados e partilhados podem ser usados como meios de comparação, permitindo tirar conclusões e desta forma prever/solucionar outros eventos indesejáveis.

Por outro lado, as probabilidades de rotura associadas a estruturas definitivas, estão definidas nos Eurocódigos, com valores da ordem de 10-5. No entanto, no que se refere a obras provisórias, esta probabilidade ainda não se encontra nada definida, sendo interessante o seu estudo e determinação, como exemplo para a obra da ensecadeira da tomada que, apesar de não ser uma obra definitiva, a sua rotura podia provocar um elevado número de perdas de vida e danos elevados em todas as estruturas a jusante.

Seria igualmente útil a realização de um estudo ao nível de soluções económicas que possam ser usadas de forma sistemática para um conjunto determinado de trabalhos. Este estudo devia ser conduzido com o apoio de projetistas e empreiteiros, obtendo-se assim uma base de dados de resposta imediata a problemas que surgissem numa determinada obra.

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