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3.5 Análise e Gestão dos Riscos

3.5.1 Instabilidade Global

Na primeira ficha de análise e registo de riscos, referente ao risco de instabilidade global, com o código 1.1.1, os eventos indesejáveis são de várias ordens, presentes Tabela 3.2.

Assim, o escorregamento de depósitos superficiais e a rotura conjunta das estruturas de contenção e dos maciços suportados têm na sua origem causas que remetem para dados geométricos inadequados, como por exemplo, erros de implantação da obra, estratigrafias diferentes das consideradas no projeto, a presença de estruturas enterradas que condicionam o normal andamento da obra, uma geometria de projeto que não satisfaz as condições de segurança ou uma combinação desfavorável de descontinuidades.

Podem também ser induzidos por ações superiores às consideradas no projeto, por exemplo devido à circulação de veículos pesados, ações da água provocadas por erros de construção (falta de drenagem ou a ocorrência de condições atmosféricas muito adversas, como uma forte precipitação),

áreas de escavação e tempos de exposição superiores aos admitidos em projeto (desrespeito pelo faseamento construtivo) ou mesmo condições geológico-geotécnicas anormais.

Por último, será de referir causas relativas a resistências inferiores dos materiais (solos e materiais de construção) às previstas no projeto, eventualmente devido à sobre estimativa das propriedades, induzidas por erros de construção (saturação e descompressão do maciço e condições geotécnicas anormais) ou mesmo por uma pluviosidade excecional com deficientes ou inexistentes condições de drenagem.

Em termos de vulnerabilidade, o maciço objeto de escavação encontrava-se até à cota (283) muito alterado a medianamente alterado (W5-4 a W3) e fraturado (F3-4) a medianamente fraturado (F3). Foram ainda detetadas 2 falhas subverticais e 6 famílias de descontinuidades. As descontinuidades apresentavam paredes rugosas a ligeiramente rugosas e com enchimentos areno-argilosos com cerca de 1 a 5 mm de espessura (descritas na Tabela 3.2).

As consequências, em geral, de escorregamentos em grandes massas são a possibilidade de ocorrência de perda de vidas humanas de trabalhadores e de dados em equipamentos presentes nos locais afetados, bem como as relativas a custos/prazos associados à reconstrução das estruturas atingidas e à estabilização dos próprios taludes de escavação. A imagem e reputação de todas as entidades envolvidas virão diminuídas se os riscos referidos se materializarem, dada a sua incapacidade de os evitar, podendo a sua divulgação ultrapassar o restrito círculo da obra [16].

Com base na classificação de gestão de risco apresentada anteriormente no subcapítulo 1.1,

relativamente ao primeiro evento indesejável presente na Tabela 3.2 – escorregamento de depósitos

superficiais – a probabilidade de ocorrência em função do maciço presente e do considerado na fase de projeto foi admitida entre 30 e 50%, a que corresponde o valor 4 (muito provável).

Por sua vez, para a classe de consequência ao nível de custos e de prazos foram considerados valores moderados (entre 5 e 15%, para os custos e entre 2 e 10% para os prazos), que, dado o estado inicial da obra, refletem danos moderados em componentes definitivas das obras. Relembra-se, que nesta obra o prazo constitui o fator mais condicionante. Ao nível da imagem e da reputação atribuiu-se uma escala 2 (baixa), que nem sequer tem divulgação nos meios de comunicação social.

Do produto da probabilidade pelas consequências obtém-se o valor de 12, para os custos e os prazos, que, segundo a Tabela 1.3, situa-se na zona amarela, correspondente a uma classificação com risco significativo, que requer uma identificação e avaliação das medidas de controlo dos riscos, cujos custos associados nas ações a desenvolver devem ser baixos a moderados

Tabela 3.2- Ficha de análise de riscos, referente ao código 1.1.1 [16]

RESPOSTA PLANEADA

DESCRIÇÃO CAUSAS Custos Prazos Imagem/

Reputação Custos Prazos

Imagem/ Reputação

(Procedimentos, meios e condições de aplicação)

Prob. Sev. RISCO

Escorregamento em

depósitos superficiais 4 3 3 2 12 12 8

Verificação das condições de implantação da obra; Verificação da geometria de projecto (estruturas enterradas); Cartografia das zonas escavadas; Verificação das condições geotécnicas de projecto; Reconhecimento das superfícies escavadas para detecção de instabilizações ou de descontinuidades de orientação desfavorável; Avaliação das condições de pluviosidade e dos seus efeitos nos taludes de escavação; Prospecção geotécnica adicional; Proposta de alterações de projecto em termos de geometria e de faseamento construtivo; Adopção de estruturas de contenção provisórias em caso de interrupção prolongada dos trabalhos; Reforço do sistema de drenagem; Observação inclinométrica do maciço; 1 2 2 Projectista / Fiscalização / Empreiteiro Escorregamento em depósitos superficiais

com rotura das estruturas de contenção

2 4 4 2 8 8 4

Verificação das condições de implantação da obra; Verificação da geometria de projecto (estruturas enterradas); Cartografia das zonas escavadas; Verificação das condições geotécnicas de projecto; Reconhecimento das superfícies escavadas para detecção de instabilizações ou de descontinuidades de orientação desfavorável; Avaliação das condições de pluviosidade e dos seus efeitos nos taludes de escavação; Prospecção geotécnica adicional; Proposta de alterações de projecto em termos de geometria do talude, de obra de contenção e de faseamento construtivo; Reforço do sistema de drenagem; Análise dos dados de observação relativos a deslocamentos do maciço e da estrutura de suporte e a esforços em ancoragens; Reforço do sistema de observação;

1 3 3

Projectista / Fiscalização /

Empreiteiro

Rotura em cunha 2 2 2 2 4 4 4

Cartografia das zonas escavadas; Verificação das condições geotécnicas de projecto; Reconhecimento das superfícies escavadas para detecção de instabilizações ou de descontinuidades de orientação desfavorável; Avaliação das condições de pluviosidade e dos seus efeitos nos taludes de escavação; Proposta de alterações de projecto mediante a adopção de um maior número de pregagens ou aumento do seu comprimento; Adopção de estruturas de contenção provisórias em caso de interrupção prolongada dos trabalhos; Reforço do sistema de drenagem; Análise dos dados de observação relativos a deslocamentos do maciço; Reforço do sistema de observação;

1 2 2

Projectista / Fiscalização /

Empreiteiro

Rotura em cunha com rotura das estruturas de

contenção

1 3 3 2 3 3 2

Cartografia das zonas escavadas; Verificação das condições geotécnicas de projecto; Reconhecimento das superfícies escavadas para detecção de instabilizações ou de descontinuidades de orientação desfavorável; Avaliação das condições de pluviosidade e dos seus efeitos nos taludes de escavação; Proposta de alterações de projecto mediante a adopção de um maior número de pregagens ou aumento do seu comprimento; Reforço do sistema de drenagem; Análise dos dados de observação relativos a deslocamentos do maciço e da estrutura de suporte; Reforço do sistema de observação;

1 2 2 Projectista / Fiscalização / Empreiteiro Resistências inferiores às do projecto Sobreavaliação das propriedades dos materiais no projecto; Erros de construção (saturação e descompressão do maciço); Condições geológico-geotécnicas anormais; Pluviosidade excepcional Basculamento 1 1 1 1 1 1 1

Cartografia das zonas escavadas; Reconhecimento das superfícies escavadas para detecção de descontinuidades de orientação desfavorável; Avaliação das condições de pluviosidade e dos seus efeitos nos taludes de escavação; Remoção ou ligação dos blocos instáveis ao maciço confinante; Inspecção visual;

1 1 1 Empreiteiro Dados geométricos inadequados Erros de implantação da obra; Condicionamentos da obra (presença de estruturas enterradas); Geometria de projecto que não satisfaz as condições de segurança (inadequada definição da interface depósitos superficiais -maciço rochoso); Combinação desfavorável de

descontinuidades; Maciço muito alterado a medianamente alterado (W5-4 a W3), fracturado (F3-4) a medianamente fracturado (F3) até à cota 283 m, ocorrência de 2 falhas (FM subvertical com a direcção E-W e FN com a direcção N-S ), nível de água não detectado até à cota 283 m, famílias de descontinuidades: N30- 40ºE, SV; N20-26ºW,SV; N60-70ºW,SV; e N52ºE, 40- 50ºNW, rugosas a ligeiramente rugosas com enchimentos areno- argilosos, de 1 a 5 mm, até à cota 283 m, paleocanal preenchido com material rolado com espessura máxima de 1,5 m na extremidade oeste

Perda de vidas humanas; Danos em equipamentos; Custos e prazos associados aos trabalhos de reconstrução das estruturas afectadas; Depreciação da reputação das entidades envolvidas Acções superiores às do projecto Subavaliação das acções de projecto (circulação de veículos pesados); Erros de construção (falta de drenagem; desrespeito do faseamento construtivo); Condições geológico-geotécnicas anormais; Pluviosidade excepcional

RISCO RISCO RESIDUAL

RESPONSÁVEL PERIGO

VULNERABILIDADES EVENTO INDESEJÁVEL CONSEQUÊNCIAS PROBABI- LIDADE

.

Como forma de prevenir o escorregamento de depósitos superficiais, previamente à execução da escavação, deve-se verificar as condições de implantação da obra, designadamente se estão presentes elementos enterrados, confirmar a geometria para verificar se apresenta diferenças significativas relativamente ao previsto no projeto, comparar a cartografia das zonas escavadas e as condições geotécnicas com as admitidas no projeto. Complementarmente, deve ser efetuado um reconhecimento das superfícies escavadas para deteção de instabilidades ou de descontinuidades de orientação desfavorável e uma avaliação das condições de pluviosidade e dos seus efeitos nos taludes de escavação. Caso as diferenças sejam significativas ou as condições geotécnicas sejam localmente muito desfavoráveis, poderá ser imperativo a realização de prospeções geotécnicas adicionais ou a proposta de projeto em termos de geometria, de faseamento construtivo. Complementarmente, durante a execução, pode ser necessário proceder à adoção de estruturas de contenção provisórias em caso de interrupção prolongada dos trabalhos ou ao reforço do sistema de drenagem, se os efeitos da pluviosidade nos taludes se tornarem aparentes, podendo afetar a estabilidade do talude [16].

Caso estas medidas sejam implementadas, a probabilidade de ocorrência do risco baixará para um valor mínimo de 1 e as consequências para o valor 2, sendo o seu produto 2, caracterizado como trivial na respetiva escala de consequências, não levantando, desta forma, nenhum tipo de problema na frente de trabalho em causa.

No que se refere ao escorregamento em depósitos superficiais com rotura das estruturas de contenção, as consequências são do mesmo tipo do que as associadas ao simples escorregamento, alterando-se as respetivas escalas. Com a estruturas de contenção, a probabilidade de ocorrência de instabilidade global diminui para valores entre 2 e 10% (escala 2 – pouco provável), mas os custos e os prazos tomam um valor mais elevado de 4, dado que haverá que recuperar as próprias estruturas. Os danos serão assim elevados em componentes definitivas das obras. Estima-se um aumento da ordem dos 15 a 25% dos custos das atividades e entre os 10 e 15% do prazo de execução dos trabalhos em análise. Para a imagem e a reputação manteve-se o valor de classificação de 2 (baixo) previamente considerado [16].

Do produto destes valores obtém-se um valor de 8, para os custos e os prazos associados, obtendo-se para este um risco uma classificação moderada, como se pode constatar na Tabela 1.4. Dever-se-á, em consequência, desenvolver soluções mais eficientes ou introduzir de melhorias, preferencialmente sem custos extra. Por sua vez, no campo referente à imagem e reputação, o valor 4, referente a uma classificação trivial, releva que este acontecimento assume pouca relevância.

Perante este cenário, a resposta planeada neste risco é idêntica à descrita anteriormente para o caso do escorregamento em depósitos superficiais, sendo esta complementada com a análise dos dados de observação, neste caso já disponíveis, relativos a deslocamentos do maciço, da estrutura de suporte e a esforços em ancoragens.

Uma vez aplicado este tipo de medidas, mais uma vez o risco residual é minimizado. Neste caso a probabilidade baixa para o valor de 1, as consequências para 3 e o risco residual assume o valor de 3, sendo classificado como trivial, como se pode constatar na Tabela 1.4.

Como se pode constatar pela análise da Tabela 3.2, estes dois tipos de riscos assumem os valores mais elevados na tabela. No entanto, eventos como a rotura em cunha, a rotura em cunha com rotura das estruturas de contenção ou mesmo o basculamento são possíveis, pelo que também para estes deve ser planeado um conjunto de procedimentos, meios e condições de aplicação, todos eles indicados na mesma tabela.

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