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GARANTIA CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS SOCIAIS

4 ACESSO À JUSTIÇA

4.1 GARANTIA CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS SOCIAIS

Sem distinção de qualquer natureza, a Constituição Federal em seu artigo 5º garante aos brasileiros o direito à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Mais especificamente o mesmo artigo determina no inciso XXXV que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, o que define o princípio da inafastabilidade da jurisdição.

Corrobora ainda o codinome de “Constituição Cidadã”, eis que esta Carta magnífica teve sua redação tão direcionada aos valores humanos, o seu artigo 6º, que determina também: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o

trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Se falamos de justiça, os itens acima citados são o grande exemplo; Não haverá a configuração do acesso à justiça sem que os direitos fundamentais, humanos e sociais, garantidos constitucionalmente, sejam oferecidos de maneira ampla e irrestrita àqueles que deles necessitam. A carência de recursos, o analfabetismo, a falta de instrução leva a população de baixa renda à cultura de aceitar as coisas como elas são, desconhecendo um mundo de melhor qualidade de vida. Wilson Alves de Souza define que:

O problema do acesso à justiça começa no plano educacional. Esse é o ponto de partida. Pode-se dizer que o acesso à justiça começa a partir da possibilidade de conhecer os direitos e, quando violados, os mecanismos para exercê-los, na medida em que o conhecimento dos direitos, em larga medida, passa inicialmente pela informação. Esse é um problema que varia

a depender do nível educacional do povo de cada país. A realidade é que o cidadão desprovido de educação normalmente ignora os direitos que tem, não sabe se seus direitos foram violados e nem como buscar tutelá-los em caso de violação. O Brasil, com sua massa de analfabetos, sem contar os chamados analfabetos funcionais, é um péssimo exemplo, nesse ponto, de dificuldade de acesso à justiça (Souza,2013, p.18).

4.1.1 Justiça social e o abismo socioeconômico

Observamos no contexto social brasileiro que um dos grandes males do Brasil é a pobreza e a consequente falta de acesso aos direitos fundamentais pelas camadas mais pobres. A justiça social consiste em diminuir o abismo socioeconômico gigantesco que se afigura no país cuja economia é oitava no mundo, mas que a distribuição de recursos é extremamente desigual. Carlos Eduardo Vasconcelos (2017,p.31) comenta que a desigualdade social, falta de moradia adequada, acesso à saúde e educação causa revolta em parte da população devido à expansão democrática do conhecimento através das tecnologias de informação, que ele chama de “Revolução dos conhecimentos”. Segundo o autor “Ao atenuar as hierarquias patrimonialistas, a “Revolução dos Conhecimentos” deflagra ondas emancipatórias” e afirma:

A democratização dos conhecimentos e das instituições, acionada pela expansão das tecnologias da informação, instiga e, ao mesmo tempo, constrange milhões de cidadãos limitados econômica, social e ecologicamente. Uma explosão de criatividade se dá ao lado de um vulcão de frustrações. Multidões excluídas de fato se sentem, entretanto, incluídas de direito.

No Brasil, milhões de jovens e suas famílias suburbanas, carentes da figura paterna, de educação, de saúde e de sustentabilidade econômica, são induzidos ao uso da força e à prática do ilícito, tentados a um atalho em direção aos confortos da modernidade. Talvez aí a principal razão de tanta violência em sociedades abertas, de feição liberal democrática, em que os direitos humanos ainda não foram efetivados. Em meio a todas essas mudanças, os cidadãos – ressalvados os funcionários públicos estáveis – não mais se sentem ocupando um lugar seguro. Cada um se percebe sem lugar, num lugar incerto ou, quando muito, num certo lugar. Nessas circunstâncias, a desigualdade de oportunidades assume feições dramáticas, trágicas, insustentáveis. Sob esta globalização comunicativa, a cidadania vai-se universalizando e passa a ostentar uma consciência mais clara do seu direito a uma vida digna, com aspiração de acesso a igual liberdade, inclusive para divergir, e a uma igualdade de oportunidades, inclusive, eventualmente, para a prática do ilícito (Vasconcelos, 2017,p.31).

Conforme se afirma, este é um contexto que influencia muito a geração de conflitos: Todos os dias, em todos os lares, somos bombardeados por informações. Para alguns é muito frustrante estar na parte de baixo das camadas sociais.

5 CONCEITOS DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO

A autocomposição é a resolução de conflitos através do consenso entre as partes envolvidas, mediada por um profissional imparcial e independente, sem necessariamente a intervenção de um magistrado, de acordo com o artigo 334. § 1º do Código de Processo Civil. Fernanda Tartuce, (2017, p.49) afirma que “Cumpre destacar que, no regime do Novo CPC, o magistrado não é a pessoa responsável por conduzir a sessão consensual: esta deverá ser realizada necessariamente por um terceiro facilitador auxiliar do juízo”.

Assim é o instituto da conciliação e mediação, que se caracteriza por um acordo entre as partes de forma que satisfaçam as pretensões de cada um, evitando-se com isto a judicialização da demanda, ou se já existir o processo judicial, que se provoque a extinção do mesmo, através da homologação judicial do acordo, como prevê o artigo 725, VIII do Código de Processo Civil (CPC).

Conforme o artigo 166 do CPC, a conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada

Estes institutos ganharam muita importância nos últimos anos e a sua utilização vem crescendo, certamente por ser um caminho interessante na questão de acesso à justiça e celeridade processual. Uma boa comprovação deste aspecto é atenção que as instituições vêm dando ao tema. O CNJ promove todos os anos no âmbito das Justiças Federal, Estadual e Trabalhista, a Semana Nacional de Conciliação, que tem se mostrado produtiva, melhorando resultados a cada ano que passa, estando na 13ª edição. Em notícia publicada no site, o órgão informa que “O evento para promover a cultura do diálogo entre as partes de um conflito, criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ocorre, anualmente, desde 2006”. (disponível em http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87125-xiii-semana-nacional-da-conciliacao- confirmada-para-ocorrer-entre-os-dias-5-e-9-de-novembro - acesso em 03/11/2018). Comentário de Erica Barbosa da Silva reforça esta tendência:

Incrementando tal política, o CNJ sedimentou a política pública de tratamento adequado dos conflitos de interesses, recorrendo a meios consensuais para resolver conflitos, pela resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010. Os grandes destaques desta resolução consistem na nivelação das práticas voltadas aos meios consensuais e na

obrigatoriedade do Judiciário em oferecer meios consensuais para resolução de conflitos (Silva, 2013, p.165).

Outro fato que denota o interesse das autoridades é o cuidado na elaboração do novo CPC, com a inserção de mais dispositivos relativos ao assunto. Logo no artigo 3º o codex já começa a disciplinar o instituto e depois lhe dedica um capítulo inteiro. Fredie Didier Jr. Comenta este interesse dos legisladores:

O Poder Legislativo tem reiteradamente incentivado a autocomposição, com a edição de diversas leis neste sentido.O CPC ratifica e reforça essa tendência:

a) dedica um capítulo inteiro para regular a mediação e a conciliação (arts. 165-175); b) estrutura o procedimento de modo a pôr a tentativa de autocomposição como ato anterior ao oferecimento da defesa pelo réu (arts. 334 e 695); c) permite a homologação judicial de acordo extrajudicial de qualquer natureza (art. 515, III; art. 725, VIII); d) permite que, no acordo judicial, seja incluída matéria estranha ao objeto litigioso do processo (art. 515, § 2º); e) permite acordos processuais (sobre o processo, não sobre o objeto do litígio) atípicos (art. 190). A Lei n.13.140/2015 disciplina exaustivamente a mediação, em geral, e a autocomposição envolvendo o Poder Público (arts. 32-40) (Didier Jr, 2017, p.187).

Uma vez disseminada, o uso deste instituto poderá se traduzir em economia de tempo e dinheiro, tanto por parte do Estado, que reduz o fluxo de ações judiciais, quanto para o jurisdicionado que poderá ver a solução de seu caso com rapidez, evitando custas judiciárias, honorários, e despesas gerais de locomoção entre outras.

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