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Ainda com o intuito de se conhecerem outras formas de gastos pessoais por parte dos professores-alunos nos municípios-núcleos, incluímos no questionário o gasto

125 médio no período presencial, como alimentação e hospedagem.

Assim, analisando os gastos médios, o resultado foi que alguns alunos gastaram entre R$ 30,00 a R$ 50,00; de R$ 60,00 a R$ 100,00; outros gastam de R$ 110,00 a R$ 150,00; alguns têm despesas de R$ 160,00 a R$ 200,00; de R$ 210,00 a R$ 250,00, aproximadamente; e, em menor percentual, gastam R$ 260,00 a R$ 300,00. Com relação a isso, em menor percentual, alguns pesquisados informaram que não têm gastos durante os módulos presenciais (FIGURA 6.6).

É importante destacar que esses módulos presenciais ocorriam nos períodos de férias, ou seja, nos meses de janeiro e julho. Dessa forma, esses gastos correspondem aos quatros módulos do curso no decorrer dos dois anos, tempo necessário para os alunos concluírem o curso.

Médio-geral nos módulos presenciais do curso Normal Superior Modular Fonte: Pesquisa de Campo, 2004.

Embora essa seja a condição dos professores-alunos dos municípios pesquisados, ela retrata, de modo geral, as mesmas condições dos alunos de outros municípios conveniados. É que, ao considerarmos a distância geográfica dos municípios de pequeno porte em relação ao município-núcleo, concluímos que, necessariamente isso lhes exigia gastos adicionais. A pesquisa realizada em 2000 pela Pró-Reitoria de Ensino da UNIMONTES já apontava que, para custear as despesas adicionais no módulo presencial, alguns alunos exerciam atividades informais.

Poucos afirmaram exercer alguma atividade remunerada concomitante às 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% Gastam Nada Gastam de R$ 30,00 a R$50,00 Gastam de R$60,00 a R$100,00 Gastam de R$110,00 a R$150,00 Gastam de R$160,00 a R$200,00 Gastam de R$210,00 a R$250,00 Gastam de R$260,00 a R$300,00

atividades modulares. No entanto, é importante enfatizar que aqueles que realizaram atividades vinculadas ao mercado informal, durante os módulos, como venda de bijuterias e roupas, usam a renda adquirida, 68,5%, para as despesas do próprio período modular (UNIMONTES, 2002).

Levando em consideração as condições de transporte do município de origem desses professores-alunos ao município-núcleo, era inviável, após dez horas de aula, retornar a suas residências. Nesse caso, tentar estabelecer residência no município-núcleo, durante o período presencial, era a única alternativa.

6.3.1 Gasto com alimentação

Dos pesquisados, 81,7% informaram que possuem gastos nos módulos presenciais do curso Normal Superior; para 43,2%, as despesas não são com alimentação, 25,8% gastam de R$ 100,00 a R$ 400,00; 21,9% gastam de R$ 1,00 a R$ 10,00 e 9% gastam de R$ 25,00 a R$ 40,00, com alimentação (FIGURA 6.7).

Gastos com Alimentação Fonte: Pesquisa de Campo, 2004.

6.3.2 Gastos com Hospedagem no Município

Do total de entrevistados nos respectivos municípios, 15,5% informam que gastam R$ 40,00 com hospedagem; 6,5% gastam R$ 35,00; 5,8% gastam R$ 50,00, 2,6% gastam R$ 70,00 e 69% informam não gastar. Essa informação pode ser visualizada na Figura 6.8. 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% Gastam Nada Gastam de R$1,00 a R$10,00 Gastam de R$ 25,00 a R$40,00 Gastam de R$ 100,00 a R$ 400,00

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Gastos com Hospedagem Fonte: Pesquisa de Campo, 2004.

Outra vez, nossa experiência de campo no exercício da docência nos módulos presenciais nos municípios de Montes Claros (julho de 2001), Janaúba (julho de 2002), Corinto (janeiro de 2003), Paracatu (janeiro de 2003) permite-nos estabelecer algumas relações com as informações obtidas na Figura 6.9. No que se refere aos 69,7% que dizem não gastar nada com hospedagem, alguns fatores devem ser considerados: em primeiro lugar, o fato de alguns desses alunos residirem no município-núcleo; ou ainda o fato de alunos de outros municípios permanecerem no período presencial em casa de parentes e amigos.

Outro recurso é que algumas prefeituras ofereciam meios de transporte, tais como: ônibus velhos, caminhonetes, peruas etc. Nesses casos específicos, os professores tinham como voltar para suas residências. Por fim, o transporte individual: motos, bicicletas e até mesmo charretes, quando se tratava de alunos dos pequenos distritos do município- núcleo.

Por conseguinte, aqueles alunos que não utilizaram dessas alternativas, permaneciam na cidade no decorrer da semana e, muitas vezes, durante o mês todo; o mais comum era alugarem casas, barracões e instalarem uma república. Raros foram os casos de alunos que se estabeleceram em hotéis. Aliás, em alguns municípios não havia hotéis, apenas pensões.

[...] quanto às despesas com acomodação e alimentação, os alunos buscam minimizar os custos. Hospedam-se em conjunto; 40% afirmam hospedar-se em “casa alugada” e, muitas vezes, na própria sede da escola, 43% fazem refeições em “casa” e/ou restaurantes e 44% fazem suas compras em supermercados (UNIMONTES, 2002, p.63). 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% Gastam Nada Gastam R$ 35,00 Gastam R$ 40,00 Gastam R$ 50,00 Gastam R$ 70,00

Por tudo isso, o fato de permanecerem a semana e/ou o mês todo no município, longe de sua família, esposo e filhos, acarretaram vários problemas de ordem emocional. Tive a oportunidade de presenciar na sala de aula: tensões nervosas, crise de choro, desmaio, dores de cabeça. Vale dizer, ainda, que esses professores encerravam o semestre letivo de trabalho, final de junho, e enfrentavam uma carga horária de 240 horas no mês de julho, com 10 horas/aula/dia, inclusive aos sábados. Ao término do módulo presencial, o retorno às atividades letivas em seus municípios era imediato. Raríssimas foram as secretarias municipais que permitiram um a dois dias de descanso aos professores.

Ressalta-se, ainda, que a UNIMONTES estabeleceu uma estrutura de curso, bem como carga horária, baseada na resolução da CNE, que inviabilizou qualquer adaptação à realidade dos municípios e, principalmente dos professores-alunos. Não foi realizada nenhuma análise sócio-econômica-cultural dos professores-alunos.

Quanto à solicitação dos dados sobre o perfil sócio-econômico de candidatos a curso Normal Superior/Modular – ministrado em convênio com a FADENOR, informamos-lhe que não dispomos dos mesmos, uma vez que não foi realizada a coleta de dados. Esclarecemos-lhe, no entanto, sendo de seu interesse, disponibilizar dados socioeconômicos dos candidatos ao curso Normal Superior Regular da UNIMONTES (Ofício resposta COTEC, 2004 – ANEXO K).

É surpreendente constatarmos que, no caso do curso Normal Superior/Modular oferecido pela UNIMONTES, pouco importa a identidade dos alunos; suas origens; condições financeiras, culturais ou sociais. Conforme constatado no Projeto Político- Pedagógico do Curso Normal Superior, é a demanda que define a política de formação desses professores.

Observa-se, também, que na documentação contida na carta-consulta referente à realidade dos municípios-núcleos, enviada ao Conselho Estadual de Educação (CEE/MG), não foi considerada na operacionalização do curso. Todavia, a Pró-Reitoria de Ensino – Gestão 1998-2002 elaborou um questionário com três questões, sendo que a última solicitava dos alunos que realizassem uma apreciação do curso, apresentando críticas ou sugestões.

Conforme depoimento a seguir, não faltou participação dos alunos:

O curso deveria ser 20 dias nas férias e 10 dias regulares durante o semestre para o aluno não estressar e haver maior rendimento. O aluno deveria ter opção para o curso de férias ou regular (MONTES CLAROS, 2002).

129 Com relação aos dirigentes, manifestam:

Deveria ter um debate ou seminário com todos os secretários (municipais) e supervisores pedagógicos para falar da nossa proposta de ensino, uma vez que há um grande descompasso com a proposta do curso e a realidade vivida pelos alunos em seus municípios (JOAÍMA, 2002).

Apesar das sugestões, o debate não ocorreu; a carga horária não sofreu alterações e o curso continuou a ser oferecido sem a participação dos professores-alunos e dirigentes municipais.

6.3.3 Gastos com mensalidade do curso

As mensalidades do curso eram divididas em 25 parcelas de R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais). Nossa análise é de que, ao final de dois anos exigidos para a conclusão do curso, o aluno teria que desembolsar R$ 3.750,00 (três mil setecentos e cinqüenta reais), ou seja, o equivalente a 10 meses de trabalho do professor foi transferido para financiar as mensalidades do curso, além de outras despesas advindas do mesmo.

Dessa forma, como falar em democratização do acesso num contexto de dificuldades orçamentárias da UNIMONTES, municípios e dos professores-alunos, quando esses profissionais da educação básica, historicamente marginalizados pelo poder público Estadual e Federal, tiveram que comprometer ainda mais as suas condições materiais para adquirir um diploma de Ensino Superior?

6.4 A INADIMPLÊNCIA DOS MUNICÍPIOS E DOS ALUNOS: LIMITES DA