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As evidências anteriormente discutidas indicam que a implantação de uma Agenda 21 Brasileira supera em muito a competência dos economistas e dos gestores da política social do governo, colocando-se como um desafio para a sociedade.

Nesse sentido, a abordagem sistêmica e o caráter participativo, descentralizador, gerencial e mobilizador de recursos da Agenda 21 emergem como instrumentos valiosos para o enfrentamento da complexa teia de desigualdades brasileira, transformando práticas difusas no tecido da sociedade cada vez mais em processos de cooperação e parceria no âmbito das políticas públicas, conferindo-lhes consistência, legitimidade, escala, continuidade, possibilidade de avaliação e replicação.

Em outras palavras, a Agenda 21 estimula novas formas de planejamento e gestão, permitindo que tanto o governo quanto a sociedade façam um melhor uso do capital social existente no país, concebido em suas diversas modalidades de associativismo, emergentes do terceiro setor, produzindo novos atores e novas institucionalidades capazes de atuar positivamente em projetos e ações para reduzir as desigualdades sociais.

Para a Agenda 21, a consolidação desses novos modelos de planejamento e gestão exige a promoção das capacidades individuais e institucionais, respondendo assim ao difícil problema colocado pelo despreparo de indivíduos e, conseqüentemente, das instituições orientadas para fins públicos, tanto dentro quanto fora do Estado. Dito em outras palavras, trata-se aqui de considerar o papel central que ocupa o capital humano como fator do desenvolvimento.

As evidências geradas pela catalisação dos fatores sociais, culturais e humanos nos processos de desenvolvimento são de tal ordem que mesmo instituições de tradição como o Banco Mundial concluem que 64% do desenvolvimento real pode ser atribuído à articulação do capital humano ao capital social.

A experiência brasileira vem demonstrando que o melhor aproveitamento dos capitais sociais e humanos exige a descentralização dos serviços para as regiões e os municípios feita de modo adequado e competente. Quando isso ocorre, os programas atendem melhor às necessidades reais da população, têm maior dinamismo, flexibilidade e agilidade, além de serem mais econômicos por permitir a fiscalização de perto pelos verdadeiros interessados. Em muitos casos, descentralizar significa abrir canais de participação para os setores mais amplos da sociedade. A ênfase da Agenda 21 no planejamento integrado e na dimensão local e regional como espaço privilegiado de convergência de programas e políticas possibilita a mobilização e a participação da população no suprimento das necessidades mais básicas e na descoberta de vocações que apontem para novas alternativas.

De fato, a esfera local facilita uma maior participação dos setores em situação de vulnerabilidade social, prioridade enfatizada em todo o texto da Agenda 21. Ao reconhecer o lugar de importância de mulheres, crianças e jovens, populações negras e indígenas, pequenos agricultores, pessoas portadoras de deficiência e homossexuais, ela concede ao aporte cultural desses grupos um lugar de destaque na construção do desenvolvimento sustentável, indo muito além do conceito de discriminação positiva cunhado no marco das políticas de direitos humanos. Ao investi-los de responsabilidade e estimular sua participação ativa no processo de negociação, gestão e avaliação dos programas sociais, previne antigos vícios que determinaram uma certa confusão entre participação democrática e formação de coalizões setoriais em defesa de interesses particulares, que representam, em muitos casos, um obstáculo para que se promovam políticas de desenvolvimento universais e equilibradas.

Finalmente, a característica de transição da Agenda 21, seu caráter sistêmico, a promoção das capacidades institucionais e individuais, o estímulo ao diálogo que propicie a criação de novos padrões de procedimento e relacionamento entre as várias instâncias de governo e destas com os setores da sociedade civil organizada podem contribuir enormemente para

o atual processo de consolidação democrática e de reforma do Estado por que passa o Brasil, nas suas várias dimensões.

GLOSSÁRIO DOS CONCEITOS-CHAVE PRESENTES NO TEXTO DA

AGENDA 21

A título de ilustração, apresentamos uma rápida definição dos conceitos-chave que serão utilizados ao longo do documento.

Cooperação – os princípios de cooperação e parceria

aparecem como conceitos-chave operacionais no processo de implementação da Agenda 21. Em todo o documento, há uma forte ênfase na cooperação entre países, entre diferentes níveis de governo, nacional e local, e entre os diferentes segmentos da sociedade.

Educação e desenvolvimento individual - a Agenda 21

enfatiza a capacitação individual nas áreas de programas que acompanham os capítulos temáticos, ressaltando a necessidade de ampliar o horizonte cultural e o leque de oportunidades para os jovens. Há em todo o texto um forte apelo para que governos e organizações da sociedade promovam programas educacionais que propiciem uma tomada de consciência dos indivíduos sobre a necessidade de se pensar nos problemas comuns a toda a humanidade. Busca-se, ao mesmo tempo, incentivar o engajamento em ações concretas nas comunidades.

Igualdade de direitos – Fortalecimento dos grupos socialmente vulneráveis – esta premissa, que permeia

praticamente todos os capítulos da Agenda 21, reforça valores e práticas participativas, dando consistência à experiência democrática dos países. Todos os grupos social e politicamente vulneráveis ou em desvantagem relativa, como crianças, jovens e pessoas idosas, portadores de deficiência, mulheres, populações negras e indígenas e homossexuais, devem ser incluídos e fortalecidos nos diferentes processos de implementação da Agenda 21, nos níveis nacional, estadual e local. O processo requer não só a igualdade de direitos e de participação como também a contribuição valiosa e específica de cada grupo em termos dos seus valores, conhecimentos e sensibilidade. No contexto da agenda, esses grupos são tão importantes que lhes é atribuída a prerrogativa de “parceiros do desenvolvimento sustentável”.

Planejamento – o conceito e o valor operativo dado ao

planejamento estratégico integrado são centrais na Agenda 21, a qual insiste em que o “desenvolvimento sustentável” só

acontecerá se for explicitamente planejado. É fundamental a eleição de prioridades e metas realistas. O processo que leva à sustentabilidade é longo, exige paciência e perseverança. Demanda também o aprimoramento de uma estrutura, a longo prazo, para controle, incentivos e motivação, com objetivos quantitativos e prazos para atingir o que foi decidido. Um forte pressuposto da Agenda 21, ainda no nível do planejamento, é que as propostas se concretizam no nível local. As comunidades que usam os recursos naturais e precisam deles para sua sobrevivência é que podem ser mais eficientemente mobilizadas para protegê-los.

Desenvolvimento da capacidade institucional – a

Agenda 21 ressalta a importância de fortalecer os mecanismos institucionais mediante treinamento de recursos humanos (capacity building). Trata-se, em outras palavras, de desenvolver as habilidades e os recursos das instituições governamentais e não-governamentais, nos planos internacional, nacional, estadual e local, para o gerenciamento das diversas mudanças e atividades que lhes serão solicitadas.

Informação – a Agenda 21 chama a atenção para a

necessidade de disponibilizar bases de dados e informações que possam subsidiar a tomada de decisão, o cálculo e o monitoramento dos impactos das atividades humanas no meio ambiente. A reunião de dados dispersos e setorialmente produzidos é fundamental, possibilitando a avaliação das informações produzidas.

IV RAÍZES HISTÓRICAS E FATORES DETERMINANTES DAS

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