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Generalidades sobre os crimes previstos no Decreto-Lei nº 201/

4. A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS RESTAURATIVOS AOS CRIMES FUNCIONAIS PRATICADOS POR PREFEITOS.

4.1 ANÁLISE DOS CRIMES FUNCIONAIS PRATICADOS POR PREFEITOS.

4.1.1 Generalidades sobre os crimes previstos no Decreto-Lei nº 201/

O Decreto-Lei nº 201/67, editado ainda sob a égide do Ato Institucional nº 4, de 1966, que conferia ao Presidente da República o poder de editar decretos-lei, cuida das infrações político-administrativas ou de responsabilidade política dos Prefeitos e dos Vereadores e, no seu art. 1º, dos crimes de responsabilidade praticados por Prefeitos Municipais -objeto de nosso estudo.

De saída, a fim de evitar equívocos interpretativos e imperfeições técnicas, importante ressaltar que a expressão crimes de responsabilidade, adotada nesse diploma penal, não alberga as infrações políticas que sujeitam o seu autor ao impeachment (tais quais aquelas previstas na Lei nº 1.079/1950), mas, sim, crimes em sentido estrito, é dizer, julgados pelo Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores, de Ação Penal Pública Incondicionada e sujeitos a penas de reclusão (nos casos dos incisos I e II do art. 1º) e de detenção (no caso dos demais incisos).

Nesse sentido, aduz Ramos (2002, p. 13):

Em outras ocasiões, tornou a afirmar peremptoriamente que os crimes de responsabilidade de prefeitos (Decreto-Lei n. 201/67, art. 1º) são, na verdade, crimes comuns.

(…)

No âmbito do direito municipal, o dispositivo legal que regula as infrações político-administrativas dos Prefeitos é o art. 4º do Decreto-lei n. 201, de 27

de fevereiro de 1967. Mas desse tema não se tratará aqui. (…) A preocupação aqui diz apenas com os crimes funcionais.

Demais disso, embora a ementa do diploma normativo sub examine anuncie tratar da “responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores”, impende esclarecer que a responsabilidade criminal normatizada diz respeito tão somente aos Prefeitos, não aos Vereadores. Com relação aos parlamentares municipais, o Decreto-Lei nº 201/67 cuida tão somente de sua responsabilização política, ex vi do seu art. 7º, sem, contudo, tipificar nenhum crime.

Mister pontuar que o Decreto-Lei nº 201/67 não faz nenhuma referência à culpa, pelo que, em razão do quanto disposto no art. 18, do Código Penal, as condutas tipificadas pelo aludido diploma somente configurarão crime se praticadas dolosamente.

Os crimes em tratativa são próprios, porque demandam uma qualidade especial do sujeito ativo, podendo apenas serem cometidos pelo Prefeito ou por aquele que está exercendo, temporária ou definitivamente, as funções de chefe do executivo municipal. O Ex-Prefeito não pode ser autor dos crimes previstos no art. 1º, do Decreto-Lei nº 201/67102, salvo, logicamente, se ocupava o cargo de Prefeito à

época em que cometido o crime. (COSTA, 2011, p. 59-61).

O julgamento dos crimes praticados por Prefeitos, a ser realizado pelo Poder Judiciário, independe da autorização da Câmara de Vereadores, a qual poderá julgar o Prefeito, tão só, por infrações político-administrativas descritas no art. 4º, do Decreto-Lei nº 201/67.

Por força do art. 29, X, da Constituição Federal, os Prefeitos têm foro por prerrogativa de função, de modo que serão julgados, originariamente, por Tribunais de 2º grau. Se o crime for de competência da justiça comum, o Prefeito será julgado pelo Tribunal de Justiça; se federal, pelo respectivo Tribunal Regional Federal e, se eleitoral, pelo respectivo Tribunal Regional Eleitoral, nos termos do enunciado de súmula nº 702, do Supremo Tribunal Federal103 (BRASIL, 2003).

102 Por evidente, se atuar em conjunto com o Prefeito, como coautor, figurará como sujeito ativo, assim como qualquer outra pessoa que agisse do mesmo modo, em razão da norma extensiva de punibilidade prevista no art. 29, do Código Penal.

103 Súmula 702: A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau. (BRASIL, 2003).

Digno registrar que os Ex-Prefeitos serão julgados por juízes singulares, na medida em que o foro por prerrogativa de função somente terá lugar durante o exercício do cargo ou mandato, e não em razão da pessoa. Nesse sentido, a perda superveniente do mandato de Prefeito enseja a alteração do órgão julgador, inexistindo a perpetuação da competência do Tribunal para o processamento e julgamento do feito. Outra não poderia ser a conclusão, em razão do princípio republicano e do duplo grau de jurisdição, que tornam excepcional -e não regra- o foro por prerrogativa de função, tese que foi consolidada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Questão de Ordem no Inquérito 687/SP (BRASIL, 1999), ocasião na qual foi cancelada, inclusive, a Súmula 394, do STF (BRASIL, 1964), que dispunha: “Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício.”

A corroborar a conclusão supra, vale destacar que o Congresso Nacional, em franca reação legislativa, fez editar a Lei nº 10.628/2002 (BRASIL, 2002), diploma que, por sua vez, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.797/DF (BRASIL, 2005), o que ratifica, a mais não poder, a competência do Juízo de Primeiro Grau para processamento e julgamento dos Ex-Prefeitos.

O Prefeito está sujeito, em decorrência da condenação pelos crimes previstos no Decreto-Lei nº 201/67, às seguintes sanções: 1) pena privativa de liberdade; 2) pena restritiva de direitos; 3) sanção de reparação e 4) suspensão dos direitos políticos.

Quanto à pena privativa de liberdade, os incisos I e II, do art. 1º, do aludido diploma, preveem a pena de reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos, enquanto as demais figuras típicas (incisos III a XXIII) estabelecem a pena de detenção de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

A pena restritiva de direitos está disposta no art. 1º, §2º, do Decreto-Lei nº 201/67, que prevê a perda do cargo e a inabilitação, pelo prazo de 05 (cinco) anos, para o exercício de cargo ou função pública, eletivo ou de nomeação. O mesmo dispositivo prevê a possibilidade de reparação civil do dano causado ao patrimônio público ou particular.

Não se pode descurar da suspensão dos direitos políticos, enquanto persistirem os efeitos da condenação criminal transitada em julgado, ex vi do art. 15, III, da Constituição Federal. O dispositivo constitucional, a toda evidência, aplica-se a qualquer pessoa, qualquer seja o crime praticado, mas, no caso dos Prefeitos, a consequência é ainda mais gravosa, implicando a cessação do mandato eletivo e o cancelamento de sua filiação partidária.

Nessa mesma esteira, vale dizer que a condenação definitiva pela prática de crimes contra a Administração Pública constitui causa de inelegibilidade para o Prefeito, ex vi do art. 1º, e), da Lei Complementar nº 64, de 1990, o que, inegavelmente, se revela consequência muito grave para o agente político, o que, além de extinguir o seu mandato, impede de pleitear outro por determinado período de tempo.