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6 DESCRIÇÃO REGIONAL DA ÁREA DE ESTUDO

6.4 Geomorfologia

A área estudada apresenta uma considerável variedade de formas de relevo, devido basicamente à atuação de diversos processos morfogenéticos em um conjunto de litologias com variados graus de metamorfismo e características estruturais.

Numa caracterização genérica, conforme CPRM (1994b), estabelece-se a seguinte correlação entre formas de relevo e os tipos litológicos predominantes:

sobre as rochas pelíticas e carbonáticas do Grupo Bambuí ocorrem depósitos coluviais, predominantemente argilosos. Essas coberturas detríticas correspondem

às superfícies de aplainamento, que se apresentam como topos suavemente ondulados ou como extensas superfícies rebaixadas, planas ou onduladas;

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nos domínios do embasamento cristalino tem-se um relevo constituído de colinas convexas e algumas cristas associadas a diques de rochas básicas; e,

nas calhas dos rios são comumente encontrados sedimentos detríticos aluviais, constituindo a planície e os terraços fluviais.

O carste da região de Lagoa Santa, de acordo com CPRM (1994a), é representado por dois domínios morfológicos: o exocarste e o endocarste. O exocarste, representando um domínio superficial, é caracterizado pela presença de sumidouros, dolinas, vales e escarpamentos. Já o endocarste, que se refere a um domínio subterrâneo, é constituído por um conjunto de galerias e grutas e por um sistema de drenagem alimentado por vários sumidouros.

Complementando a descrição desta paisagem cárstica, as depressões características da região, originalmente, eram vastas, com formas bastante suavizadas, sendo, de acordo com Coutard et. al. (s.d.), futuramente alteradas através do processo de afundamento. Coutard et. al. (s.d.) destacaram, também, que as vertentes e os assoalhos sofreram alterações, sendo primeiramente recobertos por material coluvial vermelho, repleto de seixos (fragmentos de quartzo de veeiro, seixos rolados de quartzo e quartzito).

As dolinas coalescentes, que estão em contínuo aprofundamento, conforme mencionado por Coutard et. al. (s. d.), são descritas por Kohler & Malta (s.d.) como depressões circulares cuja profundidade (até 20 m) não excede seu diâmetro. O fundo dessas dolinas, segundo Piló (1997), é marcado por entradas de cavernas labirínticas,

secas, de morfologia tipicamente de regime freático. Além disso, estas dolinas, segundo

Piló (2002), evidenciam a faixa topográfica mais favorável à dissolução em

subsuperfície e, conseqüentemente, maior dinâmica do carste.

Além das dolinas características, já observadas por Lund, são encontrados na região paredões que podem atingir até 50 m de altura e morros alongados.

O relevo cárstico encontra-se instalado em domínio planáltico, mais precisamente no bloco interfluvial ribeirão da Mata – rio das Velhas. Destaca-se, também, segundo Piló (1997), o compartimento do planalto cárstico, coberto por uma espessa cobertura pedológica e, localmente, por rochas metapelíticas.

Existem, também, nesta área, feições geomorfológicas cársticas especiais, como a lagoa central de Lagoa Santa, o Poço do Jacaré, a Lagoa dos Pereiras, a Lagoa dos Olhos D’Água, sendo situadas sobre o filito. Especialmente, a lagoa central de Lagoa Santa, cuja existência do filito também foi mencionada por Journaux (1977), terá um enfoque especial neste tópico, a fim de contribuir na elaboração do modelo hidrogeológico conceitual de fluxo subterrâneo.

Parizzi et. al. (1998) afirmaram que a lagoa central de Lagoa Santa apresenta forma triangular, como visto nas Figuras 6.7 e 6.8, cuja base de depressão é formada por rochas argilosas, sendo estas impermeáveis e retentoras de água. Esta mesma lagoa, é alimentada principalmente pela água da chuva que cai diretamente em sua superfície e/ou pela água drenada superficialmente da vizinhança e do Córrego Francisco Pereira, localizado a sudeste da região. Nas cheias, as águas desta lagoa, conforme Kohler (1978), alcançam o Rio das Velhas através do Córrego Bebedouro,

Figura 6.7 - Forma triangular da lagoa central de Lagoa Santa.

Fonte - http://www.lagoasanta.com.br/lagoacen/frame2.htm

Figura 6.8 - Forma triangular da lagoa central de Lagoa Santa.

Fonte - http://www.lagoasanta.com.br/lagoacen/frame2.htm

A forma triangular da lagoa central de Lagoa Santa a qual Parizzi et.

al.(1998) se referiram em seu estudo, já tinha sido abordada por Carvalho et. al. em

1978, quando afirmaram que esta disposição triangular poderia ser devida ao fato de ocorrerem estruturas geológicas em profundidade que teriam funcionado como linhas

preferenciais de dissolução. Estes mesmos autores acreditam que outro fator de desvio da forma arredondada seria a ocorrência de um capeamento insolúvel e impermeável, mas essencialmente anisotrópico e competente para não se abater enchendo todos os vazios sotopostos.

Ainda com alusão à lagoa central de Lagoa Santa, afirma-se que sua depressão, segundo Kohler (1978), é fechada e apresenta uma única saída localizada no vértice noroeste, numa cota superior ao nível médio da lagoa. Acredita-se que tal depressão tenha se formado a partir do abatimento do calcário situado abaixo do filito, dando à lagoa uma característica pseudo cárstica. Complementando, ainda, a hipótese da formação da lagoa por dissolução do calcário, Kohler (1978) afirmou:

Admitindo-se a hipótese da formação da lagoa por dissolução do pacote de calcário subjacente ao filito, ao longo de alinhamentos estruturais antigos, aliado ao seu caráter não cárstico, atestado pela sua perenicidade, que vem desde o século XVIII (crônicas antigas), pode-se concluir que a lagoa encontra-se em relativo estado de equilíbrio, nada tendo a ver com a ciclicidade típica das lagoas cársticas, como é o caso das inúmeras lagoas da região, destacando- se a do Sumidouro. Por outro lado, deve-se assinalar a intensa evolução das voçorocas, modificando o equilíbrio das vertentes atuais e assoreando a lagoa com material erodido. (Kohler, 1978).

Parizzi et. al. (1998) relataram que este deslizamento de terra que levou à formação da lagoa central de Lagoa Santa foi causado por chuvas torrenciais que obstruíram um vale na parte nordeste, por onde escoava água anteriormente, conforme mostrado na Figura 6.9.

Figura 6.9 - Processo evolutivo da lagoa central de Lagoa Santa 1 - O Polje aberto por onde corria o córrego Bebedouro.

2 - O deslizamento de terra responsável pelo represamento do córrego Bebedouro e inundação do polje.

3- A inundação do polje e a formação da lagoa central de Lagoa Santa.

O caráter pseudo cárstico da lagoa central de Lagoa Santa descrito por Kohler (1978) foi confirmado posteriormente por um estudo realizado por Coutinho & Barbosa (1980) através da análise de teores de matéria orgânica, nitrogênio orgânico total, fósforo total, Na+, K+, Ca2+, Mg2+, Fe e Mn, analisados em três frações dos sedimentos. Este mesmo estudo foi realizado na Lagoa Olhos d’Água e Lagoa do Sumidouro.

Como ressaltado por Coutinho & Barbosa (1980), os valores de Ca2+ encontrados na lagoa central de Lagoa Santa e na Lagoa Olhos d’Água são muito baixos quando comparados aos teores obtidos na Lagoa do Sumidouro, distingüindo, então, a geomorfologia de cada uma das lagoas estudadas da seguinte maneira:

Os baixos valores de Ca2+ obtidos na Lagoa Olhos d’Água e Lagoa Santa, quando comparados àqueles obtidos na Lagoa do Sumidouro poderiam ser explicados pela própria geomorfologia da região. Assim, apesar dos dois primeiros lagos se localizarem na região do carste central de Minas Gerais, não são, na verdade, lagos cársticos típicos, já que se localizam em afloramentos de filitos. (Coutinho & Barbosa, 1980).

Objetivando, ainda, caracterizar a região da lagoa central de Lagoa Santa, foram realizadas sondagens mecânicas e análises químicas, físicas e biológicas dos poços localizados ao seu redor, cujos resultados, segundo Carvalho et. al. (1978) são:

não ocorre calcário até 40 m de profundidade; •

• •

o nível do lençol freático está a 24,15 m de profundidade, ou seja, a 8 m abaixo da superfície da lagoa central de Lagoa Santa;

há evidência de que os poços de captação de água subterrânea instalados ao redor da lagoa não estão prejudicando o equilíbrio da lagoa, porquanto o aqüífero calcário está isolado da bacia pelas formações superficiais impermeáveis;

os resultados obtidos com análises químicas dos poços ao redor da lagoa indicam que os sistemas que caracterizam os poços e a lagoa central de Lagoa Santa são independentes;

grande diferença quantitativa e qualitativa dos organismos planctônicos nos poços e na lagoa, e,

nas estações da lagoa central de Lagoa Santa aparecem numerosas espécies de fitoplâncton de dimensões muito menores do que as encontradas nos poços, o que sugere a não existência de um fluxo de água entre a lagoa e os poços.

Além dos resultados acima descritos, Carvalho et. al. (1978) chegaram às seguintes conclusões:

- como as águas pluviais são as únicas responsáveis pela oscilação do nível da lagoa, nos anos de baixa precipitação são registrados níveis mais baixos na lagoa; e,

- as camadas de calcário que se situam abaixo da lagoa constituem importante reservatório natural, porque é para lá que se orienta o fluxo da águas que infiltram na área de afloramento natural do calcário, situadas a sudoeste da lagoa.

Finalmente, como apresentado em um estudo feito por Kohler (1978), a lagoa central de Lagoa Santa apresenta o perfil geológico mostrado na Figura 6.10, cujas inclinações das camadas geológicas foram acomodadas no modelo hidrogeológico conceitual e computacional em questão. O corte típico através da depressão apresenta- se, segundo Kohler (1978), da seguinte maneira:

I - 896 m, topo arredondado, declividade muito fraca, estrutura maciça muito porosa, textura siltito-argilosa;

II - 840-850 m, seixos de quartzito e quartzo em meio a uma matriz argilo-siltosa diretamente sobre o filito muito xistoso;

III - 800-820 m, ruptura de declive, cascalheira composta por seixos arredondados, repousando diretamente sobre o filito;

IV - Depósito coluvial vermelho, com estrutura maciça, textura argilosa. Nesta porção da vertente predominam as voçorocas que cortam a rampa aprofundando-se muitas vezes até 4 metros no elúvio filítico;

V - Nível referente da Lagoa Santa. Sua profundidade nunca ultrapassa 3 m;

VI – Corresponde a observações realizadas em uma voçoroca. Da superfície até os 4 metros, observa-se um material coluvial vermelho, com estrutura maciça, textura argilosa. Dos 4 aos 10 m, encontra-se um material argiloso. Após os 10 m, é encontrado o filito alterado; VII – Filito meteorizado com mergulho de 3º NE;

VIII – Possível ocorrência de calcário por volta da cota de 670 metros;

IX – 800-820 m, cabeceiras de voçorocas; e,

X – 850 m, cascalho entre 1 e 6 cm, predominando de 3 a 4 cm matriz síltica argilosa.

Figura 6.10 - Esboço das formações superficiais na bacia de drenagem da Lagoa Santa, MG. Fonte - Kohler, 1978.

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