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CAPÍTULO 1. AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO:

1.4 GERAÇÕES E TECNOLOGIAS

A convergência das mídias – computador, televisão, smartphones, etc. – que foi sinalizada por Castells (1999) como uma das características da revolução tecnológica, nos apresentou a possibilidade de estarmos em todas as partes ao mesmo tempo e, sobretudo após o início dos anos 2000, a sociedade começa a usufruir cotidianamente das novas tecnologias da informação e comunicação (SILVA E COUTO, 2008). As novas tendências tecnológicas estavam/estão cada vez mais presentes na vida das pessoas na medida em que foram introduzidas em diversos campos da atividade humana (SILVA E COUTO, 2008).

O desenvolvimento tecnológico, com suas constantes atualizações, tem provocado alterações em diversos campos da vida em sociedade, modificando comportamentos e costumes de produtores e receptores de conteúdos midiáticos e ou/culturais, principalmente com o fortalecimento da internet como ferramenta cotidiana (SOUZA E GOBBI, s/d). Castells (1999) chamou de penetrabilidades os efeitos das novas tecnologias, indicando que todos os processos de existência individual e coletiva são, diretamente, influenciados pelo novo meio tecnológico.

Nesse cenário, Silva e Couto (2008) apontam que, particularmente, as relações juvenis passam a ser construídas e mediadas pela tecnologia, possibilitando absorver com mais naturalidade novos hábitos e costumes, diferentes dos seus pais. Por essas razões, Souza e Gobbi (s/d, p. 131) afirmam que a maior parte dessas mudanças vem dos jovens “significando, assim, que são construtores de uma vanguarda que vem transformando as relações entre comunicação, organizações, produtores culturais e consumidores”. Essa afirmação nos reporta ainda a Manheinn (1982), que creditava à juventude o ritmo das mudanças sociais e indicava que a modernidade da juventude consiste em estar a par dos problemas da atualidade.

Os meios de comunicação, sempre estiveram intrinsecamente relacionados à juventude uma vez que ao serem socializados em meio às transformações ocasionadas pela

tecnologia, os jovens são os que mais se apropriam de suas ferramentas, ajudando a criar e difundir a cultura e a ideologia de sua própria geração; com a rapidez do desenvolvimento tecnológico, a influência juvenil tornou-se ainda mais impactante (PARNAIBA E GOBBI, 2010).

Desde o surgimento das tecnologias da informação e comunicação a literatura indica quatro gerações que nasceram na era do desenvolvimento tecnológico. Tendo por base a população norte-americana, Tapscott (2010) descreve a geração que nasceu entre 1946 e 1964 como os Baby Boomers. Nascida no pós guerra, essa é uma geração que teve muitos filhos e teve um impacto importante na economia daquele país. Contemporâneos ao nascimento da tecnologia, essa é uma geração marcada, sobretudo, pelo surgimento da televisão.

Entre 1965 e 1976, compreende-se a Geração X. Marcada pela queda das taxas de natalidade do pós-guerra, essa geração, segundo Spíndola e Villardi (2015), não nasceu inserida no ambiente tecnológico, contudo, teve contato com as tecnologias ainda muito jovens. No Brasil, essa é a geração que vivenciou o fim da ditadura e foi às ruas pelas Diretas já.

Os primeiros nativos digitais nasceram entre 1977 e 1997, chamada Geração Y ou Milênio e, como marca dessa geração, tem-se o avanço tecnológico (TAPSCOTT, 2010; SPÍNDOLA e VILLARDI, 2015). Essa é a primeira geração que se distancia da televisão, que passa a ser um pano de fundo em meio a tantos estímulos tecnológicos. Para Spíndola e Villardi (2015), a palavra que define essa geração é “pressa”, sobretudo no que diz respeito à informação; usam aparelhos de altas tecnologias e estão sempre conectados. Além disso, essa é uma geração que assimila a tecnologia de forma muito mais rápida, desenvolvendo novos padrões de comportamento e criando culturas digitais (SOUZA E GOBBI, s/d)

A última geração se refere aos nascidos pós 1998; conhecidos com geração Z ou geração Next, eles trazem características parecidas com as da geração Y, são altamente adaptados ao ambiente tecnológico e às culturas digitais (TAPSCOTT, 2010; SPÍNDOLA e VILLARDI, 2015; SOUZA E GOBBI, s/d).

As duas últimas gerações foram as mais impactadas pela evolução das tecnologias exatamente por terem nascido em um momento de expansão da internet e popularização do computador pessoal, o que trouxe diversas modificações nos universos juvenis, influenciando além da vivência da condição juvenil, as formas de ser e se posicionar diante do mundo.

Essas gerações são marcadas pela facilidade nas formas de comunicação, o que possibilitou o surgimento de novas identidades de comunidades no ambiente tecnológico. O ambiente virtual, para os nativos digitais, tornou-se muito próximo ao real, de modo que o não

palpável, diferente das gerações anteriores, é extremamente natural a esses jovens. Assim, músicas, fotografias, jogos, conversas, comunidades, estudos e brincadeira, agora são atividades realizadas no ambiente online.

Segundo Silva e Couto (2008), para esses jovens a palavra de ordem é interação. Inaugura-se a construção de uma nova identidade juvenil, multicolorida e rica de significações que se manifesta nos corpos, na moda, na maquiagem, na linguagem, na música, entre outros. Para Sousa e Gobbi (s/d) é uma característica das gerações Y e Z a criação de redes online por meio das mídias sociais ou outras formas de interação que reforçam a cultura de nichos e criam grupos de confiança e consagração próprios, o que torna as fronteiras culturais cada vez mais tênues e as culturas cada vez mais híbridas (CANCLINI, 2004).

Castells (1999), apoiado em estudos da psicanálise, observou também que os usuários da internet interpretam papéis e criam identidades, o que lhes confere o sentimento de comunidade mesmo que efêmera. Essa colocação nos reporta a Goffman (2007) e à compreensão de que a internet é também um local de representação, de grupos de compartilhamento e manutenção de fachadas. Nesse sentido, a identidade assume a liquidez da modernidade (BAUMAN, 2008).

Bauman (2008) alerta que a modernidade traz como característica a necessidade de nos transformarmos em quem somos, de modo que os desencaixados precisam encontrar uma forma de se reencaixar na estrutura da sociedade. A partir desse entendimento, somos levados à compreensão da rapidez com que se constroem e reconstroem as identidades e comunidades juvenis no ciberespaço, uma vez que elas se formam por interesses pontuais em comum e que com a mesma velocidade que se fazem, se desfazem, buscando um novo reencaixe.

Ainda sobre os reencaixes da modernidade, compreende-se também a investidura midiática relacionando juventude e consumo, já que os padrões de consumo, hoje, são altamente definidores de identidades e pertencimentos. Assim, o consumo deixa de ser um ato meramente econômico e adquire uma perspectiva social, uma vez que os “desncaixados” na perspectiva de Bauman (2008) ou “desconectados” para Canclini (2004) são desintegrados da sociedade.

Em meio ao ritmo acelerado de transformações que as tecnologias impõem, Novaes e Vital (2005) ponderam que ser jovem na era da internet é uma experiência histórica inédita. As conquistas tecnológicas, para as autoras, alteram o tamanho do mundo, modificam a socialização e a comunicação, fazendo com que jovens de diferentes locais e condições sociais, com a propagação de certos símbolos e valores, partilhem o mesmo universo de referências.

As autoras alertam, porém, que nunca houve tanta integração globalizada e que a tensão local-global se manifesta de maneira contundente, porque, também nunca foram tão densos os sentimentos de desconexão e agudos os processos de exclusão (NOVAES E VITAL, 2005).

Esse quadro de intensas transformações no mundo tem colocado em cena a juventude como um ator social importante, cujo domínio das redes tem proporcionado novas formas de engajamento e novos espaços de atuação, interação e mobilização, sobretudo porque as tecnologias da informação e comunicação são incorporadas mais rapidamente pelo universo juvenil e podem ser utilizadas de formas distintas a partir de estilos de vidas juvenis (LOPES E DOULA, 2013).

Nessa perspectiva, ao tratar das formas como a juventude vê as novas tecnologias, Sousa (2011) afirma que elas, em especial a internet, são realidades irreversíveis na vida juvenil contemporânea. Essa é uma geração que faz uso da interatividade e a valoriza. Interatividade é realidade e há uma necessidade crescente de participar do processo de produção e difusão da comunicação (SOUSA E GOBBI, s/d). A internet para essa geração de jovens é um espaço de liberdade e expressão e, mesmo com tantos riscos e contradições, é um espaço de visibilidade desse novo ator social.