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CAPÍTULO 1. AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO:

1.2 OS PARADIGMAS DA COMUNICAÇÃO: RELACIONAL E INFORMACIONAL

desde meados do século XX, a partir da corrente norte-americana Mass Communication Research - MCR, que se preocupava em compreender os efeitos e funções dos meios de comunicação na sociedade de massa e constituiu um modelo hegemônico de comunicação: o paradigma informacional. Tal paradigma entende a comunicação como um processo de transmissão de mensagens unilateral, isto é, de um emissor para um receptor e tal processo gerará certos efeitos (FRANÇA, 2001).

Com base em uma lógica transmissiva, França (2001) salienta que as análises do processo comunicativo vão se ocupar dos efeitos gerados e se a mensagem foi bem transmitida ou não. A autora ressalta também que o processo é tomado mecânica e separadamente; estuda-se assim a lógica da produção, dos emissores, as características dos meios, isto é, sua natureza técnica e modos operatórios, os conteúdos, a posição e atitude dos receptores. Ou seja, o modelo informacional toma os meios de comunicação como meros canais que possibilitam a transmissão de um pólo emissor para outro receptor (BASTOS, et. al, 2011).

O modelo informacional da comunicação é reforçado pelos estudos da MCR, bem como pelos estudos da indústria cultural desenvolvidos pela escola de Frankfurt que eram pautados por uma descrença do homem como sujeito da ação, considerando-o vulnerável às manipulações dos meios de comunicação de massa, meros aparatos técnicos, utilizados por grupos dominantes (BASTOS, et. al, 2011).

Nesse cenário, a primeira geração da web se aproxima bastante dos pressupostos do paradigma informacional, uma vez que um dos principais atributos da web nesse momento era a disseminação e o volume de informações disponíveis na rede. As estruturas da internet, devido à explosão informacional, apenas absorviam e suportavam o volume de informações, sem se preocupar com a organização e apresentação dos mesmos (SCHONS, 2007).

Guiado por Roy Ascott, Levy (1999), chamou esse boom das telecomunicações de “segundo dilúvio” por conta de seu crescimento exponencial e caótico em que a quantidade de dados disponíveis se multiplicava vertiginosamente, levando ao transbordamento das informações.

Nesse cenário pós-guerra e que coincide com o nascimento da internet, a informação adquire tamanha valorização que, conforme sinaliza Siqueira (1999), vem à luz o termo sociedade da informação, onde a política, a cultura, a ciência e principalmente a economia, giram em torno da informação. Sob o mesmo prisma, Castells (1999), ao abordar a sociedade

em rede, sinaliza que a arquitetura da rede trouxe uma nova estrutura de comunicação, uma nova sociabilidade adaptada ao ambiente tecnológico que envolve interações políticas, econômicas, sociais e culturais.

Castells e Cardoso (2005) ressaltam ainda que a sociedade em rede também pode ser entendida como globalização, ainda que a globalização, conceitualmente, seja mais descritiva e menos analítica.

No que tange à comunicação, a globalização tem sua face mais visível na internet; desse modo, a comunicação em rede, ao promover o desencaixe entre o tempo e o espaço (GIDDENS, 1991), transcende fronteiras, uma vez que ela está baseada em redes globais (CASTELLS e CARDOSO, 2005). A sociedade em rede difunde-se assim por todo o mundo e com a difusão das TICs e, poseriormente das NTICs, o universo de informações fica, teoricamente, mais acessível, alimentando a reflexividade da sociedade moderna. Há de se considerar, no entanto, que a sociedade em rede se expande por todo o globo, mas não inclui todas as pessoas e embora toda a humanidade seja afetada por sua lógica e suas relações de poder globais, há ainda um enorme contingente de excluídos (CASTELLS e CARDOSO, 2005).

Com base no paradigma informacional, observa-se que em um primeiro momento a internet teve por finalidade levar a mensagem de um emissor a um receptor. As primeiras páginas da web se caracterizavam por sites estáticos e sem nenhuma interação entre os interlocutores. Esse processo, apesar de influenciar na capacidade de reflexão do indivíduo, é marcado por um receptor passivo.

Pautado por outra lógica, o paradigma relacional entende que a comunicação “compreende um processo de produção e compartilhamento de sentidos entre sujeitos interlocutores, realizado através de uma materialidade simbólica (...) e inserido em determinado contexto sobre o qual atua e do qual recebe os reflexos” (FRANÇA, 2001, s/p).

Assim como na abordagem informacional, a perspectiva relacional se utiliza dos mesmos elementos – a emissão e a recepção da mensagem. A novidade consiste na busca pela globalidade e circularidade do processo comunicativo, ou seja, a interrelação entre os elementos que assumem uma nova posição no quadro relacional estabelecido (FRANÇA, 2001). Nesse sentido, a comunicação tem como especificidade alcançar a mediação de três dimensões básicas: a relação entre interlocutores (o quadro relacional); a produção de sentido (práticas discursivas) e o contexto (situação sociocultural) (FRANÇA, 2001).

Em outras palavras, pela ótica relacional, compreende-se a comunicação como um processo de co-construção entre interlocutores, a partir de discursos (dimensão simbólica), em

determinados contextos (situações singulares) (LIMA, 2008); desse modo, a interação é apresentada como uma construção negociada e que se redefine permanentemente a partir da relação estabelecida entre os interlocutores (LIMA E BASTOS, 2008).

O processo comunicativo, nessa perspectiva, deixa emergir sua vida e seu dinamismo próprios enxergando os sujeitos da ação (produtores/receptores) como instituidores de sentido (MAFRA, 2010). Por esse ângulo, entende-se o processo comunicativo com dinamicidade e vivacidade, capaz de gerar sentidos e relações, lugar não só de onde o sujeito diz, mas também de onde se assumem e se constroem papéis sociais; local de realização e renovação da cultura (FRANÇA, 2001).

Como o intuito de promover a interação entre os sujeitos na internet, no início dos anos 2000 surge uma nova proposta, a segunda geração da web, designada também de web 2.0 ou web relacional. Passa-se assim da era da informação para a construção de uma inteligência coletiva, que como sinalizado por Levy (1999), tem na rede um ambiente propício, pois cada nó dessa rede de redes pode se tornar ao mesmo tempo produtor e emissor de novas informações.

Compreendendo as perspectivas comunicacionais, passamos à discussão da web, suas características e como os pressupostos da web 2.0 influenciam o cenário atual da comunicação e das interações em rede.