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gERALDO PEREIRA DE ARRUDA

No documento Josefa Martins da Conceição (Organizadora) (páginas 139-144)

Figura 36 - Geraldo Pereira de Arruda. Fonte: Acervo Fotográfico do Projeto Roda da Memória.

B

em, vou começar dizendo quando conheci o meu amigo Paulo Mar- ques. Ele trabalhava na ANCAR e eu trabalhava no IPA, na Seção de Fitossanidade, onde recebia as consultas, perguntando qual era o problema que estava acontecendo. Paulo levava os problemas que ele tinha encontrado no campo para o IPA para que a gente identificasse e dissesse o que estava acontecendo, e como deveria se proceder. Foi aí que nasceu essa nossa amizade, que, hoje, é muito antiga e muito sóbria. Tenho orgu- lho de dizer que este é um grande amigo que tive e tenho na vida. Paulo é um Extensionista nato, fazia questão de pegar o problema do campo, levar para identificar e depois dar o retorno do que devia ser feito, daí, então, passamos a nos conhecer a fundo. O tempo passou, e, algum tempo depois, me afastei, fui fazer pós-graduação em São Paulo e, quando voltei, entrei na Universidade e nos reencontramos. Estava Paulo Marques na Pró-Reitoria de Extensão e eu no Departamento de Biologia. Foi a partir daí que inten- sificamos nossa amizade.

Durante muitos anos, conduzi o projeto financiado pelo CNPq e, naquele laboratório, tinha no mínimo meia dúzia de estagiários bolsistas, fazendo pesquisa de controle biológico. O Laboratório não era meu, mas da Universi- dade. As pesquisas eram feitas aqui pelos estudantes com minha orientação. Foi naquele espaço que Paulo falou que eu fazia extensão. Respondi que sabia

que trazia as necessidades do campo para a Universidade, aqui realizava as pesquisas e, depois, dava o retorno para orientar o que eles do campo deveriam fazer para solucionar o problema. Foi quando Paulo publicou um artigo pela Pró-Reitoria de Extensão com o título “Pobreza e Riqueza da Extensão na UFRPE”114, enaltecendo meu trabalho. Eu achava que só fazia

ensino e pesquisa, aí ele falou: “você faz ensino, pesquisa e extensão na forma mais precisa”.

Numa reunião no Salão Nobre, Carlos Alberto Tavares, que havia sido Vice-Reitor, me falou que tinha um artigo de Paulo Marques elogiando meu trabalho e procurei ler. Depois, liguei para Paulo agradecendo. Foi a propaganda da minha campanha, e deu muito certo. Aí foi quando Paulo falou que gostaria de contar com alguns estagiários do Curso de Biologia para participarem da Jornada Universitária que estava em organização, e foi quando lhe disse: “Paulo, posso mandar estagiários, mas quem quer ir com você sou eu. Dá para me levar?” E ele disse que sim.

E aí fui com os estagiários para Afogados da Ingazeira ter os primei- ros contatos com o pessoal, conhecer o grupo através de reuniões que se fazia, andar no campo para identificar os predadores do campo. Mas tem uma coisa interessante, Paulo me levou numa propriedade para conhecer o problema que estava ocorrendo no campo de palmas do cidadão. Fiquei lá procurando, até que constatei que havia alguns inimigos naturais para combater a praga, orientei o cidadão – tenho quase certeza que se chamava Brás -, e foi tudo bem. Então, ele chegou e disse para mim: “Você não vai sair daqui de mão abanando, não! Tenho que lhe dar alguma coisa”. Aquela gratidão característica que o povo do campo tem, e, se a gente não receber, ele fica magoado. Aí eu disse que não se preocupasse, mas ele fez questão e deu uma melancia! Estávamos hospedados no Centro da cidade. No café da manhã, levei a melancia, e fiz questão que todo mundo provasse porque ela tinha o sabor da gratidão!

Lembro de um episódio que aconteceu na região antes de Serra Talhada. Ali, passei numa propriedade de um cidadão, e ele disse que tinha palma que estava com problemas. Disse que gostaria de ver, e aproveitei para conversar com ele. Depois de observar a situação das palmas e conversar muito, ele ficou grato, sabe o que esse cidadão disse para mim? “Foi Deus que mandou o Senhor aqui, porque não sabia o que ia fazer com isso, e o Senhor apare- ce do nada para me ajudar”. Isso me emocionou tanto! E lhe disse: Não, eu vim porque é um trabalho que faço na Universidade para dar assistência

114 Maiores informações consultar: Marques, Paulo de Moraes. Pobreza e riqueza da extensão na UFRPE. Recife, 1986. 3 f. Este texto integra o acervo particular de Paulo de Moraes Marques.

aos agricultores da região, para observar os problemas e para orientar na solução. Mas, quando ele falou aquilo, me emocionei com a gratidão dele.

Pois bem, fiquei muito ligado à Pró-Reitoria de Extensão devido à amizade com Paulo Marques, e a gente continuou desenvolvendo outros trabalhos. A seu convite, fiz várias palestras para os alunos no Salão Nobre da Univer- sidade. Lembro, também, que os alunos de Biologia queriam promover um Seminário sobre Controle Biológico, e Paulo deu todo o apoio da Pró-Reitoria, imprimiu e multiplicou a Cartilha de Orientação sobre Controle Biológico para distribuir aos participantes, e apoiou o seminário durante 03 dias no Salão Nobre da Universidade lotado. Quando chegou o terceiro e último dia, ao agradecer aos apoios recebidos com a plateia presente, parei e todo mundo ficou esperando e me aplaudiu e aí eu me emocionei! Paulo Pró-Reitor sem- pre apoiou os estudantes, e lembro que me pediram para fazer uma apostila resumida sobre Controle Biológico, fiz incluindo o histórico, com dados e as bases do controle biológico.

Mas, estando aqui, não posso deixar de lembrar e registrar um momento marcante para você e para mim: a concessão do Título de Doutor em virtu- de de havermos feito Concurso com defesa de tese para Livre Docência. Na solenidade no Salão Nobre da Universidade para receber o Título de Doutor, estava comigo Dr. Mário Bezerra, meu sogro, que era da área de Entomologia, e Dr. Arnaldo Marques acompanhado de Paulo, de quem era pai.

Nunca esqueci das Jornadas Extensionistas que Paulo Marques fazia quando estava Pró-Reitor de Extensão e programava aquelas Jornadas Ex- tensionistas, juntamente com Marcos Diniz. Participei de outros eventos aqui no campus de Dois Irmãos e nas Jornadas Universitárias promovidas por Marcos Diniz; eram atividades extramuros que faziam a ligação, a pon- te entre o academicismo e o campo. Em outras ocasiões, eu, viajando pelo interior fazendo outras pesquisas – a gente ficou conhecido como o pessoal da Universidade, o pessoal das dicas -, aí, passando ali perto de Venturosa, tinha um cidadão chamado Tenorinho, criador de bodes, que, quando sa- bia que a gente estava na área e via a caminhonete da Universidade com a marca da Rural, ia nos chamar para a casa dele para servir um lanche. Era uma coisa gratificante!

Lembro que, em um dos primeiros contatos na região de venturosa vi- sitando um senhor que tinha uma propriedade, eu, explicando a ele como se poderia controlar a praga, ele disse: “vocês querem controlar essa praga com besouros? Doutor, besouro para acabar com isso só se for trazido de caminhão”. Eu lhe disse: “vamos fazer um acordo comigo, o Senhor não bota nada de inseticida na sua palma e me deixa trabalhar durante 01 mês

e meio a 2 meses soltando só besouros, depois, o senhor vai me dizer o que foi que aconteceu”. E ele respondeu: “Tá certo, vou fazer esse acordo com o senhor”. Voltei para cá e concentrei o trabalho de produção de joaninhas, viajava de madrugada para lá porque tinha que soltar no campo antes do sol esquentar. Dois meses depois, ele falou: ”Doutor, não é que o negócio deu certo! Olhe, eu não quero saber mais nada, só quero saber agora dos besouros!” As joaninhas comiam toda a cochonilha. Feliz, ele dizia: “aqueles ‘cascudinhos’ é uma beleza!” Veja como foi interessante essa situação que acabo de relatar agora, a princípio, ele sem dar crédito, e eu afirmando que aconteceria a solução. Ele aceitou pagar para ver e, depois, sua reação de surpresa e felicidade ao constatar o resultado, e acabou por parabenizar e confiar. Esse clima de confiança precisa ser criado porque, no princípio, eles são cerimoniosos e meio desconfiados.

São tantas lembranças boas! Fui participando desse processo de extensão. Um dia, falei: “Paulo, não sabia que fazia isso”. E Paulo disse: “Você faz, e muito bem!” Então, concluí que ensinava, fazia pesquisa e extensão. Como você mesmo falou, Paulo, circulei nos 03 espaços, gostei muito e me senti satisfeito. Paulo era um entusiasmado e me entusiasmou também. Foi gratificante, e só tenho a agradecer o convite formulado pelo meu amigo Paulo Marques.

"Meus amigos, estou aqui, assim, abestalhado com esses depoimentos. Estou abestalhado, como dizia Raul Seixas, porque não lembro de todos esses fatos e, quando estou aqui escutando, me pergunto: danou-se, fizemos isso mesmo? Fico admirado e satisfeito de ter interagido com vocês, colegas, nesse importante trabalho, numa salutar convivência humana.

Essas lembranças estão sendo uma revisão de vida extraordinária e extremamente confortadora e gratificante."

Paulo Marques

6ª roda Coletiva

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No documento Josefa Martins da Conceição (Organizadora) (páginas 139-144)