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CAPÍTULO 2: ESTADO DA ARTE

2.4 Gestão Ambiental

2.4.2 Gerenciamento ambiental

A indústria, expressão da conjugação do trabalho e do capital para transformar a matéria-prima em bens de produção e consumo, tem sido capaz de gerar desenvolvimento, dadas suas significativas interações com os consumidores e fornecedores, criando bem-estar para a sociedade através de significativas mudanças tecnológicas com impacto intenso nas modificações econômicas, sociais, políticas e até culturais nos três últimos séculos. Em contrapartida são evidentes os efeitos da industrialização, (Figura 4), expresso na poluição dos solos, do ar, das

águas além dos odores, do efeito estufa, da chuva ácida e redução da camada de ozônio, etc.

A moderna indústria já considera, no desenvolvimento de novos produtos e processos, o uso de tecnologias mais limpas (com processos produtivos mais eficientes, com controle de emissões líquidas e gasosas, reciclagem e tratamento e disposição de resíduos sólidos e perigosos). Essa estratégia está sendo aplicada em larga escala em indústrias ligadas a produtos alimentícios, ferro e aço, metais não- ferrosos, produtos químicos, celulose e papel, todas elas potencialmente poluentes. Esse novo posicionamento induz às empresas a expressar, por meio de políticas declaradas, os princípios formulados que norteiam seus negócios, comprometendo- se além de atenderem à legislação aplicável, implantarem, operarem, mobilizarem suas atividades de forma ecologicamente correta, observando as relações com suas partes interessadas.

Figura 4: Pressões exercidas sobre a indústria Fonte: D’Avignon (1996, p.9)

O Brasil dispõe de vigorosa legislação que visa à preservação ambiental e esforços significativos estão sendo dirigidos para reduzir o descaso com o meio ambiente. Assim a Lei nº 6938, de 31/8/1981, que rege a Política Nacional de Meio Ambiente, no seu Art. 2.º, assinala que tem como objetivo a “preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção à dignidade da vida humana”.

No Brasil, o lixo está legislado pela Resolução n.º 257, o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA e a partir de 2001, os fabricantes e importadores de pilhas de níquel-cádmio, usadas em telefones celulares e sem fio, e pilhas de óxido de mercúrio presentes na indústria aeronáutica e em equipamentos médicos, deveriam criar uma infra-estrutura que possibilitasse o retorno e o armazenamento em acordo com as normas de proteção ambiental, bem como uma disposição final adequada.

Atualmente, as empresas avaliando a questão do lixo que produzem por um outro ângulo, de modo que a tendência é atuar preventivamente, alterando o processo produtivo e utilizando tecnologias limpas. Entretanto, a coleta, o transporte e o destino de resíduos perigosos são processos de certa complexidade, exige-se conhecimento técnico para sua classificação de acordo com as normas da ABNT, e para a destinação adequada a definição de: valas sépticas, processamento em incineradores, co-processadores, aterro sanitário domiciliar ou industrial.

No ambiente brasileiro são inúmeros os casos nos quais as empresas estão efetivando ações destinadas a reduzir o lixo, a descontaminação da água e do solo, bem como, à preservação de áreas do entorno no qual estão localizadas. (Quadro 7). Dentro dessa perspectiva, o objetivo de aqui inserir algumas das iniciativas bem sucedidas de unidades produtivas de pequeno porte, que desenvolveram ações visando à conservação do meio ambiente, é que sirvam de referências inovadoras na utilização sustentável da flora, fauna, água, energia, de espécies em extinção através do reflorestamento, implantação de matas nativas e reciclagem, enfim recuperação dos ecossistemas degradados.

Quadro 7: Resultados de ações ambientais em organizações brasileiras

Empresas Resultados das Ações APLIQUIM

Tecnologia Ambiental(1)

- Criador do Programa de descontaminação de lâmpadas com mercúrio em 1993. Recebeu o prêmio “Thomas Kuhn Hope for the future for sustainability 2001”, concedido pela International Union of Air Pollution and Environmental Protection Associations-IUAPPA e a International Academy of Science-IAS.

Treta Pak produtora de embalagens assépticas e de longa vida, em 1999 (2)

- Reciclaram 5000 toneladas de embalagens cartonadas, transformando-as em papel Kraft ondulado, palmilhas de sapato, papel toalha e papel para impressão;

- Incentivou 100 prefeituras brasileiras na coleta seletiva do lixo;

- Distribuiu em 1998, um kit composto por uma cartilha sobre reciclagem, o Caderno do Professor e o vídeo Quieto Reciclado, a dois milhões de estudantes, visando introdução dos conceitos de meio ambiente;

- Diminuíram o consumo de água em +/- 80% do consumido, através do sistema de recirculação de água de refrigeração;

- Implementaram uma Planta de Resíduos Sólidos;

- Reutilizaram 45% dos tubetes (tubos internos das bobinas de papel de 320mm de largura) , economizando 15% do valor pago pelo original e redução de 200

toneladas nos resíduos sólidos. Hotel

Paulista do Grupo ACCOR (3)

- Aproveitou 90% do lixo reciclável, através da coleta seletiva, enfardamento e armazenamento de restos de papel, papelão, vidro e alumínio, num total de 4 a 5 toneladas/mês;

- Nos quartos do hotel foram colocados cestos para coleta seletiva de lixo feitos de papel reciclado. Cervejaria Kaiser Unidade de Ponta Grossa/PR (4)

- Os resíduos gerados são usados como matéria-prima para adubos e fertilizantes; - Possui uma Estação de Tratamento de Dejetos Industriais, que controla o

lançamento de resíduos no rio;

- A água utilizada no processo de fabricação da cerveja é retirada do rio Tibagi e retorna a ele com uma qualidade superior no que diz respeito a sólidos totais e demanda biológica de oxigênio.

Indústria de Papéis Independênc ia de Piracicaba/S p (4)

- A água usada na fabricação de papel é retirada do rio Piracicaba e devolvida a ele após passar por decantação e flutuação, de onde é retirado um lodo seco que é utilizado como adubo para canavial e pasto em propriedade da empresa; - A água remanescente é reutilizada na fábrica de papéis.

Cubatão/SP (4)

- Redução nos níveis de emissão de poluentes e a despoluição da cidade de Cubatão com investimento, entre 1985 e 1991, de U$ 1.150 milhões de dólares, em

equipamentos de antipoluição, conservação e reflorestamento, através da ação reguladora associada à iniciativa privada.

- Cubatão experimentou seu maior ritmo de industrialização entre 1950 e 1960, ficou evidente os efeitos tóxicos das emissões industriais que afetaram intensamente a Serra do Mar, com altos níveis de poluição e riscos para a população.

Pro-Alcool

(5) O álcool, combustível renovável, substituto da gasolina e do óleo diesel em automóveis, ônibus e caminhões é uma significativa estratégia de solução à poluição. Pedrita Planejament o e Construção Florianópolis / SC. 1999.(6)

implementou processos de educação e treinamento continuados bem como a instalação de um sistema próprio de tratamento de efluentes, desenvolvimento de um plano de economia de água e energia e a promoção da reciclagem do efluente através de um separador de água e óleo.

(1) (Disponível em: < http://www.apliquim.com.br/premios.htm>. Acesso em 25/05/2002. 3p. (2) PRADO FILHO, In Banas Qualidade - Abril 2000 - p.22-28.

(3) EXAME, 13 de dezembro de 2000.

(4) SEBRAE NACIONAL, (1998: Fascículo n.º 2 Gestão Ambiental: 39).

(5) ALBUQUERQUE, Alexandre S. Combustível Limpo e ... In Banas Ambiental / 12/2000.p.60-62. (6) GRIPPI, Sidney. Exemplos bem-sucedidos. In Revista Banas Ambiental - Dezembro 2000. p.19.

Dentre os diversos mecanismos motivadores para as questões ambientais, as premiações estão constituindo-se num vetor de sucesso no que diz respeito à obtenção de contribuições expressivas resultando em benefício das empresas, dos indivíduos e do meio ambiente.

Para tanto, as empresas são convidadas a participarem, através do atendimento a requisitos, geralmente em diversas categorias e modalidades. É o caso dos prêmios: TOP de Ecologia, CNI de Ecologia, CNI de energia, Ford Motor Company de Conservação ambiental, OAB-PE de meio ambiente, Vasconcelos Sobrinho (Companhia Pernambucana do Meio Ambiente), Expressão de Ecologia (Revista Expressão de Florianópolis/SC), Conservação Ambiental e Desenvolvimento concedido pela Gazeta Mercantil e prêmio FIAT de melhor desempenho na área de reciclagem.

Também contribuem com a implementação de uma nova cultura que valorize as condições de vida no presente e no futuro, prêmios como o Ambiental Von Martius (Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha/ Federação das Empresas do Estado da Bahia/Câmara Americana de Comércio de São Paulo), ECO (Câmara Americana de Comércio de São Paulo), Prêmio FIEB (Federação das Empresas do Estado da Bahia), FIEG de ecologia (Federação das Empresas do Estado de Goiás), Top Anamaco/ADVB meio ambiente (Associação Nacional dos Revendedores de material de Construção/ Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil), Wilson Kleinnubing de conservação de energia elétrica (Associação Comercial e Industrial de Blumenau), entre outros.

Alguns prêmios visam reconhecer o esforço das empresas na implementação de sistemas integrados de gestão. É o caso da PETROBRÁS através do “Prêmio Petrobrás de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Bacia de Campos” destinado a empresas que possuem entre 10 e 50 trabalhadores. Desse modo, no Brasil se promove um vasto leque de prêmios com a finalidade de divulgar as melhores práticas em conservação de espécies em extinção, conservação de energia, agricultura ecológica, ecoturismo, recuperação de áreas degradadas, educação ambiental, gerenciamento de resíduos, reciclagem, reaproveitamento de resíduos, reutilização de insumos e substituição de matérias-primas agressivas (amianto, chumbo, mercúrio, etc).

Nesse contexto, realizar ações eventuais em prol do meio ambiente é importante, mas seriam multiplicados os ganhos, se as organizações apresentassem uma conduta pautada na sistemática da melhoria contínua. Isto é, que as suas boas práticas fossem duradouras, capazes de semear e fazer emergir uma cultura de cooperação antipoluição e antidesperdício, que atingisse a mudança dos hábitos e padrões de consumo em todas as camadas sociais daqui e lá fora. A esse respeito, Philip Crosby (2000, p.30-31) afirma que “para administrar uma organização é necessário contar com dados concretos e informações contínuas sobre diversos níveis de desempenho” .

Salienta-se que em 1997, foi criado o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, congregando 53 grupos empresariais perfazendo cerca de 200 companhias que comungam dessa nova forma de pensar o desenvolvimento, atuando de maneira pró-ativa e menos reativa. Entre os resultados pode-se citar a parceria firmada com o Centro Nacional de Tecnologias Limpas, que envolve o SEBRAE, o BNDES e a Confederação das Indústrias. Essa parceria visa a divulgação e a prática de uma produção mais limpa, principalmente para empresas de médio e pequeno porte.

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