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Uma profusão de eventos pode ser levantada em relação ao gerenciamento dos resíduos sólidos, como, por exemplo, problemas climáticos mundiais gerados a partir da

emissão de CO2 liberado pelos resíduos. Com o uso de 25 modelos climáticos, Fischer; Knutti

(2015) projetaram, para o período 2006-2100, um cenário de altas emissões de gases do efeito estufa e sugeriram que os eventos climáticos incomuns e extremos estejam sujeitos às emissões desses gases. Caso as temperaturas aumentassem 2º em relação aos níveis pré- industriais, cerca de 40% das precipitações de chuva extremas seriam consequência de ações antropogênicas.

Isso caracteriza um cenário de mudanças climáticas, pois, conforme Abrelpe (2015b), mudanças no clima são associadas à variabilidade natural ou resultante da ação humana. Com isso, pode-se relacionar certos gases do efeito estufa a fontes de emissão típica, que, por sua vez, estão relacionadas à problemática do gerenciamento de resíduos sólidos. É o

Tabela 1 - Gases de efeito estufa e seus potenciais efeitos de aquecimento global considerados pelo IPCC.

Fonte: Abrelpe (2015b, p. 22).

Outro fenômeno que pode ser citado é o escoamento dos resíduos sólidos para os oceanos. Como afirmam Froyland; Studart; Senbille (2014), milimétricas partículas de plástico formam uma aglomeração de resíduos tóxicos, constituído pelas correntes marinhas rotativas (giros oceânicos) provenientes de redemoinhos, estão localizadas no Pacífico Norte, a leste das Bahamas, leste do Rio de Janeiro no Brasil, leste de Madagascar e no Pacífico Sul, na altura do Chile (vide Figura 2).

Figura 2 - Localização das cinco grandes manchas de lixo oceânico.

Fonte: Froyland; Studart; Senbille (2014, p. 6).

Quanto ao gerenciamento dos resíduos em terra, nas regiões brasileiras, identificou-se o aumento na quantidade total de RSU gerada por dia, de 2,9% entre 2013 e 2014, bem como uma expressiva quantidade de municípios (64,8%) com iniciativas de coleta

seletiva. Entretanto, a destinação final dos resíduos para aterros sanitários ainda permanece crescente; em 2013, foram destinados cerca de 110 mil ton/dia de RSU e, em 2014, cerca de 114 mil ton/dia.

A quantidade de municípios no Nordeste que adotaram as soluções de aterro sanitário cresceu entre 2013 e 2014: 453 municípios em 2013 para 455 em 2014. Quanto à destinação de resíduos para os lixões, em 2013 foram destinados cerca de 33 mil ton/dia e, em 2014, 34 mil ton/dia, apesar de uma redução no número de lixões como destino final dos resíduos: 837 municípios em 2013 para 834 em 2014 (ABRELPRE, 2015b).

Nas cidades, os catadores, base da cadeia produtiva da reciclagem, são alvo de ações públicas que objetivam dirimir demandas estabelecidas. A saber, segundo IPEA (2012), são demandas provenientes desse elo da cadeia, entre outras:

a) reorientação da coleta seletiva municipal das empresas privadas para cooperativas e catadores, que, por vezes, vendem seus produtos àquelas por preços muito baixos; b) empresas terceirizadas de coleta de RSU recusam-se a permitir o acesso dos

catadores e a seleção dos materiais recicláveis recolhidos por seus caminhões, porque são pagas pelo peso e volume do que for coletado;

c) os materiais recicláveis não são pré-selecionados e acabam enterrados juntamente com os resíduos orgânicos e os catadores não têm acesso a estes materiais nem antes, nem durante, nem depois da destinação final. Isso acaba sendo contrário aos interesses dos catadores;

d) efeitos deletérios de usinas de incineração sobre as atividades dos catadores, pois tem sido apresentada como uma forma de recuperação energética que rompe a cadeia de reaproveitamento de materiais;

e) promoção da adoção de biodigestores nas áreas dos catadores a fim de produzir gás natural, adubo orgânico, venderem créditos de carbono no mercado internacional para agregar valor à renda dos catadores e facilitar sua inclusão social.

A viabilização dessas ações para beneficiar os catadores de recicláveis, gerando

emprego e renda, justifica o esforço empreendido, notadamente pelo quantitativo de 8003 mil

pessoas que poderiam ser beneficiadas no Brasil. Com isso, estima-se que a partir da coleta do

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O Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis (MNCR) estima que hajam 800 mil catadores no Brasil,

contudo, esse número não é um consenso entre instituições, como Cáritas e Instituto Polis. Pode-se estabelecer como intervalo razoavelmente seguro, entre 400 e 600 mil catadores no país (IPEA, 2012).

aço, alumínio, celulose, plástico e vidro reciclável disposto em aterros e lixões no país tivesse como destino final a reciclagem, poderia haver um benefício econômico e ambiental total de R$ 8.094.653,00 (IPEA, 2010; IPEA, 2012).

Os benefícios sociais de emprego e renda não podem ser negligenciados, mesmo em face dos resultados financeiros desses benefícios, pois, por força de lei, a inclusão social de catadores constitui um objetivo da PNRS, bem com o art. 48 da Lei 12.305/2010 proíbe o exercício de catação em áreas de destinação final de resíduos ou rejeitos (IPEA, 2012). Portanto, estabelece-se o imperativo de inserir os catadores, sobretudo aqueles que realizam suas atividades em aterros e lixões, na cadeia logística reversa dos RSU, propiciando emprego e renda.

Podemos, ainda, tratar das UGERs no gerenciamento dos RSU: que são tecnologias que permitem o aproveitamento energético dos resíduos nas cidades. As soluções tecnológicas para os resíduos variam de cidade para cidade, não havendo, portanto, uma solução que possa ser replicada para todas as localidades. Por exemplo, devido à região Amazônica ter grande quantidade de resíduos orgânicos e São Paulo resíduos plásticos, o tratamento biológico seria mais adequado para a primeira região e a biodegradação para a segunda (NEVES, 2011).

Corrobora com essa opinião GRS/UFPE (2014, p. 16), ao reconhecer que as especificidades regionais são determinantes para a escolha das tecnologias adotadas para o tratamento dos RSU, afirmando:

O alcance das metas estabelecidas pela PNRS perpassa, pois, pela diversificação das tecnologias de tratamento, cuja adoção deve ser coerente com as necessidades regionais, levando a um novo modelo de gestão e tratamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil.

É imperativo, portanto, uma gestão integrada dos resíduos sólidos tendo em vista os vários problemas relacionados a esta questão. Como afirma IPEA (2012, p. 46), é necessário um modelo de administração para os resíduos que objetive ganhos econômicos e ambientais, com a participação de várias instituições:

Em linhas gerais, a gestão integrada de resíduos sólidos é compreendida como a elaboração, implantação e execução de um modelo de administração dos resíduos sólidos, considerando a participação das autoridades competentes. Entrementes, na gestão dos resíduos sólidos, há significativas oportunidades de ganhos econômicos e ambientais. Não surpreende, portanto, a formação de um amplo mercado e a consolidação de interesses associados ao gerenciamento, recuperação e reciclagem de resíduos, bem como o crescente interesse de setores da sociedade civil pelo tema.

Diante disso, as tecnologias passíveis de geração de energia a partir dos resíduos e outras fontes, renováveis ou não, devem observar os impactos que causam relativos às

problemáticas do gerenciamento dos resíduos sólidos. Cartelle et al. (2015) propôs um

conjunto de indicadores ambientais, sociais, econômicos e técnico-funcionais para avaliar como usinas de energia, ao longo do seu ciclo de vida, podem contribuir para a sustentabilidade global do sistema de gerenciamento dos resíduos no qual estão inseridas. Os indicadores ambientais totalizam 19, os sociais 9, os econômicos 10 e os técnico-funcionais 6 (ver anexo A).

Souza et al. (2016) corrobora com Cartelle et al. (2015) quanto ao fato de que se

faz necessária uma avaliação sistêmica, em detrimento das avaliações apenas financeiras e de curto prazo, para análise do emprego de opções tecnológicas de tratamento dos RSUs. Para

Souza et al. (2016), em especial, essas tecnologias devem ser avaliadas a partir de 11

variáveis que estão relacionadas a três vigilâncias: sociais, ambientais e econômicos.

Diante dos fenômenos técnico-econômicos e ambientais citados para o gerenciamento dos resíduos sólidos, deve-se compreender as etapas logísticas necessárias para abordagem sistêmica nos elos da cadeia logística reversa, que será alvo da próxima seção.

2.4 Etapas logísticas do setor de RSU: coleta primária, armazenamento e triagem,