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108 6.5.1 Ações Realizadas

3 EIXOS TEMÁTICOS DA AP

3.2 Gestão Adequada dos Resíduos Gerados

“Um dos maiores desafios com que se defronta a sociedade moderna é o equacionamento da geração excessiva e da disposição final ambientalmente segura dos resíduos sólidos” (JACOBI; BESEN, 2011, p. 1). O governo federal vem tomando medidas no sentido de fazer com que a Administração Pública tenha um olhar voltado para essa problemática. A publicação do Decreto nº 5.940/06, que trata da separação e destinação dos resíduos recicláveis na administração pública federal, e a inserção da temática “Gestão Adequada dos Resíduos Gerados” na A3P são exemplos de ações do governo direcionadas para a construção de uma nova cultura institucional na gestão dos resíduos gerados pela instituição pública. Outro aspecto legal que trata dessa questão, nesse caso incluídos outros atores sociais além da administração pública, é a Lei 12.305/10, que versa sobre a Política

Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Essa lei esteve em tramitação durante 20 anos no Congresso Nacional, sendo sancionada em 2010. Vale ressaltar os aspectos mais importantes desse dispositivo legal:

• Fim do lixão: a lei determina que até quatro anos após a sua publicação, ou seja, até o ano de 2014, deverá ser implantada a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;

• Gestão integrada dos resíduos sólidos: A PNRS define a gestão integrada dos resíduos sólidos como o “conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável”. Nesse sentido, a lei determina que os municípios deverão elaborar os “Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos”, como condição para o acesso aos recursos da União destinados à gestão de resíduos e à limpeza urbana;

• Responsabilidade compartilhada: responsabiliza a sociedade como um todo – cidadãos, governos e setor privado – pela gestão ambientalmente correta dos resíduos sólidos. Para o cidadão a responsabilidade não abarca somente a disposição correta dos resíduos gerados, mas também o seu papel como consumidor consciente. Para o governo, em todas as suas esferas, foi determinada a responsabilidade de elaboração e implantação dos planos de resíduos sólidos. O setor privado, por sua vez, ficou responsável pelo gerenciamento correto dos resíduos sólidos, através da análise do ciclo de vida do produto a fim reincorporá-lo na cadeia produtiva e identificar inovações que resultem em benefícios socioambientais;

• Logística reversa: no artigo 3º, inciso XII, da PNRS a Logística Reversa é definida como: “o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado pelo conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.” Assim, a logística reversa constitui um instrumento da responsabilidade compartilhada, ao determinar que o fabricante é responsável pelo

recolhimento do produto e do seu remanescente pós-consumo a fim de reaproveitá-lo na sua cadeia produtiva ou efetuar a destinação adequada dele. Nesse sentido, a lei obriga a implantação do sistema de logística reversa para as seguintes cadeias: agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus componentes; e, por fim, produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro.

A política de gestão dos resíduos sólidos foi sofrendo alterações diante da realidade apresentada em cada época. Demajorovic (1996) destaca três fases dessa política, que são identificadas por objetivos distintos:

1ª fase - Perdurou até início da década de 1970 e tinha como foco a disposição dos resíduos. Nessa fase a preocupação principal residia em descartar os resíduos em locais distantes da área habitacional, não sendo dada nenhuma importância ao tratamento dos mesmos. No entanto, a expansão das cidades acarretou o aumento da produção e do consumo e consequentemente um crescimento relevante da quantidade dos resíduos a serem dispostos, constatando- se, desse modo, que era necessário rever a forma de gestão desses resíduos a fim de não agravar os problemas ambientais e de saúde da população, já percebidos nesse momento. Um marco positivo dessa fase foi a supressão, durante a década de 60 e início da década de 70, na maioria dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), dos lixões a céu aberto, ocorrendo, assim, a transferência da maior parte dos resíduos para aterros sanitários e incineradores. A partir de meados da década de 1970, surgiram críticas, mobilizadas sobretudo por grupos ambientalistas, em relação a esse destino dado aos resíduos: por um lado, pelo fato dos aterros existentes causarem danos ao meio ambiente (poluição dos lençóis de água subterrâneos) e pela reduzida disponibilidade de espaço para a construção de novos aterros; e, por outro lado, pelo fato do processo de incineração, que era visto como vantajoso, por reduzir em 75% o volume dos resíduos, implicar em emissões de gases nocivos ao meio ambiente;

2ª fase - Só a partir dos anos 80 houve a mudança de foco em relação ao gerenciamento dos resíduos, concentrando-se, nessa fase, a atenção nas etapas de

recuperação e reciclagem de materiais. Essa mudança foi motivada pela proposta de gestão de resíduos dos países da OCDE, publicada em 1975, que estabelecia a ordem de ações a serem executadas na gestão dos resíduos sólidos, a saber: redução da quantidade de resíduos; reciclagem de material; incineração e reaproveitamento da energia resultante; disposição dos resíduos em aterros sanitários controlados. Não obstante o cumprimento apenas parcial das orientações dos países da OCDE, Demajorovic (1996) destaca que essa fase proporcionou um crescimento mais lento em relação ao consumo de recursos naturais e ao volume dos resíduos a serem dispostos, haja vista o aproveitamento dos materiais, através da reciclagem, em etapas diferentes do processo produtivo. Em tal fase, os resíduos sólidos adquiriram valor econômico, tornando o mercado de produtos reciclados rentável, sendo ele estimulado pela proliferação das leis reguladoras e pela elaboração de instrumentos econômicos para beneficiar a compra desses produtos;

3ª fase - A terceira fase iniciou-se no final da década de 1980, estabelecendo-se como prioridade na gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) a redução do volume de resíduos na fonte geradora, desde o início do processo produtivo até o final da cadeia produtiva. Tal mudança de objetivo na gestão dos resíduos foi motivada pelas críticas que começaram a surgir, naquela época, por se estabelecer uma gestão de resíduos focada apenas na reciclagem, já que esse processo também demanda quantidades consideráveis de matérias-primas e energia, além de produzir resíduos. Ademais, as críticas se pautavam na falta de vinculação entre os resíduos gerados e a fonte geradora, uma vez que os resíduos eram coletados geralmente por terceiros que os revendiam. Isso não criava incentivo para que os fabricantes reduzissem os resíduos gerados nem os tratassem como prioridade, haja vista que essa medida acabava mantendo externo ao processo produtivo o custo com o reaproveitamento e reciclagem dos produtos. Nessa fase propõe-se priorizar a reutilização ao invés da reciclagem. “Além disso, passa-se a exigir que os produtos sejam projetados para ter uma vida útil longa e de tal modo que, na eventualidade de que sejam necessários, os reparos possam ser facilmente executados.” (VOGEL, 1993 apud DEMAJOROVIC, 1996, p. 52). Outros aspectos a serem considerados no modelo mais atual de gestão de resíduos consistem em

exigir a aplicação de tecnologias limpas1 no processo produtivo e de se criar políticas no sentido de estimular o consumidor a mudar o seu padrão de consumo e a priorizar produtos que exijam menos embalagem e que as mesmas sejam reutilizáveis ou recicláveis. Assim, são as seguintes as diretrizes prioritárias da atual política de gestão de resíduos (DEMAJOROVIC, 1996, p. 53):

− evitar ou, nos casos em que não for possível, diminuir a produção de resíduos;

− reutilizar ou, quando não for possível, reciclar resíduos; − utilizar a energia contida nos resíduos;

− tornar inertes os resíduos, antes da disposição final.

Nesse sentido, a maioria dos países desenvolvidos tem norteado sua forma de gestão dos RSU para o uso da “hierarquia dos resíduos”, na qual a prevenção da geração destes se localiza em primeiro lugar. A Política Nacional de Resíduos Sólidos do Brasil direciona para o mesmo caminho ao determinar, no seu artigo 9º, a “não geração” e a “redução” de resíduos como as primeiras ações da lista de ordem de prioridade de gestão, seguidas, nesta sequência, das ações de “reutilização”, “reciclagem”, “tratamento dos resíduos sólidos” e “disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”.

Ainda nessa perspectiva, pode-se mencionar a metodologia de gestão ambiental chamada de “Produção Mais Limpa”, também conhecida como P + L, que prioriza a minimização dos resíduos na fonte. A Figura 1 detalha, através de um organograma, técnicas aplicáveis na prevenção da poluição, sendo apresentado um indicativo de ordem de prioridade dessas medidas (da esquerda para direita), portanto a opção mais desejável é a adoção de técnicas de “redução na fonte”.

1A OECD, em 1987, define tecnologias limpas como ‘qualquer medida técnica na indústria para

reduzir, ou até eliminar na fonte, a produção de qualquer incômodo, poluição ou resíduo, e ajudar na economia de matérias-primas, recursos naturais e energia. Elas podem ser introduzidas tanto em nível de projeto, com mudanças radicais no processo de manufatura, ou num processo existente, com a separação e utilização de produtos secundários que de outra maneira seriam perdidos’” (BAAS, 1996 apud KIPERSTOK, 1999, p.6).

FIGURA 1 - Organograma mestre das ações para prevenção e controle da poluição

Fonte: La GREGA, 1994 apud COELHO, 2004

A “Agenda Ambiental na Administração Pública” orienta os gestores públicos para a aplicabilidade da política dos 5 R’s (Reduzir, Repensar, Reutilizar, Reciclar e Recusar consumir produtos que gerem impactos socioambientais significativos) antes mesmo de se pensar sobre a gestão dos resíduos gerados. A análise de cada “R” antes da compra do produto permite que o mesmo seja adquirido de acordo com a sua real necessidade e que sejam selecionados de modo a contribuir para a prática da sustentabilidade ambiental, conduzindo, assim, o gestor para a adoção do consumo consciente. “Consumir conscientemente significa, portanto, atentar para os efeitos que este ato acarreta ao meio ambiente e a toda a humanidade e entender o desperdício como uma espécie de ‘delito ambiental´.” (NUNES, 2009, p. 4).

Para a gestão dos resíduos gerados no setor público é importante analisar as seguintes ações: a compra, o consumo, a coleta seletiva e o descarte do produto. O primeiro passo é analisar criteriosamente o processo de compra, evitando que sejam adquiridos produtos desnecessários ou inviáveis ambientalmente. Assim já se faz uso de parte do conceito dos 5 R’s, ou seja, o Repensar e o Recusar. Após essa etapa, é preciso consumir de forma racional os recursos naturais e bens públicos,

evitando o desperdício. Através de práticas simples, a exemplo do uso de frente e verso do papel, da escolha pela opção do envio de e-mail ao invés do impresso para as comunicações internas e externas, da substituição dos copos descartáveis por canecas individuais não-descartáveis e do monitoramento do uso da água e da energia, a instituição poderá auferir reduções de custo significativas e minimizar o impacto ambiental negativo. Nessa fase, faz-se uso do Reutilizar e do Reduzir da política dos 5 R’s. O próximo passo é a coleta seletiva que constitui uma importante ação no processo preliminar da reciclagem. O destino dado ao material separado, seletivamente, fecha o ciclo da política dos 5 R’s, através do uso da ação de Reciclar. Contudo, é importante enfatizar que a reciclagem não deve ser vista como a proposta mais sedutora para proteger o meio ambiente. O cerne da questão deve ser a redução da geração do resíduo na fonte, seja por meio da aplicação de “tecnologias mais limpa” ou do consumo consciente por parte do cidadão.