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CAPÍTULO 3 – O PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE

3.1. Os eixos de atuação do PNAIC: formação continuada; materiais didáticos e pedagógicos;

3.1.4. Gestão, controle social e mobilização

O eixo gestão, controle social e mobilização é responsável por gerir as ações do PNAIC. Para isso são necessárias quatro instâncias mencionadas pelo manual do PNAIC, O Brasil do futuro com o começo que ele merece (BRASIL, 2012a):

i) um Comitê Gestor Nacional; ii) uma Coordenação Institucional em cada estado, composta por diversas entidades, com atribuições estratégicas e de mobilização em torno dos objetivos do Pacto; iii) Coordenação Estadual, responsável pela implementação e monitoramento das ações em sua rede e pelo apoio à implementação nos municípios; e iv) Coordenação Municipal, responsável pela implementação e monitoramento das ações na sua rede (BRASIL, 2012a, p. 14).

Assim como ressalta Brasil (2012a), observa-se a importância do sistema de monitoramento, via Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (SIMEC), disponibilizado pelo MEC, para apoiar as redes de ensino e garantir a implementação das diferentes etapas do PNAIC. Essa plataforma permite que

todos os envolvidos nesta iniciativa poderão registrar e acessar informações sobre o andamento dos cursos nos estados, municípios e escolas, incluindo registros de presença, realização das atividades planejadas, informações sobre o progresso dos alunos, etc. (BRASIL, 2012a, p.37).

Além desse sistema, o governo disponibilizou outras ferramentas, como portais de informação, encontros sistemáticos, publicações e outros recursos.

As funções e as atribuições do PNAIC são divididas entre as instâncias federal, estadual/distrital e municipal. De acordo com o manual do PNAIC, O Brasil do futuro com o começo que ele merece (BRASIL, 2012a), cabe ao MEC:

I. Promover, em parceria com as instituições públicas de ensino superior (IPES), a formação dos professores alfabetizadores e dos orientadores de estudo.

II. Conceder bolsas de apoio para os orientadores de estudo e os professores alfabetizadores, durante o curso de formação;

III. Fornecer os materiais didáticos, literários, jogos e tecnologias previstos na Portaria nº 867, de 4/7/2012, que institui o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

IV. Aplicar as avaliações externas do nível de alfabetização em língua portuguesa e em matemática, para alunos concluintes do 3º ano do ensino fundamental.

V. Distribuir a Provinha Brasil para aplicação pelas próprias redes junto aos alunos ingressantes e concluintes do 2º ano do ensino fundamental e disponibilizar para as redes de ensino sistema informatizado para coleta e tratamento dos resultados da Provinha Brasil. (BRASIL, 2012a, p. 37).

Além das atribuições citadas acima, o MEC colabora no fortalecimento dos Conselhos de Educação, Escolares e de outras instâncias que trabalham em prol da educação de qualidade nos estados e municípios. Quanto aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios, estes são responsáveis por:

I. Aderir ao Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

II. Gerenciar e monitorar a implementação das Ações do Pacto em sua rede.

III. Fomentar e garantir a participação dos professores alfabetizadores de sua rede de ensino nas atividades de formação, sem prejuízo da carga horária em sala de aula, custeando o deslocamento e a hospedagem, sempre que necessário.

IV. Indicar os orientadores de estudo de sua rede de ensino, e custear o seu deslocamento e a sua hospedagem para os eventos de formação.

V. Promover a participação das escolas da sua rede de ensino nas avaliações externas realizadas pelo Inep junto aos alunos concluintes do 3º ano do ensino fundamental.

VI. Aplicar a Provinha Brasil em sua rede de ensino, no início e no final do 2º ano do ensino fundamental, e informar os resultados por meio de sistema informatizado específico, a ser disponibilizado pelo Inep.

VII. Designar coordenadores para se dedicarem ao programa e alocar equipe necessária para a sua gestão, inclusive em suas unidades regionais, se houver. VIII. Monitorar, em colaboração com o Ministério da Educação, a aplicação da Provinha Brasil e da avaliação externa, a entrega e o uso dos materiais de apoio à alfabetização.

IX. Disponibilizar assistência técnica às escolas com maiores dificuldades na implementação das ações e na obtenção de resultados positivos de alfabetização. X. Promover a articulação do programa com o programa Mais Educação, onde houver, priorizando o atendimento das crianças do 1º, 2º e 3º ano do ensino fundamental como garantia de educação integral e complementação e apoio pedagógico àquelas com maiores dificuldades (BRASIL, 2012a, p. 38 e 39).

Em relação a esse eixo, os professores fazem menção ao Sistema de Monitoramento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (SISPACTO), fazendo críticas, como a falta de espaço para justificar a opção que selecionavam, quando faziam as avaliações solicitadas pelo sistema, assim como afirma Fernanda, docente do 1º ano.

Muitas vezes a gente entrava ali e avaliava, porque tinha que fazer. Não tinha um espaço, onde a gente pudesse falar o que gostaria de sugestões, ou de críticas, a

gente marcava o ―xizinho‖ ali e pronto. Era regular, bom, excelente; se a gente marcasse regular, mas ―por que do regular?‖; ―o quê que eu vi que eu queria que mudasse?‖ Não tinha esse espaço, então, na maioria das vezes, a gente marcava tudo

excelente, pronto, acabou (FERNANDA, PROFESSORA DO 1º ANO).

As professoras, também, comentam sobre os questionamentos, os quais tinham que responder sobre a turma que lecionava no ciclo de alfabetização. Jovana, professora do 1º ano,

relata que ―eram perguntas reais, da vivência da gente, escolar. E ali você tinha que analisar e

lembrar de cada criança para não escrever coisa errada e nem marcar errado. Eu tinha que dar

os dados mais precisos possíveis‖ (JOVANA, DOCENTE DO 1º ANO). Para Jovana, o objetivo do SISPACTO era ―acompanhar como que estava a educação (alfabetização) no

Brasil‖. Edna, docente do 2º ano e orientadora do PNAIC no município, concorda com Jovana sobre o objetivo do sistema, dizendo que acredita que ―queriam (o MEC) saber como estava o nível das crianças, a realidade de cada turma‖ (EDNA, PROFESSORA DO 2º ANO E

ORIENTADORA DO PNAIC EM CASTELO - ES).

Quanto a esse eixo, a coordenadora do PNAIC, em Castelo - ES, explica como funcionava o sistema e ressalta que este era fácil de ser navegado, no entanto havia alguns professores alfabetizadores que não tinham o hábito de acessar a internet e por isso tiveram dificuldades com o SISPACTO. Além disso, Carla destaca, se as informações postadas não eram condizentes, o professor alfabetizador ficava sem receber a bolsa, o que aconteceu com uma professora em 2013 e duas em 2014.

O sistema não era difícil de ser navegado, era fácil, só que eu tive alguns professores alfabetizadores, que eles não têm essa prática de informática, de entrar, de navegar, de uma aba passa pra outra, de outra passa pra outra, que uma está ligada, às vezes, o que elas responderam lá na primeira aba, na primeira parcela estava ligado ao que elas iam responder na décima. Se elas colocaram lá que elas tinham 23 alunos, aqui na décima tinha que completar quem desses 23 estavam em processo de alfabetização, estavam avançando, não estavam. Então, eu tive alguns professores alfabetizadores que tiveram muita dificuldade e eu não achei justo, porque se eles não conseguiam ter acesso a essa informação aí, navegar, eles eram prejudicados na

bolsa. Eu tive, em 2013, uma professora que não conseguiu pegar essa ―malícia‖ do

que ela colocava em uma tinha que bater com a última e ela ficou sem receber uma bolsa, e agora, 2014, eu tive uma professora que ficou sem receber duas bolsas e uma docente sem uma bolsa. Eu achei muito injusto, porque foram professoras excelentes e por causa de um sistema e que elas, também, às vezes, não perceberam,

porque, se alguém que tem a ―malícia‖ do sistema, fala assim: ―não, isso aqui está te bloqueando na bolsa‖ (CARLA, COORDENADORA DO PNAIC EM CASTELO -

ES).

Em relação ao objetivo do SISPACTO, as professoras Luiza, Beatriz e Fátima veem como uma forma de controle e avaliação do governo sobre o processo de alfabetização das crianças e da prática docente do professor alfabetizador. ―Tudo tem que ter controle. Precisa de dados para poder, não sei nem se eles fazem isso, avaliar, rever, repensar, ver se está

funcionando‖ (LUIZA, PROFESSORA DO 1º ANO). ―É, realmente, avaliar se o professor

está fazendo, acompanhando, sanando as dificuldades com os coordenadores, se o professor

tem acesso às informações da escola‖ (FÁTIMA, DOCENTE DO 3º ANO).

Beatriz, professora do 3º ano, aponta a avaliação proposta pelo sistema como uma forma de controle e de conhecimento, por parte do MEC, do que estava acontecendo nas turmas de alfabetização; no entanto, afirma que o SISPACTO é falho, já que pode ser colocado no sistema algo que não tenha sido feito, como se estivesse, realmente, realizado.

Tudo tem que ser avaliado. Tinha a minha avaliação, o quê que eu pensava, o que o coordenador pensava. Tem que haver sim, até pra ter um controle, um acompanhamento de quem está, realmente, à frente, que nunca veio em nenhuma cidade para participar dos encontros, que não sabe o que está acontecendo. Eu acredito que é uma forma de controle, saber se, realmente, estava acontecendo, mas a gente sabe que isso aí eles não sabem nada, porque uma pessoa pode escrever o que bem entender e não fazer nada. Então, às vezes, esse sistema é falho nessa questão. Você provava como? Com fotos, mas se você quisesse tirar uma foto, fingir que estava fazendo, é muito fácil, muito simples (BEATRIZ, DOCENTE DO 3º ANO).

Em se tratando do objetivo do sistema, a coordenadora acredita que o governo pretendia checar as informações passadas pela escola, pelo município e pelos professores alfabetizadores dentro dos diversos sistemas que controlam os dados referentes à educação.

O objetivo é afinar as informações, porque, por exemplo, muita coisa que é informada dentro do Plano de Ações Articulada (PAR), a gente observa que estava dentro do SISPACTO em forma de pergunta para os professores. Muita coisa os dados do Censo entrelaçados com o SISPACTO, muita coisa que pedia no Censo Escolar, bolsa família, também, estava ali, porque o professor tinha que falar quantos alunos ele tinha de bolsa família, quantos alunos fizeram a pré-escola, quantos frequentaram a creche. Então, eu penso que ele (o governo) quer filtrar e fazer um alinhamento e casar os dados se, realmente, os dados do município estão casando dentro do PAR, do Censo, do SISPACTO, da bolsa família, se, realmente, esses dados estão sendo fidedignos em todos os momentos (CARLA, COORDENADORA DO PNAIC EM CASTELO - ES).

Carla destaca, como objetivo do MEC com o SISPACTO, obter informações do professor, da escola e do município sobre a situação da educação em cada turma de alfabetização, assim como analisar os dados de outros sistemas que envolvem a educação para ver se, realmente, são verídicos.

O sucesso do PNAIC como um Programa para professores alfabetizadores precisava articular os quatro eixos de atuação (formação, materiais, avaliações e gestão) discutidos anteriormente, para que os encontros de formação fossem colocados em ação, as propostas do PNAIC e os materiais chegassem às turmas de alfabetização de crianças e a abordagem teórica da ação formativa de 2013, com enfoque na alfabetização e no letramento em Língua Portuguesa, fosse abordada e discutida pelos orientadores de estudo e professores alfabetizadores.

3.2. O processo de alfabetização e letramento de acordo com a proposta do PNAIC e o