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BRASIL PERNAMBUCO PRINCIPAIS RAZÕES

3. GESTÃO DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS EM PE: AVANÇOS E PERMANÊNCIAS

A agroindústria canavieira é marcante em seus impactos negativos ao ambiente, sobretudo devido à grande quantidade de resíduos sólidos gerados. Bagaço, vinhoto, palha, “carvãozinho” são apenas alguns dos resíduos “inerentes” a esta atividade e, por isso, tão conhecidos pela população da Zona da Mata de Pernambuco. Uma das primeiras preocupações de cunho ambiental sobre o setor foi decorrente, justamente, da ação de um de seus resíduos, o vinhoto, que comumente era lançado nos corpos hídricos. As formas pioneiras de controle no Estado, incluindo ONGs e o órgão de controle ambiental, surgiram para tentar conter ou inibir esse tipo de poluição.

Dessa forma, entende-se que estes resíduos estão na centralidade dos danos à natureza causados pelo setor sucroalcooleiro e devem ser alvo de atenção e controle através de mecanismos de gestão ambiental eficientes. Nesse sentido, este capítulo é dedicado a discussão sobre a gestão destes resíduos agroindustriais. A análise é realizada a partir de dados apresentados nos inventários de resíduos sólidos de Pernambuco dos anos de 2001 e 2003, e posteriormente dos dados apresentados nas Declarações Anuais de Resíduos Sólidos Industriais. Posteriormente, são destacados quatro principais resíduos do setor, com suas problemáticas principais e alternativas para sua reutilização.

3.1 Gestão de resíduos sólidos em Pernambuco: abordagem geral

Um dos principais problemas causados pela industrialização é justamente a destinação dos resíduos de qualquer tipo (sólido, líquido ou gasoso) que sobram do processo produtivo, e que afetam o meio ambiente natural e a saúde humana. Ao longo do século XX, os grandes acidentes industriais e a contaminação resultante deles acabaram chamando a atenção da opinião pública para a gravidade desse problema (DIAS, 2010, p. 7).

De acordo com a NBR 10.004/2004, resíduos sólidos são:

[...] resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

Na nova Política de Resíduos Sólidos de Pernambuco, Lei 14. 236/2010,54 os resíduos

sólidos são definidos como:

[...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se está obrigado a proceder, no estado sólido ou semi-sólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso solução técnica ou economicamente inviável em face da melhor tecnologia disponível.

Vê-se então que todos os resíduos gerados pela agroindústria canavieira, incluindo os gases e o vinhoto, enquadram-se, segundo essas normas, como resíduos sólidos.

De acordo com a mesma lei, conforme a origem, os resíduos sólidos podem ser classificados em: urbanos; industriais; de serviços de saúde; de atividades rurais; provenientes de portos; aeroportos; terminais rodoviários e ferroviários; postos de fronteira e estruturas similares; e os resíduos de construção civil. Os resíduos gerados pelo setor sucroalcooleiro são provenientes tanto da fase agrícola quanto industrial do processo produtivo, o que aumenta a complexidade de sua gestão adequada.

Bidone (1999, p. 91) considera como resíduos sólidos industriais os efluentes resultantes do processamento industrial, bem como determinados líquidos não passível [sic] de tratamento por métodos convencionais que, por suas características peculiares, não podem ser lançados na rede de esgoto ou em corpos receptores de água. Para o autor, um programa de minimização de resíduos passa por dois aspectos: redução e reciclagem de resíduos na fonte geradora. Já os resíduos agrícolas são aqueles provenientes de atividades agrícola e pecuária como: embalagens de adubos; defensivos agrícolas; ração; restos de colheita etc. O lixo proveniente de pesticidas é considerado tóxico e necessita de tratamento especial.55

Na NBR 10.004 da ABNT os resíduos sólidos são classificados da seguinte maneira:

Resíduos Classe I – Perigosos. Aqueles que apresentam periculosidade ou alguma das seguintes características: inflamabilidade; corrosividade; reatividade; toxicidade e patogenicidade.

Resíduos Classe II – Não perigosos. Esta classe se subdivide em mais duas:

- Classe IIA – Não inertes. Aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos Classe I e nem Classe IIB. Podem ter propriedades tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.

- Classe IIB – Inertes. Quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10.007/2004, e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, conforme ABNT NBR 10.006/2004, não tiverem nenhum de seus

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A antiga Política Estadual de Resíduos Sólidos encontra-se disposta na lei nº 12.008, de 01 de junho de 2001. Embora a nova política já tenha sido sancionada, o poder executivo tem o prazo de até 180 (cento e oitenta dias), a contar da sua publicação para regulamentá-la.

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Disponível em http://ambientes.ambientebrasil.com.br/residuos/residuos/classificacao,_origem_e_caracteri sticas.html. Acesso em 12 de janeiro de 2011.

constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

Os resíduos provenientes das atividades sucroalcooleiras podem enquadrar-se nas classes I e II desta norma, o que ilustra a variedade de resíduos produzidos e, conseqüentemente, as variedades de destinação que a eles deve ser dada.

A maioria dos resíduos resultantes da atividade sucroalcooleira, sobretudo o resíduo industrial, depois de gerado, necessita de destino adequado, pois não pode ser acumulado indefinidamente no local em que foi produzido. A disposição dos resíduos no meio ambiente, por meio de emissões de matéria e de energia lançados na atmosfera, nas águas ou no solo deve ocorrer após sofrerem tratamento e serem enquadrados nos padrões estabelecidos na legislação ambiental para não causarem poluição (AQUARONE, 1990 apud PELIZER, 2007, p. 119).

Os processos de produção e beneficiamento de cana-de-açúcar apresentam particularidades, pois, seus resíduos são considerados não como rejeitos, mas como subprodutos e por isso são valorizados pelo setor industrial (BNDES, 2008, p. 81). Para Santos (2007, p. 42) os resíduos sólidos nada mais são do que recursos (ou matérias) desviados de sua rota natural, que seria a reabsorção pela sociedade que o gerou. Eles formam um conjunto de materiais que precisam ser geridos, uma vez que se constituem em diversos tipos, com diversas utilidades, e que podem ser tratados por diversas tecnologias.

Para a mesma autora, as indústrias, na maioria dos casos, operam sistemas de tratamento e disposição final dos seus resíduos de produção independentemente da autoridade local. Mas, não é incomum observar que algumas indústrias ainda esperam que a solução para a gestão dos seus resíduos seja dada pelo poder público. Este fato pode ser observado no setor sucroalcooleiro onde parte dos resíduos é reutilizada na própria produção de cana-de-açúcar, enquanto outros ainda são destinados a lixões municipais, ficando difícil afirmar a composição e quantificação destes resíduos gerados. Por isso, para Laufenberg et al (2003) é necessário um inventário completo, baseado numa visão holística da indústria contendo dados sobre ocorrência, quantidade e utilização dos resíduos.

Nesse âmbito, no ano de 2001 em Pernambuco, foi promulgada a lei estadual nº 12.008 que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos, e de acordo com seu artigo 2º, tem como objetivos:

I- proteger o meio ambiente, garantir seu uso racional e estimular a recuperação de áreas degradadas;

II- evitar o agravamento dos problemas ambientais gerados pelos resíduos sólidos;

III- estabelecer políticas governamentais integradas para a gestão dos resíduos sólidos; e

IV- ampliar o nível de informações existentes de forma a integrar ao cotidiano dos cidadãos a questão de resíduos sólidos e a busca de soluções para a mesma.

Esta lei estabelece que nos pedidos de licenciamento ambiental seja realizada a apresentação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), que deve contemplar medidas especificas que incentivem a conservação e recuperação de recursos naturais e forneçam condições para a destinação final adequada dos resíduos. Esse PGRS passa a ser exigido nas Licenças de Operação a partir de 2003, como citado no capítulo anterior.

A mesma lei, em seu artigo 18, incumbe ao Estado a função de estabelecer, estimular e fiscalizar a obrigatoriedade da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental em todas as empresas industriais do Estado, assegurando o controle de seus resíduos sólidos e o atendimento aos princípios da sustentabilidade e melhoria contínua, fazendo alusão aos instrumentos de mercado.

Neste mesmo ano, houve a publicação de um Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Industriais por meio de Convênio de Cooperação Técnica entre Brasil e Alemanha, através da CPRH e Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ). Este inventário envolveu 100 empresas dos setores industriais alimentícios; metalúrgico; químico; de papel e papelão; sucroalcooleira e têxtil.

Posteriormente, a Resolução CONAMA 313/2002 instituiu o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais, parte integrante do processo de licenciamento ambiental e, por isso, obrigatório. De acordo com a Resolução:

Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais é o conjunto de informações sobre a geração, características, armazenamento, transporte, tratamento, reutilização, reciclagem, recuperação e disposição final dos resíduos sólidos gerados pelas indústrias do país.

Para Sabat (2008, p. 1), o objetivo da elaboração do inventário é fazer o levantamento dos resíduos existentes a fim de respeitar os princípios ambientais de precaução; prevenção; poluidor pagador; e, notadamente, o princípio da informação ambiental. Este documento permitiria não só o controle por meio de um conhecimento estático, mas possibilitaria uma atitude dinâmica do Poder Público na fiscalização da geração de resíduos e conseqüente responsabilização por sua má gestão em cada atividade industrial.

Esta Resolução do CONAMA permitia aos órgãos estaduais de meio ambiente, alterar o universo de indústrias a serem inventariadas de acordo com as características e especificidades de cada Estado, priorizando os maiores geradores de resíduos. Assim, no

tocante ao setor sucroalcooleiro, a Resolução do CONAMA exigia o Inventário apenas aos fabricantes de álcool, porém a Instrução Normativa da CPRH 002/2003 incluía também os produtores de alimentos, no qual se enquadram todas as usinas sucroalcooleiras.

Para atender às exigências da Resolução 313/2002, em 2003 foi publicado pela CPRH o 2º Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Industriais, correspondendo desta vez a 390 empresas do Estado, que declararam informações como: tipos de resíduos; quantidade; forma de armazenamento e disposição final destes resíduos.

Em 2006, duas importantes instruções normativas da CPRH foram um marco para aprimorar a gestão de resíduos industriais no Estado. A Instrução Normativa 03/2006, que prevê o envio do Relatório Anual dos Resíduos Sólidos gerados, estabelece que:

Artigo 1º- Deverão apresentar à Agência CPRH a Declaração Anual de Resíduos

Sólidos Industriais (DARSI), referente ao exercício anterior, todos os empreendimentos industriais sujeitos a licenciamento ambiental na CPRH: