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Gestão democrática da escola pública: o Grêmio Estudantil

No documento andreabotelhodeabreu (páginas 57-62)

1.3 Juventude: participação social e cidadania

1.3.1 Gestão democrática da escola pública: o Grêmio Estudantil

As ações desenvolvidas no Projeto VEM, ao possibilitarem a ampla participação de todos os sujeitos da comunidade escolar, especialmente os jovens de 15 a 17 anos de idade, permitiram à SEE - a partir dos registros encaminhados

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pelas escolas e das observações feitas pelos servidores que acompanharam todas elas, principalmente no Dia da Virada -, conhecer narrativas diversas sobre os itinerários construídos e traçados pelas escolas.

Com isso, vozes dissonantes e consonantes foram identificadas, revelando valores e contradições essenciais à compreensão da realidade de cada escola. E, entre os consensos apresentados pelos estudantes, está a reivindicação por maior participação na gestão da escola, na construção coletiva de suas normas e no desenvolvimento de atividades inovadoras que a tornem mais dinâmica e, consequentemente, democrática.

Desde a CF de 1988, a gestão democrática tem sido alvo de discussão dos educadores e gestores da educação pública. Entretanto, por não ser ainda uma realidade, o PNE 2014-2024 (BRASIL, 2015) propôs, na Meta 19, que fossem asseguradas, até 2016, condições para a “efetivação da gestão democrática da Educação. Essa meta está associada a critérios técnicos, de mérito e desempenho, e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto” (p.31). Como estratégias de concretização dessa meta, estão o estímulo à constituição e fortalecimento dos grêmios estudantis, além da participação e consulta de estudantes na formulação dos projetos político-pedagógicos, currículos e processos decisórios da escola.

Desde 1985, a promulgação da Lei nº 7398 assegura, aos estudantes, a organização de grêmios estudantis, “como atividades autônomas representativas dos interesses dos estudantes secundaristas com finalidades educativas, culturais, cívicas, desportivas, sociais”. Além disso, a Lei Estadual Nº 13.410, de 21 de dezembro de 1999, em seu Art. 1º, também considera livre “a organização e o funcionamento de grêmios estudantis ou entidades similares nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e privados”. Diante disso, a SEE acredita que a criação dos grêmios nas escolas da rede permitirá aos estudantes a discussão, criação e fortalecimento de diferentes possibilidades de ação, tanto no ambiente escolar, quanto na comunidade.

A SEE acredita, também, que o Grêmio é um importante espaço de aprendizagem, cidadania, convivência, responsabilidade e de luta por direitos, por ter, entre seus objetivos principais, a participação dos estudantes nas atividades de sua escola, seja organizando campeonatos, palestras, projetos e discussões, ou fazendo com que eles tenham voz ativa e participem – junto com pais,

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funcionários/as, professores/as, coordenadores/as e diretores/as – da programação e da construção das regras dentro da escola. Ele tem, portanto, o potencial de ampliar a integração dos estudantes entre si, com toda a escola e com a comunidade.

Segundo Martins (2010), “o grêmio estudantil pode se tornar um lugar concreto de prática social, e a escola, como arena relacional, pode se tornar lugar profícuo para o exercício de experiências sociais de participação” (p.61). Assim, o grêmio pode se configurar em um espaço de prática social e transformar a escola em um local proficiente de vivência e de práticas sociais de participação (MARTINS, 2010).

Apesar de todas as ações desenvolvidas no contexto da Virada Educação Minas Gerais, os Grêmios Estudantis ainda não são uma realidade nas escolas estaduais mineiras, sobretudo na região metropolitana de Belo Horizonte, que possui 348 escolas de ensino médio e, destas, apenas 7 possuem Grêmio Estudantil ativo14. As ações da VEM preveem a instituição desses espaços nas escolas, mas, por iniciativa dos estudantes e não das escolas. Nas reuniões gerenciais com as equipes das Superintendências Regionais de Ensino, percebemos que ainda há um receio dos gestores escolares, em relação à criação desse espaço. Nesse sentido, muitos entendem que a sua organização deve ser coordenada e conduzida pela equipe gestora da escola e não pelos estudantes.

Nos últimos anos, não houve, também, políticas ou ações específicas para o fomento à participação estudantil nas escolas estaduais mineiras. A legislação estadual, referente à criação dos grêmios, é do ano de 1999 e, desde então, as políticas públicas educacionais, para o ensino médio, tiveram como foco a reestruturação curricular e a organização da escola. Entretanto, em 2014, com o desenvolvimento das ações de formação docente, previstas no Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio (PNEM), instituído pela Portaria nº 1.140, de 22 de novembro de 2013, desenvolvido em articulação e coordenação pela União e governos estaduais, o debate sobre o protagonismo juvenil, no processo educativo, encontrou espaço. Entre os seis materiais disponibilizados para o professor no processo formativo, os cadernos “O Jovem como Sujeito do Ensino Médio” e

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Esse dado se refere a 2016, ano em que se iniciou a pesquisa desse Caso de Gestão. Em 2017, estima-se a constituição de mais grêmios estudantis na rede estadual de ensino. Entretanto, os conflitos com a gestão e a atuação restrita dos mesmos ainda persistem, conforme relatos das equipes das regionais de ensino.

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“Organização e Gestão Democrática da Escola15” se destacaram, por discutir a participação da juventude e o grêmio estudantil.

Desde então, os grêmios voltaram a ser pauta nas discussões pedagógicas da SEE e, com a criação da DJUV, passaram a ser um ponto focal, entendidos como uma das formas de participação da juventude na escola e, consequentemente, na sociedade. Afinal, não deveria ser a escola um espaço de ampliação de experiências? De acordo com Dayrell ([2016]):

Os atores vivenciam o espaço escolar como uma unidade sociocultural complexa, cuja dimensão educativa encontra-se também nas experiências humanas e sociais ali existentes. Os alunos parecem vivenciar e valorizar uma dimensão educativa importante em espaços e tempos que geralmente a Pedagogia desconsidera: os momentos do encontro, da afetividade, do diálogo. Independente dos objetivos explícitos da escola, vem ocorrendo no seu interior uma multiplicidade de situações e construídos educativos que podem e devem ser potencializados (DAYRELL, [2016], p. 25).

O grêmio pode ser potencialmente, então, esse espaço do encontro, da afetividade e do diálogo. Nesse sentido, a escola precisa estar atenta a essa necessidade dos jovens. Diante disso, a instituição desse espaço de representação do jovem, na gestão da escola, é, portanto, uma das ações a serem implementadas pela SEE, com o intuito de fomentar a participação dos sujeitos no processo educativo. Mas é preciso considerar que essa implementação precisa ser conduzida pelos estudantes e não pelos profissionais da escola, afinal, o grêmio é uma instituição de representação dos alunos. É importante salientar que a sua existência e funcionamento podem contribuir para a consolidação do projeto pedagógico da escola, para o fortalecimento da autonomia, para a consolidação do diálogo e para o desenvolvimento de uma cultura cidadã.

Portanto, diante do que foi exposto até aqui, algumas questões se delineiam e emergem quanto à participação e representação estudantil. As escolas reconhecem os jovens como sujeitos socioculturais e como indivíduos diversos, que possuem história, desejos, anseios, medos, comportamentos e hábitos próprios de sua idade, ou tende a reduzi-los a uma visão estereotipada de estudante? A prática escolar considera a totalidade desses sujeitos? A escola tem sido, para os jovens, um espaço de ampliação de experiências? Que espaços de reflexão, sobre os seus anseios, angústias e projetos de vida, as escolas oferecem aos jovens? Os jovens

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têm interesse em participar dos processos decisórios da escola? Direção e estudantes têm o mesmo conceito de participação? O que é participação para esses sujeitos? Como a criação de espaços de participação e representação, como o grêmio estudantil, pode contribuir para uma prática educativa mais atrativa para o jovem? E, sobretudo, como aproximar a escola da juventude?

Estes questionamentos são o ponto de partida para as discussões teóricas e para a pesquisa de campo, que serão apresentadas no próximo capítulo. Para tanto, nele identificaremos e discutiremos conceitos, referentes à gestão democrática e à dimensão formativa da participação estudantil, e sobre como o grêmio estudantil se relaciona com eles.

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No documento andreabotelhodeabreu (páginas 57-62)

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